Thanatos escrita por sallyssong


Capítulo 1
Rotina




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“A maioria dos eventos cotidianos acontecem por uma razão. Uma gota que desliza sorrateira por uma folha, uma corrente de vento que sacode a janela de uma casa, um acidente de carro que o choca contra uma parede de concreto.

Eu sou a razão.”

O céu estava fosco, tonalizado de grafite com muitas nuvens pintadas por toda sua superfície ampla. Um vento grosseiro passava pela rua, fazendo com que as pessoas que caminhavam depressa pelo local apertassem seus casacos contra o corpo, numa falha tentativa de se aquecerem. Ela observava o movimento, parada, no centro da rua, enquanto um número considerável de pessoas passava em seu lado, sem nem notarem sua presença. Era assim que funcionava, só era vista se quisesse. Ou, se alguém estivesse próximo da morte, poderia vê-la. Era uma ceifadora, uma colhedora de almas, um anjo negro. O tempo para ela era relativo, mantinha-se imóvel até a sua hora de fazer a colheita chegar. Era como se fosse um radar, um sinal “ecoava” em sua mente e em segundos estava próxima da pessoa que iria morrer. Fechou os olhos e quando os abriu estava em um hospital já conhecido pela mesma, visitara aquele lugar milhares de vezes. Parou no canto do quarto, observando a cama de uma menina branca de cabelos cor de ouro e grandes olhos azuis. Não aparentava ter mais do que dez anos. A menina a observara durante alguns segundos até ter coragem para se expressar.

- Quem é você? – Ela perguntara com os olhos caídos e aparência abatida. Possuía vários tubos ligados em seu corpo e observara curiosa a jovem encostada à parede. Ela trajava uma blusa de gola que era acompanhada de uma calça. Um grande sobretudo com capuz cobria-lhe os braços e metade da cabeça, suas vestes totalmente negras. Os olhos eram de tonalidade tão negra quanto suas vestes, se olhassem diretamente para eles durante alguns segundos correriam o risco de caírem no abismo. Ao se aproximar da menina, a jovem segurara sua mão e a puxara delicadamente, com o outro braço disponível agarrando-a pelas costas, como em um abraço. Nada precisou ser dito dessa vez.

Colheitar almas era algo comum em sua rotina. Era sua rotina. Poderia escolher a aparência que quisesse, porém gostava de demonstrar ser uma jovem de não mais que vinte anos. Para ela, era interessante caminhar entre os humanos e observá-los, todos os dias. Os ceifadores são divididos por áreas que delimitam até dois estados humanos. Cada um era responsável por uma área, a sua era a “Área 5”. Raramente via outro ceifador por perto, normalmente conversava com os humanos que estavam próximos de serem levados. Não sabia para onde as almas iam, não havia nunca estado de frente com a Morte, só fazia o que tinha que ser feito. Andava calmamente pela rua com as mãos nos bolsos do sobretudo, aproximando-se de um homem e parando de frente para o mesmo. Tocara calmamente o ombro do rapaz e ele se arrepiara, continuando seu caminho para o final da rua, até chegar à avenida e um carro trombar contra seu corpo. Ela esperava, ela sabia. Quando você está com a Marca da Morte, nada pode mudar o seu destino, é assim que funciona a Roda da Vida. Caminhou até o homem, ajoelhando-se no chão ao seu lado e abraçando-o. Levantara e continuara a andar sem rumo, carregando em uma de suas mãos sua foice.

O quarto era amplo, com alguns móveis de madeira empoeirados encostados à parede e a cama de casal bem ao centro. Uma idosa com aparência doentia estava deitada mesma, acompanhada de um médico, enquanto dois jovens soluçavam na porta do local. Estava encostada à parede de frente para a cama há algumas horas, observando as feições da idosa. Chegara a hora. Ao caminhar devagar até a mulher, parara bruscamente, inclinando sua cabeça para traz observando um homem de vestimentas negras observá-la. Era alto, devia ter em torno de 1,90, sua pele era escura e era desprovido de fios na cabeça.

- Azariel, que eu saiba, essa não é a sua área. - A jovem exclamara observando o homem à sua frente. Azariel era o ceifador da área 6. Não o chamaria de amigo, mas, possuíam uma boa relação.

- Aconteceu algo, Alíria. A Roda está diferente. - O homem falara enquanto a jovem continuara seu caminho, em direção à cama. A idosa observou em silêncio todo o trajeto da menina das vestes negras e fechou seus olhos ao ser abraçada pela jovem. Ao coletar a alma, Alíria voltara em direção ao homem parado ao centro do quarto, enquanto o ambiente tornava-se barulhento ao som do choro compulsivo das pessoas no local. Em segundos, estavam próximos a uma praça deserta. O único som que se ouvia no ambiente era o do vento fazendo ruído nas folhas das árvores. Uma grande estátua de mármore, arcaica, enfeitava o centro do local, com a imagem de um anjo. A jovem esboçara um sorriso no canto dos lábios e virara seu corpo na direção de Azariel, que mantinha a feição séria.

- Eu não sinto nenhuma mudança, pelo menos não na minha área, Azariel. Tudo ocorre perfeitamente comum. - Alíria falara enquanto pousava a foice em suas costas.

- Algo está errado, não é para ser assim, começou há uma semana. A Roda parou. Isso nunca ocorreu antes. - O homem falara num tom de voz preocupado.

- Azariel, volte para sua área. Notando algo de errado, eu lhe aviso. - A jovem falara enquanto girava seu corpo para sair do local.

- Alíria! Não é comum! - O homem gritara e recebera como resposta o vazio, sendo deixado para trás pela jovem.


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