Alice

Depois que passamos por aquela porta doida o mundo ficou meio distorcido, oque me deixou com raiva então sem pensar duas vezes dei o primeiro passo, e para minha surpresa o mundo tomou forma, mas não era bem oque eu esperava, na verdade era o completo oposto, sob meus pés surgiu uma estrada de terra, ou melhor uma ponte, um tanto estreita demais para o meu gosto, mas isso não era o pior dos dois lados da ponte oque se via era uma longa e fatal, queda, já que um rio agitado corria lá embaixo, mas o embaixo era tão embaixo que ele mais parecia uma nascente tamanho PP, pelo menos foi oque deu pra ver de relance já que ao chegar na ponta eu sai correndo, Alli deve ter visto mais coisa, pelo menos ele não tem pavor de altura como eu, Céus como ele consegue ficar tão perto de cair e morrer e não se importar? Eu realmente não entendo.

— Alli! Oque vamos fazer? – Perguntei tentando me livrar da angústia de o ver tão na ponta, ele suspirou e caminhou até mim, tem ideia de como isso me aliviou? Pelo menos minha mente parou de tentar imaginar as mil e umas formas de morrer ao cair de uma atura daquelas, ele parou do meu lado e olhou para toda a ponte.

— Atravessar? – Propôs como se fosse a coisa mais óbvia, tudo bem, era a coisa mais óbvia a fazer, mas diga isso aos meus pés, eles não se movem.

— Ah! Mas... – Tentei protestar, mas oque ia dizer? Olha eu não vou porque estou indisposta, mão não se preocupe vou voltar por onde viemos e bater um papo com aquela voz educada e gentil. — Tudo bem. – Concordei relutante e Alli me encarou.

— Oque foi? Porque está assim? – Ele parecia tão preocupado que eu tive que esperar certo tempo para processar a informação.

— Nada demais... É que eu tenho um pouco de medo... De altura. – Conclui e ele sorriu.

— Tudo bem. – Ele afirmou passando umas das mãos pela minha cintura e me puxou para mais perto de si. — Eu não vou te deixar cair.

Eu realmente estava sem palavras então tudo oque fizemos foi caminhar, o silencio imperava, mesmo com o sol em nossas cabeças ventava frio, mas não me incomodava ficar tão próxima de Alli me aquecia e o silencio apenas completava aquele momento.

Nós andamos e andamos e estranhamente o caminho nunca acabava, parecia ser infinito e o frio ficava mais intenso, além de que eu já estava ficando cansada, mas preferi não comentar, já tínhamos problemas demais e se tem algo que eu aprendi é que reclamar não resolve e eu não tinha mais idade para ser uma menina mimada.

— Estranho esse caminho não acaba. – Comentei e Alli pareceu concordar.

— É estranho mesmo, parece que algo está nos impedindo de seguir. – Ele estava bastante pensativo, mas também em alerta, então resolvi seguir seu exemplo.

— Será que tem algo que deixamos passar despercebido? Não sei estamos distraídos e não... – Antes que eu pudesse terminar de falar o tempo pareceu acelerar em um segundo e em um piscar de olhar vi o dia virar noite, oque eu senti era difícil de explicar, quando o tempo mudou o frio se intensificou, mas não era só isso que estava diferente, de todos os lados vinha uma sensação de ódio e morte, na minha cabeça ouvi vozes raivosas que amaldiçoavam e gritavam palavras horrendas, o cima tenso me incomodava, de repente as vozes pararam e o silencio que instalou era quase mortal, meu cansaço subitamente aumentou e senti uma tontura repentina, eu segurei o braço livre de Alli e ele me encarou com preocupação, minha cabeça parecia ter parado de funcionar corretamente e meu corpo estava perdendo as forças, Alli me segurou quando eu tombei para o lado e eu me esforcei para não cair novamente.

— Alice você precisa descansar estamos andando a horas e essa mudança repentina deve ter te afetado. – Ele estava realmente preocupado comigo, eu não achava que ele estava como sempre, já que a relação Alli e sentimentos era algo difícil de definir e entender, mas dessa vez eu sabia, de repente quando olhei em seus olhos senti uma vontade de saber oque ele estaria sentindo, e como se fosse uma resposta, seus sentimentos mais frequentes transpareceram de uma vez, cansaço, indecisão, medo, dor, raiva, solidão, angústia, amor e preocupação, tudo me atravessou ao mesmo tempo e de repente o cansaço e o frio não me incomodavam tanto.

— Não... Eu posso continuar por mais um tempo, temos uma missão a cumprir, não podemos deixar isso nos abalar. – Respondi e ele me encarou perplexo, nossa, oque essas pessoas pensam de mim? Depois ele sorriu e me deu a mão, eu ainda estava confusa sobre como havia conseguido enxergar os sentimentos dele tão facilmente, mas de fato havia mais com que se preocupar.

— Então oque... – Alli se interrompeu ao olhar para frente, eu segui seu olhar para me arrepender amargamente, o caminho estava começando a ficar mais estreito, não, estava começando a se destruir. — Merda, temos que correr.

— Mas... Nós já tentamos isso e... – Eu comecei a dar passos pra trás ainda segurando a mão de Alli na intenção de puxa-lo junto. — Eu não sei se consigo... Eu... AH! – Senti um dos meus pés derraparem e meu corpo o acompanhar, fechei os olhos gritando.

— ALICE! – Eu segui a voz dele e abri os olhos, sua mão era a única coisa que me impedia de cair.

— Ah! Alli! – Senti as lágrimas chegarem e meu desespero aumentar, eu ia olhar pra baixo, mas Alli me chamou.

— Não, olhe pra mim, só pra mim, eu não vou te deixar cair eu prometo, eu já sei oque fazer, mas você tem que confiar em mim de verdade e não pode se apavorar, você confia em mim? – Ele perguntou olhando em meus olhos, confiança, assunto delicado, mas depois de tudo, porque não? Eu sorri e segurei seu braço com mais força.

— Sim! - Respondi e fechei os olhos quando ele me soltou.