Os dois estavam lado a lado novamente na Praia dos Fogos, no Acampamento Meio-Sangue, de mãos dadas.

Ainda marcavam encontros, mesmo depois de cinco meses de namoro. Conheciam-se bem, não precisavam daquilo, mas o faziam por opção: Achavam todo aquele clichê divertido.

Nico nunca se sentira tão feliz. Era estranho uma criança de Hades conseguir se sentir contente por estar vivo. Isso era uma novidade para ele, na verdade. Desde que a conhecera, tentava se acostumar com a sensação de ter um motivo para permanecer no Acampamento, sem viagens nas sombras ou sumiços onde passava dias no submundo com o pai. Mas Angeline também era estranha. Por ser filha de Hécate, deusa da magia, não era a garota mais popular do lugar, pois os outros tinham medo de seus poderes. Bobagem, ela não machucaria à ninguém.

- Olhe, Nick. – Angeline o chamou pelo apelido que lhe dera. – Faça um pedido.

Ela apontou para uma estrela cadente no céu. Ele pensou por um momento.

- Acho que não preciso de mais nada.

Ela lhe lançou aquele sorriso gentil e contagiante pelo qual ele se apaixonara.

- Não seja bobo. – falou. – Peça algo, mas não me conte, pois estraga.

O garoto fechou os olhos. Ainda se lembrava da primeira vez em que a vira. Summer - uma velha amiga dele - fez as apresentações, e Angel, assim que soube de quem Nico era filho, perguntou, com seus olhos curiosos arregalados: “É verdade que você pode controlar os fantasmas e esqueletos? Pode mostrar como faz?”. Ninguém jamais falara dos poderes dele como algo bom e atrativo, ele mesmo não pensara neles daquela maneira, mas Angel quase desmaiara de êxtase quando ele chamou um fantasma. Ele se apaixonara por ela ali.

Sabia que era um pedido bobo, mas desejou que essa memória jamais lhe escapasse da mente.

- Pronto? – ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.

Ele concordou com a cabeça.

- Você fez um pedido? – questionou, puxando a garota para perto.

Ela apoiou a cabeça em seu ombro. Cheirava a grama desde que se conheceram. Por algum motivo maluco, Angeline adorava o “aroma” de grama, especificamente a que crescia no jardim da casa de seu pai. Isso explicava o porquê de seu cabelo ser verde, e o porquê de o primeiro presente que ele lhe dera fora um pote mágico com uma grama que sempre permaneceria brilhante. Conseguira aquilo com Perséfone (que pareceu bem feliz com a ideia do garoto longe de lá por mais tempo, graças à uma garota), e desde então, a namorada carregava o item para todos os lados. O pote estava ao lado dos dois no momento. Vez ou outra, ela o abria e permitia que o cheiro mágico saísse de lá por alguns instantes.

- Sim. – ela respondeu. – Mas é segredo.

Encarou-a. Seus olhos eram escuros, pretos como a noite; a pele pálida; tinha olheiras como ele; e seu cabelo verde brilhava à luz do sol. A expressão em seu rosto era sempre a mesma: Um misto de curiosidade quase infantil e alegria. Ela era a garota mais linda que já conhecera, talvez pensasse isso porque estivesse apaixonado, mas... Oh, Hades, ela era um anjinho para ele. Combinava com seu apelido. Angel. Anjo em inglês.

Aproximou-se lentamente dela, tocando-lhe os lábios.

Na primeira vez que isso acontecera, Angel quem tomara a iniciativa. Infelizmente, saíra correndo para longe logo após. Desta vez, quando o beijo acabou, permaneceram ali encarando um ao outro.

- Eu acho que... – ele tentou falar, mas abaixou os olhos.

A garota permaneceu com seus olhos escuros no namorado.

- Eu acho que... – Nico falhou na segunda tentativa.

- Sim, você acha muitas coisas. – ela fez um gesto para que ele continuasse.

Ele se mexeu, desconfortável de repente. Pensou em um modo de falar aquilo.

- Sabe quando você pensa na pessoa sempre? – começou, desajeitado. – E quer defendê-la de todo o mal? Quando o sorriso dela ilumina tudo ao redor e você... Oh, eu não sei como dizer...

- Às vezes, você fala demais. – ela revirou os olhos. – Isso não combina com meu Nico. Eu sou a falante, você vai sempre direto ao ponto.

Antes que o garoto pudesse terminar de falar, ouviram um barulho vindo do céu. Estava começando a chover e relâmpagos já eram visíveis ao longe. Nico em parte praguejou e em parte agradeceu à Zeus, assim teria mais tempo para decidir como falar algo tão importante.

- Uma tempestade. – Angeline falou, estremecendo. Ele sabia que a namorada detestava chuva.

Puxou-a para longe da praia e correram para seus respectivos chalés em busca de abrigo.

X

Nico pediu que uma das filhas de Hécate deixasse um bilhete que fizera para Angel em cima do travesseiro da garota.

“Encontre-me no topo da Colina Meio-Sangue antes do almoço. Tenho um presente, anjo.”

Ele começou a se sentir ansioso quando os chalés começaram a caminhar em fila até o Pavilhão para a refeição. Nenhum sinal de Angel. Pensou se o bilhete teria sido entregue, ou se uma das irmãs dela o queimara por pura maldade. Poderia vê-la mais tarde, mas juntara tanta coragem para esse momento que não sabia se conseguiria falar o que pretendia depois.

Quando estava quase desistindo e voltando para seu chalé, avistou a garota caminhando em sua direção, os cabelos quase da mesma cor da grama da colina. Desde que se conheciam, ela usava o mesmo tipo de roupas, mudando apenas suas cores: Uma jaqueta por cima da camiseta do Acampamento e uma calça com tachinhas rasgada na altura do joelho esquerdo. A vestimenta era outra coisa em que os dois combinavam. Hoje, a jaqueta era roxa e a calça, preta. Sua combinação favorita de cores em roupas. Nico ainda se surpreendia com a quantidade de pequenas coisas que notava na garota.

Ela parou em frente a ele, balançou o bilhete e sorriu. Sua expressão era de pura expectativa.

- Olá. – ele respirou fundo.

- Você disse que eu deveria te encontrar aqui. – ela falou. – Um presente e tudo o mais.

Nico sentiu o peso dos objetos no bolso. Pegou-os e os manteve escondidos na mão fechada. Estava nervoso e apertava o presente com força, fazendo os nós dos dedos ficarem brancos. Sorriu timidamente.

- Diga logo o que é. – os olhos curiosos da garota olhavam para sua mão.

Lentamente, mostrou os dois pequenos objetos brilhantes em sua palma.

- Isso... – ela pareceu sem fala pela primeira vez em muito tempo.

- Sim. – ele respondeu, tímido. – Achei que seria legal aquele clichê de alianças de compromisso, para mostrar como nos amamos e que o coração de um é do outro...

Angeline o interrompeu com um beijo. De modo desajeitado, ele colocou o anel no dedo da garota, e ela fez o mesmo com ele. Trocaram um sorriso bobo apaixonado.

- Eu te amo. – ele falou, de repente. Pareceu perceber o que acabara de dizer, pois arregalou os olhos e colocou as mãos na boca.

O coração dele acelerou. Era isso que vinha tentando dizer. Pensou em uma grande declaração, mas as palavras vieram naturalmente e inesperadamente.

Ela tocou a bochecha do namorado.

- Eu também te amo.

- Eu te amo. – ele repetiu, com mais firmeza. – Você é meu anjinho e eu espero que possamos passar uma eternidade juntos.

- Ou o máximo de tempo que nossas vidas como semideuses permita. – ela corrigiu.

Nico afagou o cabelo de sua amada e disse:

- Mesmo depois da morte, poderemos nos encontrar no submundo.

- Espero que Hades goste de mim. – ela sussurrou, abraçando o namorado mais uma vez.

E assim ficaram, no topo da colina, abraçados, enquanto os chalés almoçavam lá embaixo. Até mesmo o sol parecia feliz por iluminar o casal apaixonado.