Ninguém em toda Campus Atlos parecia se importar com o vento gélido daquela manhã não tão ensolarada como as outras. Um número bem significativo de pessoas estavam se reunindo no meio do campus. Mas era impossível para os seis jovens, ainda dentro de casa, descobrirem o que era. Seria devido ao muro?

Bruno não demorou mais de algumas duas horas para voltar para casa na noite passada. Ele deve ter notado que ficar com verdadeiros amigos é bem melhor do que estar sozinho em um colégio enorme como aquele, e que todos estariam contra ele por uma calúnia. Calúnia.

Ele não aguentava passar pelos lugares e ouvir as pessoas comentando sobre aquilo e olhando pelo o canto do olho. Aquilo o irritava mais que tudo. Mais que tentar se manter visivelmente bem por estar ignorando seu melhor amigo. Na mente de Bruno, ele fez o que achava certo. Fez aquilo para conseguir provas. Resposta. Mas só o que ele obteve foi mais perguntas e o que ele perdeu foi um amigo. Um amigo de verdade, que nem em seus melhores textos para redações ou contos, ele pensou em ter.

Sem contar no pequeno, mais significante, romance entre Jonatas e Giovanna. Seus únicos melhores amigos em todo o mundo estavam juntos. Se beijando e se acariciando, trocando palavras belas e doces e talvez se preocupando, juntos, com Bruno. Mas ele sempre tentava não pensar em nisso como uma possibilidade.

De volta ao seu quarto, no meio da madrugada, Bruno se deparou com Jonatas dormindo e Vinicius teclando no computador.

– Finalmente voltou. –Ele cochichou sem virar para trás. – Pensei que seria louco em ficar lá fora.

Bruno sentou na cama.

– O meu lugar é aqui. Sempre foi.

Vinicius girou a cadeira giratória para a reta de Bruno.

– Tenho que te dizer algo.

– O que foi? –Bruno ficou curioso, abrindo os olhos que quase estavam se fechando.

– Consegui hackear o sistema de dados do computador principal do colégio. –Vinicius sorri, esperançoso.

Bruno olhou para os lados sem entender.

– Você não iria entender.

– Pode dizer.

– Tudo bem. –Vinicius concordou, sem pensar duas vezes. – Consta, no sistema, que de algum jeito as mensagens de V são enviadas daqui de dentro. E o celular, ou seja lá que tipo de aparelho que nos manda essas mensagens, estão interligadas ao computador da escola.

Bruno se espantou. Era a maior descoberto sobre V já feita.

– Você quer dizer que V está dentro deste colégio? –Ele se endireita. – Ou pior, pode ser qualquer um?

– Não só qualquer um, ele pode ser alguém da diretoria, da faxina, dos alunos, dos professores. –Vinicius respondeu certo de tudo. – V pode ser alguém do nosso lado.

Bruno busca por respostas ou algo que se encaixa, na sua cabeça, mas nada vem:

– Alguma ideia de quem seja?

– Isso é demais, não? –Vinicius riu. – Com o tempo iremos saber.

– Obrigado, senhor Hacker, por não me fazer dormir hoje! –Bruno da um soco no ombro dele.

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Uma voz ecoou pelos corredores bem no horário de troca de aulas. A voz era rouca e masculina. ‘’Veteranos e novatos se encaminhem ao centro do campus para um recado obrigatório.’’, disse.

E a movimentação estava explicada. Mas o problema era que os seis jovens não foram para a aula naquela manhã. Por algum motivo todos tiveram que faltar.

Os seis jovens saíram de casa querendo saber o que estava havendo no meio daquela multidão. E eles descobriram. No meio do campus duas mulheres estavam do lado de um enorme quadro de vidro com papeis brancos colados neles.

– Bom dia, caros estudantes do Campus Atlos. –Disse a loura. – Hoje nos viemos apresentar para os iniciantes do colégio que temos aulas extras-curriculares que ajudarão futuramente no desenvolvimento de cada...

– E é claro que todos vão poder participar. –Falou a morena de olhos azuis. – Vocês podem participar de quantas quiserem. É só por o nome nas listas.

– E vocês estão CONVOCADOS a ir até a Quadra Estádio, para assistir uma apresentação de todos os clubes extras. –A loura falou com um tom mais grave. – Só poderão faltar se for caso de morte.

Todos se assustaram mas ela logo consertou:

– Que não é o caso, certo? –Ela riu.

A movimentação foi ainda maior depois quando elas saíram dali. Os adolescentes faziam filas perto das folhas ‘’Clube do Coral’’, ‘’Futebol’’, ‘’Teatro’’, ‘’Musical de Inverno’’ e ‘’Circuito Tecnológico’’.

Bruno, Carol e Ana não se inscreveram em nenhum mas Jonatas, Giovanna e Vinicius sim. Giovanna foi até a fila do Musical de Inverno, Vinicius para o Circuito Tecnológico e Jonatas no Futebol. Davi também estava se inscrevendo para o Futebol e ele falou com Jonatas. O cumprimentou e disse que seria muito legal ver ele tentando superar a cadeira de rodas. Mas alguém iria acabar com aquele momento...

– Não aceitamos aleijados no time. –Joshua disse cuspindo, olhando para Jonatas.

Jonatas balançou a cabeça negativamente.

– Quem você pensa que é? –Davi enfrentou Joshua. – Não fale assim com ele.

– Sou o líder do time. –Joshua sorriu debochadamente. – Também não aceitamos magrelos metidos a valentões.

Davi suspirou e foi para cima de Joshua, mas uma mão o impediu. A de Bruno.

– Não se meta com esse idiota. –Bruno disse olhando para o rosto moreno dele. – Não vale a pena.

– Ele menosprezou o Jonatas! –Davi tentou soltar a mão.

– Joshua não é ninguém. Não é maior que ninguém aqui dentro. Deixe que ele fale. –Bruno soltou Davi. – Eu juro que você não precisa fazer isso...

Jonatas olhou para os olhos de Bruno.

– Porque ele tem um amigo para protege-lo. –Ele sorriu para Jonatas. – Eu. Aquele que sempre foi.

Davi bateu no ombro dele:

– Você é um bom amigo para ele.

– E Joshua, já disse para não se meter com um de nós. –Bruno olhou diretamente para ele. – Você vai se arrepender amargamente.

– Não tenho medo de você. –Joshua sorriu.

– Deveria. –Bruno sorriu de volta. – Porque você não me conhece.

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A noite caiu mais rápido do que eles pensavam. Todos do colégio lotaram o Quadra Estádio. Não havia lugares vazios nem nada. Lotaram até as escadas. Apenas um lugar ainda estava vago. Mas havia reserva.

Os sons estavam começando a ficar mais altos. Veteranos dos clubes estravam no meio do campo de futebol para começar a apresentação.

Uma pessoa encapuzada sentou no lugar vago na fileira de trás da dos seis jovens. Um suspiro profundo da pessoa de trás deles. Logo entre Bruno e Jonatas a cabeça da pessoa apareceu e disse:

– Só podia faltar em caso de morte né? –A voz soou conhecida e eles olharam assustados para o rosto da pessoa.

Era Catete.