–K, por que você não me disse que vocês estavam se acertando? -Bianca perguntou animada.

–Porque nós não estamos. -Karina imitou o tom animado da irmã.

–Ah tá. -Bianca fez cara de quem não acredita em nada. -E o que ele tava fazendo aqui a essa hora?

–Pra começo de conversa, essa hora, já são 09:40. -Karina consultou a hora. -Só porque a princesinha acorda tarde não quer dizer que todos o façam.

–Ah Karina, me poupe. -Bianca pegou uma revista sem ao menos ler. -Eu vi o Pedro ontem a noite com essa mesma roupa. E a cara amassada dele me diz que ele dormiu aqui.

Karina olhou com um olhar assassino para a irmã mais velha. Como ela era intrometida.

–Rolou ou não rolou?

–BIANCA!

–Não finja que nunca fez isso. -ela disse rindo maliciosa. -Mas, falando sério, o que ele veio fazer aqui?

–O Pedro apareceu aqui ontem a noite com uma pizza a tira colo. Feliz?

–E...?

–E o quê?

–Ele dormiu aqui, Karina! Pelo menos uma conversa séria vocês devem ter tido. Alguma coisa ele ti disse para ter conseguido passar a noite inteira aqui e não morrer.

–Ha-ha, muito engraçado.

–Tô falando sério maninha, vocês se acertaram?

Karina viu a expressão de Bianca ficar mais séria. Ela sabia que a irmã queria que ela e Pedro se acertassem, só não sabia se era por querer a felicidade dela, ou por culpa. No fundo sabia que era um pouco dos dois.

–Eu tentei, o.k.? -Karina suspirou. -Antes que você diga que eu deveria ter dado uma chance para ele se explicar assim como eu acabei dando pra você. Eu fui o máximo de paciente que EU consigo ser.

–E ele?

–Pediu pra ligar a televisão.

–O quê? -Bianca ficou exasperada.

–Pediu pra ligar a televisão. -Karina suspirou. -Depois perguntou o que eu tenho feito. E depois eu acabei dormindo, estava cansada. Quando acordei ele ainda estava aqui.

–Idiota.

–É, eu sei.

–Mas o que ele acha que está fazendo?

Karina ergueu uma sobrancelha.

Bianca tanto tinha tentado, depois de todo acontecimento do acordo, que conseguiu, após quase dois anos, se reaproximar da irmã, e às vezes elas eram confidentes uma da outra. Mas o assunto 'Pedro' entre elas ainda era motivo pra desconfiança e magoa.

–Você não vai se meter nisso, Bianca. -Karina falou firme. -Eu não sei o que ele está fazendo. Eu não sei o que eu estou fazendo. Mas eu sei de uma pessoa que não vai fazer nada, não vai meter um dedinho nessa história, essa pessoa é você.

Bianca desviou o olhar para revista, ela não tinha como culpar a irmã por aquilo. Elas ficaram em um silêncio constrangedor por um tempo.

–Bom, vamos ao que interessa! -Bianca jogou a revista de lado e se levantou.

–E o que seria?

–Nós vamos ao shopping. -o ar de animação já estava voltando.

–Com nós, você quer dizer você e seu filho. -Karina apontou para barriga da irmã. -Né?!

–Não, quero dizer eu e você. Vai logo se arrumar.

–Ah não, Bianca!

–Ah sim, você vai me acompanhar nas primeira compras para seu sobrinho ou sobrina.

–Por que o Duca não faz isso?

–Porque eu quero que você vá.

Bianca começou a empurrar Karina de leve, em direção ao banheiro.

–Tá bom sua chata!

***

–Iai pirralha?! -Pedro abraçou a irmã ao entra no Perfeitão.

–Pê. -ela o abraçou. -Por que não dormiu aqui?

Pedro deu um sorriso bobo. Podia muito bem dizer que havia dormido no seu apartamento, mas a irmã era uma das pessoas mais entusiasta no relacionamento que ele tinha, ou melhor, teve com Karina.

–Dormi num sofá, pequena. Em umas das posições mais desconfortáveis que se tem, mas com a imagem mais linda que alguém poderia querer. -ele não conseguiu disfarçar o sorriso. -Acordei cheio de dor, mas faria isso todas as noites só pra poder ficar admirando ela.

–Eu só vejo esse sorriso quando você tá falando da K. -ela disse dando pulinho. -Vocês voltaram? A K é minha cunhada de novo?

–Calma aí pirralha. -Pedro sempre chamaria a irmã assim, mesmo que ela não fosse mais uma criança. -Cê não acha que a Esquentadinha ia voltar pra mim assim fácil, né?

–Fácil? -ela olhou exasperada. -Já fazem cinco anos. Já passou mais tempo do que deveria dá hora de vocês dois se acertarem.

–Mas você maninha... Pera aí, é o Johnny.

Pedro atendeu o celular.

"Fala Johnny."

"Eu, você, Fabi, Bianquinha e a sua Esquentadinha, shopping daqui há uma hora e meia. Preciso desligar agora."

"Pera ai, ô seu doido. Elas sabem disso?"

"A Fabi e a Bianca sabem. Mas é sério, preciso ir, te vejo daqui há uma hora."

"Espero que isso dê certo. Vou levar a TomTom."

"É claro que vai dar certo."

–Pra onde você vai me levar, posso saber? -a garota cruzou os braços.

–Shopping. Talvez sua presença deixe a K mais calma. -ele riu.

#

–Pô Bianca, a gente já tá andando de loja em loja ao maior tempão. -Karina resmungou. -Você nem sabe se a criança é menino ou menina e ela já tem mais roupas que eu. Como você pretende fazer esse bebê vestir tudo isso?

–Ah Karina, ele vai ter opções.

–Ah sim, porque ele vai escolher as roupas que quer usar. -Karina desviou o olhar para uma barraquinha de sorvetes. -Posso ao menos tomar um sorvete?

–Bora lá.

Bianca e Karina pediram os sorvetes e se sentaram na praça de alimentação, a mais velha lutando para organizar as inúmeras sacolas que agora possuía. Assim que se organizou pegou o celular. "Eles estão atrasados." Foi o que pensou ao olhar a hora, afinal, ela e Karina já estavam no shopping há quase duas horas e nem sinal de João e Pedro.

–O que é aquilo ali?

–Quê? -Bianca saiu de seus pensamentos. -Aquilo o quê?

Karina apontou com a cabeça uma pequena aglomeração não muito longe de onde elas estavam. Era um grupo de mais ou menos umas 30 pessoas, na maioria garotas, reunidas em circulo, eram visíveis os flashes que vinham de lá.

–Deve ser alguém famoso. -Karina falou se levantando. -Vou lá.

–Não K, você não vai me deixar aqui. -Bianca protestou.

–Então vem comigo. -Karina falou já se afastando.

Karina andou até o aglomerado de pessoas se esforçando para ver quem era.

"Como eu odeio essa muleta." era tudo que ela pensava.

Após uns cinco minutos tentando olhar por cima da cabeças, viu a pessoa que menos esperava distribuindo autógrafos e tirando fotos com um bando de atiradas, que era assim que Karina olhava aquelas garotas.

–Karina. -TomTom falou alto o suficiente para chamar a atenção de Pedro para lutadora.

Karina se afastou um pouco, e TomTom a seguiu.

–Iai pequena. Tá servindo de fotografa pro seu irmão hoje?

–Sair com o Pedro pode ser bem chato às vezes. -ela falou olhando pras garotas que queriam a todo custo algo de seu irmão.

–Poxa K, espero que seja alguém que valha a pena pra você me deixar pra trás com esse tanto de sacolas. -Bianca parou perto delas. -TomTom?

–Oi Bi. Pra quê isso tudo?

–Iih, ela pirou pirralha. Tá grávida de dois meses e o bebê dela já tem mais roupas que eu e você juntas.

Elas riram, e João, Fabi e Pedro, que conseguiu se livrar de suas fãs, pararam ao lado delas.

–Que cês tão fazendo aqui? -foi Karina que perguntou.

–Passear amiga. -Fabi respondeu. -Mas juro que não venho mais. Quando o João se junta com o Pedro parece que ele esquecesse que tem namorada.

–Eu não faço isso. -o garoto se defendeu.

–Ah não?!

–Faz sim, parece até que eu e a Fabi que estamos de vela pra você e pro meu irmão.

–Por três minutos, enquanto não aparece um monte de doida pra tirar foto com ele. -João falou.

–Ah, então era você. -Bianca falou. -Pensei que fosse alguém famoso.

–Mas eu sou famoso. -o guitarrista falou exasperado.

–Mas eu te conheço. -Bianca devolveu como se fosse obvio. -Segura aqui pra mim maninho. -ela passou mais da metade das sacolas pro nerd.

–Você tá grávida de gêmeos Bianca? Porque não é possível que tudo isso seja pra uma só criança.

Todos riram.

–Karina, eu posso falar com você? -Pedro perguntou quando estava próximo da lutadora, mas isso não impediu que todos ouvissem e respondessem por Karina.

Bianca foi a primeira.

–Vamos nos sentar ali, gente? Tô cansada.

Todos concordaram e seguiram a atriz, deixando Karina e Pedro pra trás.

–Que você quer agora?

–Eu...

Pedro foi interrompido por uma garota de aproximadamente de uns 10 anos, acompanhada da mãe.

–Posso tirar uma foto com você, Pedro?

Karina olhou com carinho pra garota e se pronunciou pelo guitarrista.

–Claro que você pode meu amor.

A menina deu um sorriso para lutadora e sua mãe bateu a foto. Depois que a garota se afastou um pouco Pedro levantou o capuz e colocou um óculos escuro.

–Nossa, tudo isso é pra não te reconhecerem?

–Pra não interromperem nossa conversa também.

–Então. -Karina recomeçou a andar. -O que você quer me falar?

–Karina, eu fui ontem na sua casa pra te falar isso, mas não consegui. -ele começou, olhando para o chão com as mãos nos bolsos enquanto acompanhava a garota. -Karina eu gosto de você, eu gosto de verdade de você. Eu fui um idiota e um covarde por ter deixado as coisas acontecerem daquela forma, por ter deixado que toda aquela história me manter afastado de você por cinco anos. Um idiota por ter aceito aquele dinheiro. Mas eu me apaixonei por você, do jeito que você é, e eu nunca consegui te esquecer. Eu preciso que você me perdoe, por favor.

Pedro parou de frente pra Karina, tirou os óculos e olhou aquela imensidão azul que eram os olhos dela.

–Me diz alguma coisa, por favor.

–Você sabe que um pedido de desculpas não apaga todo sofrimento que você me fez passar, não sabe?

–Assim como todo sofrimento que ti fiz passar não apagou seu sentimento por mim.

Pedro aproximou seu rosto perigosamente do rosto de Karina, podendo sentir a respiração da garota.

–Pedro... -Karina sussurrou, olhando para boca rosada de Pedro, que estava muito próxima da sua.

–Eu sinto tanta sua falta Esquentadinha.

Pedro avançou para beijar Karina, mas ela desviou na última hora.

–Eu... eu tenho que... que encontrar a Bianca.

Karina saiu andando, deixando Pedro um pouco atordoado.

–Karina espera aí.

"Como é que ela consegue andar a essa velocidade com uma muleta?"

Karina continuou andando, não tinham deixado Bianca e os outros muito para trás, não demorou a encontrá-los.

–Bí, eu não estou me sentindo bem, podemos ir agora?

Bianca olhou de Karina para todos que estavam presente e concordou.

–Karina, espera aí. -Pedro falou baixo. -Me diz que me perdoa. Não estou te pedindo pra voltar pra mim, só pra me perdoa.

–Me deixa pensar, por favor. -ela falou baixo.

#

–O que rolou lá no shopping?

–Bianca!

–Por favor K. Você tá toda estranha depois que falou com ele.

–Falar com você vai me deixar menos estranha, por acaso?

–Não, mas vai me fazer menos curiosa.

Karina deu um longo suspiro.

–Não faz nem uma semana que eu voltei a ver ele, e já estou me sentindo confusa. É como se alguém chegasse para me dizer que a muralha que eu construir é feita de areia, e ele está desfazendo com um sopro.

–Ele só está desfazendo essa sua muralha porque você ainda o ama, K.