– LEIAM AS NOTAS INICIAIS-

Ah, finalmente o intervalo. Eu saí da sala de aula e fui para o pátio. Comprei um lanche na cantina. Um pacote de salgadinhos sabor queijo e uma Coca-Cola. Pensei na situação de Kess. Tadinha. Então, ela veio falar comigo:

–Lenn, hoje é meu último dia na Sweet Armoris, pelo menos por uns meses- disse ela, parecendo triste- Minha mãe é militar e feminista radicalista sabe, e eu contei a ela o que aconteceu entre eu, André, Lee e Charlie. Ela não aceitou. Disse que ia me mandar para a escola militar Kinnes.

Eu olhava fixamente para Kess... É culpa de André... Como ele pôde... DROGA, ANDRÉ! Depois de pensar um pouco, alternando várias vezes meu olhar entre Kess e minhas mãos suadas, eu lhe perguntei:

–Kess, não há nada que eu possa fazer para impedir isso?

–N-não, sinto muito...

Eu estava quase chorando. Ficar longe de Kess por um tempo maior do que uma semana era um tipo de coisa que eu não podia imaginar. Então olhei para Kess e lhe disse, fazendo força para as lágrimas não saírem:

–Já que hoje é seu último dia na Sweet Armoris, passe ele junto a mim. Quero sua companhia.

O enorme e radiante sorriso que se abriu no rosto de Kess era melhor do que qualquer presente.

–Obrigada, Lenn!- Ela pulou e me abraçou forte- Muitíssimo obrigada! De todo o coração!

–De nada, Kess...

Eu e Kess passamos o resto do intervalo juntos e dividimos nossos lanches. Ao voltarmos para a sala, pedi seu número de telefone, e ela o rabiscou num pedaço de papel e me entregou. Kess ficou tão pouco tempo na Sweet Armoris...

Passamos o resto da manhã e a tarde, os dois juntos, à tarde no clube de jardinagem, meu palpite estava certo, Kessie realmente escolheu jardinagem. Kess adora flores. Lembro-me de nossa escola antiga, Kess sempre estava num canto cuidando das flores (não tinham clubes nem ninguém que cuidasse das flores por lá), de todos os tipos, embora lírios brancos fossem suas preferidas. Ela diz que adora como o branco dos lírios lembra leite. Nas poucas vezes em que houve festas em nossa antiga escola, ela sempre aparecia com vestidos detalhados em flores.

Eu lembro-me de um desses bailes em especial, de inverno, em que nós tínhamos combinado de ir juntos. Eu nunca sequer imaginei que Kess pudesse ficar tão deslumbrante quanto naquela noite. Nós ganhamos o título de Rei e Rainha do baile daquela vez. Ela aparecerá em um vestido de alcinha, lilás, com detalhes em roxo e lírios brancos falsos bordados na cintura. Sandálias de salto baixo, ainda usando os velhos óculos (porém conseguindo ficar deslumbrante mesmo com eles), os cabelos, que eu achei que nunca seriam arrumados, bem- lavados e bem- penteados, brincos de flor nas orelhas e uma tiara também florida na cabeça, além de pulseiras brancas e um colar também branco para combinar com os lírios falsos. Exatamente por causa de Kess, naquela noite eu havia ido com um lírio no terno, substituindo a tradicional rosa vermelha. Perguntei a ela se ela se lembrava desse baile e ela disse que sim, então me ofereceu um biscoito Trakinas sabor chocolate. Acho que nunca contei, mas Kess adora biscoitos de chocolate, sempre está comendo um. Aceitei e coloquei um lírio branco em seu cabelo. Ela corou, o rosto ficando muitíssimo vermelho. Virou o rosto para o lado e resolveu ir molahr as rosas. E pensar que é a última tarde que passo com ela...

Kess e eu nos conhecemos desde quando éramos apenas crianças, por vola dos seis anos de idade, no início do Ensino Fundamental. Tenho uma outra amiga dessa época, Vivi (Victor), porém faz um tempo que eu e Kess não a vemos.

Eu e Kess, quando eram umas quatro horas da tarde, começamos a cantar a música favorita dela, ´´Kokoro´´, da Vocaloid/ Cantora japonesa Rin Kagamine. Quando deram seis horas da tarde e a escola fechou, eu acompanhei Kess até a casa dela, e fomos o caminho inteiro comendo Trakinas (a quantidade de pacotes que ela tem na mochila é mais de oito mil, hehehe...) e cantando ´´Kokoro´´...

Tirei do bolso uma pulseira, escrito ´´Kess / Lenn´´, que ela me dera em certa ocasião, quando éramos crianças. Coloquei a pulseira na mão dela, e Kess levantou o olhar.

–Lenn...

–Pode levá-la. Precisa mais dela do que eu.

–L-Lenn...- Ela olhou para mim, estava chorando, mas eu acho que a Kess mesma não sabia dizer se era de felicidade ou de tristeza. Ela colocou a pulseira, branca como os lírios.

Kess limpou as lágrimas na manga do suéter verde- escuro, tirando os óculos novamente.

Resolvemos jantar fora, eu a levei para casa e ela se arrumou, com um vestido verde- claro.

A levei em um restaurante japonês. Mais uma coisa sobre Kess que não contei ainda: Ela adora comida japonesa. Sentamos em uma mesa e chamamos um dos vários garçons que tinha por lá. Ele veio e nos cumprimentou:

–Boa- noite. Algo para beber?

Ele olhava a mim e Kess como se namorássemos, como se fossemos nos beijar a qualquer momento. Então pedi:

–Dois drinks daqueles sem álcool, de morango.

O garçom anotou o pedido e se retirou. Nossa mesa era ao lado da janela, e tinha vista para as estrelas, para a lua cheia, brilhante e enorme, e para o mar (moro emu ma cidade com litoral). Me virei para Kess e disse, apontando para a janela:

–Que visão linda, não?

Kess olhou para fora.

–É, realmente bonita- disse, admirada com a paisagem e acenando com a cabeça.

O garçom chegou com nossas bebidas e perguntou o que íamos comer.

Deixei que Kess pedisse primeiro: Niguri de salmão e temaki. Eu resolve ficar á base do sushi e sashimi, não conheço muito esses pratos japoneses. Eu e Kess conversamos mais um pouco, sobre nossa saga de livros favorita, ´´Harry Potter´´, de J. K. Rowling. Nossa comida chegou. O jantar foi maravilhoso. Kess me convenceu a experimentar niguri de salmão, é realmente

Perfeito. Para a sobremesa não pedimos um prato japonês, mas sim sorvete de morango... Com Trakinas. Começamos a contar piadas um ao outro. Saímos do restaurante rindo.

Ao chegarmos na casa dela, me despedi e fui embora. Dormi cedo outra vez. Acordei na manhã seguinte e me vesti apressado. Queria me despedir de Kess na estação antes da escola. Ao chegar na estação de trem, vi Kess apressada e atrapalhada com as mala. O trem dela saía em dez minutos. Chamei-a em voz alta:

–EI, KESS!

Ela olhou em minha direção. Seus olhos se encheram de lágrimas.

–Lenn!

Eu a abracei forte e a ajudei com as malas. Me despedi e logo depois ela embarcou no trem, e o mesmo partiu.

Limpei as lágrimas do rosto com a mão, enquanto o refrão de ´´Kokoro´´ tocava em minha mente.

–LEIAM AS NOTAS FINAIS-