Lucrecia estava bebendo seu chá da tarde quando sua filha Lúcia irrompe no salão dizendo:
— Mãe, precisa vir comigo ao pátio. Chegou um soldado muito ferido dizendo ter sido mandado por meu pai. Ele está sujo com cortes nos braços e sua camisa está suja de sangue, acho que ele levou um tiro.
Terminadas as palavras de Lúcia as duas seguiram para o pátio com passos rápidos.
— Senhora, o pobre soldado está gravemente ferido. Chamamos um médico e ele já está a caminho. O rapaz estava delirando de febre e dizendo repetidas vezes “senhora Lucrecia, preciso lhe dá a carta!” E logo depois desmaiou.
Edmundo, um dos guardas da casa, informa à Lucrecia que olha o rapaz estendido no chão murmurando algo baixo demais para se escutar sem estar perto o suficiente. A blusa dele está encharcada de sangue e isso a perturba. Depois ela se volta para Edmundo e pergunta:
— Que carta?
— Essa
Edmundo pega um papel que estava na mão do soldado e entrega à Lucrecia. A mesma pega a carta e começa a lê-la. O guarda permanece ao lado do soldado e a filha de Lucrecia observa a mãe lendo a carta mantendo uma distância respeitosa.
— O que diz a carta?
Lúcia pergunta depois de sua mãe dobrar o papel e olhar para o rapaz séria. Ao invés de responder a filha, ela pergunta ao seu guarda se o mesmo leu o papel.
— Jamais faria isso, senhora
Edmundo responde de imediato. Após ouvir a resposta, Lucrecia se dirige de volta ao seu salão com Lúcia logo atrás dizendo: “Mãe, o que aconteceu?”
— Nada filha
Lucrecia responde nervosa. A filha a observa e antes de poder impedir sua mãe, o papel é jogado na lareira e queima instantaneamente.
— Mãe por que fez isso? O que está acontecendo aqui?
Lucrecia vira-se para sua filha e diz:
— Seu pai… Morreu
Elas ficam ali paradas e após um completo silêncio as duas se abraçam e choram. E enquanto sua filha soluça em seus braços, ela diz para si mesma: “foi por você filha. Ninguém tirará nada seu. Nem a posição de única filha do rei e nem a imagem do pai honrado que ele fingia ser.”
— Ele não resistiu
Edmundo chega ao salão enquanto Lúcia se afasta de sua mãe e vai até o pátio. A rainha sorri para Edmundo e diz:
— Você leu a carta e desde o primeiro minuto soube o que fazer. Meu fiel amor.