A Questão de Delfos escrita por Emily di Angelo


Capítulo 6
Capítulo 5 - Um Desvio Não Planejado


Notas iniciais do capítulo

Oi! Desculpa, mas não postei o capítulo de sábado passado como havia prometido a vocês.
Espero que gostem desse capítulo, ele está um pouco menos que os outros.



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7 de Agosto – 6 dias até as Idas de Agosto.

Sentada em um banco, analisando atentamente um mapa enquanto bebia uma garrafa de água bem gelada estava o reforço que as Parcas tinham previsto para a missão.

–Reyna. – falou Nico. Will pensou que talvez o filho de Hades tivesse começado a ter alucinações, mas quando olhou na mesma direção viu a Pretora romana.

Eles se aproximaram cautelosos. Porém os anos de treinamento alertaram Reyna, ela ergueu o olhar, já levando a mão para sua adaga de Ouro Imperial.

–Então são vocês... – disse ela ligando os pontos – Imaginava que fossem semideuses de Long Island, mas pens...

–Esperava pelo Percy ou pelo Jason não é? – completou Nico.

–Fico feliz que seja você meu amigo. – Reyna abriu um sorriso e levantou do banco. Sabendo do desconforto de Nico com abraços, apenas deu tapinhas amistosos no ombro do garoto. – E você é? – perguntou se dirigindo a Will.

–Will Solace, filho de Apolo. – falou o semideus se apresentando.

–Eu vi você no Acampamento Meio-Sangue, estava na enfermaria não é?

–Sim, eu mesmo.

–Meus homens disseram que nunca foram tão bem tratados depois de uma batalha. Você me causou problemas Solace, os legionários estão cobrando do Senado mais investimentos na enfermaria do Acampamento Júpiter.

–Desculpe não era minha intenção. – disse Will, esfregando o pescoço.

–Não se preocupe com isso. Estou apoiando os legionários, o Senado que se vire para achar verba. – falou com um sorriso.

–E então, como você veio parar aqui? – perguntou Nico.

–Depois do sequestro de Rachel, Ella, a Harpia, começou a gritar desesperada. “Vá para onde a água do mar brota humilhada em cima da montanha. Ajude nossos amigos. A queda do Sol. O último verso.”. E ficava repetindo isso sem parar. Mandamos uma mensagem para Quíron, para avisar do rapto de Rachel e Ella continuava gritando isso atrás de mim. Ele escutou e falou para eu ir para Atenas, pois era lá que tinha a tal da fonte de água humilhada brotava em cima de uma montanha. Eu estava tentando descobrir o caminho mais curto para o Erecteion.

–Acabamos de descer de lá. Definitivamente você é o nosso reforço.

–Que reforço?

Nico contou toda a história para Reyna, com Will completando suas frases a todo o momento.

–Delfos? Fica a três horas de carro daqui. – disse a semideusa.

–Sério? Annabeth disse que ficava longe. – falou o filho de Apolo.

–Acho que ela raciocinou que nós estaríamos a pé. – concluiu Nico – Ela não sabe da existência de Jules-Albert.

–Está fácil demais. – sussurrou Reyna preocupada – Fácil demais.

Um ronco partiu da barriga da Pretora.

–Estou com um pouco de fome, vim direto do Aeroporto para cá.

–Você veio de avião?

–Sim, saí no primeiro voo para Atenas, ontem à tarde. O Senado aprovou minha ida pras Terras Antigas em sessão extraordinária de emergência, mesmo sendo contras as regras. Estávamos com a tutela da Oráculo de vocês, era nossa obrigação mantê-la em segurança.

Will olhava preocupado para o céu, como se o sol fosse cair a qualquer momento.

–E a profecia da Ella, o que você acha que significa? – perguntou.

–Eu já tinha ouvido ela antes. Em um sonho meu. – lembrou Nico. – Mas vamos comer alguma coisa. Eu e Will acabamos de tomar café da manhã no Acampamento, mas podemos te acompanhar.

Os três semideuses entraram em um café perto da praça onde estavam. Reyna pediu uma salada e os dois garotos suco.

–O que vocês descobriram até agora? – perguntou ela.

–Que essa cidade deveria se chamar Poseidópolis. – respondeu Will.

–Poseidolândia. – corrigiu Nico. Reyna olhou sem entender nada. Os dois então explicaram a ela como chegaram até Atenas.

–Minerva... desculpe, Atena deveria ter perdido a disputa pela posse da cidade? Pelos deuses. Imagino como deve ter sido a reação dela.

–Tirando isso, não descobrimos nada. – Nico abaixou os ombros. – E não temos a mínima ideia do que fazer quando chegar a Delfos.

–Encontrar e matar uma cobra. – disse Will. – Meu pai matou Píton com três flechadas: uma no olho, uma na boca e outra no ventre.

–Vocês não percebem que isso está simples demais? – Reyna falou – Nunca é tão fácil assim.

Nico refletiu sobre o que a romana falou. Era verdade o que ela afirmava, nunca os deuses tinham sido tão diretos na tarefa. Mas por outro lado, era a primeira vez que uma missão não tinha sido estabelecida por um oráculo e nem tinha uma profecia para guiar os passos dos semideuses.

Os três saíram do restaurante, o sol já tinha baixado um pouco, mas o calor ainda estava muito forte. Logo em frente, na mesma fonte onde haviam encontrado Reyna, uma garota usando um vestido em estilo antigo andava de um lado para o outro, nervosa. Ela esticava o pescoço e olhava para longe, depois balançava a cabeça negativamente e caminhava para o outro lado, repetindo o processo novamente. Parecia perdida, mas o que chamou a atenção dos semideuses foi um brilho fraco e azul que contornava a forma da garota.

Os semideuses se entreolharam. Nunca conseguiam interagir com algum ser do mundo deles sem atrair confusão. Will deixou uma flecha preparada no arco, Reyna já com a adaga na mão. Nico, porém, não pegou em armas. Aquela garota já tinha morrido antes, ele podia sentir.

–Acho que ela é uma amiga. – comentou com os outros semideuses.

–Lorde Poseidon só falou em um aliado, Sunshine. – respondeu Will, recebendo um olhar mortal de Nico. Reyna estreitou os olhos em direção aos dois, mas logo teve que olhar para a garota, que corria na direção deles desesperada, gritando em plenos pulmões:

–Graças aos Deuses! Encontrei-os senhor Apolo, obrigada por iluminar meu caminho com sua luz solar. – ela se aproximou e falou:

–Por favor, não me machuquem, sou serva de seu pai. Sou Herófila.

–Herófila? – Will falou baixinho, o nome não era estranho para o filho de Apolo, ele já tinha ouvido em algum lugar. Talvez em alguma aula sobre histórias da Grécia, onde Annabeth ensinava aos campistas sobre todos os heróis, monstros e personagens importantes da Grécia Antiga. Se ela estivesse lá certamente conseguiria dizer quem era Herófila.

–Eu sei quem você é... – disse Nico – Eu vi você nos Elíseos quando fui visitar Bianca... Como?

–Eu também não sei. – Herófila estava bastante nervosa – Eu acordei há alguns dias na cidade onde servi ao senhor Apolo.

–Delfos? – perguntou Reyna.

–Não. Não chego nem aos pés da Grande Pythia, a Oráculo de Delfos. Servi em Samos, porém nasci em Marpesso, perto de Troia.

–Agora me lembrei! – falou Will – Você é uma Sibila. Foi você quem predisse a Guerra de Troia.

–Fui eu mesma. – falou toda orgulhosa.

A Sibila então observou Reyna atentamente.

–Você... Você não é grega.

–Não. Sou romana...

–Pelos deuses! Vocês três não deviam estar se matando? As notícias que chegaram nos séculos seguintes a minha morte foram de guerras horrendas entre Gregos e Romanos...

–Fizemos um excelente acordo de paz há alguns dias atrás. – Nico disse.

–Somos amigos. – reiterou Reyna.

–O senhor Apolo deve ter seus motivos para mandar um filho junto com dois aliados tão... – ela analisou Nico, de cima a baixo, deixando o garoto constrangido – Tão peculiares.

Will olhou irritado para Herófila. Quem era ela para chamar seus amigos daquela forma? A Sibila havia chamado eles de peculiares, mas de um modo muito grosseiro, como se não fossem bons o suficientes para acompanhar um filho de Apolo.

–Como podemos te ajudar? – perguntou Reyna, percebendo a tensão crescente e tentando apaziguar a situação. Ela não tinha se importado de ter sido chamada de “peculiar” pela Sibila, já tinha sido chamada de coisa muito pior.

–Como falei, acordei há alguns dias perto de Samos, eu demorei a perceber que estava no mundo dos vivos, pois despertei em uma clareira, em uma mata perto de um riacho. Segui o riacho até chegar a um rio, onde um pescador e sua família me receberam em seu barco, seguimos o rio até o mar e de lá até Samos. Entrei em choque ao ver como a cidade havia crescido e se modificado, as construções eram altas e com inúmeras janelas, de diferentes cores, não só do plácido e puro branco do mármore. Só reconheci que era minha cidade quando encontrei o templo de seu pai, mesmo que estivesse em ruínas. – falou, se dirigindo a Will, e não a Reyna que tinha feito a pergunta.

–Lá eu percebi que estava no mundo dos vivos. – continuou – Também recebi uma mensagem de seu pai. O senhor Apolo surgiu em todo o seu esplendor e me alertou para o perigo em Delfos. Me orientou a seguir para a antiga Atenas, onde perto da base da Acrópole encontraria ajuda. Seu pai me ordenou que eu mostrasse o caminho da serpente e ensinasse o segredo para matá-la.

–Como assim? – perguntou Will – Eu irei matar Píton da mesma forma que meu pai. Três flechas: olho, boca e ventre.

–Quem dera fosse assim tão fácil. – falou Herófila. – A Grande Serpente só pode ser morta pelas flechas sagradas de Apolo. São as três flechas que foram usadas para matar a cobra pela primeira vez. Elas foram espalhadas nos três principais templos em louvor ao seu pai, porém ele me avisou que uma foi movida e é a primeira que vocês devem encontrar.

–Aonde ela está?

–Na cidade do Amor, na única cidade grega que teve como patrona a deusa Afrodite. Vocês devem encontrar a primeira flecha lá, em Corinto.

–E as outras? – questionou Nico.

–Em Corinto encontrarão informações sobre a segunda. – falou a Sibila. – A última está na própria Delfos, guardada sob o olhar atento da terrível Píton.

Will sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele nunca tinha imaginado que teria que usar flechas específicas para matar a cobra, isso não estava nos planos para a missão, principalmente porque teriam que se desviar do caminho para Delfos. Enquanto a cidade sagrada de Apolo ficava na parte Norte do país, Corinto ficava ao Leste de Atenas. Teriam que fazer um desvio grande e tinham poucos dias para matar a cobra E resgatar Rachel Elisabeth Dare, ainda bem que poderiam contar com o “chofer-zumbi” de Nico, senão nunca conseguiriam cumprir a missão no prazo estabelecido por Poseidon, as Idas de Agosto.

–E você? – perguntou Will – Vai ficar viva de novo?

–Não. Senhor Apolo disse que vocês me ajudariam a retornar para os Elíseos.

Nico soube exatamente o que a Herófila sugeria. Ele teria que levá-la de volta aos Elíseos e só tinha uma forma de fazer isso. Will não iria gostar nada.

–Eu posso te ajudar. Bom retorno ao submundo. – disse o filho de Hades. Ele apontou a mão para a Sibila, uma sombra cresceu do chão e engoliu Herófila. A visão dele ficou escura e ele se desequilibrou. Will foi segurá-lo, mas Reyna chegou primeiro.

–Você está bem? – Reyna segurava o filho de Hades preocupada enquanto olhava para o local onde a Sibila havia sido engolida pelas sombras.

–Um pouco, foi só...

–Não vem com essa de foi só uma tontura, Di Angelo! – falou Will um pouco irritado. Ele colocou a mochila no chão e abriu uma caixa com diversos vidrinhos. A maioria era Néctar, mas haviam alguns outros preparos. Ele pegou um com uma substância verde, que lembrava o fogo grego. – Eu falei para você não usar seus poderes durante um mês. Beba isso, é um pouco amargo, mas é potente.

Nico olhou para o frasco. Parecia muito com fogo grego, porém quando ele pegou para beber, o recipiente estava gelado. Um gosto amargo percorreu a garganta de Nico e ele sentiu vontade de vomitar, mas logo passou e ele se sentiu melhor.

–Eu tinha que enviá-la de volta para o submundo Solace. Meu pai e Tânatos levaram semanas, desde que as portas da morte foram fechadas, para conseguir colocar o Mundo Inferior em ordem. Qualquer espírito fora do lugar, como essa Herófila, é uma ameaça ao equilíbrio do nosso mundo, que já está bastante bagunçado.

–Não precisa explicar. – falou Will, entendendo a situação. – Eu só estou preocupado com voc... com a missão. – gaguejou, olhando para Reyna – Se você utilizar os seus poderes em excesso poderá ficar fraco e, pelo que Herófila falou, não é simplesmente chegar em Delfos e matar a cobra. Precisamos encontrar as flechas de meu pai ainda. E para isso você precisa estar forte Nico, preciso de você forte nessa missão.

A Pretora observava curiosa a cena, mas logo sentou em um banco próximo e reabriu o seu mapa.

–Corinto também é perto daqui. Uma hora de carro. Você consegue chamar Jules-Albert, ou precisa descansar antes? – perguntou Reyna.

–Posso chamar ele. Eu não preciso usar meus poderes. – respondeu, se recuperando daquela sensação esquisita que acontecia sempre que Will mostrava que se importava com Nico. – Mas ele precisa de um carro antes... Onde nós podemos encontrar um?

Reyna dobrou o mapa e começou a pensar, Will sentou ao lado dela, brincando com uma flecha nos dedos. Ele não estava pensando na missão e sim em Nico. Alguma coisa naquele garoto mexia com Will. Durante os três dias que Nico passou na enfermaria, Will contava os minutos para chegar a vez de cuidar do filho de Hades.

Ele olhou para Nico, Solace sabia que ele tinha passado por muita coisa pesada nos últimos tempos e ainda assim conseguia continuar ali de pé. O filho de Hades ajeitou os cabelos longos, que estavam sempre bagunçados, a pele pálida estava um pouco vermelha por causa do implacável sol ateniense. Will se castigou mentalmente por ter se esquecido de trazer na mochila o protetor solar.

Will estava confuso, ele gostava bastante de Nico, gostava de um jeito que nunca tinha sentido antes por um garoto. Seu coração pulou algumas batidas, olhou novamente para o filho de Hades, que tinha levantado a base da camisa para secar o suor do rosto, ele ficou desconfortável ao perceber que Will olhava para ele. Seus pensamentos foram interrompidos por um grito, vindo do outro lado da praça.

–William! William querido... – uma mulher de meia-idade usando um vestido florido, óculos escuros enormes que tampavam metade da cara e um chapéu maior ainda, se aproximou do grupo de semideuses aos pulinhos.

Will ficou branco que nem cera e virou lentamente na direção da mulher. Ela o abraçou forte, beijou todo o rosto do garoto deixando ele encabulado.

–Para. Para mãe! – falou ele afastando a Sra. Solace.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?

bjs e até o próximo capítulo.



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