Apenas um sonho escrita por Secret


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

tirei a ideia da música: lost One no Goukoku.
espero que gostem!



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Olá, estou escrevendo isso para contar algo intrigante que aconteceu comigo. Não tenho ideia se realmente aconteceu ou foi apenas um sonho, mas acho que vale a pena escrever.


Primeiramente, meu nome é Yan, tenho 16 anos e não sou muito popular. Cabelos castanho, olhos escuros, um pouco alto, esguio, óculos de grau com armação negra. Um típico "nerd". Minhas notas são impecáveis e dizem que tenho um "futuro promissor".


Amigos? Já tive mais. Atualmente não mantenho contato com mais de um ou dois... digamos que sou reservado.


Meu melhor amigo se chama Lucas, nos conhecemos no jardim de infância mas seguimos caminhos opostos. Enquanto ele não leva nada à sério e é a personificação da bagunça, eu sou mais organizado e estudioso. Francamente não faço ideia de como ele ainda não repetiu de ano! Mesmo assim somos bons amigos.


Agora vamos ao que interessa. Como não sei direito o que aconteceu direi apenas os fatos: Era apenas um dia comum na minha vida. Comer, dormir,estudar, respirar... já comentei que minha vida é chata? Bem, continuando, eu tinha acabado de chegar da escola, minha mãe trabalha a tarde e meu pai não estava, então fiquei sozinho. Não que eu me importe.


Almocei, assisti um pouco de televisão e revisei o conteúdo para a prova. De repente me senti sonolento e decidi que merecia dormir um pouco antes de voltar aos estudos. Grande erro!


Acordei sentindo algo cutucando minha testa. Irritante! Acordei e vi uma garota tocando o indicador no meu rosto insistentemente:


—Já acordei, isso irrita!- eu ainda estava meio lerdo pelo sono, e não sou educado quando acordo.


—Finalmente, achei que tivesse morrido!- pelo visto, ela também não.


—Quem é você? E onde estamos?- Levantei e percebi que estávamos em uma sala completamente branca. Com certeza não era meu quarto! Assim que levantei minha cama simplesmente sumiu!


—Não importa, quem é você?- agora ela parece entediada.


—Yan Meirelles da Costa.- respondi automaticamente.


—Você é um nome? Chaaaatooooo!- e a falta de educação voltou!- Bem, YAN- ela fez questão de enfatizar meu nome- Já que você não me deu uma boa resposta, vou te explicar o que faremos aqui. Ouça bem, não gosto de repetir!


—Você não devia ser tão dura com ele, vai assustá-lo!- ouvi uma voz mais infantil e me surpreendi ao perceber que veio da mesma garota.


—Silêncio!- ela ditou e a outra voz se calou- Onde estávamos? Ah, sim! Apenas farei uma pergunta, se acertar eu vou embora e você volta à sua vida normal e patética.


Nesse ponto eu já acreditava que era tudo um sonho, uma garota bipolar me interrogando em um quarto branco... de qualquer forma estava preparado para qualquer questão, então por que não?


—Tudo bem, pode perguntar qualquer coisa. Mas antes posso saber seu nome?


—Não.- mal educada!- Agora vamos a questão, venha! Me acompanhe!- então ela correu para o centro do cômodo me puxando pela manga da camiseta.


Quando me aproximei reparei uma escultura enorme no centro. Como eu não tinha percebido?! Estranho...


A escultura era simples. Um coração enorme aparentemente liso, não sei dizer com exatidão pois estava coberto por uma grossa camada de tinta preta:


—A questão é esta: Quem pintou este coração de preto?- ela sorriu como se perguntasse algo completamente normal.


—Como eu vou saber? Só sei que não foi bem pintado.-comentei, talvez tenha sido grosseiro demais. Minha resposta fez o sorriso dela desaparecer, olhou-me entediada, como se eu tivesse errado a soma de 1+1:


—Tem razão, foi pintado por um idiota! E alguém terá que limpar essa bagunça, não acha?


—Qual o problema? A tinta ainda está fresca.- passei o dedo pelo coração para provar o que disse, mas assim que removi parte da tinta escorreu mais, tampando completamente a escultura de novo:


—Se fosse fácil assim eu já teria feito, gênio!- ironizou a garota, de repente meu dedo coberto de tinta começou a pesar. De que era feito aquilo? chumbo?- Não sei como o coração não quebrou ainda.- ela comentou ao perceber.


—Não seja tão má com ele! Faça outras perguntas para que ele entre no ritmo!- a voz infantil saiu da boca dela novamente.


—Já não pedi silêncio? Sabe que eu não tenho paciência com idiotas!- ela vociferou e olhou para mim:


—Desculpe por isso, tem gente que não sabe quando se calar.- é melhor nem tentar entender, é só um sonho mesmo.- Continuando, você consegue resolver esta equação?


De repente aparece um quadro com um problema matemático, a grande maioria das pessoas acharia impossível. Mas bastava interpretar o problema direito, pois o cálculo era simples:


—Pode me dar uma calculadora?


—Não, mas pode usar isso se quiser- ela me deu um ábaco, para os leigos: ábaco é a "primeira calculadora" do mundo. É formado por uma moldura de madeira, linha de arame na vertical com pequenas contas que são movidas para se fazer o cálculo. Sem problemas, usar aquilo é brincadeira de criança! Terminei o teste em alguns minutos (eu acho, não tinha como medir o tempo lá) e chamei-a:


—Terminei, era só isso?


—Ótimo, você é teoricamente inteligente.- ela não parecia impressionada.- Agora me responda quem pintou o coração de preto, sim?


—Achei que era apenas UM teste!- provavelmente levantei a voz, mas ela não pareceu se importar:


—E é apenas um, esta é a única pergunta. O resto é apenas para te ajudar a pensar.- ela cutucou minha testa de novo- Por sua cabeça para funcionar!


—Como eu posso saber?!- tenho certeza que gritei essa parte.


—Ainda não?- suspirou- Ok, vou tentar outra coisa. Já sabemos que você sabe resolver problemas matemáticos, o que aliás não serve para nada! Agora veremos se consegue fazer algo mais útil, um sorriso apareceu em seu rosto e aquilo não me agradou nem um pouco!


Ela fez um gesto estranho e apareceu um garotinho no canto da sala. Eu gostaria de descrever seus traços, mas a única coisa que me chamou atenção foi a forca ao redor de seu pescoço e a cadeira na qual ele se encontrava de pé:


—Consegue tirar o laço do pescoço dessa criança?- ela perguntou como se a vida de uma pessoa não estivesse em risco! Francamente, eu não sabia o que fazer. Estava completamente paralisado e tenho certeza que meus olhos estavam arregalados. O que eu faço?


—É melhor se apressar.- ela comentou e estalou os dedos, o garoto deu um passo a frente e caiu para a morte certa, eu fechei os olhos esperando o som da queda e o sangue.


—Paaaaaaaaaaraaaaa.- a voz infantil gritou e tudo desapareceu.-Você não deveria tratar convidados assim.- disse a voz em tom de repreensão.-Desculpe, onde estávamos?- disse sorrindo.


Reparei melhor na pessoa à minha frente. Era a mesma garota, mas não parecia. O olhar duro e desinteressado foi substituído por um doce e atento, a boca não tinha uma expressão impassível, e sim um sorriso divertido. Essa "nova" garota sentou-se no chão e gesticulou para que eu fizesse o mesmo:


—Agora é minha vez de te receber! Não está feliz? Eu estou! Bom, por onde começamos? que tal uma conversa? Eu adoro conversas! Você gosta de conversas?- eu quase não consegui acompanhar o ritmo dessa "conversa" unilateral.-Que tal começar...hum, isso não! Isso também não!- ela descartava mentalmente as possibilidades.-Quando esse amor começou?- percebi que ela estava quieta esperando minha resposta com um olhar atento:


—De que você está falando?- me perdi na conversa.


—Do seu amor. Não adianta negar! Está fraco e instável, mas dá para sentir! Agora responde, quando?- seus olhos brilharam esperando minha resposta.


—Não sei do que está falando. Podemos mudar de assunto?- esperava que ela voltasse ao "modo agressivo" e gritasse comigo ou matasse alguém, mas ao invés disso apenas sorriu.


—Claro! Você resolveu rápido aquele cálculo! Você é muito bom. Gosta de matemática? Gosta de todas as matérias? Seus professores são engraçados?- resolvo responder antes de me perder de novo.


—Eu gosto de matemática e ciências, acho que a que eu menos gosto é linguagens e nunca reparei bem nos professores.


—Você acha? Não tem certeza? Não gosta de linguagens? Eu gosto de linguagens! Por que não gosta de linguagens?- fui bombardeado por perguntas. Realmente não acompanho essa garota, mas pelo menos ela não ameaça matar uma criança por eu não saber uma resposta estúpida.


—Acho perda de tempo. Linguagem é muito subjetivo e cheio de regrinhas. No fim nenhuma resposta está certa!


—Linguagens são legais! Talvez seu professor seja chato! Vamos treinar! É isso! Garanto que sou uma professora muito divertida!- ela estalou os dedos e balançou os braços freneticamente. De repente apareceu um quadro de giz, praticamente flutuando, e ela usava uma roupa de professora antiquada. Óculos redondos de armação e um vestido cinza grande demais para ela, o que a fazia tropeçar. Seria engraçado se não fosse o sonho mais bizarro da minha vida!


—Muito bem, leia estas palavras em voz alta!- o que é isso? Eu voltei para o jardim de infância?


—Isso é ridículo!- bati minha mão em minha testa, como se acorda de um sonho?


—Não é não, agora leia!- a "professora" fez birra. Eu suspirei.


—Tudo bem: Gato, pato, rato, lagarto, mato, mata, lata, pata, paca, empaca, insípido.- Conclui o exercício ridículo.-Espera. Qual o sentido disso? Insípido não rima com nenhuma outra!


—Nunca disse que era aula de poesia!- ela mostrou a língua.-Você é bom em ler! Agora vamos algo um pouco mais complicado, ok? Não se preocupe, com certeza você vai conseguir! Você é muuuuuito inteligente!- ela abriu os braços enquanto falava.-Tudo o que precisa fazer é ler esta criança!- Assim que disse isso o quadro transformou-se numa tela e a imagem de um garotinho escrevendo em uma folha de papel apareceu. Acho que minha expressão estava confusa, pois ela explicou:


—Só tem que dizer no que ele está pensando!- ela fala como se fosse simples.


Observei o garoto na tela. Ele parecia familiar, mas de onde eu o conhecia? E como eu poderia saber o que ele estava pensando? Poderia ser qualquer coisa, de um foguete com marcianos a um simples sorvete! Essa tarefa era impossível!


Senti algo cutucando minha testa, quando olhei era ela com um sorriso divertido pressionando o indicador em meu rosto:


—Vamos lá, você sabe!- ela continuou me cutucando, isso era muito irritante. Pelo menos descobri que tem algo em comum entre ela e...bem: ela! De repente ela parou e fez uma careta, como se algo a incomodasse. Entregou-me um envelope azul enfeitado com estrelas coloridas antes de fechar seus olhos, sua expressão endureceu.


—Eu sabia que você não conseguiria resultado algum.- disse uma voz ao mesmo tempo entediada e agressiva. Ela voltou!.- Ser boazinha não é a melhor forma.- completou, e eu finalmente reparei que não era comigo que estava falando.


—Espero que tenha gostado de sua conversa com ela. Porque ela não assumirá o controle por tanto tempo novamente!- ela me observou, olhos frios, boca inexpressiva, aparência entediada. Nem parecia a criança de segundos atrás, e realmente não era!


—Não acredito que ela colocou esta roupa ridícula!- exclamou estalando os dedos, o vestido antiquado foi substituído por um jeans preto e blusa roxa.-Bem melhor! Não, acha? Fiquei em silêncio. Admito que ela me dava medo.


—É educado responder os outros.- comentou casualmente. Abri a boca para falar algo mas ela me cortou.-Quieto! Agora quero que diga a fórmula da razão da área de um círculo!- ordenou.


—Área = r² = π¼ πD²- disse automaticamente.


—Ótimo.- disse com uma pitada de ironia.- Agora me diga seu sonho de infância.- ela então se calou.


Abri a boca para responder, mas nada saia. Qual era meu sonho de infância? Como eu posso não lembrar disso? Era algo relacionado à bombeiros...Não! Astronautas! Ou era astro de rock? Eu tinha que lembrar! Não sei porque, mas de repente a única certeza que eu tinha era que precisava desta resposta!


Fiquei o que acho ser um longo tempo em silêncio. A garota não fez nenhum comentário irônico ou xingamento, o que deixou o clima mais pesado e insuportável. Ela parecia apenas esperar pacientemente minha resposta:


—Eu não sei!- foi a primeira vez que admiti isso em voz alta! Ela sorriu, como se fosse exatamente a resposta que esperava.


—Quem foi que deixou até este sonho ir embora?- então minha ficha caiu!


—Fui eu.- sussurrei, com certeza abalado.


—E quem pintou este coração de preto?- sorriu, como se finalmente eu tivesse dito algo que valia a pena. Ou como se o trabalho dela tivesse simplesmente acabado.


—Fui eu!- repeti mais alto desta vez. Ela parecia satisfeita.


—Muito bem. Finalmente entendeu.- ela deu as costas e fez menção de sair, mas eu a parei segurando-a pelos braços.


—O que eu faço?- tenho certeza de que parecia desesperado. Sua expressão virou algo entre divertimento e tédio.


—Isso não importa.- disse simplesmente e tocou novamente minha testa, eu desmaiei.


Acordei em minha cama. "Foi apenas um sonho" repeti mentalmente. De acordo com o relógio eu dormi por 15 minutos! Bom, hora de voltar aos estudos! Pensei, afinal, precisava me distrair!


Quando fui pegar meu livro de ciências reparei em um antigo álbum escondido entre meus livros. Que estranho! Nunca tinha visto ele! Mas como queria me distrair resolvi folheá-lo.


Não vi nada demais. Fotos de casamento, aniversários antigos...Até que cheguei em uma parte interessante. Um envelope! Azul com estrelas desenhadas, exatamente como o que ela me deu. Estava envelhecido pelo tempo, mas mesmo assim resolvi abri-lo. Dentro encontrei uma foto de um garoto, o mesmo garoto que em meu sonho quase foi enforcado! O mesmo garoto que me pediram para ler a mente! Era eu!


Atrás da foto havia uma mensagem escrita com letra infantil: "☺ Meu maior sonho é me amar para toooodo o sempre! Mesmo quando eu crescer! Não quero esquecer de mim! Ass: Yan. ☻"


Você já deve imaginar que eu quase surtei ao ver isso. Repeti para mim mesmo que era apenas uma estranha coincidência. Afinal, aquilo foi apenas um sonho!


....eu espero....


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Notas finais do capítulo

espero que tenha gostado. Até o próximo!



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