Benevolentiam escrita por little wolf boy


Capítulo 1
Benevolência




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Rubeus gostava de caminhar na Floresta de Dean. Ele não podia ir lá sozinho, é claro, mas fazia isso de qualquer maneira. Era um menino crescido, afinal, quase oito anos, e sabia como cuidar de si mesmo. As preocupações de papai eram bobas demais para serem tomadas com seriedade e, assim, ele ia todos os dias, no começo da tarde, quando seu pai já havia dormido na poltrona vermelha da sala e a casa estava quieta.

Era calmo ali, e Rubeus gostava do silêncio, só o som do canto dos pássaros ou de esquilos passando por arbustos. Suas botas pesadas faziam barulho ao bater no solo e esmagar folhas e galhos, assim ele olhava para os pés, tentando diminuir o som que produzia. Não podia se segurar, no entanto, e vez ou outra levantava os olhos para observar a copa das árvores, os animais tímidos, as flores e toda a beleza que o cercava. O ar era puro e tudo era tão pacífico… Rubeus só queria ficar ali para sempre.

Era certamente melhor do que a companhia das crianças do vilarejo, que apontavam e riam dele por causa de seu tamanho ou de suas roupas gastas. Ou, pior, daquelas que se afastavam com medo, se escondendo atrás dos pais que vestiam expressões de desprezo. Rubeus não entendia como alguém podia ter medo dele. Ele era um pouco grande, tudo bem, mas nunca seria capaz de machucar ninguém. Era tão difícil assim ver isso? Ele era tão assustador assim?

Balançou a cabeça, como que tentando afastar os pensamentos. Ele estava em seu lugar favorito em todo o mundo e não deixaria alguns maus devaneios estragarem seu humor. Colocou um sorriso radiante no rosto, mostrando os dois dentes que haviam caído, e andou com propósito pela floresta, mesmo que não tivesse nenhum destino em mente.

Foi distraído por um barulho baixo, quase imperceptível, vindo de alguns arbustos à sua direita, atrás de uma árvore de tronco vermelho. Mordeu o lábio, ponderando se era sábio ou não ir investigar. Não deu dois segundos e seguia para o local, apesar disso, o espírito curioso da criança sendo muito maior que seu bom senso.

Afastando algumas folhas, conseguiu ver a fonte do barulho. Era uma corça filhote, as duas patas traseiras presas num emaranhado de ganhos. Ao notar sua aproximação, o pequeno animal tentou soltar-se com mais fervor, pânico brilhando nos grandes olhos negros.

— Ei, tudo bem, animalzinho. Eu sou bom. — Falou o garoto, tentando manter seu tom baixo e calmo. Sorriu bondosamente ao se aproximar em movimentos lentos, deixando a corça seguir cada um deles. — Eu vou te soltar e então você vai poder voltar para sua mamãe, tudo bem? Não vai demorar muito.

Rubeus, então, começou a tirar os galhos com cuidado, tentando não assustar o animal. Falou durante todo o processo, o que pareceu acalmá-la de certa forma. Assim que estava solta, no entanto, correu rápida, tropeçando em um dos seus cascos antes de sumir atrás das folhagens mais próximas.

Ele sorriu, se sentando apoiado à árvore. Rubeus sempre gostara de animais. Todos eram tão indefesos e delicados… E eles não eram maldosos como as pessoas, sabia disso. Provavelmente era por isso que tinha certo fascínio por animais grandes e perigosos: Talvez eles só eram incompreendidos, ninguém disposto a entendê-los, assim como ele, tão grandes mas tão inofensivos. Segurava a crença de que todos os animais eram bons: Você só tinha de querer conhecê-los, e então veria.

Sua certeza foi provada, de certa forma, quando a corça voltou um tempo depois, tímida. Rubeus se manteu imóvel enquanto ela se aproximava. Ela por fim cheirou sua mão direita e a lambeu, e o garoto soltou um pequeno riso. Quando o sol caía no horizonte, a corça dormia em seu colo um sono tranquilo, e Rubeus sorria como se fosse natal, uma mão suave fazendo carinhos na cabeça do animal.

Animais eram com certeza melhores do que pessoas.


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Notas finais do capítulo

Me digam o que acharam!