A Perfeccionista escrita por Isa Medeiros


Capítulo 1
A Perfeccionista


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, eu escrevi a one baseada na minha personagem favorita do livro 'A Seleção'
Gostaria de agradecer novamente a beta MikaDM por ter betado essa fic.
Boa Leitura!



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Eu estava sentada na minha cama macia e confortável. Havia me permitido tirar os lindos sapatos azul bebê que eu estivera usando. Com as pernas dobradas á direita do corpo eu realmente havia ultrapassado os limites de comportamento. Depois de dias com o rosto rígido e impecável um sorriso realmente verdadeiro apareceu em meus lábios. Afinal eu estava prestes a ler uma carta da minha mãe.

Olhei rapidamente por cima do ombro constando que minhas criadas estavam todas ocupadas. “Certo”, pensei respirando fundo, “tenho privacidade o suficiente agora”. Abri o envelope com cuidado, minha mãe quase nunca enviava cartas.

Querida Elise,

Espero que esteja se dando bem na seleção.

Lembre-se da grande sorte que lhe foi dada para essa competição e acima de tudo, do seu dever para com o seu país.

Tenho certeza que será uma grande rainha.

Desculpe só estar escrevendo agora para mandar notícias, mas as coisas aqui andam muito corridas.

Sua mãe.

Meus lábios se contraíram enquanto eu apertava um contra o outro. Respirei fundo e reprimi uma lágrima. Afinal o que eu esperava daquela carta? Minha mãe sempre foi assim e o erro era meu se esperasse por algo diferente disso.

Coloquei os meus pés descalços no chão gelado enquanto calçava novamente os sapatos. Levantei da cama e fui até a penteadeira, meu coque estava em frangalhos e isso não ficaria assim. Alexia, a criada chefe, veio correndo até mim no instante em que sentei na linda cadeira rosa em frente ao espelho. Eu amava o palácio. Tudo era tão luxuoso...

–Senhorita – ela disse portando-se ligeiramente atrás de mim e alisando apressadamente o avental – Deseja ajuda? – Soltei um rápido suspiro e respondi devagar.

– Só ia dar um jeito no meu coque, Alexia. Mas se estiver disposta a me oferecer a sua ajuda, lhe ficarei eternamente grata.

Ela sorriu timidamente e começou a ajeitar o meu cabelo em um coque perfeito. A seleção estava cada vez mais disputada e eu realmente não tinha nada ao meu favor, a não ser, é claro, o parentesco com a Nova Ásia.

Minha criada realmente fez mágica no meu cabelo, ela sempre fazia. A dispensei logo em seguida e retoquei rapidamente o batom cor de framboesa. Foi quando ouvi as batidas na porta. Outra criada foi atender enquanto eu alisava a sai rodada do vestido brilhoso azul bebê.

– Senhorita – a criada disse virando para mim. – Vossa alteza, príncipe Maxon, deseja conversar com a senhorita. Ele pede que a senhorita o acompanhe, se possível.

Segurei a respiração e assenti lentamente. Deixei os ombros eretos enquanto andava vacilante em direção à porta do quarto. Não tinha como me preparar para o que viria a seguir.

***

– Senhorita Whisks – o príncipe Maxon cumprimentou-me formalmente com uma reverência, assim que cheguei á sua frente.

Ruborizei levemente. A verdade é que eu nunca me sentira extremamente confortável com a sua presença, mas iria ter que me acostumar, afinal, ele era o objetivo. E, se tudo desse certo, eu teria de tomar aquele homem como meu marido.

Voltei a realidade com um piscar de olhos e fiz uma reverência apressada – Vossa Alteza – Disse respeituosa – A que devo a honra de vossa presença? – Completei tentando manter a postura. Ele mordeu o lábio inferior suavemente e olhou o mais discretamente possível para baixo. Aquilo não me cheirava nada bem.

– Se puder me acompanhar... – ele disse um pouco hesitante e deixando a frase no ar. Respirou fundo e, no instante seguinte, Maxon estava com uma das mãos segurando o meu cotovelo – Sinceramente, Elise, não torne as coisas mais difíceis do que já são – Arregalei os olhos. O que fora aquela intimidade repentina?

– A-alteza – gaguejei um pouco ao tentar falar. Estava muito nervosa. Afinal, o que era tão importante?

– Escute, Elise querida, pensei muito em onde poderíamos conversar. Afinal, creio que és reservada demais para o jardim... – concordei com a cabeça mesmo estando muito confusa sobre aonde ele queria chegar com isso. – Seu quarto ou o meu seriam muito íntimos, estou naturalmente impedido de entrar no salão das mulheres e os corredores são muito expostos...

A compreensão me atingiu como uma pancada. Algo de repente estalou em minha mente e eu entendi do que se tratava. O pânico foi me consumindo gradualmente, enquanto a insegurança esgueirava-se até as minhas entranhas. Mas não, não e não. Não podia ser, eu não acreditava. Não podia ser verdade. Senti meus ombros pesarem e a postura ir por água abaixo. Eu parecia um prédio, desmoronando lentamente.

Respirei fundo tentando me acalmar e manter a compostura enquanto tentava responder a pergunta não feita.

.– Qualquer corredor vazio já está bom... - Minha voz saiu como um fiapo. Eu tremia por inteiro. Vossa Alteza arqueou as sobrancelhas deixando uma evidência clara de que estava preocupado

– A senhorita está bem? Parece meio pálida... – Me limitei a respirar fundo e absorver o impacto repentino até me dar conta do que ele havia perguntado. Pra falar a verdade eu queria socar “vossa alteza” até que ele dissesse que eu seria sua esposa.

– Não...sim, sim, quer dizer, não, ou sim, mas sim estou bem – Minha resposta não foi nada convincente. Sua ruga de preocupação continuou enquanto eu tentava, em vão, retomar a compostura.

– Talvez possamos pegar um copo d’ agua antes de ir para o terceiro andar... – ele disse, um pouco hesitante. Balancei a cabeça rapidamente, na verdade, foi algo como um leve tremelico. “Acalme-se Elise”, tentei dizer para mim mesma, “não precipite as coisas”. Mas era impossível não fazer isso.

– Obrigada, Alteza, mas não é necessário – respondi endireitando os ombros, porém logo fraquejei novamente – Ficarei feliz em acompanhar-lhe até o terceiro andar. – completei querendo adicionar “E não se atreva a me expulsar seu...”. Segurei as lágrimas, não desabaria ali.

Ele sorriu ternamente por pura educação, porém seus olhos revelavam muita dor e talvez uma pitada de compaixão. Ele me estendeu o braço e eu o tomei ainda trêmula. Começamos a andar calados, cada passo mais sombrio que o outro.

***

– Não sei exatamente como...Como te dizer isso querida... – Maxon começou, assim que chegamos ao corredor do terceiro andar. Não havia ninguém por perto, nem mesmo uma camareira tirando pó das prateleiras velhas. As luzes estavam ligadas, porém o longo corredor continuava com um aspecto sombrio, principalmente, por causa da chuva que caia lá fora.

‘ – Maxon – eu disse cada sílaba como se tivesse gosto de mel, talvez mel amargo com uma pitada de sangue. Queria me lembrar bem do homem pelo qual eu lutara , na verdade, eu queria me lembrar da oportunidade de governar uma nação, que deveria estar em minhas mãos despreparadas.

Assim que suspirei seu olhar ficou pesado. Seus lábios se contraíram como em um apelo enquanto eu fraquejava cada vez mais, tentando não chorar.

– Sejamos francos Elise... – ele disse me penetrando com o olhar – Nós tínhamos alguma coisa...Mas...

– Não! – Eu gritei repentinamente, surpreendendo a mim mesma. Minha visão já estava borrada pelas lágrimas quentes que eu não havia conseguido conter. Não consegui acreditar nos gritos enraivecidos que jorraram da minha língua afiada depois disso – Três Maxon! Três! Apenas três beijos! Não venha me dizer que tínhamos alguma coisa. Que eu tinha alguma bendita chance! Que a coroa poderia sequer pousar sobre a minha cabeça! – Agora eu soluçava também, totalmente desamparada e sem rumo. – Ninguém me achava boa o suficiente, nem mesmo a sua mãe – Tentei secar o rosto, mas as lágrimas vieram em peso.

– Não pense nisso como... Você é uma mulher maravilhosa, Elise, eu e você apenas não fomos feitos uma para o outro...– Ele fez uma pausa como se pensasse no que diria a seguir. Seu olhar carregava dor e súplica – Por favor... – Chegou mais perto como se estivesse contando um segredo – Eu nunca sei o que fazer quando as mulheres choram.

Escondi meu rosto nas mãos, tomada pela vergonha. Aquilo era bem mais do que ‘perder a compostura’. De repente uma onda de raiva me inundou. Minha mão se moveu sozinha ao encontro da face de Vossa Alteza e as palavras saltaram da minha boca como uma tempestade de insultos raivosos.

– Você mentiu pra mim o tempo todo! – eu apontava o dedo na sua direção falando em um tom de acusação. – E-eu nunca tive nenhuma chance! Você s-sempre quis ela! Eu nunca p-pude sonhar com a honra de governar o país... –Fervi de inveja da América naquele momento e quis me suicidar de tanta raiva de mim mesma. Eu havia falhado. E era ela que triunfaria. Eu deveria usar a coroa e não ela. Eu tinha que ganhar, mas não, eu não tinha ganhado.

Maxon tentou abrir a boca para me reconfortar, porém eu já estava cobrindo o rosto com as mãos e correndo desesperadamente escada a baixo.

***

Cada passo apressado doía mais em meus pés calejados. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo ardente que me corroía vagarosamente por cima de uma saia de ferro. A cada degrau, perfeitamente pintado, a minha tortura interior só me consumia ainda mais. Eu sentia a maquiagem indo por água abaixo e manchando meu rosto vermelho, mas aquele era o menor dos meus problemas.

Quando me dei conta já estava descalça no segundo andar. Meu cabelo havia se soltado completamente e agora, aquelas cascatas castanhas, corriam livres pelos meus ombros nus, já que o vestido era tomara-que-caia. Eu queria aqueles cabelos completamente raspados. Aqueles ombros calvos em carne fresca. Aquela garota sorridente, que um dia eu fora, dizimada sem piedade.

Temendo ser vista por qualquer um, corri até o banheiro mais próximo o qual me lembrava, sentindo o chão frio e inóspito sob meus pés. Ele era pequeno, escuro e fedorento, feito para empregados, obviamente. Suas paredes de madeira velha cheiravam a mofo, mas nenhum cheiro do mundo estava mais podre do que o meu coração.

Um espelho idiota meio manchado refletia a melhor parte de mim naquele momento. Meu exterior. Mesmo com o cabelo desarrumado, a maquiagem borrada, o rosto vermelho, descalça e com o vestido em frangalhos, aquela era a melhor parte de mim. Por dentro eu estava ,literalmente, sem chão. Não tinha ideia do que a vida queria de mim ou o que mais eu teria que suportar.

Tranquei a porta de madeira e desabei ali mesmo. Deixei as minhas emoções trasbordarem pelos olhos como nunca antes. Comecei a chorar muito e mais alto, tinha certeza que meus soluços poderiam ser ouvidos do fim do corredor. Senti as energias do meu corpo caído, sendo exauridas pouco a pouco. Eu estava fraca, brava, com raiva, e incontestável.

Perdi a conta de quanto tempo fiquei assim até conseguir organizar meu turbilhão de pensamentos.

Eu havia falhado. Eu sou uma péssima dama. Eu sou uma pessoa horrível. Eu não mereço viver.

A angústia me consumia lentamente, penetrando cada célula do meu corpo vulnerável e sem forças, até consumi-lo lentamente e arrastar cada parte do meu ser até um poço inesgotável de culpa.

Funguei mais uma vez, desolada. Aquilo era surreal. Eu, Elise Whisks havia falhado. Mas eu, realmente acreditei que teria alguma chance? Meu Deus. Como eu pude ser tão burra? Como podemos ser tão burras? Nunca tivemos nenhuma chance.

Nunca. Nenhuma.

Eu realmente pude achar que eu era bonita o suficiente para conquistar o príncipe? Que eu poderia ser uma rainha? Que eu tinha alguma chance contra a América?

América. O nome da minha amiga tinha gosto de sangue em minha boca, me fazendo arder em ciúmes. Inveja, muita inveja daquela desgraçada que havia me feito perder. Afinal, se essa coisa de ‘amor verdadeiro’ não existisse, tudo seria um jogo de poder, o qual eu estava pronta para ganhar.

Abri os olhos devagar percebendo que da minha boca estava escorrendo sangue quente com gosto da morte doce.

Talvez eu pudesse ‘chorar ‘outra coisa que não fossem lágrimas. Pisquei devagar e comecei a procurar por alguma coisa cortante naquele banheiro estúpido. Depois de alguns minutos decepcionantes, recheados de tristeza, eu acabei minha “busca” com a visão turva encontrando apenas um rolo de papel higiênico, uma escova caída e o meu sapato que ficara preso no vestido.

Ótimo”, pensei irônica, “agora vou me cortar com uma escova, perfeito!”

Caí em prantos novamente. O meu corpo doía quase mais do que o meu espírito consumido pela decepção. Levantei os olhos vagarosamente apenas para enxergar minha terrível figura deformada.

Espelho. Vidro.

Levantei do chão agarrando meu sapato com as duas mãos trêmulas. O salto cintilante virado em direção ao espelho manchado. Respirei fundo e lancei o tamanco azul em direção ao seu alvo com uma força controlada, forte o suficiente para que quebrasse, mas não tão forte a ponto de levantar suspeitas. Não que eu tivesse muita força, é claro. Meu coração batia mais rápido do que nunca.

Um som alto cortou o ar quando o espelho se partiu. Os cacos voaram em todas as direções possíveis, como uma chuva de estrelas prateadas. Ajoelhei perto dos pedaços maiores sentindo meus joelhos arranharem. Depois de analisá-los com muito cuidado, escolhi o mais cortante. Por pura precaução, juntei mais dois do chão, depositando os três na pia do banheiro. Já sentia os outros perfurando a sola dos meus pés.

Respirei fundo e arranquei os botões que deixavam me vestido no lugar. O tirei e, o que antes era um delicado vestido, voou por cima da minha cabeça, me deixando apenas com a armação, a lingerie, o espartilho e a minha dor nua.

Literalmente, sai da armação enquanto desatava o espartilho. Joguei tudo no outro canto do banheiro mirando minha figura no espelho: cabelos desarrumados, maquiagem borrada, ombros pendidos, pés descalços, uma calcinha rosa e um sutiã branco que fazia marcas em meus seios.

Percebi que minha mão direita estava mais trêmula do que antes no instante em que comecei o primeiro corte no outro braço. Não me importei. Comecei a chorar mais, desesperadamente, enquanto via o sangue descer pelo meu braço como se fosse uma cascata de rubis líquidos. Eu não chorava de dor, chorava de pena, pena de mim mesma.

Um furo a mais. Minha cascata foi aumentando e pingando no chão, uma gota de cada vez, lentamente. Furei meu braço em cerca a dez centímetros depois do ombro. Temia que o sangue vermelho simplesmente cristalizasse bem diante dois meus olhos.

Comecei outro corte no peito, tendo que abaixar o sutiã alguns centímetros. Uma picada de cada vez. Sangue correndo solto. Gemi um pouco, ali doía mais, bem mais.

Deixei-me ser levada por um mar negro de tristeza sendo, gradualmente, manchado de sangue. Bem lentamente o líquido vermelho ia o dominando enquanto eu via o mundo girar ao meu redor. Minhas pernas fraquejaram e, no instante seguinte eu simplesmente cai no chão frio. Ouvi um baque surdo ecoando ao longe, acho que era eu mesma caindo. Senti o vidro frio deslizar dos meus dedos e em seguida uma dor aguda na perna. Eu não tinha forças para gemer.

Meus olhos perderam o foco e eu não conseguia mais mexer as minhas mãos pálidas. Ouvi batidas bruscas na porta e vozes gritando para que alguém a arrombasse. Eu não me importei. O mundo bem que poderia explodir naquela hora, na verdade eu achava que já iria explodir mesmo, afinal tudo estava ficando tão escuro, escuro, escuro....

***

– Ela vai mesmo ficar bem? – Ouvi a voz de vossa alteza perguntando com um leve tom de preocupação. – Tenho a impressão de que foi tudo culpa minha.

– Alteza, pela milésima vez: não foi culpa sua – uma voz feminina ecoou irritada. Senti uma mão gelada na minha testa quente e o som de passos pesados vindo até mim. Eu podia muito bem levantar, mas preferi aproveitar um pouco mais – A garota perdeu o chão ao perceber que não seria a sua esposa. – Mas afinal, de quem eles estavam falando?

Abrios olhos de vagar. Primeiro o direito, depois o esquerdo. Eu provavelmente estava deitada e só conseguia ver o teto branco. Tentei mexer a cabeça para o lado e gemi baixinho.

– Ela acordou! – Maxon estava prestes a pular de alívio. Tive que morder a língua para lembrar a mim mesma que ele não era o meu Maxon, não mais.

– O-oque aconteceu? – tentei perguntar, meio fraca. Vi um grande curativo em meu braço, com, talvez, alguns pontos. As lembranças vieram como uma avalanche. Banheiro. Choro. Sangue. Espelho. Sangue. Vidro. Sangue. Escuridão. Sangue.

– Você desmaiou – Quem falou foi a enfermeira loira do meu lado, segurando uma prancheta. A figura jovem e esbelta na minha frente não combinava com a voz estranha e enganiçada que eu ouvira – Você foi achada semiconsciente no banheiro do segundo andar, só de lingerie, com o vestido jogado no canto, a maquiagem borrada, um corte no ombro, outro no peito, um de raspão na coxa e o espelho todo quebrado – Ela leu tudo com a maior calma do mundo. Senti minhas bochechas queimando de vergonha – Por que fez isso, Elise? – Senti o seu olhar me estudando. Virei a cabeça buscando por Maxon, que, aparentemente, havia nos deixado.

– Porque a seleção é tudo para mim – respondi baixando os olhos, com a voz claramente trêmula. – Era tudo para mim – Lembrei tristemente.

A enfermeira fez a última coisa que eu esperaria naquele momento. Ela me abraçou por logos três minutos, como se aquilo fosse a cura para mim e minhas loucuras. Ela me soltou e ficou me olhando nos olhos, como se eu fosse um cachorrinho com a pata quebrada.

– Os cortes já estão sarand,o e o desmaio provavelmente se deu pelo fato de que você não havia comido nada e da grande carga emocional. – Eu só percebi que estava chorando quando ela passou uma mão delicada sobre a minha bochecha – Posso te livrar da festinha para as senhoritas América e Kriss hoje – A enfermeira abriu um sorriso triste – Mas vai ter que ir ao anúncio oficial de amanhã, desculpe.

– Obrigada – respondi com sinceridade tentando esboçar um sorriso – Prometo que eu vou ficar bem – continuei – Desculpe-me, por tudo – senti outra lágrima roçar minha bochecha – Eu fui uma idiota – disse mais para mim mesma do que para ela.

– Me escute, está bem? – A enfermeira colocou a mão no meu braço bom – Agora, você vai comer um pouco e descansar algumas horas. Depois eu vou trocar os seus curativos e te dar um calmante. Então você vai para o seu quarto, suas criadas vão te dar um vestido magnífico, te maquiar e você vai tentar não borrar a bendita maquiagem. Depois a senhorita vai simplesmente andar pelo castelo ou ir parabenizar as finalistas, se tiver coragem – Eu engoli em seco. Será mesmo que a Elise de antes voltaria tão cedo? – E você estará presente no anúncio, de queixo erguido, entendeu? Depois vai voltar para casa, e vai voltar feliz, anunciando para todos que foi uma das quatro finalistas da seleção e que beijou o príncipe Maxon – Ela abriu um sorriso de consolo.

Eu sorri da melhor forma que pude. Já estava pronta para recusar a comida e ir descansar no meu quarto quando meus olhos pousaram em uma torta fria e um copo de suco de laranja, deixados na cabeceira. Senti o meu estômago roncar suavemente e, só então, percebi que estava morrendo de fome.

– Obrigada. – disse baixinho, esticando as mãos para pegar o lanche – tentando acreditar naquilo.

Ela sorriu e passou as mãos pelos cabelos louros antes de me deixar e ir ver outro paciente, um guarda com alguns problemas durante o treinamento. Eu suspirei vagarosamente olhando para o prato na minha frente. Sinceramente, eu deveria estar me sentindo muito mal por não ter conseguido vencer, mas que se dane, aquela torta fria estava maravilhosa!

***

Inspirei lentamente e levantei o queixo com a maxilar levemente cerrado. Andei alguns passos vacilantes enquanto sentia a saia pouco armada fazendo cócegas nas minhas pernas. Minha maquiagem estava perfeita: um batom bem vermelho, bochechas discretas, uma sobra clarinha e muita máscara para cílios. Meu cabelo estava majestoso e prático ao mesmo tempo, minhas criadas haviam feito mágica naquele coque trançado deslumbrante.

O vestido era maravilhoso: uma blusa verde-água justinha e com mangas compridas. A saia era levíssima e seguia o mesmo padrão da parte de cima com alguns detalhes em dourado dignos de uma rainha. Eu usava também brincos dourados, bem espalhafatosos.

Olhei-me no espelho mais uma vez, reprimindo a vontade de chorar. Era a última vez que eu veria aquele quarto. Depois de toda a confusão no palácio por causa do ataque rebelde, todas as mortes e feridos, sim, eu havia saído ilesa. Até tudo se organizar, nem valia a pena nós sairmos e depois voltarmos para o casamento, sendo assim eu estava no palácio já fazia três meses depois da minha dispensa.

O casamento havia sido lindo; a festa, maravilhosa; a noiva, deslumbrante. Eu tinha até ficado feliz pela América. Ela havia seguido em frente, e talvez agora fosse a minha vez.

– Senhorita? – Uma criada colocou a cabeça para dentro da porta – Está pronta? – As minhas coisas já estavam no carro o qual iriamos até o aeroporto. Eu apenas havia pedido alguns segundos á sós.

– Sim, eu estou – respondi me dirigindo até a porta com a minha bagagem de mão – Obrigada.

– Não tem de quê senhorita – a criada fez uma reverência – Vamos? – assenti com a cabeça e comecei a segui-la pelos longos corredores e escadarias do castelo até o primeiro andar.

A limusine já estava a minha espera com as bagagens no porta-malas, e um motorista impaciente olhando o seu relógio. O jardim estava mais lindo do que nunca, as flores, já desabrochadas, pareciam sorrir para mim.

Um guarda abriu a porta traseira para mim e eu dei uma última olhada no castelo antes de entrar. Memorizei cada detalhe do lugar onde meus contos de fada haviam saído do papel e suspirei fechando levemente os olhos. Era hora de seguir em frente.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram?
O que vocês acharam bom?
O que vocês acham que precisa ser melhorado?
Vou adorar ler a opinião de todos nos comentários!
Beijos!
Anne