Depois da conversa com Carol, Mili seguiu para a cozinha se juntando aos outros órfãos, que já tomavam café. A morena se sentou numa das cadeiras ao lado de Pata.

— Ué, Mili! Você não vai pra escola? — perguntou Binho ao perceber que a menina estava sem o uniforme.

— Não. Eu vou visitar o Mosca. A enfermeira disse que ele não poderá receber visitas a tarde, então eu vou agora de manhã. — explicou estendendo o braço para alcançar a garrafa (térmica) de café. — Chico, você pode separar alguns lanchinhos numa cesta de piquenique pra eu levar?

— Claro Mili! — exclamou o cozinheiro.

Alguns minutos depois...

Vivi esperava Juca ansiosamente no jardim do Orfanato. A garota pedira a Thiago para que chamasse o namorado. Em cerca de alguns minutos o moreno apareceu.

— Bom dia, princesa. — exclamou ele se aproximando. — Pediu pra me chamarem?

— Sim. — respondeu ela tentando escoder a sacola de presentes atrás de si mesma.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa?

— Não. Quer dizer, sim! — disse Vivi, confusa com as próprias palavras. — É que hoje... Bem, você sabe que dia é hoje, não sabe?

— É claro que eu sei. Hoje é segunda. Eu tenho simulado de Sociologia e faltam quinze dias pro seu aniversário de quinze anos. Impossível de se esquecer!

— O quê? — perguntou indignada.

— Ué! Hoje é só mais um dia normal, Vivi. Por quê? Hoje é algum dia especial?

— Não. Não tem nada hoje. — disse Vivi, sem graça e profundamente chateada. — Eu vou lá ao quarto pegar as minhas coisas. A gente se vê na van. — completou se afastando do menino.

— O que é isso? — perguntou o moreno se referindo a sacola que ela segurava.

— Nada. — mentiu continuando o seu caminho.

Juca apenas observou Vivi se afastar. Ele se sentia péssimo quando mentia para a namorada, mas sabia que era por uma boa causa. Ele estava preparando uma surpresa para ela e não gostaria que ela soubesse antes da hora.

Seguiu para a sala e procurou pelo iPhone na mochila. Ligou para o Karaokê.

— Angel? — disse quando o telefonema foi atendido. — Tá tudo okay? (...) Ótimo! Eu vou levar a Vivi aí assim que nós chegarmos da escola. (...) Brigada! Tchau. (...) Outro.

Enquanto isso, no hospital...

– Mili! - exclamou Mosca, surpreso, ao ver a morena entrar no quarto.

– Bom dia! - disse ela animada. Colocou a cesta que trazia consigo sobre a mesa que havia ali. Tirou alguns lanches de dentro do objeto procurando pela toalha de mesa.

– O que... o que você está fazendo aqui? - "Hoje é segunda. E tem aula.", pensou Mosca ainda tentando associar a presença de Mili ali.

– Não gostou de me ver? - perguntou Mili indignada.

– Sim, claro! Mas, hoje é segunda. Você não deveria estar escola?

– É. Mas eu resolvi faltar. - explicou ela - Achei! - exclamou abrindo a toalha de mesa pequena e xadrez. Caminhou até a cama e a armou sobre o colchão.

– Pra quê isso? - perguntou o moreno ao reparar na cesta e noa lanches.

– Para o nosso piquenique! - respondeu a garota organizando os sanduíches e os dois copos de cappuccino em uma bandeja.

– Piquenique?

– Ou café da manhã, tanto faz! - pegou a bandeja na mão e a colocou sobre a toalha xadrez. Em seguida, sentou-se a beira da cama e encarou o moreno, que a observava confuso - Olha, eu comprei estes na Starbucks da praça de alimentação daqui do hospital mesmo. A enfermeira disse que você já pode comer alimentos normais. Pedi pra colocarem canela porque você tem cara de quem gosta de canela. - concluiu abrindo a tampa do copo de papel/plástico e colocando um pouco da bebida na boca - Não vai tomar?

– Você preparou isso tudo e faltou na escola só pra vir aqui tomar café comigo? - perguntou ele desacreditado.

– Sim. Você não gostou?

– Sim. Eu gostei e muito! - exclamou ele mordendo um pedaço de sanduíche - Huummm! - murmurou saboreando o lanche. Mili riu.

– Então... Você gosta de canela?

– Na verdade, eu nunca experimentei.

– Excelente! Toma. É uma delícia. - afirmou a morena estendendo o copo para Mosca.

– Se você está dizendo... — disse ele tomando um gole da bebida. - Brigada por ser tão atenciosa. — disse ele a encarando.

— Que isso! Eu faria muito mais por você. — respondeu Mili colocando o seu pão na bandeja. — Eu quem deveria agradecer. — em seguida, a menina depositou um beijo na boca do moreno.

Este colocou uma das mãos atrás do pescoço da menina, a puxando para mais perto de si.

Longe dali, na sala do 2º ano...

Beatriz encarava a folha em branco do caderno tentando responder a questão de Matemática quando sentiu uma bolinha de papel em sua cabeça. Olhou para trás e encontrou o jogador da bolhinha: Duda.

– O que é? - sussurrou irritada para o menino.

– X vale 57. - respondeu ele no mesmo tom de voz. - Abre a bolinha.

A garota pegou o papel amassado no chão e o abriu. Era um bilhete do loiro. Revirou os olhos e começou a ler:

"Querida Bia,

Estava pensando aqui e pensei que nós (eu e você) poderíamos nos encontrar mais tarde. Compus uma música nova. Se você quiser ouvir..."

A menina parou de ler imediatamente e virou-se novamente para Eduardo. O mesmo a observava com atenção e sorria. Bia pegou o caderno, escreveu um outro bilhete e entregou para o colega da carteira de trás e pediu para que o mesmo passasse para o loiro.

O mesmo se surpreendeu ao ver que ela o respondera e pegou a folha dobrada com orgulho. Porém, sua felicidade acabou assim que leu o que estava escrito. Bia estava irritada e pediu para que os dois conversassem em outro momento. (P.O.V Fairy: e mandou ele se f**er)

***

A campainha do Raio de Luz soara alto pelo lugar. Matilde caminhou até a sala e abriu a porta imaginando que fosse alguém conhecido. Para a sua surpresa, deu de cara com uma garota de cabelos negros, pele clara e olhos verdes.

A menina segurava uma mala na mão direita e uma sacola de papel na outra. Seu olhar estava caído e ela arentava ter sido maltrada.

– Quem é você? - perguntou a zeladora do orfanato encarando a jovem.

– Por favor, me ajuda. Me deixe entrar! Eu... eu não tenho ninguém! Estou perdida. - disse a tal garota com a voz embargada.

– Entre. - disse Matilde dando espaço para ela passar. A garota entrou com cuidado no lugar e ficou de pé ao lado do sofá. - Eu vou chamar a diretora.

– Obrigada!

***

As aulas haviam acabado naquela segunda-feira. Thiago estava sentado em um dos bancos do pátio arrumando a mochila. Estava com pressa e procurava pela carteira perdida no meio de seus materiais escolares. Ana, que passava por ali com algumas amigas, se aproximou.

– Oi. - disse Ana.

– Oi, Ana! - respondeu Thiago a encarando. - Nosso passeio está de pé?

– Claro! - exclamou ela se levantando. - Nós poderíamos ir na sorveteira nova que abriu lá no shopping! - pensou alto fazendo o moreno rir.

– Já provou paleta mexicana? - perguntou ele ainda procurando a carteira.

– Não. Por quê?

– Ótimo! Hoje você vai experimentar uma. - disse Thiago achando o pertence na bolsa e colocando esta nas costas. - Vamos?

– Tá. - disse Ana. Os dois seguiram até o portão do colégio e avisaram ao porteiro que não iriam embora com Ernestina. Em seguida caminharam até o shopping, que ficava apenas três quadras de distância dali.

Chegando lá, foram até o Paletas Mexicanas e pediram duas de blueberry. Sentaram-se em uma das mesinhas para dois em frente ao balcão.

– Aqui é tão bonito! - exclamou Ana se ajeitando no banquinho.

– É eu sei! - concordou Thiago.

– Então... Como foi a aula hoje? - perguntou a ruiva tentando puxar assunto.

– Ana, nós estudamos na mesma turma. - lembrou o moreno deixando a amiga sem graça.

– Eu esqueci.

– Você está vermelha. - avisou ele observando as bochechas de Ana ficarem coradas. - Você fica fofa assim, sabia?

– Thiago!

– Que foi? É a pura realidade. - brincou ele rindo.

Continua...