Depois de lavar os meus pés cerca de cinquenta vezes, eu finalmente saio do banheiro e dou de cara com Scott deitado na sua cama com uma expressão divertida de trabalho cumprido. Como uma criança de dois anos eu mostro a língua para ele e saio do quarto. “Isso vai ter volta” pensei. Ah se vai...

Vou para a aula de Artes, que já tinha começado, e quando eu entrei, a professora, que estava com um pincel na mão e com um pingo de tinta verde na testa, me olha de cara feia, ela era alta e com cabelos grisalhos, vestida com um avental ela parecia uma bruxa louca... Nada contra bruxas loucas.

–Quer nos dizer qual o motivo do seu atraso, senhorita Alice? –disse ela me apontando o pincel como se fosse uma arma, juro que os professores dessa escola não batem nada bem. Nada bem...

–É que eu tive que lavar meus pés cinquenta vezes depois que o meu colega de quarto resolveu dar uma de palhaço. –disse eu simplesmente como se fosse a coisa mais natural do mundo, a professora ficou me encarando com a testa franzida, como se pensasse se acreditava ou não em mim, e eu simplesmente segui para meu lugar com a professora e alguns alunos me encarando e reprimindo os risos.

Sentei na minha cadeira de frente para uma tela em branco, e comecei a pintar uma coisa qualquer, que resultou em uma obra de arte, só que não, ficou pior que um desenho de uma criança de cinco anos, sabe aqueles desenhos com uma casinha, uma árvore e um sol dando risada e com olhos gigantes? Ficou mais ou menos assim.

O sinal bateu dando fim a aula e eu saio da sala com o meu quadro que eu iria vender para o lixo por dois milhões de reais, mas como eu sou uma pessoa muito caridosa, eu dou para o lixo sem cobrar nada... Pode dizer, eu sei... Sou uma pessoa muito boa. Quase me emociono com a minha alma caridosa...

Segui para o meu quarto, onde encontrei Wesley e Andressa discutindo alguma coisa sobre cavalos voadores (estanho é pouco), e Carol estudando, para variar, em um canto. Scott não estava então eu fui fazer o jantar, não eu não sei cozinhar, mas o nosso ‘chef’ não estava então, nós simples humanos que necessitam comer, temos que nos virar para não morrer de fome. O que resultou da minha aventura na cozinha, foi um miojo muito mal feito (sim, eu não sei nem fazer miojo, palmas para mim).

Wesley tentou comer, mas acabou “disfarçadamente” cuspindo no pote de flor que ficava no lado da TV, e recebeu um tapa da Andressa por isso. “Na minha flor não! Cuspa nas suas calças! ” Tenho que dizer que a Andressa é obcecada por plantas? Acho que não né?

Fui para o meu quarto e tomei um banho, e quando sai, coloquei meus chinelos (não antes de ver se não tinha nada de estranho neles) e fui para minha cama. Peguei meu telefone, e vi que tinha três chamadas não atendida da minha mãe. Agora ela quer falar comigo? Não quis falar comigo quando me mandou para cá, mas agora ela quer? Mandei uma mensagem para ela, e não, eu não fiquei com pena dela, ela merece. Na enorme mensagem dizia: “Estou viva, não me ligue mais. ”

Peguei meu notebook e comecei a olhar um filme, parei quando escutei Wesley e Andressa discutindo, eles pareciam um casal de velho brigando, Wesley entra no meu quarto chutando a porta e reclamando e se deita do meu lado sem dizer nada, para o olhar o filme. “Okay” pensei.

Quando Scott entra no quarto, fulmina Wesley com os olhos, e ele se levanta e vai embora, Scott tira a camisa e vai em direção ao banheiro, e eu não posso deixar de olhar para as suas costas (sim, eu estou virando uma pervertida, ótimo...) E tenho que me conter para não falar nada.

Em suas costas, havia diversas cicatrizes, algumas mais finas e quase desaparecendo, outras mais fortes e compridas, bem visíveis. Até parecia que ele foi atacado por um gato raivoso viciado em costas... Aonde ele havia arrumado aquilo? Ele foi tomar banho, e eu tentei dormir, mas só conseguia me revirar na cama, e quando adormeci, algo que não acontecia á dias, aconteceu. E eu me arrependi de querer dormir.

“Eu estava dentro de um carro, era uma competição, eu estava no banco do passageiro, e um garoto alto, e mais velho que eu, dirigia com um sorriso enorme, meu irmão amava dirigir, e principalmente competir em rachas, eu estava ali de intrometida, mas ele acabou deixando eu ir junto. O carro do cara que estava competindo com nós, já que é difícil competir sozinho né? Passou zumbindo por nós, eu gritei com meu irmão “Vai mais rápido! Você não quer ganhar? Acelera! ” É... Pode se dizer que eu havia tomado muito energético naquele dia....

“Ele pisa no acelerador e nós ultrapassamos o outro carro, mas não, sem antes, bater e derrapar, e capotando ir parar em outra pista, onde uma moto passava rapidamente. Sangue era tudo que eu via. Eu comecei a gritar quando alguém começava a puxar as minhas pernas e gritar para mim... E queria gritar de volta “Me deixe em paz! Não está vendo ele aqui! Ajude ele! ” Mas então a voz grita mais alto. “Alice! ” E eu dou um soco em seu nariz. ”

Scott estava parado na minha frente, segurando as minhas pernas, tentando impedir meus punhos de acertarem ele de novo, e com o nariz sangrando.

–Alice! Ei, ei, ei... Calma... –ele se sentou, largando as minhas pernas e me abraçou. –O que ouve? –disse ele calmamente.

Eu balancei a cabeça freneticamente, não queria falar disso, não queria falar...

–Não... –eu sussurrei com a voz rouca, minha garganta ardia, provavelmente de tanto gritar, uma gota de sangue caiu em meu braço e eu vi o nariz dele sangrando cada vez mais. Empurrei-o para longe, e me virei para o lado da parede. Com certeza, nós éramos uma dupla meio problemática... Definitivamente.