Mais que o sol escrita por Ys Wanderer


Capítulo 31
Fim


Notas iniciais do capítulo

É, depois dessa longa jornada infelizmente chegamos ao fim. Essa foi minha primeira fanfic e confesso que dói acabar algo assim depois de mais de um ano escrevendo e vivendo isso. Enfim, esse é nosso último encontro e espero que gostem.



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Samantha

A primeira em vez que andei por essas cavernas foi algo simplesmente assustador. Era escuro, sombrio e, embora eu fingisse que não, eu estava com muito, muito medo. A profusão de pessoas, a presenças de almas... Por causa disso prometi a mim mesma que ficaria apenas um pouco e logo depois partiria sem olhar para trás.

No entanto, aprendi que promessas devem ser cuidadosamente analisadas antes de serem feitas.

Eu sempre fora uma pessoa muito retraída, mesmo antes da invasão, e nunca gostei muito de toques e exposição. Eu precisava de muita confiança para deixar alguém ao menos chegar perto, por isso eu amava minha família mais do que tudo, pois eles me aceitavam exatamente como eu era, sem julgamentos.

Então, a adolescência veio e as minhas tentativas falhas de relacionamento só pioraram tudo, me afastando ainda mais dos outros. Certa noite, depois de chegar à conclusão de que eu nascera para viver sozinha e de que isso não me era incômodo, meu pai veio até mim e me disse que para tudo havia um remédio, até para corações vazios. Ele falou que às vezes o amor pode ser encontrado exatamente onde menos se espera e com isso acabamos sendo surpreendidos. Eu me lembro de rir muito por causa dessa afirmação e da sua cara de falsa indignação. Ele colocou a mão sobre o meu rosto e então sua expressão se suavizara, as rugas de sabedoria indicando que ele diria algo que eu jamais ia esquecer.

— Samantha, querida. Não se feche. Nesse mundo tudo está conectado, todas as coisas precisam de algo a mais para sobreviver. A terra precisa da chuva, as folhas precisam do sol, o frio precisa do calor e as pessoas precisam de amor. Nada vive sozinho.

— Mas eu tenho amor — reclamei.

— Eu sei disso, mas não falo somente desse tipo de amor, o amor que damos a você. Um dia, alguém vai se tornar tão importante para você que você será capaz de morrer por ele. E não será por obrigação ou laços de sangue, mas porque você se entregará de tal forma que os dois serão como um só. E quando isso acontecer — ele pôs a mão no meu coração — todas essas barreiras serão quebradas. E aí sim você saberá o que é viver de verdade.

— E quando isso acontecer ele descerá de uma nave espacial e me levará com ele para Marte — debochei e ri bastante. Papai riu também e me olhou com divertimento.

— Nunca se sabe, filha, tudo pode acontecer. Só não se esqueça de me mandar um postal de lá, por favor...

Lembrando agora desse momento tão descontraído com meu pai, me pergunto se ele já não sabia que algo extraordinário estava prestes a acontecer.

Bom, Cal não era de Marte, mas como eu havia dito a meu pai, somente alguém de outro planeta seria capaz de me modificar dessa maneira. Agora eu estava feliz, sublime, serena, e esses eram sentimentos que eu jamais havia sentido juntos em toda a minha vida, mesmo antes quando todas as coisas caminhavam sem desvios.

Analisando as coisas agora que toda a poeira baixou, pode ser que todas as previsões que os humanos passaram milênios fazendo talvez tenham sido e ainda estejam sendo concretizadas em nossas vidas. Parece loucura, eu sei, mas sempre soubemos que o fim viria do céu e que precisaríamos passar primeiro pelo inferno antes de chegar ao céu.

E agora finalmente eu havia alcançado o meu paraíso.

.

Já fazia mais de duas semanas que havíamos voltado e contado a versão resumida sobre o resgate de Nate. Foi um pouco decepcionante para Jamie quando omitimos os piores fatos e dissemos que apenas havíamos entrado, pegado Nate e nos escondido na célula de Russel até tudo se acalmar, pois o garoto esperava ouvir uma história cheia de detalhes, perigos e emoção. Somente alguns poucos ali ficaram sabendo depois o que realmente houve conosco e principalmente comigo, e pedi a eles que não contassem de modo algum a Adam sobre eu quase ter morrido novamente.

Peregrina veio conversar comigo sobre as palavras ásperas que havíamos trocado na última vez e eu a acalmei dizendo que já estava tudo bem e que Oceano de Luz já estava livre e a caminho de uma nova vida. Ela me pediu um abraço e eu concedi, esse gesto derrubando os últimos tijolos que restavam no meu muro de dor e incertezas. Assim, finalmente eu entendera o quanto Peregrina merecia esse corpo e essa vida que agora eram seus.

Eu “expulsei” Adam do meu quarto no dia seguinte ao nosso retorno e ele havia ido morar com Jamie sem fazer nenhuma pergunta, pois sabia que de agora em diante eu passaria a dormir com Cal. Eu achava que ele ficaria triste por causa disso, mas Adam pareceu muito feliz em ter agora o seu próprio espaço, e ainda tive que ouvir inúmeras gracinhas vindo da parte dele. Na verdade, já estava mais do que na hora dele tomar as próprias decisões, pois o meu menininho há muito já havia se tornado um homem e eu insistia em não enxergar isso. Romper o cordão doeu, mas era isso que acontecia a todas as mães, mesmo as que tomaram essa responsabilidade por necessidade.

Porém, como as chuvas já estavam começando a cair, eu e Cal não pudemos aproveitar muito a nossa privacidade porque logo tivemos que nos mudar para a sala de jogos. Agora éramos companheiros em todos os sentidos e todos sabiam disso, não havia nada a esconder. Nós passávamos a maior parte do tempo juntos, dividindo as tarefas, e à noite eu contava as horas até poder deitar a cabeça em seu peito e dormir ao som do seu coração.

.

Já era início da noite e eu arrumava nossos colchões na sala de jogos quando avistei Adam e pedi para que viesse até mim. Ele se aproximou, o sorriso maroto que lhe era típico me saudando com seu bom humor habitual, e indiquei que me acompanhasse até uma parte mais vazia. Nós dois sentamos no chão e ficamos um bom tempo assim, minha cabeça apoiada em seu ombro, até eu romper o silêncio que pairava entre nós dois.

— Lembra que quando viemos para cá, pouco depois a célula de Nate se mudou também? — perguntei.

— Mas é claro que eu lembro — ele riu —, pois você não parava de implicar com o pobre Cal. Quem diria, não é?

— Pois é, quem diria... — eu ri também. Outro minuto de silêncio... — Bom, você lembra então qual o motivo que os fez se mudarem para cá?

— Sim, eu sei, Sam. E sei também o que você está querendo me dizer — ele falou e seus olhos se encheram de lágrimas.

O que eu estava querendo dizer era que em breve eu iria partir. Nate havia trazido os seus para a caverna de Jeb porque o poço que alimentava sua célula estava secando devido um período anterior de chuvas não muito fortes. Porém, com o início de copiosas e abundantes chuvas, ele tinha planos de voltar para casa. Para o lar.

E aquele era o lar de Cal.

E Cal agora era meu lar.

— Eu vou com eles — proferi já em lágrimas. Ele suspirou.

— Eu já imaginava, pois você jamais o deixaria ir sozinho. O que há entre vocês é uma conexão inexplicável, traçada pelo destino talvez até antes de tudo acontecer. Pode partir sem medo, Sam. Está tudo certo.

— Você vai ficar bem sem mim?

— E você não vai tentar me persuadir a ir também? — Adam chorava, mas sua expressão era de alguém que estava contente. Contente por mim.

— Eu adoraria que você fosse comigo e você sabe disso. Mas... finalmente cada um de nós encontrou a sua casa nesse mundo perdido, não é? E sei que você encontrou a sua aqui.

Ele respirou fundo e balançou a cabeça, concordando.

— Obrigado por entender, irmã. E quero saiba que eu estou feliz por você. E que vou morrer de saudade.

— Eu também — falei enquanto o abraçava. — E quero que saiba que eu amo muito você, ok? — enxuguei suas lágrimas, mas elas não paravam de cair. E nem as minhas.

— Isso ia acontecer de qualquer jeito um dia, mesmo que não houvesse invasão — Adam afirmou. — Um dia, um de nós dois teria mesmo que ir embora para viver a sua vida...

— E assim como há a partida, há o reencontro — eu continuei, olhando em seus olhos. — Sempre que der eu venho te visitar, pois isso não é um adeus, é apenas um até logo.

— Promete? — ele ofereceu o dedinho mindinho e gargalhamos.

— Prometo. E você sabe que promessa de mindinho é sagrada.

— Não demore muito — ele pediu.

— Vou fazer o possível. E se eu demorar, saiba que foi porque eu tive que primeiro ir buscar uma pessoa, pois eu prometi isso a ela.

— Que pessoa? — ele questionou curioso.

— Uma garota que me ajudou muito. Ela tem quase a sua idade. É bonita, gentil, adora ler... vocês vão se dar muito bem.

— Por que será que eu tenho a impressão de que você está querendo me arrumar uma namorada? — ele estreitou os olhos e sorriu.

— Que isso, Adam, imagine. Até parece que eu sou uma irmã super protetora e que controla todos os aspectos da sua vida — disse ironicamente e rimos juntos novamente. — Eu volto, pode esperar. Eu sempre volto, esqueceu?

— Eu acredito. Você já voltou de cada lugar — Adam disse e coçou a cabeça desconfortavelmente. — E graças a você eu pude voltar também. Eu também estava vivo lá dentro, dentro da minha cabeça, então imagine a surpresa que eu tive quando...

— Não pense nisso — eu cortei. — Tudo vai ficar bem agora, isso não é mais definitivo. E eu sei que te criei bem o suficiente para você se cuidar — baguncei seus cabelos e ele me abraçou. — Estamos recomeçando novamente, Adam, aprendemos uma lição dolorosa e libertadora desde aquele dia em que deixamos tudo para trás. Eu renasci, aprendi e perdoei. Acho que agora é a sua vez, meu irmão.

Adam me olhou e eu vi naquele jovem homem uma força que eu jamais havia visto em ninguém. Ele segurou ambas as minhas mãos entre as suas e as trouxe para junto do seu coração.

— Seja feliz, Samantha. Seja feliz e aproveite cada nova chance que a vida lhe proporcionar. E eu juro que farei o mesmo por mim também.

— Você também encontrará a sua felicidade um dia, Adam. Acredite — eu o apertei entre meus braços e choramos juntos mais uma vez. Pela última vez.

As feridas finalmente haviam cicatrizado.

.

Assim que Adam me deixou fui ao encontro de Cal para que pudéssemos sair e olhar o céu do deserto pela última vez antes de irmos embora. Por um milagre, como uma espécie de despedida, o céu naquele instante estava sem nuvens e isso era surpreendente.

— Como foi? — Cal me perguntou cheio de apreensão. Nós dois estávamos do lado de fora, deitados sobre um cobertor.

— Foi bem, Adam é um garoto maravilhoso e compreensivo. Meu irmão sabe que eu não o estou abandonando, apenas seguindo um novo caminho.

— Um novo caminho para você e para mim — Cal disse enquanto acariciava meu rosto com ternura. Eu amava mais do que nunca cada gesto seu, cada toque e cada palavra. — E isso não é um adeus.

— Foi o que eu disse a ele — falei tentando segurar as lágrimas. — Mas é a primeira vez na vida que terei que deixá-lo. E confesso que estou com muito, muito medo.

— Não fique com medo, ele estará seguro aqui dentro — me acalmou. — Ele não gostaria de vir conosco? — perguntou.

— Não, ele gosta de viver aqui. E sei também que ele anseia pela sensação de saber como é cuidar de si mesmo. E está na hora.

— Você pode ficar se quiser — ele sugeriu, mas havia tristeza em seus olhos.

— Eu jamais fugirei de você novamente. E te seguirei para qualquer lugar que você for, mesmo que seja em outro planeta — disse e com isso ele riu.

— Samantha, eu escolhi viver uma pequena eternidade ao seu lado e prometo que farei o possível para te fazer feliz. Só peço que me desculpe por não poder te devolver o seu passado.

— Cal, o que ficou para trás não importa, não faz mais parte da realidade. Você não pode me devolver o passado, mas pode me dar o futuro que eu desejo. E eu desejo ficar com você para sempre.

— Para sempre?

— E mais um pouco. Eu amo você, alma.

— E eu amo você, humana.

Então, sob aquela estrada chamada céu, ele me beijou com todo o amor e desejo que tinha dentro de si. As chamas eram obedientes àquele chamado e em pouco tempo estávamos unidos, nossos corpos e almas se amando debaixo daquele cobertor luminoso.

As estrelas nunca me pareceram tão belas e convidativas como naquela noite. Era tudo tão pacífico e perfeito. Eu amava as estrelas, jamais imaginei que viajando entre elas estava o meu fim. E também o meu recomeço. Uma vida nova para mim e para o planeta.

Bom, talvez precisássemos mesmo disso para reaprendermos a amar e a partilhar. E embora todas as estrelas estivessem no céu e pertencessem a todos, eu podia me sentir especial por um motivo.

Agora eu tinha uma estrela só minha.



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Notas finais do capítulo

Então chegamos ao fim. Queria primeiramente agradecer pela oportunidade de poder colocar para fora uma história que foge completamente dos personagens originais, então agradeço imensamente a quem leu essa fic que surgiu na minha mente assim que acabei de ler o livro. Eu pensei que Cal também devia ter uma bela história por se aliar aos humanos, e foi assim que “Mais que o sol” nasceu.
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Quero fazer um agradecimento especial a quem recomendou a fic, pois isso me deu motivação para continuar toda vez que eu pensava em abandonar tudo e desistir. Então, mando um beijo enorme para a Ana Jomoholic que me presenteou; a GabiLavigne, que foi uma fofa enquanto esteve comigo; a Julie Stew por ser uma fã assim como eu e não conseguir se despedir do deserto hahha e a MsNise por ter me aturado todo esse tempo. Obrigada, meninas!
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E um beijo especial a todos que se mantiveram fiéis até o fim e me deixaram palavras lindas e me fizeram continuar: As meninas do grupo HOSTERS o meu sincero abraço; a Msnise por ter me ajudado com a fic (eu obriguei ela a ler ahhaha), a Rain, que foi quem me trouxe para esse mundo (Mil vezes obrigada); a Samyni que foi uma fofa, a Raquel que esteve comigo e agora virou uma amiga; Sra Qwerty que chegou agora e me deixou pra cima, a Mamalivros que sempre deixa um review engraçado, e a todos que comentaram e me impulsionaram a continuar. Obrigada.
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Por fim, aos leitores fantasmas haahah, essa fic foi a que mais tive gasparzinhos por aí. Espero conhecer ao menos um de vocês agora que acabou haha
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Tchau, pessoal, nos vemos por aí.