Bésame escrita por Verônica Souza


Capítulo 6
Fita vermelha




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Lety passou por Fernando e Omar e nem se quer olhou para eles. Fernando continuou estático olhando para ela, sem entender.

– Você viu isso? Você viu isso? – Ele sacudiu Omar pela camisa. – Desde quando a Lety tem intimidades com taxistas?

– Desde ontem a noite. – Omar ajeitou sua camisa. – Acha que é ele?

– Eu não sei. Eu não sei, mas vou descobrir isso agora!

Fernando deixou Omar sozinho e correu atrás de Lety. Antes que ela entrasse na empresa ele a puxou pelo braço, levando-a para um lugar mais vazio e reservado, onde Celso não pudesse vê-los.

– O que você quer? – Ela puxou o braço com raiva.

– Quem era aquele?

– Era um taxista. Não reparou que ele estava dentro de um taxi?

– Quero saber de onde você o conhece.

– Essas perguntas são muito obvias, Fernando. Quer mesmo que eu responda?

– LETÍCIA!

Lety o olhou assustada e então bateu o pé cruzando os braços.

– Depois de ontem acho que não te devo satisfações de com quem eu converso, Fernando. – Ela disse ainda mantendo sua postura. – E aqui não é lugar para falarmos disso.

Ela se virou e não deu tempo para que ele dissesse mais nada. Fernando colocou as mãos no bolso e suspirou. A seguiu entrando na Conceitos e não retribuiu nenhum “bom dia” dos funcionários, mas como já estavam acostumados com sua bipolaridade, não acharam nada de estranho. Os dois pegaram o mesmo elevador, mas não se falaram. Fernando tentava de algum jeito demonstrar que mesmo depois de ter sido “abandonado” ele ainda se preocupava com ela. Porém quando criou coragem para falar, as portas se abriram, e Lety saiu em disparada pelos corredores.

– Bom dia meninas. – Ela sorriu para as amigas.

– Bom dia Lety. – Disseram em uníssono. – Bom dia Seu Fernando.

Fernando não respondeu o bom dia. Apenas balançou a cabeça para todas ao mesmo tempo, e continuou seguindo Lety até entrarem na sala da presidência.

– Vai me ignorar o resto do dia? – Ele perguntou sem se conter.

– Me desculpe, mas temos coisas mais importantes para resolver.

– Como o que? Como a sua brilhante escolha de ontem? – Perguntou sarcástico.

Lety apenas suspirou e fechou os olhos.

– Fernando, não quero discutir sobre esse assunto com você.

– Então será assim? Vai me tratar desse jeito, Letícia?

– Só estou dizendo que aqui não é o lugar para conversarmos sobre isso.

Fernando colocou as mãos no bolso e a observou ir até sua sala. Realmente ele não tinha muito o que fazer. Lety tinha decidido o seu caminho fazendo suas próprias escolhas. Não adiantaria ele bater em pontas de facas, se não dependia apenas dele. Ele só queria não desistir. Só queria não precisar de Letícia todas as horas do seu dia. Só queria não sentir falta dos carinhos que só ela conseguia lhe dar.

******

Durante a tarde as coisas continuavam na mesmice. Lety ainda ignorava Fernando, e ele ainda não sabia o que fazer para tê-la de volta em sua vida. Mal conseguiu trabalhar naquele dia, apenas deixando que seus pensamentos o carregassem.

– Seu Fernando! – Sara abriu a porta e Fernando deu um pulo em sua cadeira.

– Sara! Não é possível! Qual é o problema de bater na porta? – Fernando se levantou e foi até a porta. Se fechou do lado de fora, e então deu três batidas.

– Quem é? – Sara perguntou.

– Adivinha!

Sara abriu a porta e Fernando estava de braços cruzados.

– Viu só como não é tão difícil? Qual a dificuldade nisso?

– Desculpa Seu Fernando, é que o Senhor sabe que não estou acostumada com essas coisas.

– O que foi, Sara?

– É que a... Senhorita de ontem veio falar com o Senhor. – Disse dando ênfase ao “senhorita.”

No mesmo instante Lety saiu de sua sala, escorando-se na parede e olhando para os dois.

– Pois não? – Fernando olhou para ela.

– Ah... Nada... Só... Queria tomar um pouco de ar. – Ela forçou um sorriso.

– Sei... – Fernando cruzou os braços. – Diga para essa Senhorita que irei conversar com ela na sala de reuniões. Assim não precisamos ser incomodados. – Ele olhou para Lety.

– S... Sim senhor. – Sara olhou para os dois e então saiu

– Decidi seguir o seu conselho e contratá-la. – Disse provocativo.

– Fez muito bem. Ela será uma ótima secretária. Creio que você tem muita experiência em reconhecer isso, não é mesmo? – Ela sorriu.

– Eu... É... Bem... – Ele limpou a garganta. – Preciso ir.

Sem esperar que Lety dissesse alguma coisa, saiu da sala, deixando-a sozinha.

– Por que você teve que dizer todas aquelas coisas horríveis? – Lety conversava com si mesma. – E mesmo assim eu ainda te amo tanto, tanto...

*****

Já se passava mais de quarenta minutos que Fernando havia ido conversar com Cármen. Lety dividia seus olhares entre o relógio e o computador. Não aguentava mais toda aquela ansiedade e aflição, e de certo modo, inexplicáveis, já que Fernando havia dado muitos motivos na noite anterior para que ela o ignorasse.

– Não posso continuar assim. – Ela se levantou decidida. – Fernando não merece que eu fique assim por ele.

Imediatamente ela saiu de sua sala, indo até a recepção da Conceitos, e por incrível que pareça, as mulheres do quartel estavam trabalhando, sem nenhum tipo de fofoca.

– Olá meninas. – Lety sorriu.

– Olá. – Responderam sem tirar os olhos do computador.

Não seria possível que justo quando Lety queria conversar para se distrair, suas amigas estavam determinadas à trabalharem.

– Tem alguma novidade? – Ela insistiu, debruçando-se sobre a mesa de Paula Maria.

– Nenhuma. Por quê? – Sara respondeu.

– Ah... Por nada... Achei que talvez tivesse alguma... Notícia interessante.

– Você está bem, Lety? – Paula Maria perguntou.

– Sim. Muito bem. Muito bem mesmo. – Ela forçou um sorriso.

– Ai meu Jesus Cristinho! – Luigi apareceu exasperado. – Lety! Lety que bom que te encontrei!

– Luigi, fica calmo! – Carol correu atrás dele.

– O que aconteceu? – Lety perguntou preocupada e todas se levantaram para ouvir a conversa.

– Você não vai acreditar. Ai... Meu Deus! Foi uma tragédia! Estou envergonhado por dizer isso.

– Luigi, por favor, estou ficando preocupada.

– Foi o comercial. Eles... Eles... Ai. Não consigo dizer. – Luigi tampou o rosto.

– Eles querem algo mais... Algo mais sensual, Lety. – Carol disse. – Disseram que ficou muito bom, mas querem algo que chame mais a atenção. E querem com você, ou então não irão fechar negócio.

Lety sentiu o seu corpo ficar tenso. Havia concordado em fazer um comercial respeitoso, mas fazer um comercial com sensualidade estava passando dos limites. Suas mãos começaram a suar e ela sentiu o seu corpo inteiro se amolecer. No mesmo instante, Fernando saiu da sala de reuniões, dando gargalhadas ao lado de Cármen. Um flashback de todas as modelos que Fernando flertava em sua frente passou em sua cabeça. Toda essa mistura de sentimentos se misturou em seu estomago, e ela sentiu o seu corpo ficar frio.

– Lety você está me ouvindo? – Carol perguntou.

– Acho que ela entrou em choque. – Sara disse.

– Lety? – Fernando se aproximou, mas antes que a tocasse, ela saiu correndo em direção ao banheiro.

– Ai, o que foi isso? – Luigi perguntou assustado.

Fernando correu atrás dela, e ninguém conseguia entender absolutamente nada.

*****

– Lety? – Ele bateu na porta do banheiro. – Lety, abra a porta.

– Quero falar com a Dona Carolina. – Respondeu com a voz fraca.

– O que? Lety o que está acontecendo? – Fernando perguntou tenso. – Me deixe entrar Lety. Se você estiver se sentindo mal eu preciso entrar e...

– Eu só saio daqui depois que ver a Dona Carolina.

Fernando respirou fundo e andou de um lado para o outro. Queria saber o que estava acontecendo, e não estava gostando nada daquele assunto.

– Fernando, o que aconteceu? – Carol se aproximou preocupada, seguida por Omar.

– Eu não sei. Ela não quer abrir. Disse que só sai depois que falar com você.

– Lety, sou eu, Carolina. Me deixe entrar.

A porta se abriu, e Carolina entrou. Fernando se preparou para entrar, mas a porta bateu em seu rosto.

– Acho que ela quebrou o meu nariz! – Fernando se agachou com a mão no rosto.

*****

– O que foi que aconteceu Lety? – Carolina olhou preocupada para ela. Lety estava com os olhos cheios de lágrimas, e parecia muito nervosa.

– Eu... Não estou me sentindo muito bem.

– Isso deu para perceber. Está pálida!

– É... É sobre isso que quero falar com você.

– Aconteceu alguma coisa Lety?

– Não sei. Talvez.

– Quer me contar o que está acontecendo, por favor?

– Eu preciso que você faça um favor para mim, Dona Carolina. Um grande favor.

*****

– Elas estão aí há muito tempo. – Fernando andava de um lado para o outro com a mão em seu nariz.

– E daqui a pouco você vai fazer um buraco no chão. Fica calmo irmãozinho. Aposto que não é nada.

– E por que ela não quis me contar?

– Se esqueceu do que aconteceu ontem? Por que ela te contaria?

– Carvajal o seu jeito de me acalmar é único. – Respondeu sarcástico. – Não me importa se ela está brava comigo, se ela me deixou de lado ou se ela...

– Se ela te colocou chifres.

– Você está começando a me irritar. – Fernando fuzilou Omar com os olhos.

– Me desculpe maninho, só estou tentando ajudar.

– Seria melhor não tentar.

– É que não aguento te ver sofrendo desse jeito pela Lety. Ela já te trocou uma vez pelo Domenzain, e agora está te trocando de novo. E tudo o que você faz é ficar preocupado com ela.

– Você tem razão. Eu não deveria estar preocupado com ela.

– Claro que não. Viu só como ela chegou hoje? Ela estava se divertindo com aquele taxista, enquanto você ficou chorando.

– Eu não chorei!

– Sei.

– Mas você tem razão. Tem toda razão. Eu não vou mais me preocupar com ela, enquanto ela não ter uma conversa civilizada comigo. Não quero mais saber da Letícia!

No mesmo instante a porta do banheiro se abriu, e Carolina saiu.

– O que ela tem Carolina? Por favor, me diga que ela está bem. – Fernando segurou os ombros dela e Omar segurou o riso.

– Ela está bem, mas ainda não quer sair. Preciso comprar uma coisa para ela.

– Uma coisa? Que coisa?

– Coisas de mulher, Fernando. Agora com licença, e, por favor, não a incomode enquanto ela não estiver pronta para sair desse banheiro. Aconselho você a voltar a cuidar das coisas da empresa, e deixar Lety sozinha um pouco.

Fernando abriu a boca para responder, mas Carolina não deu a oportunidade. Passou por Omar como se ele fosse um fantasma, e então entrou no elevador.

– O que foi que deu nessas mulheres? – Fernando perguntou. – Viu só como ela falou comigo?

– Pelo menos ela falou com você.

– Eu não vou sossegar enquanto não saber o que está acontecendo. Não vou descansar! – Ele bateu no ombro de Omar e saiu, voltando para sua sala.

******

Lety lavou seu rosto e depois se olhou no espelho. Seus olhos começavam a ficar inchados de tanto chorar, e qualquer um conseguia notar aquilo. Era tudo o que ela não queria, que as pessoas percebessem que ela havia chorado, principalmente Fernando. Mas a cada vez que ela pensava naquele assunto, as lágrimas voltavam a rolar em seu rosto, e ela sentia seu mundo desabar.

– Lety! Sou eu. – Carolina bateu na porta.

Lety abriu a porta e ela entrou apressada, voltando a fechá-la.

– Aqui está. – Carolina entregou a sacola para Lety. – Comprei de dois tipos diferentes, para não haver erros.

– Obrigada. Dona Carolina, não tenho como agradecer.

– Não precisa Lety. Agora vamos tirar nossas dúvidas logo, e falamos disso depois.

Lety balançou a cabeça concordando e entrou no box do banheiro. O tempo que esperaram foi angustiante, e parecia ter se passado horas, quando na verdade se passou apenas quinze minutos.

– Já deu o tempo, Lety. – Carol olhou em seu relógio. – Vamos lá.

– Não sei se estou preparada.

– Mas tem que estar. Vamos lá, eu vejo um, e você vê o outro.

– Está bem. – Lety suspirou e pegou o objeto em suas mãos. – Vamos contar até três e olharmos.

– Certo.

– Um, dois, três.

As duas olharam para o objeto e depois se olharam.

– O que apareceu no seu? – Lety perguntou com as mãos tremendo.

– Uma fita vermelha. E no seu?

Lety apenas esticou a mão para Carol, também havia uma fita vermelha no dela.


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