Ruukasu entrou na grande limousine rosa enquanto observava a paisagem. Suspirou, preferindo não relembrar os acontecimentos da manhã daquele dia. Estavam com ele seu irmão, Herumuto, encostado no banco com uma expressão mista de melancolia e confusão, e a exorcista que conheceram na igreja, Niso. Ela falava com um homem esquisito no banco ao seu lado. Ruukasu quis perguntar muitas coisas, entre elas qual era o problema daquele excêntrico senhor de cartola, mas pensou que seria um esforço desnecessário. Sua linha de pensamento foi quebrada quando ouviu uma pergunta vinda do tal homem:

– Foi obra de um de meus irmãozinhos, não foi?

– Sim, Sr. Pheles - respondeu Niso. - Azazel, dessa vez.

– Entendo - respondeu o homem, com um risinho. - Quanto a vocês, fico feliz que tenham aceitado ingressar em minha Academia. Saibam que têm minha autorização oficial para estudar aqui. Sou Mephisto Pheles, um exorcista, e o diretor da sede japonesa da Academia Seijuuji. É um prazer.

Mephisto deu um forte aperto de mão nos dois irmãos.

– Agora tenho que ir - disse Mephisto. - Um cavaleiro honorário como eu é muito atarefado. Srta. Shisai, guie-os até a sala deles no ensino médio, e depois até a sala do curso. Boa sorte, meninos! Eins, Zwei, Drei!

E com um toque de seu guarda-chuva na cartola, o homem sumiu em uma nuvem de poeira.

Ruukasu voltou a observar a paisagem. Tinham acabado de passar por um túnel, e de repente um enorme número de casas que pareciam amontoar-se formando um castelo surgiu à distância.

– Sejam bem-vindos à Academia Seijuuji - disse Niso, com um sorriso.

***

Maruseru enrolava as ataduras em torno de suas mãos enquanto saía do carro de seu tio.

– Chegamos - disse Kyusei, empolgado. - Fico triste que você não tenha frequentado a escola, mas isso me poupou o trabalho de ter que te levar até o prédio principal para você conhecer as salas do ensino médio.

– Podemos ir logo? - perguntou Maruseru, impaciente.

– Está bem, está bem - disse o tio. - Fica logo atrás daquele galpão. Para entrar, você vai precisar de uma dessas.

Kyusei entregou ao sobrinho uma chave, que pegou-a de sua mão com força. Em seguida, Maruseru destrancou a porta e entrou, seguido pelo seu tio.

Do lado de dentro, era um corredor imenso e colorido, com inúmeras portas.

– A sua sala é a 1107 - disse Kyusei, guiando Maruseru até a porta da sala. - Bem, então é isso, nos vemos durante a minha aula.

O tio virou-se para trás, mas hesitou antes de distanciar-se do sobrinho. Em vez disso disse, em um tom melancólico:

– Prometa para mim que vai tentar fazer amigos. Sei que você passou por muita coisa, e as cicatrizes em seu corpo são uma prova viva disso, mas não é bom se fechar assim. Pelo menos tente, tudo bem?

O garoto preferiu não responder ao pedido do tio.

Quando entrou na sala, Maruseru podia ver que era enorme, com fileiras de cadeiras que tinham espaço para duas pessoas. A professora já estava lá dentro. Era uma mulher não muito mais velha que ele, com cabelos de cor caramelo e estatura baixa. Além dela, uma menina de cabelo roxo e três garotos já estavam lá. Dois deles estavam sentados juntos, no meio da sala, e tinham cabelo castanho; um, de cabelo longo e óculos, parecia estar ocupado em seus pensamentos, e o outro, de cabelo curto e magreza perceptível, parecia estar com sono. Um terceiro sentava na frente e tinha um cabelo preto e liso arrumado em um topete. Maruseru procurou sentar no fundo, distante daquelas pessoas. Não estava acostumado a ter contato com desconhecidos. Deixou sua mochila do lado da carteira e sentou.

***

Os irmãos Tenshi, Mourisu e Haro, acompanharam Mephisto Pheles até um carro apertado.

– Desculpem-me - disse Mephisto. - A limousine já estava em uso.

Os dois entraram no carro e se sentaram do lado de Mephisto, no banco de trás. Por um tempo, ninguém disse nada, e Mourisu começou a se irritar com isso, até que ele falou:
– Por que você nos chamou para essa sua Academia? O que nós temos de especial?

– O que vocês têm de especial? - perguntou Mephisto, ironicamente. - Nada mesmo, garoto, apenas pensei ter ouvido você dizer que queria derrotar Satã e quis dar uma ajuda.

– Sim, mas é muito estranho você distribuir bolsas para todos que querem derrotar Satã. Deve ter algum teste, ou estou enganado?
– Geralmente nós pedimos um teste, mas vocês... - respondeu Mephisto, pensando em como explicar. - Bem, na verdade é como você disse, vocês são especiais.

Haro, diferente de Mourisu, procurou não questionar, e permaneceu calada durante a viagem, lendo um livro sobre demônios e exorcistas. Em um certo momento, a garota fechou o livro e virou-se para Mourisu, notando a bainha enfiada na mochila do irmão.

– Você a trouxe? - perguntou Haro a ele, ignorando a presença de Mephisto. - Tem certeza?

Mourisu acenou com a cabeça, com uma expressão melancólica estampada no rosto.

Logo depois, o carro parou em frente ao prédio principal da Academia. Mephisto estalou os dedos e com um “Eins, Zwei, Drei!”, transformou-se em um cachorro. Mourisu estranhou aquilo, mas preferiu não questionar.

– Podemos ir agora. - disse Mephisto, notando a confusão no rosto do garoto. - Não quero que o Diretor seja visto vagando pela escola, por isso a mudança de forma.

Mephisto guiou-os pela escola, mostrando sua sala no ensino médio e o refeitório, ambos enormes. Depois, os levou até o prédio do curso para exorcistas e deu a eles a chave para abrir a porta do prédio. Em frente à porta, despediu-se deles e saiu andando, ainda em sua forma de cachorro.

Os irmãos sentaram-se no fundo da sala, esperarando pelo início da aula. Logo depois, uma garota com um longo cabelo azul entrou na sala e, em silêncio, sentou-se perto deles.