Filha Das Águas escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 16
Capítulo 16




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Alcancei um vaso de porcelana grega e lancei contra Apolo, dando um grito devidamente desesperado. O objeto quebrou-se na cara dele e o deus deu um passo cambaleante para trás, mas não pareceu ter se machucado. Corri para a porta, sacudindo a maçaneta dourada com força na tentativa de abrir. Estava trancada. Meu corpo todo tremia e pelo canto do olho pude ver Apolo aproximar-se devagar. Comecei a respirar com dificuldade e a ofegar alto demais. Apolo parou atrás de mim. Virei-me e o encarei com medo.

– Você parece tão... assustada - ele sussurrou, confuso.

– É mesmo? Bem, eu estou apavorada.

Ele estendeu a mão para me tocar, mas me esquivei.

– Não encoste em mim! - resfoleguei, apertando-me de costas contra a porta fechada. - Você é um deus, você pode ter qualquer outra garota!

Apolo franziu a testa.

– Mas eu não quero outra.

– Olha, eu não sou a Daphne e eu não posso ter nada com você porque sou só uma adolescente! E você... você não faz bem o meu tipo, eu não sou uma daquelas semideusas que fariam qualquer coisa para te satisfazer! Você NÃO é o cara mais desejado do mundo, sabia? Agora, me deixe sair - esmurrei a porta, sentindo vontade de chorar.

A expressão no rosto de Apolo passou de confusa para extremamente furiosa e eu me perguntei se o que acabara de dizer não foi um pouco petulante demais.

– Isso não pode estar acontecendo outra vez! - gritou ele, irado a ponto de brilhar ainda mais que o normal. - Você tem algum problema, garota! É você o problema! Eu sou o deus mais assediado e desejado que já existiu! Como... como você pode me dizer uma coisa dessas?!

Estufei o peito, enchendo-me de coragem. Aquele cara não passava de um deus mimado que acostumou-se a ter o que quer na hora que quer. Mas comigo não seria assim. Ah, comigo não.

– Você é que tem problemas, Apolo! - apontei o dedo para a cara dele. - Acha que todas as mulheres do mundo querem você? Acha que é tããããão irresistível ao ponto de acreditar que nenhuma garota faria o menor esforço para te dizer não? Pois, quer saber? Você está totalmente errado, sr. Deus Do Sol Super Convencido, porque eu sou uma garota e estou te rejeitando! Eu estou te dizendo NÃO!

Apolo me puxou para ele e me beijou nos lábios com força e raiva. Então se afastou um pouco e me encarou fundo nos olhos.

– E agora? Você me quer?

Arregalei os olhos.

– O quê? Não! Você não pode mudar minha opinião com um simples beijo...

Seus olhos brilhantes estavam ansiosos.

– Algo mais elaborado, então? - perguntou delicadamente.

Senti minhas bochechas arderem, mas bati o pé.

– Não! Você não entende nada sobre conquistar uma garota?!

Apolo ficou ofendido de novo.

– Deixe-me ir embora. Por favor... Eu preciso voltar para casa.

– Mas eu quero que você fique, Mary Elizabeth. Quero que mude sua opinião a meu respeito. Você tem que se apaixonar por mim.

– Não, eu não tenho. Como espera que eu goste de alguém que me prende e que me obriga a fazer coisas que eu não quero? O amor não funciona assim, sabia?

O deus grunhiu, afastando-se de mim.

– Não entendo, não entendo...

Num estalo, a tranca da porta se abriu e a maçaneta girou. Eu sabia o que aquilo significava: estava livre. Olhei hesitante para Apolo, esperando que ele me agarrasse para me impedir de fugir. Mas ele não o fez.

– Pode ir embora, Mary Elizabeth.

– Obrigada - sussurrei.

– Mas - disse ele, a voz trêmula -, fique sabendo que eu ainda não desisti de você. Perdi a garota que realmente amava uma vez. Não vou deixar acontecer de novo. Eu vou conquistar você, vou fazê-la me amar, não importa quanto tempo isso leve. Vou fazer você me querer desesperadamente.

Revirei os olhos.

– Qual é, o que você quer para desistir dessa ideia ridícula?

Ele trincou os dentes.

– Quero que você diga que me ama, algum dia.

Eu ri com sarcasmo. Quem ele pensava que era?

– Não ouvirá isso de mim enquanto você viver.

Então virei-me e fui embora antes que Apolo mudasse de ideia.

Corri para longe da casa de Apolo mais do que pensei que minhas pernas iriam aguentar, tombando com Percy e Annabeth numa esquina. Eles olharam para mim como se eu fosse um fantasma em férias pelo Olimpo.

– Ei, você está pálida, Pep - disse Percy, segurando meu ombro. - Annabeth, olhe para ela...

A loira franziu a testa para mim e cruzou os braços.

– Onde você estava?

Abri a boca, mas minha voz não saiu. Os dois entreolharam-se, compartilhando um olhar que eu não conhecia.

– Eu... eu só estava dando uma olhada por aí - respondi finalmente. - E então... bem... Eu falei com Poseidon, Percy.

Meu irmão arregalou os olhos, pego de surpresa por um momento, mas se recompôs imediatamente. Annabeth manteve uma expressão fria no rosto, como se tudo o que eu estivesse prestes a dizer não fosse novidade para ela. De jeito nenhum eu contaria a eles sobre Apolo!

– Ele... e-ele - gaguejou Percy. - O que vocês conversaram?

Mordi o lábio.

– Ah, coisas normais como... "Ei, garota, eu sou seu pai!" e "Oh, eu sei disso, mas não espero que se importe comigo, 'papai'!". Foi isso - dei de ombros, sem olhá-los nos olhos.

Percy passou o braço por meus ombros e me deu um abraço desajeitado, mas fofo. Annabeth me encarava com desconfiança e isso me fez sentir estranha.

– Quer falar sobre isso? - Percy sussurrou para mim.

– Depois - sussurrei de volta, e então nos soltamos.

Voltamos os três para o grande salão dos tronos, onde Afrodite e Drew tomavam chá com Deméter e uma outra deusa de cabelos negros brilhantes bem no centro do lugar. Quando ela olhou na minha direção, eu simplesmente congelei.

Aqueles olhos. Inconfundíveis.

A deusa sorriu para mim de um jeito muito travesso.

– Vovó? - sibilei, sentindo as pernas bambas.

Hécate acenou para mim discretamente, levantou-se de sua cadeira e foi embora.

Eu fiquei parada ali, olhando para o seu lugar vazio, sentindo as lágrimas queimarem em meus olhos. Ela... ela estava me abandonando? A última pessoa capaz de cuidar de mim e me amar como mãe? Aquele breve gesto foi como um soco bem no meio do meu estômago.

– Por que ela foi embora? - perguntou Annabeth para Deméter.

A deusa da agricultura deu de ombros.

– Poseidon nos deu ordens para não interagir com essa aí - apontou para mim. - Ele disse que não podemos influenciar a decisão dela.

Percy e eu trocamos um olhar confuso.

– E desde quando vocês obedecem a Poseidon? - riu Percy, sacudindo a cabeça. - Vamos, Annabeth, Drew, Pep. Temos que voltar para casa antes do pôr-do-sol.

Afrodite limpou os lábios com um guardanapo de linho branco e Drew imitou o gesto de uma maneira muito menos elegante. Deméter despejou um monte de cereal em sua tigela de ouro distraidamente.

– Mas vocês já vão? - perguntou a deusa da beleza, fazendo uma careta linda.

– Devemos ir, Lady Afrodite. Já cumprimos nosso dever aqui e o Acampamento precisa de nós - respondeu Annabeth, sem emoção na voz.

– Bem, que pena. Estava pensando em dar a você algumas dicas de maquiagem, filha de Atena. Você bem que precisa, docinho.

Drew riu com malícia.

Percy tocou o ombro de Annabeth eles começaram a se afastar.

– Vamos, Drew - chamei, seguindo o casal adolescente.

Drew suspirou alto.

– Vou ficar aqui - ela disse simplesmente.

Franzi os olhos.

– Qual é, você não pode ficar. Esqueceu que não é uma deusa?

Ela e Afrodite trocaram um olhar conspiratório.

– Talvez você possa ficar comigo, minha flor - murmurou a deusa. - Se fizer o que eu te pedi, entendeu? - piscou.

Drew ergueu o queixo, convencida.

– Não vou decepcioná-la, mamãe.

Afrodite assentiu e as duas despediram-se cheias de frescuras. Drew e eu corremos para alcançar Percy e Annabeth pela rua dourada.

– O que ela pediu a você? - perguntei, curiosa.

Drew olhou para mim como se acabasse de perceber minha presença só agora e deu de ombros.

– Afrodite quer que eu torne as coisas mais interessantes para um certo casal de namoradinhos - Drew piscou, maliciosa.

Arqueei as sobrancelhas.

– Ei, Drew, não mexa com eles. É sério.

Ela fez careta.

– Com quem?

– Percy e Annabeth. Eles já passaram por tantas coisas...

– Há - Drew sacudiu a cabeça. - Eles não fazem ideia de pelo que ainda vão passar.

Segurei-a com força pelo braço.

– O que quer dizer com isso?

Drew me lançou um olhar presunçoso e soltou o braço.

– Não vou mexer com eles, queridinha. O destino dos dois é completamente trágico, pelo que Afrodite me disse. É em outro casalzinho que ela quer que eu mexa... se é que você me entende.

– Uh, certo. Vamos embora logo.

Continuei a caminhar, já com pena do tal casal que seria vítima das armações daquela filha de Afrodite. Quem quer que fossem, seriam azarados pra caramba por ter Drew envolvida nas vidas dos dois.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando?? Continuem acompanhando! :)



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