Filha Das Águas escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 14
Capítulo 14




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Tristan e Rachel me acompanharam de volta ao chalé 3, sem parar de me fazer perguntas. Eu me esquivava o máximo que podia, mas não era o suficiente porque Tristan sabia o que eu estava fazendo, sabia que eu estava tentando despistá-los do assunto. Ele era inteligente demais para engolir minhas verdades inventadas.

– Tem certeza de que está bem? - Rachel me perguntou, quando paramos os três à porta do chalé.

Assenti, sorrindo suavemente.

– Obrigada mais uma vez por me encontrar. Não sei como retribuir, Rachel.

Ela sacudiu a cabeça.

– Não foi nada. Seu irmão é um dos meus melhores amigos. Sei o quanto ele se importa com a irmã mais nova.

Entendi o que ela quis dizer: "fiz isso por Percy, não por você."

Rachel se despediu e nos deixou.

– Ela é filha de quem? - perguntei a Tristan, cruzando os braços.

– Rachel não é semideusa. É o nosso Oráculo.

Arqueei as sobrancelhas, impressionada.

– O Oráculo de Delfos?

Tristan fez que sim, impassível.

– Está tudo bem? - sussurrei, chegando mais perto dele.

Tristan me encarou.

– Por que achou que podia mentir para mim desse jeito, Pep?

Sua voz era baixa e suave, não raivosa e acusadora como esperei. Tristan estava preocupado, curioso. Ele se importava comigo. E eu me importava com ele.

Mas não podia perdê-lo.

– Tristan... - sussurrei, fitando seus olhos claros. - Você vai ter que confiar em mim.

– O que isso significa? O Marvel... ele tem algo a ver com o que está acontecendo?

– O quê? Marvel? É claro que não, Tristan. Ele não estava lá quando eu fui... ahn... quando eu caí.

Tristan bufou.

– Eu confio em você e você confia em mim? - perguntou, alcançando meu rosto com as pontas dos dedos.

Eu sorri.

– Eu confio em você e você confia em mim. Sempre.

– Então me conte o que realmente aconteceu no lago, Pep. Estou preocupado.

Beijei sua bochecha.

– Não fique. Foi só um pequeno acidente. Não vai acontecer outra vez, tá bem?

Ele não pareceu convencido, mas parou de fazer perguntas.

Deixei-o com o pretexto de que precisava terminar de arrumar minhas coisas para a viagem ao Olimpo e entrei no chalé 3. Percy e Annabeth estavam ali.

– Não é como se todos se importassem com ela, sabe? - ouvi Annabeth dizer. - Ela está fazendo um papel ridículo, tentando chamar atenção.

– Não acho que seja isso - disse Percy. - Gaia trabalha bem. Ela não parecia estar fingindo.

Eles estavam falando sobre mim?

– Por favor, Percy, não venha com essa. Tenho certeza de que toda essa conversa de que Gaia é a patrona dela não passa de invenção. Há mais por trás daquele rostinho bonito.

Cobri a boca com as mãos e me abaixei atrás de um dos armários, sem fazer barulho. Eles estavam falando sobre mim. E não parecia nada bom.

– Acho que acredito nela - Percy disse após um longo silêncio.

– Levá-la ao Olimpo conosco só pode ser piada. Não acredito que Quíron concordou com isso...

– Entendi, Annabeth, entendi. Você não gosta de Drew.

Soltei o ar, relaxando.

Ufs, eles falavam de Drew. E Annabeth estava cento e dez por cento certa. Aquela filha de Afrodite não era confiável.

– Ahn... oi, gente - saí de trás do armário.

Ambos olharam para mim.

– Oi, Pep.

– Hey - Annabeth acenou tranquilamente.

– Vou terminar de arrumar minhas coisas.

Andei para o meu lado do chalé e encarei minha mochila pronta. Nela havia duas trocas de roupas, escova de dentes, toalha, barras de cereal, néctar, ambrosia e curativos. Eu não tinha mais o que levar. Sentei-me à beira da cama e suspirei alto. Quando me dei conta, Annabeth estava parada ali, olhando para mim.

– Tem algo te incomodando - disse ela, certeira.

– Não, eu...

– Isso não foi uma pergunta, Peppermint. Eu sei que você não tá legal.

Dei de ombros.

– Eu caí no lago de canoagem hoje. Essas coisas deixam a gente desorientada, sabe.

Annabeth suspirou.

– Vem comigo - pediu ela, calmamente.

Arqueei as sobrancelhas.

– Para onde?

– Vamos arranjar uma arma para você.

Annabeth e eu chegamos a um arsenal de armas de todos os tipos. Espadas, lanças, escudos, adagas e até armas de fogo. Eu podia dizer que fiquei nervosa perto de toda aquela parafernalha perigosa, mas aquilo tudo na verdade me fascinava. Eu esperava que alguma das armas começasse a brilhar quando eu chegasse perto ou que voasse para as minhas mãos quando eu passasse. Mas não aconteceu nada.

– E então, gostou de alguma? - perguntou Annabeth, pousando as mãos nos quadris.

Dei mais uma olhada ao meu redor. Nada. Todas as armas pareciam iguais e sem graça.

– Preciso escolher agora? - fiz uma careta constrangida.

Annabeth suspirou.

– Dê mais uma olhada.

Mordi o lábio, caminhando pelo arsenal calmamente. Vamos lá, arminhas, brilhem para mim...

E então, CABUM!

Uma arma de fogo disparou no teto, caindo logo em seguida aos meus pés. Era um revólver prateado com figuras desenhadas no cano brilhante. Ondas do mar.

– Achei - eu disse, sem tirar os olhos da arma.

Annabeth aproximou-se enquanto eu me abaixava para pegar o revólver. Não senti nada sobrenatural, apenas a certeza de que aquela arma era minha agora.

– Uau, legal - disse Annabeth. - Não é todo mundo que se identifica com armas de fogo. Essa aí é bem...

– Eu sei! - sussurrei, empolgada. O revólver encaixava-se perfeitamente na minha mão e era bem leve.

– Bem, hora de ir. Percy deve estar esperando na Casa Grande.

Franzi a testa.

– Drew realmente vai com a gente?

Annabeth trincou os dentes e revirou os olhos.

– Nem me fale.

Corremos para a Casa Grande a tempo de ver Grover e Quíron acenarem em despedida para Percy e... Drew. Annabeth fechou a cara e apertou o passo para alcançar o namorado.

– Eu sei disso! - riu Drew, tocando o ombro de Percy. - Não é ridículo?

Olhei de soslaio para Annabeth.

– Vou mostrar para ela o que é realmente ridículo - rosnou baixo a filha de Atena.

Eu segui minha cunhada raivosa, ainda lançando olhares admirados para minha arma. Era demais!

– Para trás, Tanaka - disse Annabeth, tentando soar calma.

Drew mordeu o lábio e afastou-se dois passos de Percy. Sorri para meu irmão e ele revirou os olhos.

– Todos prontos? - perguntou Annabeth, mal humorada.

– Claro - disse Drew, tentando soar calma. Então seus olhos puxados pousaram nos meus.

"Você fará o que eu lhe mandar, minha preciosa..."

– Vamos logo - resmunguei, fazendo o possível para não olhar para Drew outra vez. Gaia devia tê-la dominado até o último fio de cabelo. Será que Percy e Annabeth deviam saber disso?

– Argos está esperando por nós na Colina - disse Percy. - Ele vai nos levar até o Empire.

– Empire State? - perguntei. - Ué, para quê?

Percy me deu um meio sorriso travesso.

– Já está na hora de você conhecer minha Nova York, mana.

Annabeth bufou.

– O Olimpo fica no edifício Empire State, Pep. No andar 600, para ser mais precisa.

Arqueei as sobrancelhas.

– Jura? Mas o Empire tem só...

Annabeth me agarrou pelo pulso.

– Pare de falar e vamos logo!

Percy riu.

– Essa é minha doce Annabeth. Tão meiga e delicada...

Annabeth lançou-lhe um olhar irritado.

– Não comece, Cabeça De Alga, não comece.

Bati com a mão na testa, boquiaberta.

– Espera! Eu não me despedi de Tristan!

– Aaaah, qual é! - resmungou Annabeth. - Seja rápida, por favor...

Pisquei para ela.

– Não prometo nada.

Encontrei Tristan treinando esgrima com outros dois campistas na arena. Parecia algo sério, pois ele estava totalmente concentrado e empenhado em conseguir um arco feito de bronze que ficava numa torre de madeira bem ao final do circuito. Os outros semideuses também queriam o arco, mas Tristan era rápido, inteligente e forte. Só havia um semideus no Acampamento Meio-Sangue que lutava melhor que ele: Percy Jackson.

Sentei-me num canto da arquibancada e admirei o garoto de quem gostava golpear os adversários e saltar obstáculos até chegar ao topo da torre e gritar "Vitória de Atena!". Bem, achei que ele não gostava da mãe, mas tudo bem. Tristan tinha ganhado e recebeu os cumprimentos de seus irmãos e amigos. Quando me viu, acenou e trotou para perto de mim.

– Oi, Pep - sorriu.

Eu o abracei pela cintura, sorrindo de orelha a orelha.

– Estou suado... - ele riu, afagando minhas costas. - Mas isso é bom, meu amor.

Afastei-me dele e o olhei nos olhos.

– Você me chamou... de quê?

Tristan deu de ombros.

– Você vai ficar fora por dias, Peppermint. Tudo o que a gente precisa que dizer tem que dizer agora.

– Por quê?

Ele riu.

– Você é minha namorada. E eu me preocupo com o que pode acontecer durante essa viagem se...

Segurei suas mãos, tranquilizando-o. Tristan, o preocupado. É claro.

– Nada de mal vai acontecer. Estaremos com os deuses e duvido que Percy me deixe ir ao banheiro sem escolta. Não se preocupe comigo, tá bom?

– Difícil... Você parece um imã para perigos, Pep.

Revirei os olhos.

– Que exagero, Tris. Não há nada que me impeça de voltar em segurança.

– Para mim - ele piscou.

– Você é muito convencido, sabia, Sr. Hale?

Tristan me abraçou apertado. Estava suado e ofegante, mas eu não liguei. Ficaríamos distante um do outro por vários dias.

– Tenho que ir, Tris - sussurrei, buscando seus olhos.

Ele crispou os lábios e então sorriu.

– É, você tem. Cuide-se, ok?

– Ok.

E aí nos beijamos. E enquanto nos beijávamos, sorrimos, aproveitando a companhia um do outro. De repente me senti um pouco molhada. Tristan também estava. Afastei-me dele e olhei ao redor, ouvindo risos e assobios. Bobby e Tony estavam usando uma mangueira de água para nos molhar, dobrando-se de tanto rir e gritando gracejos para Tristan. Eu comecei a gargalhar.

– Achei que você não pudesse se molhar.

– Humm... Você me desconcentra, namorado.

Tristan sorriu.

– Mil perdões, nobre namorada.

E nos beijamos outra vez, molhados e risonhos.

Quando o deixei, senti um estranho aperto no peito e as palavras "Última vez..." ecoaram em meus pensamentos.

– Ei, aonde vai sem se despedir?

Virei-me e bi Marvel e Bobby sentados na grama comendo MM's e salgadinhos. Acenaram para mim e eu fui ao encontro deles. Annabeth ficaria furiosa com minha demora, mas eu precisava dizer adeus aos meus amigos.

– Onde estão Emilly e Tony? - perguntei.

– Se agarrando em algum lugar - Bobby deu de ombros, sorrindo com malícia.

– E aí, animada para a viagem? - Marvel indagou, me oferecendo salgadinhos.

Recusei.

– Muito. Na verdade, preciso ir agora. Estão esperando por mim.

Bobby enfiou um punhado de MM's na boca e se levantou para me dar um abraço. Marvel fez o mesmo, mas havia algo em seus olhos... eu não soube decifrar aquela expressão. Parecia preocupação só que com mais urgência.

– Cuide-se, tá bem? Volte em segurança pra... gente. Todos queremos que você retorne segura.

– Parece Tristan falando desse jeito, sabia? - eu ri.

Marvel sequer sorriu de volta. Algo o incomodava, mas o quê?

– Pegue leve, cara - Bobby cutucou Marvel com o cotovelo. - Ela vai ficar cercada de deuses 24 horas por dia. Que preocupação é essa?

Marvel sacudiu a cabeça.

– Missões nem sempre dão certo.

Suspirei alto.

– Bem... tenho que ir, meninos. Nos vemos em alguns dias, ok?

Os dois assentiram.

– Despeçam-se de Emilly e de Tony por mim! - gritei, já distante deles.

Encontrei meus companheiros de viagem e seguimos para a Colina Meio-Sangue, onde Argos nos esperava numa van com logotipos de morangos felizes. Perguntei a Percy o motivo daquilo e ele disse que o Acampamento cultivava morangos e até os vendiam no mundo mortal às vezes. Que bizarro.

Fomos de van até o centro de Nova York, onde Argos nos deixou para seguirmos até o Empire State. Eu fiquei realmente impressionada com a cidade. Havia luzes e anúncios publicitários por toda parte e as placas que indicavam as ruas misturavam-se com as placas de lanchonetes e lojas. Parecia que alguém havia vomitado um arco-íris ali. Mas é claro que eu não comentei nada disso com Percy, ele estava para lá de fascinado em rever ''sua Nova York''.

Drew não parava de reclamar. Sobre tudo.

''Ah, como minha mochila está pesada. Puxa, que cidade quente, não vou aguentar. Argh, meus pés estão doendo, vamos chegar logo? Este clima definitivamente está fazendo um mal danado para o meu cabelo.''

Annabeth recitava a tabuada do 15 para não bater na filha de Afrodite. Eu só observava e aguardava (ansiosa, confesso) que Drew dissesse alguma besteira que a fizesse ganhar um soco no meio da cara. Sou cruel, eu sei. Não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

Chegamos ao edifício e logo fomos falar com o moço atrás do balcão (como chamam essas pessoas...? Recepcionistas?). Percy bateu com três dracmas sobre o balcão e arqueou as sobrancelhas para o cara, como se dissesse ''Os descolados chegaram, nos mostre o Olimpo, otário!''. O moço encarou cada um de nós quatro e assentiu, fitando os dracmas.

– Podem subir - foi o que ele disse.

E nós subimos pelo elevador.

Quando as portas se abriram, Drew e eu arquejamos de surpresa.

– Cara...ca - murmurei.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Continuem acompanhando!



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