A vida de Anne Phantomhive escrita por Stéfany755


Capítulo 1
Capítulo 1 - A nova Phantomhive


Notas iniciais do capítulo

Oiiii gente ^^/
Essa é a primeira vez que eu faço uma fanfic escrita, imagina como eu to nervosa, principalmente porque é do Kuroshitsuji *___*
Eu adicionei alguns personagens, tirei outros, vou colocar histórias diferentes e vai sair um pouquinho zinho de nadica do enredo, mas acho que todo mundo vai entender u.u
Obrigada pela atenção u3u



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/555341/chapter/1

... Está frio.

Eu só consigo ouvir o barulho do vento por fora dessas paredes de gélidas pedras.

Também está escuro aqui dentro, e não há nada ao meu alcance para me tirar dessas grades.

“... Ninguém pode vir me salvar? Qualquer um... Por favor...”

Eu estou apavorada aqui, ajoelhada, me segurando a duas barras de ferro reforçado, esperando que o dia de hoje nunca tivesse vindo.

------------------------- ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ -----------------

Eu corria de um lado para outro, desde nossa imensa cozinha até meu quarto no segundo andar, aterrorizada, ouvindo alguém gritando desesperadamente por socorro. Entretanto, nem com todos os meus esforços eu consegui achar essa pessoa no meio daquelas labaredas dançantes, e a cada cômodo em que passava ficava mais amedrontador: Boa parte do teto havia desabado, móveis rasgados e atirados no chão, retratos todos queimados, pela janela central da sala de chá podia-se ver o jardim jorrando cinzas, estilhaços de mármore e marfim do jogo turco de louça da minha mãe pelo chão, cortando meus pés descalços que corriam para auxílio de alguém que simplesmente berrava de dor por algum ser ainda vivo na mansão.

-Ninguém pode vir me salvar?! Qualquer um!!

A voz era fina, e pelo visto se ouvida no cotidiano era suave e delicada. Entretanto mesmo que eu conhecesse essa pessoa eu não conseguiria lembrar quem era o dono, pois eu estava subitamente apavorada.

Suor escorrendo, respiração ofegante da correria pela casa, olhos saltados em busca de tranquilidade, desespero e agonia no peito.

Estava tão focada em achar um meio de fuga que não percebi que os gritos haviam parado, foi então que tropecei em algo e caí no chão na alta velocidade de minha corrida. Bati com a cabeça no piso trincado e apaguei por instantes. Quando reave ao menos parte de minha consciência abri lentamente os olhos, tudo parecia embaçado e distante, tudo em silhuetas que por milagre pude identificar: Pisos trincados, estatuetas quebradas, cinzas e madeiras queimadas. Sentei por um breve instante e coloquei uma das mãos ensanguentadas na cabeça, que tinha uma dor aguda. Apenas depois de recobrar um pouco a visão no meio àquele inferno notei um cadáver a minha frente, e com espanto instintivo fui para trás com meu grito. Eu estava me virando para frente, prestes a levantar e sair dali a mercê da própria boa sorte, mas algo pegou no meu pé, foi o bastante para me fazer debater um pouco, até sentir que não a agarrava com força. Parei um instante depois de ouvir tossidos vindos daquele corpo e me voltei calmamente para ajudar, soltei suas mãos de minha perna e me posicionei ao seu lado. Apavorada do jeito que estava minha foz saiu mais fina e rouca.

-Oe, está bem?! Consegue ficar em pé?! Assim podemos sair daqui!

Ela tossiu e com isso vomitou um pouco de sangue, eu cheguei mais perto dela e coloquei uma das mãos em seu ombro, foi então que aquela moça agarrou meu braço com força. Ela era um pouco maior que eu e tinha o cabelo embaraçado e desamarrado, mas usava um vestido cheio de babados, vermelho sangue e com rendas pretas, mesmo que já rasgado.

-Há... Háháhá... Háháháhá... HÁHÁHÁ! HÁHÁHÁHÁHÁ!

E a risada foi ficando mais intensa e aguda, ela apertava meu braço cada vez mais, fincando suas unhas em minha carne. Para o meu desespero, quando ela chegou ao auge de sua magnitude ela levantou a cabeça para mim, mas a única coisa que eu vi foram dois olhos enormes, um roxo extremamente claro e o outro vermelho-sangue, me exterminando por completo, até que eles saltaram das orbitas, e delas vinha um escuro imenso e jorravam sangue como uma cachoeira.

-QUEM VOCÊ ACHA QUE PODE SALVAR?!

--------------------------------- ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ -----------------------

-Anne, Anne querida, acorde. Vamos minha flor, acorde.

Eu senti alguém tocar levemente em mim, com uma voz de preocupação, mas eu ainda estava com os olhos apertados, suando e gemendo baixo, com pavor, me agarrando aos cobertores de cetim branco e ao travesseiro de plumas de ganso. Foi quando percebi: aquilo fora apenas um sonho ruim, ou melhor, uma visão do inferno. Quando abri os olhos me sentei em um pulo, ainda recobrando o que havia realmente acontecido, a luz do Sol ardendo em meus olhos, vindo das enormes janelas de cortinas abertas e vidros abertos. Eu não lembrava o que era, mas me deixara horrorizada com certeza, com medo irreversível no peito, e lágrimas no rosto. Eu inconscientemente olhava para a estante florida que se posicionava a frente da minha cama com cortinas em seda tom rosa bebê, vendo tudo turvo com o choro, a única coisa que se passava na minha era o quê fora aquilo, mal o suficiente para fazer isso a mim. A pessoa ao lado da minha cama, que me chamava era uma moça jovem, com cabelo longo e loiro, e olhos cor de mel, ela mostrava sempre um ar de docilidade e elegância, mas agora estava preocupada, se sentando ao meu lado na cama, me abraçando e acariciando meus cabelos meio entranhados. Aquela era minha mãe.

-Querida, está tudo bem? Você teve um pesadelo?

Minha voz era melancólica e envolvida nas minhas lágrimas- S-sim mamãe... Estou com medo... – Eu a abracei com força – Eu não quero ficar com medo nunca mais... Ajude-me mamãe...

Ela pegou meu rosto com as duas mãos e calmamente beijou minha testa, sorrindo, o sorriso dela era caloroso como o Sol, transparecendo alegria e paz, mais tranquila ela disse confiante:

-Aprenda uma coisa: É normal ter medo Anne, mesmo que por pequenas bobagens, é assim que você aprende que o medo é um dos obstáculos da vida e que você conseguirá simplesmente superá-los, de uma hora para outra. Eu vou estar aqui quando você precisar, mas um dia você terá que aprender a conquista-los sozinha. Então, o que você entende com isso querida?

-Bem... Que obstáculos devem ser passados, não importando o medo que temos?

O riso de uma resposta bem sucedida era óbvio na expressão dela, colocando o dedo indicador em meu nariz pequeno.

-Exatamente minha aristocrata. Agora vamos tomar um banho quentinho? Hoje é seu dia! Dez anos é idade de uma mocinha!

Eu acabei esquecendo completamente de segundos atrás, voltando a ficar animada só por lembrar que era meu aniversário. Eu me levantei e fui direto para a porta do banheiro, que ficava ao lado da estante floral. Meu banheiro era de um verde ciano, com uma banheira e uma pia em mármore branco. Minha mãe veio atrás de mim, ligando as duas torneiras de água implantadas na banheira, enquanto eu tirava minha camisola branca e esperava brincando com os dois braços abertos, como um avião. Quando a água ficou no ponto eu entrei com um pé de cada vez, bem devagar. Minha mãe gostava de dar-me banho e agradar-me nesse tempo, pois era uma das únicas horas em que ela podia ficar comigo, principalmente neste dia. Após o banho eu teria aulas de música e dança, além de geografia, matemática, português pelo dia inteiro, depois um baile em comemoração a uma volta minha dada no globo. Eu praticamente nunca usaria isso, já que mulheres não podiam liderar em nada na sociedade feudal, mas era algo para passar o tempo enquanto eles estavam em negócios no estrangeiro.

- Eba, dez anos! Isso quer dizer que eu posso fazer coisas de adulto não é mesmo?!

- Bem... - Ela passava algo em meu cabelo roxo escuro comprido, massageando suavemente no topo e alisando as pontas quebradiças, uma verdadeira cabeleireira. – Algumas coisas sim, mas outras apenas quando tiver mais idade.

- Ah puxa, eu queria poder amar alguém...

Em minha cabeça o amor era um menino me dar flores e abraços. Ela pareceu surpresa por instantes, até soltar uma risada descontraída.

- Então é por isso que você quer fazer coisas de adulto? Você quer gostar de alguém?

Eu fiz um beicinho e falei em um tom mais abaixo que o normal - É isso mesmo, eu quero ganhar chocolate e flores.

Ela parecia se divertir com meu pensamento inocente - Querida, amor não é assim.

- Então como é o amor mamãe? Eu vejo você ganhar flores todos os dias do papai.

- Claro, porque é uma das maneiras de ele manifestar amor por mim.

- Então tem outros jeitos de mostrar amor?

- Exatamente.

- Como? E se derem um jardim grandão assim? – Eu levantei as duas mãos da água, mostrando um espaço que na minha cabeça era realmente grande.

-Não, amor vem de todas as formas, presentes, gestos de carinho e afeto, gentilezas e sutilezas, e muitos outros. Cada um expressa seu amor de um jeito diferente.

- E como é o amor?

- Isso eu não posso te responder meu amorzinho. Um dia, quando você se der conta, já vai amar alguém, não é algo que eu possa ensinar, só acontece naturalmente.

- Sendo assim o papai vai me dar um unicórnio.

- Êh? Por quê?

- Porque vai ser o jeito dele de mostrar que me ama hoje, no meu aniversário!

Ela riu, mas não era uma risada estranha ou amedrontadora, era gostosa de ouvir, não tão barulhenta ou escandalosa, como as de meu pai, e nem tão aguda, semelhante a minha tia.

Foram muitas brincadeiras, conversas e risos durante o banho. E então, enquanto secava meus cabelos longos e penteava com delicadeza e amor ela começou a cantar para mim, como todas as manhãs. A voz dela era simplesmente melódica e sincera, assim como a letra que saía de sua boca, foi a primeira vez que a vi soar aquela cantiga, e bastou para nunca mais esquecê-la:

Enquanto o branco e o preto cobrem superficialmente nosso encontro sem cor

Dedos gélidos acenam para mim.

Como um pedaço de gelo que teima em derreter

Você me resgatou e brincou comigo em seus lábios.

Mesmo assim, irei procurar por aquele amor verdadeiro

Seus olhos secos ficaram tão distantes neste momento

Se pudesse, te envolveria nos meus braços assim e estaria feito.

O cair das noites e meu desejo não se tornam verdade

Mas o amanhã traz um novo amanhecer.

Com sua doçura, calor e beijos mortais

Preencha-me com cores como se fosse a última vez

Que a lua brilharia sobre nós.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Oito da manhã, aula de música e dança. A senhorita (Senhora) Adelaide ensinava-me alguns passos de dança para o baile. Uma moça de meia idade, baixa e com cabelo grisalhos trançados para o lado dava-a um ar perfeito, e era isso mesmo que ela desejava em tudo, eu a chamava de “Milady perfeccionista”.

Com palmas ritmadas ela seguia a música agitada, e com sutileza aos lábios dizia firme:

- Chama isso de passos mocinha? Não, não é você que conduz a dança! Fique ereta! Ombros relaxados! Barriga para dentro! Peito à mostra! Sim, isso sim é dançar!

Dez horas, Geografia. O magistrado falava sobre a própria Londres com grande entonação e superioridade ao balançar a varinha sobre o quadro.

- Nossa londrina é única, cuja sua graciosidade, beleza, vigor e encanto deixam a todos de queixo caído. Você deve ter orgulho dela pequena!!

Eu realmente me orgulho dessa nossa menina por onde circula o sangue azul dos nobres, aristocracia e a rainha!

É... a maior parte do período era mais bem dita filosofia.

Ao meio dia as empregadas prepararam o banquete para os mercantes indianos que sempre faziam negociações com nossa empresa. O cardápio foi à moda dos convidados: Poori acompanhado de frango ao curry, Chapati com Ghee, Kofta, Subji, Semolina, e enfim o que nunca poderia faltar em um prato asiático: arroz. Eu vivia me perguntando o porquê de o único condimento sempre presente ser o arroz, então ao meio da refeição eu perguntei a um homem que comia tranquilamente seu Chapati enquanto todos os outros riam e brincavam à mesa.

-Moço, porque a única coisa que não deixam de comer é o arroz?

Ele era um homem alto, porte seguro e confiante, rosto rígido e cabelos longos de um roxo avermelhado. Parecia meio intrigado com a pergunta, mas pela sua expressão ele não parecia se importar em responder, sua voz era bem grave, parecia meio rouco. Ele colocou o braço no meu ombro e disse sorrindo e mexendo as mãos:

-Uma vez quando era menor eu li uma história sobre uma aldeia, num certo inverno não poderia se plantar á terra que tudo murchava e morria, tanto o trigo quanto o milho, o único cereal que sobrevivia ao frio era o arroz, mas nem as cabras nem as galinhas comiam desse grão, então todos eles passavam fome e já jaziam doentes. Então, um aldeão desesperado perguntou a Ganesha o porquê de o único alimento que os sustentava agora era o arroz, ele respondeu:

“Tenha fé em minhas palavras caro homem, espere e verá.”

Então ele esperou. Após se passar um mês o mesmo homem foi escolhido para viajar a aldeias vizinhas em busca de produtos para consumo, mas o que viu não foi bom: Milhares de pessoas haviam sido contaminadas com os vários outros tipos de alimentos e morreram de fome. A causa disso?Nenhuma aldeia das regiões plantava arroz, mesmo ele sendo o mais fácil para cultivo. Foi assim que ele viu como devia valoriza-lo em todas as ocasiões, nunca falta em um prato nosso, e se caso você ver alguém de nós sem comê-lo é porque não é verdadeiramente asiático!!

Eu fiquei maravilhada com aquela história, e olhava admirada para aquele homem, ele parecia ser alguém bom e esperançoso. Ele me olhou com curiosidade e sorriu outra vez.

-Você me lembra de meu filho, ele se chama Soma e é muito curioso também, às vezes eu acho que até demais. Imagina que ele queria vir para cá conhecer a Inglaterra, do jeito que é ia acabar se perdendo de nós e tentaria procurar sozinho o caminho de volta.

-E porque o senhor não trás ele para brincar comigo da próxima vez que vir? Eu cuido dele direitinho, prometo!! Eu, ele, Charlie e Lizzy vamos jogar esconde-esconde!!

Ele riu, eu não entendi na hora, mas continuei falando sobre Soma, queria mesmo saber como ele era, talvez parecido com o pai? Entretanto, um outro homem veio chamá-lo:

- Asman-sama, devemos ir.

-Oh, mas já? É uma pena, mas o que posso fazer? Temos um longo caminho pela frente- Ele se levantou calmamente da mesa, quando todos já haviam parado de conversar, então olhou para meu pai, na ponta da mesa, com um ar sutil- Vicente Raha, obrigado pela sua hospitalidade- Agora ele mirava em mim- Anne Rahi, parabéns, soube que hoje você faz dez anos, eu lembro quando Soma fez dez, eu dei o mesmo presente que darei a você.

A minha primeira reação foi levantar da cadeira e olhar surpresa e entusiasmada para ele, seria o primeiro presente que eu ganharia no meu aniversário. Ele tirou algo do bolso e colocou em volta do meu pescoço, era um tipo estranho de colar, feito de pedrinhas marrons avermelhadas e algo como linhas de lã vermelha na ponta.

-Esse é um Rudraksha, um amuleto de boa sorte, ele trás proteção a família e paz espiritual a você, claro, não é o presente que talvez você quisesse, mas é o que pude dar por agora. Badhā'ī hō, Anne Rahi.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ - - - - - - - - - - -

Duas horas da tarde, matemática e português com a mesma professora. Lady Mary me ensina frações e parábolas, depois às quatro horas o uso da crase e interpretações.

Cinco horas em ponto, terminadas as aulas do dia, ainda bem, eu já estava me sentindo meio cansada, saí de minha classe enquanto lady Mary ia embora, me deixando um laço branco de seda nova, era como seu eu segurasse algodão entre meus dedos de tão bom o novelo. Eu estava distraída pensando em qual vestido escolher para o baile quando me assustei com um grito, e pela minha intuição era da porta principal, já que ecoara por toda a casa a ponto de chegar à biblioteca.

-Anne!!

Aquela voz... Sim, era ele. Em uma percepção rápida eu decidi que tinha que me esconder a qualquer custo, ele não podia me encontrar! Saí correndo desorientada da biblioteca e fui até o escritório do meu pai, ele não estava lá no momento, então eu dei uma olhada em volta, procurando achar um esconderijo decente, havia dois sofás pequenos, aveludados e vermelhos com um tapete verde, virados para a escrivaninha de verniz, presente da Rainha pelos esforços dos cães de guarda. Em cima dela havia esparramados vários papéis e pastas, cada um de uma cor, uma luminária verde que ficava na ponta e um porta-retratos com uma pintura feita de nós três. Atrás dela a estante enorme de livros dele, que cobria toda a parede, ao lado a grande janela espelhada, com cortinas azuis (Meu pai não tinha bom gosto). Ouvi que ele subia rapidamente pelo tapete vermelho da escadaria e passava seu anel de ouro pelo corrimão, como sempre faz. Nessa hora eu entrei em pânico e escolhi a primeiro esconderijo que me pareceu bom: abaixo da escrivaninha. Exatamente na hora que terminei de me encaixar nos fundilhos dela o ouvi entrar com um pulo, depois caminhar calmamente dentro da sala, cada passo era um sufoco para mim, mas aguentei firme, com os olhos fechados e respiração baixa, apenas ouvindo ele se locomover devagar. Eu o senti observar a escrivaninha, era como se ele pudesse ter visão raios-X. Eu fui me sentindo cada vez pior, pois ficar em lugares fechados era um temor meu. Vi a sombra dele na minha frente, com certeza absoluta ele iria esperar eu cair na tentação de sair. Tudo ficava apertado e cada vez mais insuportável.

“Eu não quero sair, não quero sair, não quero sair. Não quero sair, não, não, AAAAAAAAAH, EU QUERO SAIR!”

Não aguentava mais e saí, me dando por vencida, eu fui rastejando e tossindo até os pés dele, que ria vitorioso.

-Sabia que você ia ceder rapidinho!! E é dez à zero pra mim!!

Eu ainda estava engasgada com a poeira, mas pude dizer fracamente - Exibido...

-Ei, você pode tentar ganhar alguma vez não é mesmo? Já está ficando cansativo! Vem cá, deixa eu te ajudar, perdedora fofa! – Ele estendeu a mão para me levantar, e eu aceitei, sem ressentimentos. Ele sorriu alegre e começou a me puxar para fora – Vamos logo, está na hora do chá!!

-Acalme-se Charlie! Ninguém vai morrer ainda!

- - - - - - - - - - - - - - - - ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ - - - - - - - - - - - -

Charlie era meu melhor amigo desde sempre, junto com Elizabeth, a quem eu sempre chamei de Lizzy. Charlie era irlandês, olhos verdes bem claros, cabelo ruivo natural, meio raspado dos lados e uma franja meio estranha para a esquerda, além de sardas, muitas sardas. Era introvertido, esperto e exuberantemente gentil com todos, mesmo que seu ego atrapalhasse um pouco seus atos ele conseguia resolvê-los sempre. Já Lizzy era um pouco diferente: Inocente, fofa e consequentemente exagerada em porcentagens altas, uma perfeita atriz em série, e o desejo de todo menino que a visse, também, loira de olhos azuis, sendo filha de um nobre rico e ainda se vestindo com roupas de boneca até eu ficaria aos pés dela. Meu pai me apresentou a ela, e mesmo eu sendo tímida do jeito que era ela continuou tentando me agradar, até que conseguiu. Um dia eu e ela estávamos passeando pelo jardim da minha casa, entre as árvores podadas em formas anormais, conversando sobre um novo brinquedo que poderia ser colocado na nossa empresa, quando de repente, um menino atravessou a toda velocidade a cerca viva que constituía o labirinto, ele caiu no chão, a nossa frente. No primeiro momento nos assustamos, mas eu logo que pude o fui socorrer, ele estava vestido com roupas de classe, azuis, mas tinha um olho roxo. Eu coloquei sua cabeça em meu colo e Lizzy foi buscar socorro, nessa hora ele acordou da pancada e me viu, provavelmente meio zonzo, pois eu tentava falar de todas as formas com ele.

-Oe, você está bem? Consegue falar? Se mover? Qualquer coisa! Ai meu Deus, não se preocupe, já estamos chamando ajuda!

Eu fico me perguntando até hoje o que se passava na cabeça dele naquela hora, pois ele sorria, como se nada demais tivesse acontecido. Foi a primeira vez que eu vi os olhos dele, pareciam tão radiantes quanto seu sorriso, o estonteante verde me fazia entrar no meio de campos verdes, com aroma agridoce de recém-cortadas, um pedaço do paraíso. Foi então que quebrando aquele vínculo de doçura ele disse docilmente:

-Olá, eu acho que caí no pátio da sua casa, minhas desculpas.

Ele exuberava cavalheirismo, mas eu ainda estava em transe– Hã? Ah é! Você está bem? O que foi aquilo? Não precisa se preocupar com nada, eu irei te ajudar no que for preciso, só vamos esperar Lizzy vir.

-Oh, não se preocupe comigo, eu estou muito bem, foi só uma pancada, e a grama amaciou minha queda. – Dizendo isso ele se levantou de meu colo. Parecendo meio tonto ainda ele me estendeu sua mão e sorriu. - Ah, que falta de educação a minha! Meu nome é Charlie, Charlie McCunn.

Eu estava ainda confusa sobre o que fazer, ele estaria com algum ferimento? Precisava ir para casa? Os pais sentiriam a falta dele? Mesmo com esses pensamentos eu peguei na sua mão e ele me ajudou a levantar, em seguida eu me curvei educadamente e levantei as pontas de meu vestido amarelo cavado - É um prazer conhecê-lo Charlie McCunn, sou Anne, Anne Phantomhive.

-Hum... Você disse Phantomhive?

-Hã? A-Ah sim, algum problema?

-De jeito nenhum, era exatamente quem eu estava procurando. Você é realmente meu trevo de quatro folhas senhorita! – Ele pegou em uma de minhas mãos e como que me guiasse foi caminhando comigo até mais adiante do jardim – Pode me mostrar a entrada da casa? Preciso tratar de assuntos.

-Mas, e seu olho? O que aconteceu?

-Isso? Não é nada demais.

Quando avistamos a casa havia um homem jovem e ruivo falando com meu pai na porta. Era o pai de Charlie, David McCunn, o líder do clã irlandês. Foi então que eu soube de toda a história: Charlie e seu pai foram chamados para a Inglaterra por mando da Rainha, entretanto quando chegaram um se perdeu do outro em meio a multidão, e Charlie acabou se metendo em uma briga com leigos perto de nossa casa, eles o chamaram de duende e ele revidou com socos, até que um deles o atirou longe, e ali estávamos nós. Lizzy já falara com eles, então voltara para nos avisar, mas se perdeu no meio do labirinto.

Chegamos à biblioteca e a mesinha de centro já estava posta: Chá indiano (Com um pouco mais de canela para mim) e Kulfi de morango, duas xícaras com desenhos azul-celestial nas bordas, dois pires e um bule pequeno de mesma tonalidade e duas colheres, tudo isso em uma bandeja de Prata de Lei recém-polida. Charlie sentou-se em uma poltrona e começou a servir-se e depois a mim.

-Então, dez anos em! Eu fiz dez no ano passado, e é uma grande data não acha? O que vai vestir hoje à noite?

-Ainda estou em dúvida, quero que seja algo que combine com meus dois presentes, então vai ser difícil!

Ele colocou a xícara em cima do pires, com um rosto chateado.

-Hã? Você já ganhou alguma coisa? A merda! Eu queria ser o primeiro a te dar meu presente!!

Eu já estava habituada a seu palavreado e gírias deselegantes devido ao tempo que passamos juntos, mas nunca as usei. Ele conhecia o mundo como ninguém, então estava mais preparado para ele do que eu mesma.

-Foi um laço de cetim branco, ganhei da Lady Mary. Ah! Ganhei também um colar indiano vermelho, quem me deu foi um homem, ele é muito legal! Sabia que ele tem um filho também? Eu o avisei para da próxima vez que vir trazer ele para brincarmos! Vai ser tão divertido!

Eu estava realmente feliz. Meu aniversário, mais um amigo, um laço de cetim... E tinha o baile de comemoração! Teria muitas pessoas a me olhar e me dar mais presentes. Entretanto, Charlie não parecia gostar nem um pouco disso. Ele tomou um gole de seu chá, depois por alguma razão veio a meu encontro, depois se ajoelhou na minha frente, pegou minha mão e delicadamente beijou-a, um beijo rápido e suave, como se protegesse algo precioso, acariciando-a com seus lábios macios. Eu nunca havia recebido um beijo desses na mão. Mas, de repente, senti meus batimentos acelerarem, como que levando um susto do ocorrido, eram agora fortes a ponto de fazer-me envergonhar.

-??

Senti algo frio sobre meus dedos, esquecendo completamente minha vergonha levantei minha mão para ver, um anel de ouro, do lado esquerdo o emblema do clã irlandês, que era verde, misturado ao inglês do lado direito, cujo era azul.

-É... tão... Ah, obrigada Charlie... Eu nem sei o que dizer.

Mas não pude falar nada mais, pois senti um gosto fraco de canela na boca e do glacê do Kulfi de morango levemente aerado. Suas mãos seguravam meu rosto pequeno, e meus olhos fecharam para meu primeiro beijo.

.. Intenso... Suave... Agradavelmente calmo e apaixonado... Nem com todas as palavras do mundo eu poderia descrevê-lo, meu cérebro parou de tentar processar e aceitou apenas sentir.

-Não importa o quê ou quando você ganhou qualquer outra coisa, aposto que o meu foi o melhor.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ - - - - - - - - - - - - - - -

Nove da noite, preparações da comemoração.

Já tinha me decidido sobre o vestido: Um branco, com rendas douradas e outras avermelhadas, com ombros grandes de forma arredondada, vesti meu armamento, depois...

-Nhai para para para!! Ta doendo muitooo!!

-Sinto muito senhorita, mas é assim mesmo.

-Nããão, tira! Tira isso agoraa! –Eu já arfava de tanta dor, e tentava me segurar para não gritar tanto, então estava vermelha – Não quero maiis!

-Esse é um dos sacrifícios que você vai ter a partir de agora, então precisa se acostumar!

-É O QUE? NÃO, NEM PENSAR QUE EU VOU USAR ISSO TODO SANTO DIA BARBETTA!!

Eu nunca que iria querer usar aquilo novamente, bustiês são muito apertados!! Eu tive a impressão de ser esmagada usando aquilo!! Mas, quando finalmente terminaram de me espremer eu me sentia sufocada, sorrindo com ironia Barbetta foi até a minha estante nova, talhada em madeira escura, onde tinha um espelho grande e oval, agora em cima dela tinha pó, tinta vermelha e uma caixa com minhas joias novas, forjadas pelo melhor joalheiro da região, tudo isso obra de meu pai, que no final não me deu um unicórnio.

-Agora respire pelo nariz devagar que você não vai morrer asfixiada!

-Isso era para me tranquilizar Barbetta? Eu vou morrer antes da festa começar desse jeito! Eu não consigo nem me mover direito!!

-Porque você está toda torta! Vamos! Peito estufado! Encolha essa barriga! Levante o queixo! Fique reta como uma dama!

A cada comando fiz a ação, mesmo descontente.

-Você parece dona Adelaide falando.

-Sente-se que agora vou chamar sua mãe.

Eu sentei na cadeira e vi através do espelho Barbetta sair do quarto. Quieta e sozinha olhei para minha estante nova, nada criativa e muito inexpressiva, as cortinas de meu quarto agora eram tom azul escuro, grande parte dos meus brinquedos foram jogados fora, as únicas coisas que não mudaram foram meu banheiro e minha cama, que eu precisei até me agarrar aos pés dele para não fazê-lo trocar. Tudo que eu achava bonito e carinhoso agora tinha se tornado simples e chato.

“Aposto que você não faria isso com um menino não é?...”

Nunca vi Charlie sendo castigado por ter um corte de cabelo rebelde daqueles, ou então Lizzy sendo forçada a aprender química e física quântica com essa idade. Eu era a única exceção...

Bom, já que eu era agora uma mulher isso faria parte da minha vida, não é?

Eu estava só com o armamento e o bustiê, deixando meu peito de fora e pés descalços, e estava muito frio. Logo depois disso minha mãe chegou. Eu me sentei e senti-a passando a escova calmamente em meu cabelo longo.

-Como foi seu dia hoje querida?

-Até que foi legal, eu aprendi vários tipos de comida indiana. O Charlie até veio me fazer companhia na hora do chá.

Na verdade ele vinha tomar chá comigo todo santo dia, mas eu nunca contei a ela, era segredo meu, dele e de Barbetta, que vinha trazer nosso lanche. Também não quis falar sobre como eu não havia me agradado com as mudanças, pois não queria incomodá-la ou preocupar, principalmente nessa hora.

-Está ansiosa?

-Com toda a certeza, vai ter tanta gente que eu nem sei o que fazer...

-Simplesmente relaxe e deixe com a mamãe, aliás, não será difícil.

-Obrigada mamãe, assim eu fico menos preocupada.

Ela me exibiu o maior sorriso que possuía - Estou aqui sempre que precisar querida.

-Mas e se um dia você não estiver mais aqui? – Nessa hora ela se agachou na minha frente, e colocou um dedo no meio do meu peito.

-Então eu estarei aqui, te protegendo de onde eu estiver.

- - - - - - - - - - - - - - - - ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ – ‘ - - - - - - - - - - - - - - -

Passado uma hora estava tudo pronto, eu estava totalmente arrumada, minha mãe havia me avisado que na cozinha os comes e bebes seriam distribuídos assim que todos chegassem, a mesa estava posta lá embaixo e todos os empregados estavam preparados para quando todos aparecessem. Ouvi algumas carruagens entrando no pátio e fui olhar pela janela, na primeira delas estava Charlie. Eu estava escondida olhando pela janela para ninguém notar meu vestido, mas, de alguma forma, ele me avistou da janela, sorriu, beijou a própria mão e depois assoprou como se quisesse manda-lo para mim, eu fiquei mais nervosa do que estava diante disso, mas de alguma forma entrei na brincadeira e peguei o beijo dele. Enquanto ele vinha para dentro da casa eu vi mais cinco ou seis carruagens chegando, uma atrás da outra, com seus abre e fecha, passando todos pelo tapete de carmesim vermelho e Tanaka-san anunciando seus nomes.

-Sr McCunn e seu filho! Sr e Sra Vancouver! Sr e Sra Otawa! Sr e Sra Ainswort! Madame Red! Bem vindos à festa de comemoração aos dez anos de Anne Phantomhive!

Todos estavam agora me esperando para a celebração realmente começar, meu coração palpitava de emoção e ansiedade.

“E agora? O que eu devo fazer?”

Coloquei uma das mãos no peito, estava realmente acelerado, eu respirava com rapidez, tentei me acalmar por alguns instantes, mas não funcionou. O nervosismo de estar na frente de tantas pessoas que tinham olhos apenas para mim me deixava tensa. Talvez se desistissem de tudo agora? Não seria melhor?

“É normal ter medo Anne, mesmo que por pequenas bobagens, é assim que você aprende que o medo é um dos obstáculos da vida e que você conseguirá simplesmente superá-los, de uma hora para outra. Eu vou estar aqui quando você precisar, mas um dia você terá que aprender a conquista-los sozinha.”

-... Então era isso o que ela queria dizer...

Eu tinha que superá-lo, o medo de todos rirem, de apontarem e criticarem a mim, me fazerem de boba e ingênua, de ser assim. Senti que já estava mais calma quando senti isso, foi então que os violinos começaram a tocar, chegara minha hora. Saí do quarto calmamente, tentando parecer chique, graciosa e altamente recatada. Passei pelo curto corredor e enfim, cheguei às escadas, aonde Tanaka-san iria me anunciar.

Ao soar dos violinos melódicos e contidos eu me apresentei refinadamente, com meu vestido e luvas em tom branco glacê, que combinavam com minha pele, dando um toque de suavidade, meu laço de cetim branco leite, enfeitando meus cabelos divididos em duas partes amarradas e cacheadas nas pontas, tom violeta escuro, meu colar indiano combinando com os babados de mesma cor, alegrando aqueles tons claros e sem vida com meus sapatos vermelho veludo, que engraçavam aos meus pés pequenos e delicados, e o dourado da minha gola com meu novo anel completavam minha nova figura. Eu estava de queixo em pé a hora que entrei, e então enquanto todos reparavam em minhas novas vestimentas sob a luz cristalina do lustre, eu sorri. Não era forjado ou falso, era realmente alegre e entusiasmado, um sorriso perfeito.

-Lady Anne Phantomhive, a sua disposição.

Todos me aplaudiram enquanto Tanaka-san apresentava a nova eu. E então, sem nem perceber com toda aquela euforia ao meu redor, Charlie estava do meu lado, com a mão estendida em minha frente, e eu a aceitei. Com nossas mãos posicionadas decemos a escadaria forrada com o tapete vermelho, aquele nervosismo e ansiedade de antes haviam se esvoaçado em meu sorriso brilhante e jovial, era como se tudo girasse apenas ao meu redor naquele exato momento, os violinos, as pessoas, as luzes, Charlie... Tudo estava realmente perfeito... Até a hora em que acabou.

O vidro do salão principal agora estava estilhaçado no chão, e junto dele uma bomba de fumaça. Mulheres e crianças gritando, homens armados entrando pelas janelas, e não se via mais nada, apenas os berros que se cessavam com um tiro, pessoas caindo ao chão, ensanguentadas e mortas, objetos de valor espatifando-se ao cair, sangue estragando meu vestido novo, como se isso fosse grande coisa nesse momento.

-Mas... Eu...

Senti os olhos esbugalhados, prestes a chorar, meu peito doía, era tudo minha culpa.

“Nada disso pode ser real, não é?”

Charlie com certeza foi mais rápido que eu, ele me puxou até embaixo das escadas, onde não havia ninguém, e quando viu que eu chorava e estava apavorada me chacoalhou para me acordar, mas não fez tanto efeito, os rostos das pessoas, todos sem expressão, sem vida, com sangue escorrendo na maior parte das vezes no topo da cabeça, onde havia balas, o corre corre em vão e até o barulho dos tiros e facas me deixavam horrorizada. Ele pegou meu rosto com as mãos e fez-me olha-lo, ele parecia nervoso e aterrorizado, mas principalmente preocupado.

-Anne! Olhe para mim: lembra-se de todas as vezes que brincamos de esconde-esconde? Escolha o lugar mais seguro possível dessa casa, um lugar que nem eu mesmo conseguiria te achar, e fique lá até tudo acabar.

-Mas... E você? Tem lugar para você também...

-Eu vou ficar bem, você sabe muito bem que eu posso me cuidar. Droga Anne, por favor, não chore mais! Faça isso por mim tudo bem? Vá e não saia mais de lá.

Eu já estava saindo dali, mas ele me agarrou pelo braço e me puxou de volta, me entrelaçando em seus braços. Eu sentia que ele não queria me deixar em nenhuma circunstância, mas era preciso. Depois de um curto, mas profundo abraço, ele me deu outro beijo, esse fora rápido, mas repleto de desejos.

-Agora pode ir, tome cuidado... Eu te amo.

Ouvir aquilo, naqueles exatos minutos, foi o mais terrível sentimento de abandono que eu pude sentir. Meu peito doía, meu estômago se embrulhava, minha mente estava desligada, e meu coração se partira. Deixá-lo ali sozinho, a própria sorte, a mercê dela, era como se o fio que nos entrelaçasse tivesse sido cortado, entretanto mesmo com lágrimas nos olhos eu continuei.

Saí disfarçadamente dali e subi as escadas, tudo agora estava dissolvendo-se em chamas, alguém tinha colocado fogo na casa, tudo queimando e se despedaçando ao longo do corredor, só havia um lugar na casa desconhecido até de meus pais, e que poderia ser seguro: A passagem secreta que ficava atrás da biblioteca.

Mas de repente, eu parei por instantes de correr.

“E papai e mamãe? Onde será que eles estão?”

“Será... Que já morreram?”

Eu tentei tirar isso dos pensamentos o máximo possível, e ao invés de fazer o que Charlie havia dito eu fui em direção contrária, buscando por eles, mas, chegando a escada esbarrei em um homem, ele era alto e jovem, olhos amarelos e cheios de vida, junto dele minha mãe. E chorava ao ver os dois ainda vivos.

-Mamãe, papai!!

-Anne minha filha! – Os dois vieram me abraçar – Graças a Deus, graças a Deus você está bem!

-E agora? Como sairemos daqui Vicente?

-Eu não tenho nenhuma ideia.

Os dois estavam realmente confusos sobre o que fazer.

-Eu sei de uma passagem, venham, vamos sair daqui! – Eu puxei os dois pela mão e fomos correndo pelo corredor. Enquanto corríamos ouvimos os barulhos do primeiro andar, agora estavam matando as pessoas com facas, pois não havia mais nenhum tiro, e os que ainda estavam vivos berravam de dor. Eu ainda me sentia mal com isso, mas agora que estava com meus pais eu poderia sair. Chegamos a biblioteca e fui diretamente até o livro Alice no País das Maravilhas, feito isso as estantes que cobriam a parede central foram se arrastando até abrir a passagem.

-Vamos indo!

Nós três corríamos para a liberdade, agora mais seguros, algumas risadinhas de nervosismo entre nós e uns pulinhos, eles corriam mais a frente, mas o inesperado aconteceu. Um tiro, só ouvi um tiro, vindo da nossa frente. Depois disso eu não vi nenhum deles correndo.

Um tiro... Apenas um, matou dois ao mesmo tempo.

-N-Não... Mamãe, papai... Não... Vocês não...

Eu não sentia mais minhas pernas de terror, então eu apenas caí sobre os joelhos, sem mais esperanças ou força de vontade. Os dois, sempre sorrindo e brincando, me pegando no colo, fazendo cafuné, tomando banho, passeando pelo jardim, agora eram dois corpos inúteis e sem vida, um sobre o outro... Eu não pude controlar minhas lágrimas e berrar por aquilo que tinha perdido.

-Não... Não... NÃO, NÃO, NÃO, NÃÃÃO!!!

Eu berrava como se uma agulha tivesse atravessado meu peito, retirando tudo que eu tinha. Sem forças nem para andar eu fui rastejando até aquelas bonecas de carne humana, vazias. Eu peguei com muita força minha mãe e abracei-a, depois meu pai, uma última vez. Chorando, solitária, com dois mortos em meus braços, almejando estar na frente daquela bala antes deles, para poderem fugir. Nunca mais iam sorrir, nunca mais iam brigar, nunca mais iam chorar... Somente apodrecer e virarem restos do que um dia foi feliz e vivo.

Só então que senti que estava levantando no ar.

Alguém tinha ouvido meus berros.

E com certeza ia me matar.

-ME LARGA!! ME SOLTA!!

Inconscientemente eu comecei a lutar, me debatendo em suas mãos, beliscando e mordendo para me soltar, mas ele me deu um soco, e eu desmaiei com a força.

E agora estou eu aqui, desgrenhada, pelada, em um lugar apertado, no escuro. Apenas ouvindo o som do vento, batendo nessas gélidas paredes de pedra. Não sei onde estou ou quem está aqui comigo. E dessa vez, ninguém pode vir me resgatar.

“Ninguém Anne, ninguém mais pode vir...”.

Segurando nessas grades de ferro, soluçando no escuro, não há nada que eu possa fazer. Espere? Uma luz?

Pelo tanto de luz que fornece deve ser uma vela, e bem pequena.

-... Tem alguém aí?

Ninguém me respondeu. Em? A vela... O que é aquilo?

Correntes... Aquilo são correntes para os pés?

Não pode ser, está muito escuro ainda para ter certeza.

Hã? Estão abrindo a grade?

Não, estão me levando pelos pulsos a algum lugar. Degraus a minha frente.

-Suba logo!!

O que eu posso fazer? Não tenho como fugir mesmo...

O som do trinque nos meus pés.

Parece que alguém tem algo pontudo em uma das mãos e outra coisa grande na outra. Não, espere... Não me diga que...!!!

*Clank*

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!!! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!!!! AH, AH, AAAAAAH!!!

-CALADA!

Eles ainda doem muito. Eu não enxergo nada, mas tenho certeza: estou pregada com os pulsos numa tábua de madeira na parede.

Tortura... Isso é uma sala de tortura.

*Clank*

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH!! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHH

-Ele já mandou calar a boca!!

*Poft*

-UGH!!

O quão forte uma pessoa pode ser? Um soco na cara deveria quebrar quatro dentes e deixar a visão turva?

Não, ele tem uma soqueira, com espinhos.

Minha cabeça dói, meus pulsos doem. O que mais eles podem me fazer?

Não, estou ficando sem chão, isso significa...

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH!!

*Poft* Você *Poft* Não vai *Poft* Calar *Poft* A boca? *Poft*

Eu sinto que tem sangue escorrendo dos meus pulsos, aliás, do meu rosto também.

“Mas ninguém mais pode vir me salvar... Nem mamãe, nem papai, nem Charlie.”

Pensando neles eu ouvi e vi os três, parados na minha frente, sorrindo para mim.

-Venha filha, mamãe quer cantar para você.

-Vamos lá apreciar as flores querida, é nessa época que florescem os lírios.

Charlie chegou mais a frente e estendeu sua mão, sorrindo com os olhos, como na primeira vez que o vi.

-Anne, venha comigo, eu te amo.

Um embrulho no estômago, os olhos cheios de lágrimas, e arrependimento nos pensamentos.

“Quem você achou que poderia salvar?”

...Sim, eu não conseguiria salvar ninguém. Eu ainda tenho medo.

Eu sou fraca e inútil.

“Obstáculos devem ser passados, não importando o medo que temos”.

Mas eu sei de algo que possa me ajudar.

-Oe, o que você está fazendo? Pare de se mexer, vai perder sangue demais.

-Você está louca? Assim vai morrer mais rápido que antes.

-Não para vocês, seus inúteis.

*Poft*- Ta chamando quem de inútil?!

-Quem mais está nessa sala apenas olhando a louca se remexer? Huh, Patéticos.

*Poft* - Você está começando a nos irritar!

-Vocês são irritantes, vão esperar eu morrer para tentar alguma coisa?

Eles estão chegando perto e me tocando, pelo jeito funcionou.

Meus pulsos estão dormentes, e acho que há sangue o suficiente.

-Ego te, quae elicere et maiore de tenebris magicae nigrae.

Venite ad me libenter vocare obvoluto amplitudine tua

Magnitúdinis Peto me

Cum videris me vitiorum

Sigillum sanguis fœderis mei

Et liberet me de rebus pluribus

APPEARST IMPERATOR INFERNIS !!

Um clarão, foi instantâneo, como uma bomba.

Agora tem um ser escuro a minha frente, parece um tipo de homem, com olhos vermelhos como sangue, e asas escuras e sombrias, que caem penas em todos os lados, aqueles caras estão mortos.

-O que deseja?

A voz deve parece ecoar nos meus ouvidos, como se gritasse.

-...Eu quero vingança sobre todos que destruíram tudo o que eu tinha.

-Êh? E para isso você chamou um demônio? Interessante. Quem você acha que eu sou para fazer brincadeiras de criança?

-Um demônio que de agora em diante vai me obedecer, não importa se tal desejo é banal ou inútil.

-E por que você acha isso?

-Pois em troca de seus serviços você poderá ter todas as almas que serão tiradas pelo caminho, e a minha, por último.

-Você acha que vale quanto?

-Eu nunca fiz mal nem a uma mosca, então tenho certeza de que minha alma vale como qualquer outra que você já viu.

Ele está tentando quebrar meus pensamentos e me confundir, eu vejo nos olhos dele.

-Como tem tanta certeza?

Um sorriso desagradável veio aos meus lábios. O novo ressoar de minha voz é baixa e tranquila, mas altamente perversa.

-Quer fazer uma aposta comigo? Atônito meu caro? Que interessante.

-Você fará tudo isso por vingança?

-Eles serão massacrados, pisados, torturados, arruinados e mortos. Eu vou tirar pedacinho por pedacinho do corpo de cada cretino imundo que tentou destruir os Phantomhive no dia de hoje.

-Ao selar esse pacto ninguém poderá voltar à vida depois de atravessar o rio da morte, nenhum ser celestial poderá reivindicar seu desejo sua alma, tudo que fará será sua responsabilidade, e a tudo que acontecer não haverá volta, está certa disso? – Ele caminha calmamente até mim e estende a mão.

-Nunca estive tão certa de algo na minha vida – Eu apertei a mão dele com força.

-Então, qual é seu nome?

-Anne, Anne Phantomhive.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem quer ver a Anne e o Charlie?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A vida de Anne Phantomhive" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.