Aurora Narrando:

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O almoço havia acabado e nós simplesmente seguiríamos com nossa rotina normal. Eu ajeitei meu arco e a aljava com as flechas douradas em meu ombro e me encaminhei para fora do pavilhão, mas uma mão me puxou.

– Vem! Eu quero te apresentar para o meu pai. -Katherine falou, enquanto me puxava em direção ao pai dela.

– Papai!!!! -ela o cumprimentou sem receio algum, como se ele fosse uma pessoa qualquer e não um cara que poderia te transformar em uma marmota ou te amaldiçoar.

Ali, perto do deus da guerra eu senti a súbita vontade de virar as mesas do refeitório ou dar um soco na cara de alguém. Era uma raiva inexplicável, principalmente para mim que dificilmente me irrito.

Respirei fundo e me controlei. Aos poucos esses sentimentos foram sumindo.

Voltei minha atenção para Katherine e Ares.

– Você parece mais baixa desde a última vez que nos vimos. -Ares zombou, mas parecia feliz em ver a filha. Várias vezes eu ficava escutando Katherine tagarelar sobre como ela era a filha favorita dele.

– É que minha altura diminui conforme você envelhece. -ela rebateu quase instantaneamente, mas então franziu as sobrancelhas e olhou as roupas do pai - O que é isso, pai? Eu já falei para você parar de dar uma de garotão! Você já tem cinco mil anos, nem na terceira idade está mais! Já está na décima segunda!

Eu encarei Katherine surpresa. Ela havia mesmo dito aquilo para o deus da guerra?

Mas para minha surpresa, Ares só arreganhou um sorriso de dentes brancos e bagunçou os cabelos dela.

– Impertinente, como sempre. -disse ele.

Katherine pareceu se lembrar que ele estava ali e me puxou.

– Pai, essa é a minha melhor amiga Aurora Andel.

Ares me encarou. Mesmo ele usando óculos com as lentes totalmente escuras, eu percebia que seus olhos chamejavam. Desviei meu olhar.

Eu não sabia se deveria falar "Oi" ou me por de joelhos e dizer que estava honrada em estar na presença dele. Decidi usar o meio intermediário:

– Prazer em conhece-lo, senhor Ares. -falei meneando a cabeça, ainda sem encara-lo. Minha mãe tinha me obrigado a fazer aulas de etiqueta com uma professora francesa e eu me lembrava que a mulher havia dito que encarar uma pessoa diretamente era falta de educação e até mesmo de respeito.

Senti uma mão levantar o meu rosto até que eu estivesse olhando diretamente para Ares. Ele me encarava com uma expressão levemente curiosa. Olhou para meu arco e flechas.

– Uma filha de Apolo. -disse ele.

– O quê é isso pai? -Katherine exclamou - Vai dar em cima de uma garota de dezessete anos? Ela é cinco mil anos mais nova que você! Você não aguenta mais não!

O quê eu poderia fazer depois dessa? Nada, simplesmente me virei e corri para fora do refeitório o mais rápido possível.