Saudade

_Isabella?

_Não... Exatamente._Ela deu um sorriso cínico e deu uma voltinha._Só o lindo corpo da jovem.

_Quem é você?_Perguntei entre os dentes.

_Gessi. Gessi Scott.

Estreitei os olhos e balancei a cabeça.

_Não te conheço.

_Claro que não!_Ela gargalhou juntando as mãos.

_O que aconteceu com Taylor?_Eu perguntei com raiva, andando até ela e á pegando pelo pescoço. Coloquei Gessi numa árvore.

_Ora, ora, ora, calma lá nervosinho._Ela disse normalmente._Eu vou falar._Sua voz era sedutora, mas eu não me deixaria levar.

_O que aconteceu?_Repeti e tirei ela brutamente da árvore.

_Eu fiz á ela uma perguntinha interessante e ela respondeu.

_Está omitindo a parte mais importante.

_Ah, claro, como eu pude me esquecer?_Ela colocou a mão na testa, gargalhando, eu queria esmagar o pescoço dela.

_Fala logo vadia!_Eu nunca tratei uma mulher assim, mas afinal ela não era uma mulher!

_Acalme-se. Bom, á peguei de noite naquele porão que você chama de pequena casa e á perguntei o que ela preferia; ir para o inferno ou deixar você morrer aos poucos, com uma doença incurável._Minha boca se abriu levemente._Ela preferiu ir para o inferno._Sua voz era falsamente triste.

_E... Ah, er..._Eu queria chorar naquele momento._Como... É o inferno?

_E eu deveria saber?

_Deveria, demônio desgraçado!_Eu estava começando á perder o controle.

_Espertinho... Bom, eu não tenho muitas palavras. O inferno... Eles nos torturam, nos cortam, nos estrupam, fazem todas as coisas mais torturantes que existem e quando você finalmente pensa que acabou eles começam tudo novamente. Para você, ela sumiu á um dia, mas para ela... É um mês. E os meses são anos lá embaixo.

_Por que você fez isso?_Eu já não conseguia conter as lágrimas.

­_Você querem me matar... Eu quero matar vocês._Ela chegou mais perto e pegou meu colarinho, trazendo mais pra perto._E eu estou ganhando bonitão._Ela me beijou sedutoramente, mas eu não queria aquilo, não correspondia, apenas á deixava se aproveitar de mim, eu não tinha forças pra me defender agora.

Ela parou e olhou para mim. Seus olhos estavam completamente negros, mostrando o que ela tinha dentro do corpo... Nada.

Afastei-me e comecei á pensar o que eu poderia fazer... Pacto com o demônio não me parecia uma má ideia. Mas agora eu não tinha o que fazer. Fui até a casa, pegar os únicos pertences dela. Peguei suas roupas que estavam no chão e encontrei o bilhete dela, com sua letra, com seu cheiro... Sentei-me na cama e fiquei olhando o pequeno bilhete com a caligrafia dela. Era tão bonita, tão perfeita, feminina, delicada... Tudo dela era importante agora. Eu a queria. Queria meu anjo, minha menininha. Eu a queria mais que tudo. Seus lábios, seus olhos verdes e brilhantes, suas feições perfeitas. Queria seus lábios nos meus naquele momento.

E o pior, era impossível eu á tirar de lá com minhas próprias mãos, eu precisava de ajuda... O mais rápido possível. Era horrível pensar que ela não iria voltar, o pouco tempo que passei com ela... Foi o melhor da minha vida. Eu não tinha duvidas. Era minha mulher, minha garota... E agora se foi, eu não podia viver sem ela.

Passaram-se vários dias, eu não saía daquela casa, me lamentando, chorando, sentindo seu cheiro no lençol. Eu sabia que parecia uma criança querendo a mão, mas eu não me importava. Nada importava além dela... Nada. Estava de noite, era uma noite de tempestade, eu sabia que ela não gostava, ela tinha medo dos trovões... Tão indefesa, tão... Perfeita. Eu a queria, a queria em meus braços, encolhida em meu peito, com medo de sair dali, se sentindo segura comigo.

Alguém abriu a porta e eu levei meus olhos até lá, com dificuldade.

_Você não pode continuar assim._Era uma voz masculina._Precisamos dela, o mundo precisa dela, você não pode ficar aí, sem fazer nada. Eu sei que você á ama, mas ficar se lamentando não é a melhor forma de á salvar.

_Quem é você?_Perguntei em voz rouca.

_Jeliel. Sou o anjo dela, seu anjo da guarda.

Levantei-me e olhei bem para ele. Era um homem, usava uma capa preta e pesada,cobrindo a cabeça, era preso no pescoço. Sua roupa era normal, com uma camisa pólo e uma calça jeans, tinha aproximadamente minha idade. Era loiro com olhos castanhos. Levantei uma sobrancelha para ele.

_Você não é muito jovem para um anjo?

_Não. Esse é um corpo de um humano muito fiel, na qual confirmou sua fé e presenciou um milagre.

_Você não pode fazer nada por ela?

_Não.

_Eu posso?

_Sim. Você pode vender sua alma ao demônio.

_Você é um anjo! Não se importa?

_Eu não, mas seu anjo Michael, não vai gostar muito da ideia.

_E você gosta?

_Ela está sob minha responsabilidade.

_Como poderei fazer o pacto?

_Siga-me.

Ele foi na frente e eu o segui. Eu sei, estava ficando louco, mas já havia aprendido que não podia viver sem ela. Era melhor ter cinco ou dez anos de vida tendo Taylor ao meu lado do que todos esses anos sofrendo. Chegamos á uma estrada.

_Espere aqui. Você não precisa fazer nada, apenas espere. Tenho que ir, você deve estar sozinho. Um demônio virá... Converse com ele.

O anjo desapareceu e eu fiquei ali parado, esperando algo acontecer. Olhei para os lados e para trás.

_Ora, ora, ora!_Alguém disse muito rápido e eu me virei, era Gessi._O que veio fazer aqui, meu amor?

_Você sabe o que eu quero.

_Sim, sim, eu sei. Taylor sairá do inferno em dois dias e você ficara com alguns anos de vida.

_Quantos?

_10. Tempo o bastante, você pode curtir a vida com sua amada e ainda tem esse tempo todo! Eu lhe daria apenas 5 dias de vida, mas... Regras são regras, e devemos cumpri-las. Venha, vamos selar o pacto.

_O que eu devo fazer?_Ela chegou mais perto.

_Vem._Pegou meu colarinho de novo e me beijou, eu tive que retribuir, sem vontade. Ela parou e mordeu o lábio, olhando para meu corpo._Você beija bem.

_Acabou?_Perguntei frio, ignorando o elogio.

_Calma garotão. Agora é só esperar dois dias e Taylor aparecerá em sua cama.

Empurrei ela e fui embora com as mãos no bolso. Agora só me restava esperar.