A Casa escrita por CastleOfGlass


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sempre sonhei com uma casa rodeada por árvores secas, com um lago negro logo a frente, a casa era escura, velha, paredes descascadas, janelas quebradas, e apenas uma lamparina a frente, que invés de proporcionar calma, me fazia ter arrepios. Havia alguma coisa nessa casa, era assustadora, intimidadora, sombria. Como se soubesse todos meus segredos, meus medos mais profundos. No sonho, de alguma forma, sempre andava até a porta maltratada, mas quando eu a abria com o coração martelando no peito, eu acordava assustada. Minhas mãos geladas, suor escorrendo, e ofegante. Tinha alguma coisa lá. Aquela casa me assustava, ela me chamava. Eu tinha acabado de acordar de um pesadelo, desse pesadelo. Minhas mãos tremiam. Com muita dificuldade, consegui me acalmar. Um sonho! Só isso.

Já passava das 9 da manhã, quando alguém bateu a porta do meu apartamento. Abri e me deparei com minha melhor amiga.

— Então, você vai? – Ela me perguntou com um sorriso, nós íamos viajar para o aniversário do irmão dela. E pela sua expressão ela achava que eu tinha esquecido.

— Claro que sim, eu não perderia por nada. – Respondi. Ela havia ficado o verão inteiro animada com isso, e não seria eu, a desapontá-la.

Ela me ajudou a arrumar minhas coisas, e quando estava tudo pronto, saímos da cidade. Minha amiga dirigia, e já estávamos na estrada havia horas, e não víamos um carro sequer, a paisagem ao nosso redor havia se modificado, e agora ao redor era sinistra, com árvores negras sem folhas, galhos secos retorcidos, em volta da estrada. As árvores estavam assim provavelmente por causa do frio, era inicio de inverno.

— Tem certeza, que você pegou o caminho certo? – Eu disse desinquieta me remexendo no banco.

— Eu sei que estava no caminho certo... Eu não conheço esse lugar, não sei como fomos parar aqui... Eu... Eu não entendo. – Balbuciou aflita.

O mais estranho é que não havíamos visto, nenhuma placa, nenhuma curva, era apenas uma reta sem fim. Tinha umas duas horas que vimos a ultima casa. A estrada agora estava coberta por uma leve neblina, tremi dentro do meu casaco.

— Talvez devêssemos voltar vai que... – Mas a frase dela ficou inacabada por um estalo forte no motor do carro. Fomos impulsionadas para frente com violência e depois o carro parou.

Silêncio. Nenhum movimento, eu comecei a bater os dentes. Começou a fazer muito frio. O carro havia estragado no meio do nada. Com a noite chegando.

— Eu não acredito, o que a gente vai fazer agora? – Disse minha melhor amiga, sua respiração se condensando em sua frente. E reparei que a minha também.

— Não sei, talvez a gente devesse andar um pouco, para ver se encontramos ajuda. – Sai do carro e ela fez o mesmo. Esfreguei minhas mãos, na esperança de aquecê-las, mas não funcionou.

Deixamos o carro onde estava, e trancamos a porta por precaução, o sol já estava se pondo. Era quase noite, o que não era bom.

— Vamos só dar uma olhada, se não acharmos nada, voltamos e dormimos no carro certo? Estou congelando aqui fora. – Ela disse batendo os dentes.

— Estamos congelando de qualquer maneira. – Eu resmunguei, e ela me olhou com impaciência. – Certo, tudo bem, agora vamos.

Andamos com pressa, meu peito parecia estar congelado, mas não tinha a ver com o frio descomunal que estava fazendo, era outra coisa: Medo. Mas tentei parecer mais confiante do que me sentia. O carro já estava desaparecendo atrás de nós. Já não havia sol. Apenas uma luz fraca que eu sabia que iria desaparecer em breve.

— Vamos voltar.

—Espera. – Disse paralisada.

O que estava vendo la na frente? Não seria uma árvore? Uma luz em meio a escuridão que se instalava. Seria uma casa?

Sem pensar comecei a andar até lá, não sei bem por que. Era como um magnetismo, alguma coisa me chamava, como um lamento. Algo desesperado. Mas... Eu tinha que dar meia volta, era mais seguro... Não era? Era como se eu estivesse hipnotizada, meus pés se moviam por conta própria.

— O que você está fazendo? – Gritou uma voz desesperada atrás de mim.
Mas a voz soou longe demais para que eu me importasse.

Eu queria saber o que era aquilo, mesmo com o medo se instalando em meu peito, em meus músculos. Mas se eu tinha medo, por que continuava? Gritava uma parte racional da minha cabeça. Mas ignorei com um aperto no estômago, aquilo era tão familiar, as árvores, o lago negro. Então a casa, a casa que eu sempre sonhei tudo exatamente igual, a lamparina... A casa estava ali, me chamando como uma velha amiga.

Agora além do medo, estava incrédula, o sangue martelava em minha cabeça, a fazendo latejar. Mas eu precisava saber o que aquilo significava o que queria me dizer, o que havia atrás daquela porta, algo medonho e assustador, eu não duvidava disso. Continuei andando com minha amiga agarrada ao meu braço, e sussurrava.

— Não, não. – Ela estava apavorada, sentia algo maléfico vindo de lá, eu também.

Eu não conseguia parar. Minha respiração estava pesada, meu coração batendo forte, o medo dominava cada parte de mim. O sol, já havia desaparecido, a única luz vinha da lamparina acima da casa. A noite havia chegado calma e ameaçadora, despertando os demônios com ela, imagino. Parei em frente a porta, minha mão no trinco, então com um torcer de pulso a abri. Ouvi um grito lancinante, e pulei de susto, era de minha amiga, um grito desesperado. De puro terror, o cheiro que vinha da casa era fétido.

— Não posso entrar ai! Não! É a própria porta do inferno. – Ela berrou. Ela ia para trás, a medida que suas palavras entravam em minha cabeça percebi no que ela acabara de dizer.

— Espera, não! Tem uma coisa. – Eu disse ainda tentando segura-la. Eu sentia que devia entrar, não sabia o porquê. Era minha intuição.

— Não! – Ela gritou e se libertou de mim. – Vem comigo então! – Ela gritou desesperada, então viu que eu não me movera e saiu correndo, eu não a segui. Não sabia o que fazer. Ela se virou para trás e viu que eu não a segui.

— Você pertence a eles então. – Berrou chorando, dei conta do que eu estava fazendo e dei um passo para frente para correr também. Mas já era tarde demais.

Não sabia como, mas quando dei por mim, já estava dentro da casa. A porta se fechou com um estrondo. Desesperada tentei abri-la. Mas foi em vão. Eu não enxergava nada tudo era escuro, eu não ousava me mexer. Foi sem duvida a pior noite da minha vida. Chorando baixinho, me encolhi no chão. Tremendo, de frio, de medo. Eu escutava gritos torturados, baques surdos no chão bem ao meu lado, que bem podia ser de pedaços de carnes podres. Mantive meus olhos fechados o tempo inteiro mal respirando. Eu ouvia vozes, “Aqui me liberte”. Venha! Sussurravam as vozes. Quando eu não me mexia apenas engolia soluços, ouvia lamentações, mais gritos. Barulhos horrendo vindo de todos lugares, coisas não humanas. Barulhos de coisas de arrastando. Senti uma respiração, bem perto do meu rosto. Fria, fétida. Por muito tempo. Eu iria morrer não é? Aqui? Medo. Medo. Que atrofia cada nervo do meu corpo. Gritei muito, nessa noite, chorei também. Mas nunca abri os olhos.

Quando enfim o sol apareceu, a porta se abriu atrás de mim, não sei onde encontrei forças. Mas disparei para fora, cambaleando desnorteada, e com náuseas. Cai muito na volta, a cada vez que caia queria ficar no chão frio e morrer ali, mas me levantei e continuei. Não olhei para trás, mas senti a presença de alguém me seguindo com os olhos que causava frios em minha espinha. Não pude me aguentar me apoiei nos meus joelhos e vomitei violentamente. Eu me sentia fraca, e também sabia que podia desmaiar a qualquer momento. Eu ainda estava bem longe do caminho que levava para a estrada. Meu pé escorregou numa pedra, e cai um pouco para baixo. Quando pude respirar novamente vi que eu estava a beira do lago negro. Com cuidado decidi ir para bem longe, mas antes que eu pudesse me mexer algo agarrou meu pé, e me puxou para baixo. Para dentro do lago. Primeiro o choque da água fria, depois o desespero. Eu ainda estava sendo puxada com força para baixo. Tentei me desvencilhar. Tentei chutar o que quer que tenha me agarrado.

E enfim consegui me soltar. Eu já estava sem fôlego e meus pulmões ardiam. Eu não via nada ao redor. Era tudo negro, meus membros estavam dormentes. Não era possível que eu fosse morrer de hipotermia! Não podia. Eu lutei para nadar ate a superfície. De repente eu já não sentia mais frio... Não sentia... Nada. De alguma forma que não percebi como, consegui sair do lado, minhas roupas pingavam, estava tremendo, agora eu sentia muito frio, parecia estar entrelaçado em cada parte de mim, comecei a correr para longe daquele lugar.

Com muito esforço consegui chegar a estrada, molhada, com frio... Mas viva, a estrada estava muito movimentada, entorpecida notei policiais, andei no meio deles, mas eles não pareceram me notar, eles não me viam, e minhas roupas pingavam, eu batia o queixo. Talvez devesse me importar com isso, mas só me concentrei no carro cheio de sangue e o corpo destroçado de minha amiga, o cheiro, o sangue, minha cabeça rodava. Não podia ser! Desesperada notei que havia uma mensagem escrita a sangue no carro. “Você pertence a nós agora”. Dei um grito estrangulado e minha consciência se apagou.


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Notas finais do capítulo

Então, alguém leu? Se sim, deixe sua opinião, é realmente muito importante. :3 Bye. ^^



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