"Eu prometo que nunca vou te machucar."

No final foi aquela frase que mais a machucou.

Pedro sabia que de um jeito ou de outro Karina descobriria, e sairia machucada daquela história, mas a fez acreditar que ele a amava, que seria diferente do Duca, mas foi tudo uma mentira. Pelo menos era assim que ela olhava aquela situação.

Ela havia sido traída, de novo. Mais uma vez Bianca a fizera de trouxa e manipulara sua vida. No final, o que ela sentiu quando descobriu a verdade sobre Bianca e Duca não se comparava com a dor que sentira quando descobriu a verdade sobre Pedro.

–~-

–Minha vida tá indo pro inferno e cê tá aí, curtindo com a Karina e tirando uma de guitarrista profissional.

–Cara, já falei pra cê largar mão desse ciúmes. Além do mais, a tia só tá fazendo isso o que é melhor pra você.

–Ah, claro! Morar com aquele cara, e agora frequentar clínica de reabilitação para viciados em Games. Com toda certeza o melhor pra minha vida.

–Aquele cara é o seu pai. E você precisa ir...

–Eu esqueci que tô falando com o cara que sempre pensa no melhor para vida das pessoas. Afinal, cê tava pensando no melhor pra Karina quando aceitou aqueles dois mil reais da Bianca, né?!

Karina não era de escutar as conversas de Pedro, nunca foi. Mas João andava meio mal no últimos dias, como se fosse explodir a qualquer momento. E naquele dia em especial, chegou muito mau humorado na casa de Pedro. Karina não resistiu, e ficou esperando os dois no corredor.

–Tá maluco moleque?! Cala boca!

–Quando você vai criar coragem e contar pra ela? Se não fosse esse maldito acordo eu não teria feito aquele vídeo book da Bianca e não estaria morando com aquele cara e...

–Você é um viciado, João. Está doente! Não me use como desculpa pras burradas que você faz.

–Eu posso ser tudo isso que você falou. Mas eu sei que a Karina não merece isso. Já faz um ano...

–Não mete o meu relacionamento nisso, cara.

Do lado de fora do quarto, Karina chorava, chocada demais com o que havia acabado de escutar. Alias, ela suspeitava que todos na casa haviam escutado, já que Pedro e João começaram a gritar no final da discussão.

Ela limpou as lágrimas e entrou no quarto onde os dois estavam.

–Hey, K. -Pedro se espantou ao vê-la.

–Cala a boca, Pedro. -ela lançou-lhe um olhar frio. -Repete o que você disse, João. Repete só pra mim ter certeza.

–Olha, Karina...

–Não, você disse que a Bianca deu dois mil pra esse aí, e que já faz um ano. -as lágrimas voltaram a cair e ela se virou para encarar Pedro. -Pelo amor de Deus, diz que não é isso que eu tô pensando. Pedro, me diz que você não fez isso comigo.

–Karina, não é assim... -Pedro se desesperou ao vê-la chorar.

–Ah, não?! Então é como? Porque pelo que eu entendi, e acho que o resto da casa inteira, é que a Bianca pagou você pra ficar comigo. Não é isso?

Pedro abaixou a cabeça e encarou os pés.

–'Eu prometo que nunca vou te machucar.' -Karina riu, mas não estava achando graça de nada. Seus olhos estavam vermelhos , e as lágrimas desciam sem pudor. -Como você pode fazer isso comigo? -ela perguntou mas não aguardou resposta. -Ela fez de novo! Igualzinho da primeira vez... Como eu sou idiota.

João observava a cena tão atordoado quanto todos naquele quarto. Karina chorava, mas mantinha um sorriso no rosto, o que estava começando o assustar. Pedro, por sua vez, encarava a garota com os olhos marejados e uma expressão indecifrável. Uma lágrima escorreu de seu olhos esquerdo. Aquela foi a primeira vez que João viu o amigo daquela forma, e se sentiu a pior pessoa do mundo.

–Karina, eu amo você. -Pedro finalmente falou. -Tanto.

–Ama? -ela negou com a cabeça. -E eu acredito no papai Noel.

–Desculpa pelo amor de Deus, me perdoa. Eu não devia ter aceito dinheiro nenhum, eu sou um idiota. Mas eu te amo, e nós estávamos tão felizes, eu não podia estragar isso.

–Você já estragou. -Karina gritou chorando. -Uma felicidade baseada em uma mentira. Eu confiei em você, Pedro. -ela levou as mãos ao rosto, e em seguida puxou o próprio cabelo. -Meu Deus, eu dormi com você.

Karina falou tudo aquilo com a expressão de quem acabou de saber que a casa pegou fogo, e no incêndio se perdeu alguém importante. Ela de fato estava perdendo.

–Não fala assim, K. -Pedro disse chorando, ao ver como a garota se expressou sobre o que eles viveram.

–Como você quer que eu fale? -Karina limpou mais uma vez as lágrimas e se encaminhou para porta, diante do silêncio de Pedro. Mas ele reagiu no último instante, a segurando pelo braço.

–Karina espera. Eu estava desesperado.

–E se mancomunou com a minha irmã pra ferrar com a minha vida. -as lágrimas haviam cessado, mas o olhar magoado de Karina era pior do que elas. -Você sabia, vocês dois sabiam, o quanto eu sofri pelo Duca. Vocês não pensaram nisso?

–Eu estava pensando com a minha ambição, pensando no meu sonho.

Karina não se conteve, com a mão livre socou o rosto do garoto, que a soltou e colocou as mãos no local acertado. Ela nunca havia acertado ele com aquela raiva, e se assustou ao ver o filete de sangue na boca do garoto.

–Desculpa, eu não queria... -ela falou por impulso.

–Tudo bem, eu mereci.

Karina rapidamente virou-se pra porta novamente.

–Karina, e nós?

–Acabou, Pedro. -ela deu as costas para ele, mas antes de sair deu uma última olhada. -Não deveria nem ter começado.