Eram quase nove da manhã quando meu sono foi interrompido pelo alarme do celular, mas diferente dos outros dias não desliguei o alarme ou voltei a dormir, levantei-me rapidamente, vesti-me e pensei: ‘’Hoje é o grande dia’’. Depois de dois longos anos de amizade com Ana (que era minha vizinha desde que éramos crianças), eu iria declarar meu amor por ela e meu desejo de tê-la como namorada, e por que não como futura esposa? Já não aguentava mais a angustia de vê-la todo dia e não poder beija-la, acaricia-la ou ter a oportunidade de fazê-la feliz. Mas a partir daquele dia tudo iria mudar.

Enquanto tomava o café da manhã, a campainha tocou, era Ana, eu a havia convidado para ir ao shopping fazer compras, o que não passava de uma armação para que eu pudesse declarar-me á ela. ‘’Eu sabia que você ainda não estava pronto Wanderson, seu irresponsável’’ Disse ela com um sorriso no rosto. Sorri, e ainda mastigando o último pedaço de pão que acabara de colocar na boca me dirigi em direção á porta puxando-a e disse ‘’ Deixe de ser chata e vamos logo’’. Enquanto caminhávamos, ela falava sobre todos os bons momentos em que passamos juntos e do quanto eu era importante, aquele parecia o momento ideal para uma declaração, mas eu havia preparado uma surpresa ainda maior para quando chegássemos ao Shopping. Quando ela terminou de falar, um silêncio agradável nos rodeava. Olhei-a fixamente e sorri.

–O que foi? Tem algo no meu rosto? Perguntou ela.

–Não, só estou admirando sua beleza, respondi ainda sorrindo.

–É, puxei a mamãe, só não pode se apaixonar.

–De novo? Falei quase sussurrando

–Como?

–Ah, nada, nada. Olha, chegamos. Respondi com a voz trêmula.

Enquanto entrávamos no shopping distanciei-me um pouco dela e liguei para meu amigo avisando-o que já havíamos chegado e que em alguns minutos a levaria até o local marcado para realizar a surpresa.

–Com quem você estava falando? Perguntou Ana.

–Ah, era com a minha mãe, perguntou se eu ia demorar muito. Vamos á lanchonete? Estou com muita fome.

–Nossa você acabou de tomar café, mas tudo bem, você come igual á um jumento. Respondeu ela.

Enquanto andava eu preparava-me para o que estava prestes a acontecer. O nervosismo tomou conta de mim. Enquanto nos aproximávamos da lanchonete Ana disse ‘’ Olha Wanderson, o Eduardo e seus amigos’’.

Quando chegamos, tudo estava preparado para a surpresa. Eduardo e alguns amigos nossos vestiam camisetas brancas e que tinham como estampa letras estampadas, e estavam organizados de maneira em que as letras formavam a frase ‘’ Quer namorar comigo?’’. Eles puseram-se de frente á Ana e antes que ela dissesse algo, ajoelhei-me e disse: ‘’Ana, durante todos esses anos em que somos amigos um sentimento a mais nasceu dentro de mim, sentimento esse que eu não pude evitar. Ver você todos os dias tornou-se algo essencial para minha vida, cada momento em que passei com você foi único, cada segundo ao seu lado tornava-se perfeito, mas cada segundo longe de você parece uma eternidade. Minha felicidade passou a depender da sua. Minha vida só tem sentido se você estiver nela e hoje eu tenho a certeza de que irei te amar por toda minha vida. Então Ana, eu pergunto: Você aceita namorar comigo?’’

Ela permaneceu em silêncio. As pessoas que estavam na lanchonete gritavam em coro ‘‘Aceita, aceita’’. Mas ela não respondeu. Então Ana, você aceita namorar comigo? Perguntei mais uma vez. -‘’Não’’, foi a única coisa que ela respondeu antes de sair correndo enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.

Naquele momento senti algo que nunca havia sentido, aquele ‘’não’’ pareceu uma lâmina afiada que partia meu coração em pedaços, meu mundo acabara de desmoronar, aquela simples palavra tirou toda a essência de minha vida.