Até que as aulas transcorreram bem.

Professor Roberts, o professor representante da nossa turma, nos contou que irá haver um evento em que os alunos poderão exibir seus desenhos. A faculdade os porá em exposição aberto a quem quisesse entrar para ver. E o que mais animou os alunos é que o jornal New York Times iria cobrir a abertura da exposição. Mas o professor disse que nossa turma precisava escolher um tema para pintar. Mal ele terminou de dizer aquilo, Alyssa ergueu a mão e gritou " Mitologia Grega!". Como ninguém se opôs, ficou decidido que o tema seria mitologia grega.

Não que eu esteja reclamando, mitologia grega é um de meus assuntos favoritos e eu adorava desenhar a Fênix, o pássaro que ressurgia das cinzas. Mas eu e Alyssa já andamos vendo coisas tão estranhas; por exemplo: uma vez um homem havia nos pedido uma informação, tudo bem isso seria normal em Nova York se ele não tivesse UM só olho. Quando percebi isso, tentei ficar calma e fingir que não havia percebido o problema ocular dele até porque ninguém parecia ter notado. No fim ele agradeceu a informação e se virou para ir embora. Teria ficado tudo bem se Alyssa não tivesse dito: "Você deve ter muita dificuldade para achar óculos." Depois que ela disse isso, nós corremos e só paramos de correr quando já estávamos sãs e salvas dentro de nosso querido apartamento.

Muitas vezes eu me pergunto em que ou em quem minha querida amiga Alyssa Grey se garante para agir dessa forma. Ela age como se não tivesse medo de nada, aliás ela NÃO tem medo de nada. Ela seria capaz de arranjar briga com Ares, se o sanguinário deus da guerra existisse.

Bem, voltando ao assunto, não poderia ser possível que aquele cara de um olho só fosse um ciclope, poderia? Ele era um ser da mitologia grega, ele era um mito. Mas eu tinha certeza que nem eu nem Alyssa estávamos malucas.

– No que você está pensando? -a voz de Alyssa me fez sair de meus pensamentos - Está pensando no motoqueiro que quase nos atropelou? -ela riu alto.

Nós estávamos em uma lanchonete, a aula já havia acabado a meia hora atrás. Algumas pessoas nos encararam por causa do riso de Alyssa. Ela conseguiu se recompor.

– E então, o que você vai desenhar para a exposição? -ela perguntou, enquanto tomava seu refrigerante.

– Não sei. Uma Fênix, Atena, Medusa... Qualquer coisa... -falei, um pouco distraída.

– Por que você não desenha o Ares? -ela sugeriu, se fazendo de boba - Faça ele com um belo porte, mas ele tem que estar sem camisa para que possamos observar a arte que vale apena ser observada... -sorriu de um jeito estranho - Aí você pode desenhar ele com o rosto parecido com o do motoqueiro! -ela começou a rir outra vez.

Eu realmente não estava achando aquilo engraçado, mas eu sabia que Alyssa iria passar séculos me atormentando com isso.

– E você, Alyssa? -estava desesperada para mudar de assunto e faze-la parar de rir - O que você vai desenhar?

– Poseidon, é claro. -falou ela, recuperando o folego.

Poseidon era o olimpiano favorito dela.

Eu terminei de beber meu refrigerante e saímos da lanchonete. Nova York era uma cidade agitada mas até que naquele horário estava mais calma.

Alyssa e eu começamos a atravessar a rua na faixa de pedestres, como sempre fazemos. Já estávamos no meio da rua quando um barulho alto de moto nos fez saltar para a calçada novamente. Mas o salto não foi nada gracioso. Alyssa tropeçou em mim e eu perdi o equilíbrio. Conclusão: nós duas caímos sentadas no chão.

– Ai minha bunda... -choramingou Alyssa

– Será possível existir alguém mais idiota que vocês duas? Eu acho difícil! -uma voz gritou enfurecida. Olhei para cima e vi o mesmo motoqueiro que quase havia nos atropelado mais cedo.

Alyssa se levantou, com o rosto vermelho de ódio.

– VOCÊ É O IDIOTA AQUI! -ela berrou, como eu disse, ela era corajosa para arranjar briga com um cara três vezes maior que ela - NÓS ESTÁVAMOS NA FAIXA, SEU RETARDADO! -ela continuou gritando.

– VOCÊ DEVERIA TER PRESTADO MAIS ATENÇÃO, NANICA! -o motoqueiro berrou ainda mais alto. Me encolhi um pouco, detestava gritos.

Enquanto os dois discutiam aos berros, eu prestei atenção no motoqueiro. Ele usava um casaco de couro, uma camiseta branca justa que realçava seus músculos e botas de combate. Sem contar que tinha um facão preso na cocha. Seu rosto era bonito, mas de um jeito selvagem e os cabelos escuros. Não pude ver seus olhos, já que ele usava óculos escuros.

Se eu fosse dizer que a mitologia é real, eu diria que estava em frente ao deus da guerra. Me levantei lentamente.

–...VOCÊ SABE COM QUEM VOCÊ ESTÁ FALANDO? - o motoqueiro perguntou.

– Com Ares... -sussurrei sem querer, mas nenhum dos dois notou.

– NÃO EU NÃO SEI! E VOCÊ? SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO? -Alyssa perguntou aos berros.

– NÃO, EU NÃO SEI! -falou ele.

Resolvi tomar uma atitude.

– Ainda bem! -falei e agarrei o braço de Alyssa enquanto corríamos o mais depressa possível.