Parte 1 - Bruno

‘’ Vejo famílias ao redor de árvores no meio da praça principal de Atlos. Vários sorrisos para todos os cantos em que meus olhos alcançavam. Não havia nenhuma dúvida do que estava acontecendo, de que época havia finalmente chegado. O Natal.

Fico completamente diferente nesta época do ano. Não sei explicar o motivo, mas sei que há alguma coisa que me prende ao Natal. Talvez uma memória do passado, talvez um amigo, uma amiga, mas ao certo não me recordo. Eu gostaria de recordar. Juro que gostaria.

Depois de muita coisa ter ocorrido como o Gouveia estar vivo e aparecer sem dar muitas explicações, eu quase morrer no frio, muitas pessoas levarem tiros, a morte de Manoel e Catete voltar... Eu não sei ao certo quem sou eu. Ou o que me tornei. O fato é que não sou o mesmo de antes. E também nunca poderei ser.

Fiz coisas horríveis para proteger meus amigos e descobrir a verdade. Mas a realidade é que, não posso cuidar de tudo. Não tenho condições de cuidar de tudo. Aprendi isso depois de uma briga horrível com o Jonatas. Há muitas coisas envolvidas no motivo da briga, mas nada que valha eu comentar no momento. O importante é que sei que errei. Se estou ainda muito amigo do Jonatas depois da briga? Dizemos que a amizade está voltando aos poucos.

Nem ele é o mesmo de antes. Tenho certeza disso. ‘’

Parte 2 - Giovanna

‘’ A véspera de Natal nunca pareceu demorar tanto para chegar, como está sendo neste ano. Mas eu fico feliz em estar rodeada de amigos para todos os lados. O pessoal que mora aqui na casa do Campus comigo é super legal, tirando Joshua e seus amigos. Não foi um prazer conhecer eles.

Mas nossos amigos estão aqui, então é isso o que importa realmente. Ana, Bruno, Jonatas, Carol, Vinicius e Catete. Eles fazem parecer que tudo ficará bem, mesmo que não seja isso o que esteja acontecendo. Porque por algum motivo ainda não me sinto como antes do 8º ano. Antes nós éramos diferentes. Não se preocupávamos com o que rodeava o mundo e nem mesmo com ameaças. Mas após V entrar em nossas vidas, tudo mudou. V nos mostra que nada é o que realmente achamos. E que tudo pode ser uma mentira.

Mas eu achar isso não significa que V é uma boa influência, ou mesmo uma pessoa boa. Pois não é. O que ela ou ele fez para nós é totalmente um horror, e eu tenho receio até de lembrar disso.

O fato é que V fez a primeira burrada ao nos unir. Porque somos mais fortes do que pode pensar. Somos um só quando vamos nos defender. E no momento certo, em que V chegar ao ponto de juntar nos todos e nos encarar frente a frente, não sobrará para ninguém.

Pode-se notar que V fez outra coisa também: Eu mudei. Mudei totalmente. Ter a mentalidade que eu tenho hoje, aos 14 anos, não é uma boa coisa. Hoje sinto que sou mais forte e posso deter qualquer coisa com palavras. Quebrar algo com um único soco. E eu não era assim. Aos 12 anos – eu assumo isso – parecia ter 6. Minha mentalidade era outra. Mas agora sou uma nova menina. Uma futura mulher. Sou forte e sei que posso ser mais. ‘’

Parte 3 - Jonatas

‘’ O som dos sinos do Campus me fazia feliz. Levantar da cama não. As vezes, para não fazer tanto esforço para levantar pela manhã, eu ficava por ali. Deitado, olhando para o teto e me perdendo em imaginação e pesadelos.

Volta e meia eu me via relembrando aquele dia, em que as coisas se tornaram graves: A viagem para Palms. Ainda me lembro de todos nós no Aeroporto Internacional de Atlos. As turmas eram 8º e 9º ano. E éramos do 9ª. Meu Deus, é como se fosse ontem! Até me recordo de Giovanna me perguntando pelas malas, se eu já estava com elas prontas. É com certeza, foi um ano de altos e baixos.

Me lembro do Natal em que eu estudava no 8º ano. Eu e Bruno reforçamos muito nossa amizade, assim como fiz com Giovanna. Nós três nos tornamos muito amigos. Bruno tinha viajado para Nova York, devido ao lançamento que não houve do seu livro. Até hoje não sei o real motivo dele ter voltado. Se foi pelo livro ou por outro motivo. Mas sei que ele mudou.

Giovanna, o meu amor.

Não sei o que falar sobre ela. Aquele jeito meigo e bonito que foi se transformando na adolescente forte e determinada que é hoje. Sei que meu amor cresce a cada segundo que a vejo e que sinto ela por perto. Mas não consigo ser o mesmo com ninguém, então acho que isso está nos distanciando um pouco. Nem mesmo tivemos uma conversa decente sobre nosso relacionamento. Não sei nem se estamos namorando ou não. É algo complicado demais.

Mas sei que mudaremos isso com o Natal. Nessa época Natalina tudo de bom pode acontecer. Pode até acontecer o conhecido Milagre de Natal. ‘’

Parte 4 – Ana

‘’ A Noite de Véspera de Natal será hoje e eu não sei nem mesmo o que vestir. Estudando nesse colégio não podemos sair com muita frequência, só as vezes aos fins de semana, mas as melhores lojas para comprar roupas e sapatos só abrem durante a semana. Mas finalmente o Natal chegou. Poderemos rever nossos familiares e depois se reunir como todos as vezes na praça e ouvir sons natalinos. Não vejo a hora.

Me lembrei de algo agora, Lanna. Aquela diretora do acampamento Palms. Ela parecia meio doida. O que será que houve com ela? Vou fazer uma visita em breve. Rever nossos primos de acampamento.

E falando nisso, acho que não fui só eu que fiquei meio perdida com a nossa chegada em Palms, certo? Certo. Aquele pessoal dançando e o nosso também, parecia um musical da Disney no meio do mato.

E sabe a líder das meninas do acampamento, a Carol? Está nossa amiga agora. Meio que nossa aliada. Nosso time contra V está mais forte. Temos um ao outro agora. Há algumas caídas em relação a isso mas nada que prejudique o nosso desempenho em saber a verdade.

E aquela festa do pijama? Menina, só problema. Mas deixemos que as coisas se organizem aos poucos. ‘’

Parte 5 – V

‘’ A todo o momento a verdade faltará. O medo vencerá e a honestidade falhará. A cada segundo novas perguntas irão se criar e respostas não irão faltar, basta a certa se mostrar. De pouco a pouco um irá se tornar diferente para mais inteligente, e para a cada um desses um passado esconderá. ‘’

Fernanda fechou a carta feita em papel ao ler a última frase, escrita por V. Nos primeiros quatro momentos da carta ela pode dar alguns sorrisos e se perguntar de coisas que ela não estava presenciando. Mas no fim da mesma, as coisas, para ela, estavam fazendo mais sentidos do que nunca.

Os dedos dela pareciam mais cansados do que nunca, com uma tonalidade de pele muita pálida e sofrida.

Tudo no quarto cheirava a remédio e a Álcool. A cama era coberta por um cobertor branco e um travesseiro da mesma cor.

Fernanda deixou a carta em cima da cama e se encaminhou até o banheiro. Pós as mãos no espelho úmido e permitiu ver o próprio rosto, que a tanto tempo buscava forças para isso. Estava mais estranha do que nunca. Seu cabelo estava comprido e uma enorme franja ia até sua sobrancelha.

– Mas como...? –Fernanda se perguntou na frente do espelho, deixando uma voz rouca e forçada sair.

A porta do quarto se abre e uma mulher de vestido branco entra no aposento de Fernanda. A mesma que buscou ela acompanha do homem, no final inesperado da festa de fim de ano do colégio Atlos.

– Está na hora do seu banho, querida. –Diz a mulher.

– Não quero. Já disse! –Fernanda fecha a porta do banheiro e tranca.

– Abra a porta, Fernanda! –A mulher berra.

– Nunca! –Fernanda grita de volta.

– Não poderá ficar aí para sempre. -Ela ri.