Acaso Perfeito escrita por Bruh


Capítulo 1
Capítulo 1




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Fiquei encarando a televisão desligada por algumas horas. Eu estava assistindo um seriado dos anos oitenta, mas em algum momento alguém desligou a tv e lá estava eu...tendo pensamentos cíclicos sobre como as coisas estavam na minha vida. Sabe quando você tem a sensação de que ganhou na loteria sem realmente ter recebido o dinheiro? Pois é, parece que quando algo dá muito certo, outra coisa acontece para contrabalancear.

Lá estava eu...com o emprego dos meus sonhos, mas sem condições de concretizá-los. Eu havia sido selecionada para trabalhar como redatora em uma agência de publicidade. Bom, não em uma agência...e sim na agência mais bombada do Rio de Janeiro. A Top era um sonho para mim desde muito nova...e agora, aos vinte e dois, eu realmente tinha conseguido. Em contra partida, meus pais estavam enfrentando um divórcio...amigável, mas ainda sim um divórcio.

Eu tinha dito para a entrevistadora que morava perto da agência, o que não era exatamente verdade. O caos havia se instaurado em minha casa e por mais que minha mãe falasse que o divórcio entre eles era amigável, eu não acreditava muito nesse papo. Se fosse amigável não seria divórcio.

A agência ficava em Copacabana e eu ainda morava em um prédio mofado no Méier. Eu não queria aquela vida para sempre...mas mesmo que quisesse muito ter uma vida própria, ainda não estava preparada para me desapegar do meu quadro de fotos, minha cama de ferro antiga e meu pôster do Jacob. Na época em que colei aquele pôster eu acreditava que iria encontrar um cara como ele...ou seja, isso já faz muito tempo.

Liguei para o Lucas. Bom, ele ainda era meu melhor amigo. Talvez quisesse conversar um pouco. Tá legal, era eu quem precisava conversar.

‘Alô? ‘ – sua voz soou fria ao telefone, mas aquilo me trouxe uma memória estranha. Fui transportada para o meu baile de formatura. Eu havia forjado o resultado do concurso ‘rei e rainha do baile’, para que eu e Lucas fôssemos o casal principal...mas bom, a cara de decepção dele foi o maior balde de água fria que já tinha levado na vida. Ele era apaixonado por Catherine, uma menina doida do terceiro ano normal. Talvez fosse aquele uniforme de normalista ou o cabelo verde dela. O fato é que depois daquele olhar, soube que nunca teria nada mais do que a amizade dele. E foi isso que fiz. Conquistei sua amizade.

‘Lucas? Tudo bem?’ – me ajeitei no espelho, como se ele pudesse me ver. Meus olhos escuros como um café forte me encararam inseguros. Meu cabelo estava desgrenhado e meu pijama manchado. Me encolhi na cama como se alguém pudesse me ver.

‘Tudo sim...e você?’ – Não acreditei muito naquilo. Sua voz estava mecânica. Provavelmente tinha dormido com alguma garota e seu cabelo estava grudado em seu braço enquanto ele tentava equilibrar o telefone.

‘Bem...na verdade, tenho uma novidade.’ – Tive a esperança de que ele perguntasse o que era, mas seu silêncio me desanimou. ‘Vou trabalhar na Top!’ – falei com a voz mais normal que consegui.

‘Uau Lara...que bacana...você merece. De verdade.’

‘Obrigada.’ – Foi o que consegui balbuciar.

‘Mas além disso, o que tem feito?’ - sua voz estava engrolada, parecia que ele estava bebendo.

Como assim além disso? Ele não tinha ouvido que eu tinha conseguido o emprego dos meus sonhos? Nada mais importava.

‘Bom...minha mãe está saindo de casa. Parece que vai se casar de novo no final do ano.’ – falei sem emoção, mas esperando que ele me consolasse ou falasse algo fofo.

‘Lara...sabíamos que um dia isso iria acontecer.’ – sua voz soou como quem acalenta uma criança mas para mim foi um soco direto no estômago. Lucas tinha uma praticidade que me irritava.

‘Sei disso. E você? O que tem feito?’ - Mais de três semanas sem contato com ele e nada parecia ter mudado...exceto o fato dele estar incrivelmente monossilábico. Com certeza estava me escondendo alguma coisa, mas não quis forçar a barra. Das outras vezes em que fiz isso, não deu muito certo.

‘Eu estou dando um tempo. De tudo.’ – Ouvi uma música do Creedence Clearwater ao fundo. Ele sempre ouvia essa banda quando estava melancólico.

‘Entendi.’ – Estava louca para saber o que o estava deixando assim, mas bom, ele não estava disposto a falar.

‘Eu tô procurando um apê para alugar em Copacabana.’ – eu sabia que a avó do Lucas tinha um apartamento por lá, só não me recordava em que rua.

‘Boa sorte.’

‘Obrigada.’

Desliguei o telefone me sentindo uma idiota por achar que ele ficaria feliz com a minha conquista. Uma lágrima grossa caiu dos meus olhos sem que eu percebesse. O nó na garganta se formou instantaneamente e resolvi dormir para espantar os maus pensamentos. No dia seguinte teria que ir a Top entregar alguns documentos para a admição.


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