Filha Das Águas escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 9
Capítulo 9




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Tristan me contava histórias.

Tipo, muitas histórias mesmo, sobre muitos tipos de coisas e pessoas nas mais diversas situações. Eu adorava ouvi-lo falar.

Estávamos ambos assistindo a um pôr-do-sol com mais três ou quatro outros campistas e Tristan gesticulava bastante, contando-me mais uma das aventuras que ele imaginava e tornava real. Era sobre um garoto que tinha que escolher entre salvar a vida de um inimigo ou a sua própria. Tristan dizia que quando a gente ama alguém, fica mais fácil fazer sacrifícios por essa pessoa exatamente por causa do nosso sentimento por ela. Mas quem pensaria em morrer por um inimigo? Aquela ideia ficou martelando em minha cabeça e eu mal consegui ouvir o resto da história. Só sei que o garoto acabou morrendo pelo inimigo, porque todos os protagonistas das histórias de Tristan eram sempre nobres, confiantes e honestos. Como ele.

– Você tem algum inimigo? - perguntei, abraçando os joelhos.

Tristan pensou por uns instantes.

– Eu tento não ter. Mas às vezes não é culpa sua as pessoas não gostarem de você.

Suspirei. Como Drew.

– Fico tentando imaginar o motivo de Drew me odiar...

– Inveja - ele deu de ombros, rindo.

Eu não ri.

– Não sei... Ela me dá medo às vezes.

Tristan me encarou, intrigado.

– Por quê? Peppermint, ela não pode te fazer mal algum. Você sabe.

Sim, eu sabia. Deitei de costas na grama.

Para falar a verdade, eu não tinha medo exatamente de Drew. E sim de Gaia. Tudo bem que ela estava "dormindo" no mais profundo buraco do Tártaro, mas isso não me tranquilizava. Havia alguma possibilidade de ela acordar e vir atrás de mim? E se Gaia quiser se vingar por eu não ter obedecido suas ordens de matar Percy? O que aconteceria comigo?

– Ei - Tristan segurou minha mão entre as dele -, não fique pensando nessas coisas. Nada vai te machucar. Ok?

Baixei os olhos.

– Ok.

– Vem, vamos - ele me puxou pela mão.

– Aonde?

– Conhecer pessoas. A Captura da Bandeira é amanhã e nossos chalés são aliados pela primeira vez na história.

Arqueei as sobrancelhas.

– Uau, me sinto importante. Será a gente contra quem?

Tristan riu.

– Poseidon, Atena e Zeus lideram o time azul. É a gente.

– "A gente" contra todos os outros chalés? Não vamos ganhar!

– Sua falta de confiança é animadora, sabia? - ele sorriu torto, enlaçando minha cintura com o braço.

Eu me sentia quente quando Tristan ficava perto de mim assim. Mas também sentia calafrios. Será que ele já tinha percebido o quanto eu estava apaixonada por ele?

Eu respirava com bastante dificuldade. Percy corria à minha frente e Annabeth à minha esquerda. Ambos eram muito mais rápidos do que eu e evidentemente lutavam melhor também, derrubando qualquer adversário que se aproximasse da gente antes que pudesse me atingir. Minha função na Captura da Bandeira foi servir de distração no campo inimigo para Percy interceptar os campistas adversários enquanto Annabeth e outra garota (do chalé de Zeus, uma tal de Emilly) pegavam a bandeira inimiga.

Nesse momento, corríamos de volta para o nosso campo com a bandeira vermelha em mãos, desviando das armadilhas que o chalé de Hermes preparou e dos "soldados" do chalé de Ares. A garota de Zeus, Emilly, havia sumido de perto da gente, mas Annabeth disse que já tinha tudo planejado e que a menina foi cumprir sua parte.

Foi então que nos cercaram.

Dez, doze campistas de Ares. Clarisse os liderava e sorria feio para Percy e para mim. Éramos apenas três contra todos aqueles garotos bombados. Fim de jogo.

– Entregue a bandeira, loira burra - zombou Clarisse, com um sorriso que a deixava ainda mais amedrontadora.

Annabeth empunhou sua espada e Percy juntou-se a ela no gesto.

– Venha pegar, menina-gorila - rebateu Percy, colocando-se totalmente na minha frente.

Ah, aquilo não era justo. Eu vinha treinando duro por dias e queria lutar num combate de verdade por uma causa verdadeira. Por que Percy insistia em me proteger, cara?

Os garotos de Ares vieram para cima de nós três cheios de raiva. Lembraram-me javalis nojentos.

Percy acabou com os primeiros três (ei, quando digo acabar não é no sentido literal da palavra; meu irmão não machucou ninguém muito sério, estávamos num jogo) e Annabeth foi inteligente o suficiente para escapar do bote de outros dois. Só que eu não fui tão rápida. E acabei sendo empurrada para longe, no meio de uns arbustos.

Levantei-me num pulo, sentindo a adrenalina borbulhar em minhas veias e corri de volta para a briga. Pulei nas costas de um ruivo truculento e o atingi na cabeça com o punho da minha espada. Ele quase caiu por cima de mim, mas eu passei as pernas por sua cintura e me joguei no chão antes que o garoto me acertasse. Deu certo. Pelo menos um eu havia derrubado.

– Pep! - gritou Annabeth. - Pegue!

Ela jogou a bandeira para mim e eu segurei o tecido com força.

– Corre! - gritou, atracando-se com mais um feioso.

Arfei e comecei a correr para o nosso campo, onde mais gente estaria esperando por mim para comemorar nossa vitória. Porque já havíamos ganhado, claro. Tristan estaria lá. Pensar nele me deu um gás extra e eu comecei a correr ainda mais rápido.

Até que me passaram uma rasteira nas pernas e eu caí de queixo no chão de pedras e grama. Senti gosto de sangue e meus joelhos e cotovelos começaram a arder.


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