— Annie! — ouvir Percy chamar. — Vamos logo.

Encarei-me no espelho uma última vez. Minha roupa estava boa, meus cabelos arrumados. A noite de sono naquele hotel fez bem para minha aparência, já que eu passei a ter olheiras durante a semana passada e os olhos inchados. Minha maquiagem também me ajudou um pouco, mas vamos deixar isso de lado.

— Estou indo — falei saindo do banheiro e caminhando até a porta do quarto, onde se encontrava Percy escorado na porta.

— Ótimo, vamos tomar nosso café.

Saímos do hotel às pressas, entrando rapidamente no transtorno que estavam as ruas de Londres. O frio não pegava leve conosco. Vez ou outra um vento forte me atingia no rosto, o que fazia meus cabelos virarem uma bagunça.

Logo chegamos a uma cafeteria no final daquele quarteirão. Era algo bem rústico, com enfeites focados na decoração vermelha. Não estava muito cheio, pelo lado de fora podíamos ver que apenas quatro mesas estavam ocupadas. Entramos e sentamo-nos à mesa mais próxima à janela.

— Bom dia — uma mulher apareceu de repente ao nosso lado. Seus cabelos eram cobertos de cachos castanhos, seus olhos praticamente pretos, e tinha pequenas sardas nas bochechas. Não aparentava ter mais de 20 anos. — O que vão querer?

— Eu vou querer um café simples — falou Percy. — E você, Annie?

Por um momento pensei em fazer o mesmo pedido que sempre faço quando vou ao Starbucks depois da avenida a poucos quarteirões de minha casa, em Nova York, mas aqui não é uma Starbucks, então...

— O mesmo que ele — falei mostrando um sorriso em direção a garçonete.

— Tudo bem — disse anotando algo em um bloquinho. Ela tirou uma mexa do cabelo do rosto e sorriu em direção a Percy, se distanciando aos poucos.

O que?

— Olha — sussurrou o garoto —, se você quisesse, poderíamos ter procurado uma Starbucks por perto. É bem provável que haja algum por aqui.

Encarei-o sarcástica. Acho que Percy tem uma visão forte de mim como uma garota mimada que tem tudo o que deseja, e bem, talvez eu fosse essa garota mimada, porém mesmo assim às vezes isso irritava um pouco. Mas eu não podia reclamar de coisa alguma que Percy fazia, afinal, ele me trouxe em Londres!

Virei-me e encarei a visão que tinha pela janela, ignorando a propósta do garoto. Se fosse um dia comum em Nova York, eu estaria no Starbucks depois da avenida, sentada na mesa mais afastada perto da janela, observando a rotatória e os carros em movimento. Porém, não é um dia comum em Nova York; eu estava em Londres, e tudo que conseguia ver pela janela era uma rua simples, sem muitos carros, mas com pessoas andando apressadamente para lá e cá cobertas com casacos peludos e lisos, abraçando a si mesmas devido ao frio.

— Seus pedidos! — a voz da garçonete tirou-me de meus pensamentos. Ela carregava duas xícaras em uma bandeja e logo as posicionou na mesa. — Não vão querer algo para comer?

— Não, obrigado — Percy a respondeu. A mulher o encarou por mais alguns instantes e sorriu sem graça.

— Qualquer coisa, é só chamar! — exclamou e depois se distanciou da mesa.

Olhei repentinamente em direção ao moreno de olhos verdes e ergui uma sobrancelha. Era impressão minha ou a garçonete estava dando mole para ele? Não se faz isso com o garoto acompanhado, mesmo que eu seja apenas amiga dele. Que ridícula.

— Eu não fiz nada — falou segurando a risada, enquanto levava a xícara à boca. — Nem me venha com esse olhar.

Tratei de beber o café o mais rápido possível; eu queria sair logo daquele lugar. E pude perceber os olhos de Percy em mim.

— Pronto, vamos embora — falei deixando a xícara em cima da mesa.

— Calma — ele riu e levou a xícara novamente à boca — Vamos.

Nós nos levantamos e Percy colocou algumas notas na mesa. Depois me puxou para fora da cafeteria.

...

(Música de fundo)

Bem, nunca tive um dia tão perfeito igual a esse. O moreno de olhos verdes me levou em todos os lugares possíveis de ir em Londres. Praças, pontos turísticos, restaurantes, lojas. Meus pés não me aguentavam mais em pé. Já era bem tarde quando chegamos na pracinha próxima ao hotel, tinham poucas pessoas nas ruas, mas era tudo tão iluminado que era impossível ter medo.

Paramos em frente um banquinho de madeira perto de uma pequena fonte.

— Eu quero gritar — falei entusiasmada. Uma americana tendo um dia perfeito em Londres, isso é tão incrível. Meu Deus!

— Pode gritar — falou sorrindo.

Soltei um gritinho fino. Assim que parei, encarei Percy e depois pulei nele para um abraço.

— Eu te amo, eu te amo, eu te amo!

— Sabemos — disse, rindo. Dei um soco fraco em seu braço. — Eu também te amo, loirinha.

Eu sentirei tanta falta daqui. Não posso ir embora, socorro.

— Queria poder guardar esse lugar pra sempre comigo — falei enquanto dava uma volta e olhava tudo que tinha em volta da pracinha.

— Então vamos levar uma lembrança — murmurou.

— Mas não compramos nada hoje — sentei-me no baquinho. — Dois lerdos em Londres. Onde isso ia dar?

— Quem precisa comprar algo? — Percy retirou o celular do bolso, sentado-se ao meu lado. Abriu a câmera e levantou o aparelho. — Selfie em Londres. Essa vai pro Insta!

Sorri rapidamente e ele fez o mesmo. O barulho do tirar da foto entrou em meus ouvidos. Logo depois o moreno abaixou o celular e pude ver ele ir para o Instagram postar a foto. A legenda: "But first, let me take a selfie... In London!"

— Arrasamos — falei pegando meu celular, indo curtir a foto.

— Agora acho melhor voltarmos para o hotel — Percy se levantou. — Já são quase uma da manhã.

Assustei-me com o fato de já ser tão tarde. Guardei o celular, também me levantando.

— Vamos ver quem chega primeiro? — ele perguntou, com uma sobrancelha levantada.

Sorri de lado e comecei a correr o mais rápido possível em direção ao hotel. Pude ouvir seus passos atrás de mim, fazendo com que eu me esforçasse mais para aumentar minha velocidade. Porém, quando me aproximei mais da portaria, senti duas mãos em minha cintura, me puxando para trás.

— Isso não vale — murmurei assim que chegamos.

— Empate, então? — perguntou.

— Não, eu ganhei. Aceite.

Ele me encarou com o seu típico sorriso sedutor. Seus olhos verdes brilhavam graças as luzes que vinham de dentro do hotel. O sorriso foi sumindo aos poucos, e ele começara a me olhar com uma expressão séria; ficamos por alguns instante assim.

— Acho melhor entrarmos logo — virou o resto em direção a entrada de repente. — Foi um longo dia.

— Um longo dia — concordei.