Adorável Tutor escrita por Lu Rosa


Capítulo 11
Dez




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Embora não tivesse consciência, Etienne estava caminhando para uma armadilha que poderia separá-lo de Samantha para sempre.

No carro, sob o olhar atento do motorista, Ethel até que tentava entabular uma conversa com Etienne, mas ele somente respondia com monossílabos.

Ao virar em uma esquina, Ethel deu um gritinho:

– Mas que miserável! Eu não acredito. Pode parar o carro um instante, Anthony?

O motorista olhou para Etienne e perguntou:

– Senhor?

– Pode parar, Anthony. O que houve, Ethel?

– Olhe lá. Aquele mentiroso. Disse que tinha um encontro de negócios e olhe lá.

Etienne olhou na direção que ele apontava e viu saindo do mesmo restaurante em que tinha estado com Samantha...

Samantha e van Keffler?

Ele continuou olhando, porém sem nada ver.

A moça estava de costas, mas não havia como não ser ela. Com o mesmo vestido verde água que o havia encantado, o mesmo longo cabelo negro parcialmente preso, o mesmo porte, a mesma altura, o mesmo andar...

– Engraçado, aquela parece ser a Srta. Whitmoore... – disse Ethel olhando de soslaio para Etienne, e exultando intimamente com a expressão raivosa de seu ex-amante.

– Vamos embora, Anthony. Não temos mais nada para ver aqui.

Anthony suspirou e deu a partida no carro.

Enquanto Etienne ia para casa pensando ter sofrido a maior das traições, Samantha se revirava na cama, sem saber o motivo de tanta angústia.

Finalmente cansada de tentar conciliar o sono, ela resolveu dar ir até a cozinha, preparar um chá.

Mas antes resolveu passar no quarto da sobrinha para ver se ela estava bem agasalhada.

Ao abrir a porta do quarto, ela pensou estar tendo uma alucinação.

Ela viu dois homens dentro do quarto. Um levava Isabella desacordada nos braços e o outro abria a janela para saírem.

– Parem, o que estão fazendo? – gritou correndo em direção aos dois.

Um deles passou a criança para o outro, mais forte e virou-se para enfrentá-la.

Samantha tentou usar um dos golpes aprendidos com Minoru, mas o bandido parecia antecipar cada golpe que ela dava.

Ela não viu um terceiro bandido que chegava por trás com um vaso de porcelana.

Logo depois, ela mergulhou na escuridão.

Samantha tinha consciência das vozes ao seu redor, mas não encontrava forças para falar ou abrir os olhos. Parecia que sua cabeça pesava uma tonelada.

– Ela não acorda! O que faremos?

– Tudo o que eu podia fazer já foi feito, Sra. White. Temos que aguardar ela recuperar a consciência.

– Mas doutor, ela já esta assim há dois dias. E se ela não acordar?

– Pancadas na cabeça geralmente são imprevisíveis. Somente posso fazer uma avaliação melhor quando a srta. Samantha acordar. Mas... Sr. Clobber não seria melhor avisar a policia?

– Não. É melhor deixar ela acordar e recuperar a consciência. Ela tem horror a escândalos e se souberem que a futura noiva de Sir Etienne Archibald foi atacada por ladrões, será um desastre.

O médico se levantou.

– Bem, caso ela acorde não hesitem em me chamar.

– É claro, Dr. Holmes. Avisaremos imediatamente.

Todos saíram do quarto e apenas Minoru ficou velando sua pupila. Não se perdoava dela ter enfrentado tudo sozinha. Acusava-se de negligencia, mesmo sabendo que Samantha enfrentara tudo de livre vontade. Ela tentaria salvar a sobrinha sozinha, ele sabia.

De repente um gemido chamou-lhe a atenção.

– Ai...

– Samantha. Você acordou.

– O que aconteceu, Minoru? Por que minha cabeça dói tanto?

– Fique calma, Samantha. Deixe-me examina-la.

Ele levantou um pouco a cabeça dela e ela gemeu na mesma hora.

– Hum... Bom sinal.

– É bom sinal a minha cabeça doer, japonês? Se eu não tivesse tão dolorida você ia ver só.

– Humor intacto. Ótimo sinal. Olhe para o meu dedo.

Ele moveu o dedo de um lado para outro. Ela seguiu com os olhos e sem avisar ele levantou a outra mão para o rosto dela.

Ela aparou o golpe com perfeição.

– Reflexos normais. Você está ótima, Samantha. Fora a dor de cabeça.

– Você vai me dizer o que aconteceu, japonês. Ou eu vou ter que arrancar isso de você?

– Bem, as noticias não são boas. Você levou uma pancada na cabeça depois que surpreendeu três homens levando Isabella e ficou desacordada dois dias.

– E ela? Onde está minha sobrinha?

– Sinto muito, Samantha. Eles a levaram.

– Vocês chamaram a polícia?

– Não. Ficamos com medo da repercussão.

– Ótimo. Nós vamos resolver isso. Eu e você.

– Mas como Samantha? Não sabemos nem quem a pegou.

– Japonês, eu tenho um palpite... Mas antes de tudo, eu tenho que colocar Etienne a par. Você me leva até a casa dele?

– É claro, Samantha. Mas como você vai passar pelos três lá embaixo?

Ela terminou de se arrumar.

– Passando, Minoru. Venha.

Uma grande comoção tomou conta dos serviçais quando Samantha desceu as escadas em direção à porta.

– Não, senhorita. Não deve sair... – pediu a Sra. White às lagrimas.

– Não adianta. Eu vou encontrar minha sobrinha. Liguem para o Dr. Holmes se vocês quiserem. Mas eu não vou ficar aqui. – e saiu em direção ao automóvel.

Samantha tinha esperanças de que Etienne a ajudasse nas buscas, mas essa esperança logo se desfez quando ela entrou no escritório dele.

– Etienne, eu preciso que você me ajude...

Ele estava de constas para a porta, apoiado na lareira e não deu mostras de escutar o que ela havia falado.

Ela estranhou essa atitude e foi para perto dele:

– Etienne, o que houve, meu amor?

Ele se voltou para ela e seu rosto era uma máscara de fúria. Mas uma fúria gélida, arrogante.

– O que veio fazer aqui?

– Eu preciso de ajuda... Sabe, no sábado à noite eu...

– Eu sei o que você fez no sábado à noite. Não precisa mentir para mim, Samantha!

– Do que você está falando?

– Eu vi você e van Keffler saindo do mesmo restaurante em que nós fomos.

– Impossível!

– Achava que eu nunca ia descobrir sua traição? Por quanto tempo você ainda ia me enganar? Até o casamento?

– Etienne, eu nunca estive com van Keffler. Eu odeio esse homem.

– Ora, Samantha... Poupe-me de suas mentiras. Eu vi. O mesmo vestido, o mesmo cabelo, o mesmo andar... Ninguém me contou. Eu vi!

– Você viu o que quis ver, Etienne Archibald. Se não acredita em mim, sem nem me dar chance de defesa, é porque você não me merece.

– Então você admite que esteja com ele...

– Não ponha palavras na minha boca! Eu não estive com ele. Eu estive numa cama, desacordada por causa de.... Mas por que eu estou aqui me justificando. Você não quer acreditar em mim, então nada que eu dizer vai adiantar. Adeus...

Ela saiu correndo da sala, sem se preocupar em fechar a porta. Ele podia ouvir seus passos no assoalho da sala e por um momento ele fez menção de ir atrás dela. Mas se controlou.

Mas se ele tinha tanta certeza de sua culpa, por que uma dor o incomodava no peito?

Samantha entrou no carro aos prantos e virando–se para Minoru, pediu:

– Vamos embora, Minoru. Não temos mais nada para fazer aqui. Vamos para casa.

O sábio japonês não disse nada. Apenas fitou sua pupila com olhos condoídos e ligou o carro.

Em casa, mais calma, Samantha ponderou.

– Eu e Etienne caímos em uma armadilha. Ele tem certeza que me viu naquele restaurante com aquele homem, Minoru. Eu não estava lá como você sabe. Ele mandou seus capangas aqui para raptar Isabella. Ele contava que eu estivesse no baile da embaixada.

– Eu não acho isso, Samantha.

– Por quê?

– Se Etienne tem certeza que viu você saindo do restaurante, van Keffler já tinha tudo armado. Ele sabia que você não iria ao baile por causa do luto. Então contratou uma atriz que se fez passar por você. Bastou ele colocar nela um vestido verde e uma peruca de cabelos negros. Pronto.

– Está bem. Então com Etienne eu não posso contar, e não posso ir a polícia. Seria um prato cheio para os jornais. Temos que ir até a fonte de nossos problemas.

– Mas como? Nem sabemos em que hotel ele está.

– Quem disse? – ela tirou um cartão de dentro da gaveta. – Aquele canalha me trouxe aquelas flores. Quando eu o mandei embora, ele deu as flores para o primeiro criado que ele viu. Como o coitado não recebeu nenhuma ordem em contrario colocou as flores em um vaso. O vaso estava nesta mesa. Pela lógica ele só poderia ter guardado o cartão nesta gaveta.

– Fabuloso, Samantha! Com esse cartão temos o endereço comercial dele aqui em Londres.

– E o endereço do hotel onde ele está hospedado. Vamos.

E os dois saíram em disparada pela noite londrina.

Etienne não conseguia se concentrar. Alguma coisa estava errada. No momento da raiva ele havia deixado passar alguns detalhes. Mas agora mais calmo, quanto mais ele pensava mais ele tinha a certeza de que Samantha era inocente. Mas ele a vira! Ele realmente a vira? O que ele viu foi uma mulher da mesma altura, cor dos cabelos, porte. Mas não o seu rosto. E se ele acometido pelo ciúme vira o que não queria ver? E se ele tivesse cometido um terrível engano e perdido sua amada para sempre.

Súbito, ele tomou uma decisão. Iria até ela e se acercaria dos fatos. Ouviria a versão dela da história.

Quando ele se preparava para sair, escutou um burburinho vindo da sala.

– Senhor, desculpe incomodar, mas estão ai três pessoas querendo lhe falar.

– Smith, agora eu não tenho tempo. Estou indo na mansão Benson.

– Mas estas pessoas são de lá, senhor. Dizem que são Clobber o mordomo e as senhoras White e Felton.

– Aconteceu algo, então. Mande-os entrar, homem. Rápido.

Os três entraram na sala e ele pode perceber o quanto eles estavam nervosos.

– Sr. Clobber, o que aconteceu.

– Uma desgraça, senhor. Lady Isabella foi raptada e a Srta. Samantha desapareceu!

– Como?! - ele respirou fundo para manter a calma – comecem pelo principio.

– No sábado à noite estávamos todos dormindo quando fomos acordados com um barulho de louças se quebrando. Corri para a cozinha, acompanhado de um criado mais jovem chamado James. Acendemos as luzes e nada. Estava tudo normal. Voltamos para a sala onde encontramos com as senhoras White e Felton. Nas salas, tudo estava no lugar. Foi quando vimos o Sr. Minoru descendo correndo as escadas e chamando por ajuda.

– Fomos para o andar superior e ao chegarmos ao quanto de Lady Isabella não acreditamos: a cama de lady Isabella revirada e vazia e a senhorita Samantha estendida no chão.

– Impossível! – Etienne andou pela saleta, perdendo ligeiramente a calma – Eu vi Samantha saindo acompanhada de um restaurante na City na mesma hora desses fatos.

A baixinha e calada Sra. Felton adiantou-se:

– Sir Etienne, com todo o respeito, o senhor acha que a senhorita Samantha iria se encontrar com outro homem depois de firmar compromisso com o senhor. Francamente, Sir.

Estavam todos de boca aberta. A Sra. Felton era tímida, quase não falava e se o fazia era com voz baixa e hesitante. Não forte e firme como naquele momento.

– A questão, Sir Etienne, é que quem levou nossa menina e onde a senhorita Samantha foi. Ela saiu dizendo que iria encontrar a sobrinha custasse o que custasse.

– Samantha estava muito ferida? - Etienne perguntou em voz baixa.

– Ela levou uma pancada na cabeça, senhor, com um vaso de porcelana. Ela ficou dois dias desacordada.

– E quando ela acordou, veio lhe pedir ajuda. - completou a Sra. Felton acusadoramente.

– E eu, tomado de ciúme só a acusei de algo que ela era inocente... – o jovem desabou na poltrona.

O compreensivo Sr. Clobber tocou no ombro dele:

– O senhor tem agora que encontrá-la. Depois reconquistá-la. Por que a senhorita Samantha é muito honesta e justa. Não vai lhe perdoar facilmente. Mas vai lhe perdoar.

– Está bem, - reagiu ele – eu... Vou dar alguns telefonemas e encontro com vocês na mansão, está bem?

– Sim, senhor. - responderam os três em uníssono.

Quando ele conseguiu ficar sozinho, procurou em sua agenda o telefone de um amigo que trabalhava como inspetor na Scotland Yard.

– Watson, sou eu Etienne. Você pode me receber em seu escritório? Agora? Ótimo. Estou indo para aí. Até logo.

– Smith, - chamou o mordomo – aconteceu alguns problemas na Mansão Benson e eu vou encontrar o Inspetor Watson para resolvê-los. Somente você sabe do que se trata. Não deixe os outros criados, principalmente os mais jovens saberem o que aconteceu. Não quero especulação da imprensa. Entendeu?

– Sim, senhor. Fique tranqüilo.

Ele se voltou para o empregado de tantos anos.

– Eu sempre fico, Smith.

O jovem saiu antes que o mordomo pudesse agradecer o elogio.


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