Os Quatro Cavaleiros escrita por Mr BS


Capítulo 2
A caçada




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Tinha sentindo um puxão forte na minha manga enquanto estava tentando descansar, quando olhei para o lado vi o rosto de Mikai me encarado

— Seja o que for não me inclua! — disse alto e bem claro para ele, certamente era problema.

— Mas Nae, por favor! Não podemos sair sem um ouvinte e você é o único disponível no momento.

—Tem quase cinquenta pessoas que podem sair aqui, por que não tenta arrumar outro, — ele ainda estava me encarando e isso me dava agonia. — Sabe que eu não vou sair sem a Lu, tente pegar um calouro.

— Pra uma caçada? Mesmo se conseguisse ainda ia necessitar de alguém com experiência. — Ele ainda me encarava com aqueles grandes olhos verdes — Se eu conseguir que a Luana acompanhe agente, você vai?

— Sim, e agente não existe mais, a nossa espécie já tá quase extinta não mate o português pelo mesmo. — A Lu só tinha treze anos era obvio que a líder do nosso clã não ia deixar ela sair, já estava tendo dificuldade para sair desde a última caverna.

— Volto logo! — Miki começou a andar em direção a outro canto da caverna enquanto isso voltei meu olhar para a turma de crianças no canto esquerdo da caverna, em principal minha irmãzinha.

Vivíamos num pequeno grupo de cerca de 50 adultos e 20 crianças, antigamente cada grupo assim simplesmente era chamado de refugiados mais os alados passaram a chama-nos de clãs. Prefiro chamar assim também, reflete melhor a relação de confiança em cada membro da comunidade, claro tirando eu.

As crianças até os quinze anos aprendiam o básico sobre um dos ofícios para a sobrevivência do grupo, desde os mais simples e que raramente saiam do esconderijo como educador ou vigia interno, os importantes cargos de membro do conselho, os perigosos como caçadores e guardas, até o mais incompreendido e essenciais como os “Ouvintes”.

Eu era um ouvinte, na realidade um dos poucos do clã e o que menos saia. A função do ouvinte é ouvir qualquer comunicação angélica e identificar possíveis ameaças para o grupo, usando um dos tradutores universais que os anjos usavam e conseguidos de alguns Naihir ou de uns raros alados mortos, também erámos responsáveis pela a comunicação entre grupo, caso haja contato com outro clã embora seja muito raro os casos.

Lu percebeu que eu a observava então deu um leve aceno com um sorriso enquanto as crianças ao lado desviavam o olhar. A maioria dos membros do clã tinham medo de mim, embora não me importasse, não gostava de falar mesmo sendo uma das minhas funções.

Não queria que as outras crianças começassem a se distanciar dela então, me virei e me caminhei para outro canto, grande parte da caverna era linear embora ainda existiam alguns caminhos extras, a entrada e as saídas para fuga rápida eram bloqueadas por pedras de forma para parecer um deslizamento natural.

Quando não estava andando ficava no meu canto perto da saída norte, era o local mais afasto do esconderijo, mas também o melhor lugar para ficar alerta, não conseguia ouvir direito o que acontecia lá dentro, mas em compensação tinha um ótimo ponto para ouvir o que acontecia do lado de fora.

Tinha tirado um dos meus raros cochilos quando a alguém encostou no meu ombro, despertei assustado que acabei caindo do canto onde estava. Uma mão me ajudou a levantar enquanto dizia com uma doce voz feminina.

— Desculpa, Nae é que raramente encontro você dormindo! — Era uma mulher de olhos castanho e cabelos pretos, Vitoria, vinte e seis anos na veia e era atual líder do clã embora você só um cargo dado para a pessoa responsável de manter a ordem naquele esconderijo e mudasse de pessoa toda vez que tínhamos de migrar.

— É que toda vez que eu começo a dormir alguém me acorda assim – olhei para ela, — imagino que você não venho me ver só por isso.

— Simpático como sempre. Foi autorizada sua saída com o grupo do Mikai amanhã, sua irmã vai com você como assistente de médico.

— Sei que Mikai conseguiria te convencer, mais como convenceu o conselho a me deixar sair?

— Você nem ouviu o motivo por que o Mi tá tão desesperado para sair, não e?

— Nunca me importei, toda vez que eu saio acontece algo ruim. Até aqueles velhos já perceberam isso.

— Não são todos velhos, — olhei para ela que recuou e disse num tom mais baixo — só noventa por cento, mas isso não vem ao caso — ela se aproximou de mim então apontou para meu headphone, — esse é o motivo de Mikai está tão desesperado para iniciar uma caçada e o conselho deixar você sair.

— Não pedir pra ele me ajudar.

— Quanto tempo de bateria ainda resta?

— Sem usar a sincronia, vai durar por volta de duas semanas.

— Certo mais como você sempre diz, há probabilidade de algo ruim acontecer quando você realmente não quer que aconteça é de exatamente 99,999999999%.

— Faltou um nove, mas está correta. — Tirei os fones do pescoço e olhei o medidor —Diria que no máximo duas horas.

O irônico do meu caso de ser um ouvinte, é que eu tinha um sério problema de audição, não chegava a surdez pois ouvia muito bem, o problema era que o meu alcance auditivo variava muito, algo próximo a surdez ou ouvir tudo perfeitamente bem num alcance de quase um quilômetro.

Coloquei-os de volta então disse desviando o olhar:

— Às vezes não queria que a minha mão tivesse arriscado a modificação genética.

Antes da queda, manipulação genética era algo que estava se tornando comum, com uma probabilidade de noventa e cinco por cento de sucesso, se modificava parte dos genes do feto para que ele nascesse com as características desejadas pelos pais, normalmente a cor dos olhos ou do cabelo.

Meus pais tentaram deixar fazer com que eu herdasse os olhos azuis de meu avô, porem eu fui um dos cinco, o que me resultou foi na minha audição variante e a síndrome de kurta, o que basicamente era a mudança da cor dos meus olhos para vermelho a cada acesso forte de emoções que eu tinha.

Vi notou o meu mal gosto pelos meus leves defeitos então disse tentando me animar:

— Não reclame, sua audição é bem útil quando se necessita, embora você seja dependente desses fones! — Ela deu um leve sorrisinho antes de disse com um tom levemente irônico. — Por que mesmo seus pais não fizeram uma cirurgia de reparação nos seus ouvidos?

— Eu era alérgico a cirurgia de correção! — Por causa disso meu pai criou mês fones, como biocientista ele criou algo que recebesse os sons e ajustasse o volume para não força meus ouvidos.

Meus headphones eram ligados a alguma coisa no meu ouvido que permitia identificare ajustar o volume dos sons a minha volta. Ele não usou como fonte de energia o que era comum na época, simplesmente criou uma bateria à base de extrato de plantas e usando um minério de fácil acesso e foi graças a isso que ele continuou funcionando depois do ataque dos alados.

Vitoria sorriu para mim então disse:

— Então não reclama, você sabe que Mikai vai insistir com isso até ter certeza que você vai ficar bem, chega até se irritante.

Eu ri desse comentário, diria que Mikai era meu irmão de sangue, já tínhamos salvado a vida um do outro muitas vezes, embora ele me salvou mais vezes, porem o motivo maior da graça era quer a Vi gostava dele, embora fosse teimosa demais para assumir. Então quando ela falava isso dava para sentir o ciúme dela.

— Já disse que você deveria se declarar para ele!

Ela corou com esse comentário tentando esconder o rosto discretamente.

— Você que entendeu errado Mikai é só um bom amigo, — ela olhou o para outro canto da caverna. — E além mais o que ele iria querer com uma rastreadora como eu.

Odiava ver ela assim, Vi para mim era como uma irmã, crescemos juntos deste antes da queda então conhecia ela muito bem, coloquei a mão no ombro dela e disse

— Ele seria um idiota se fizesse isso!

— Obrigada Nae.

— De nada, agora vá descansar, temos um longo dia amanhã.

— Então você vai?

— Se eu não for você e Mi vão acabar se matando ou me trazendo as plantas erradas.

Ela riu, sabia que não ia deixar a Lu sozinha lá fora mais não ia mostra esse meu lado protetor.

— Certo, Nae. — Ela se virou para o outro canto da caverna e começou a andar.

Por mais que Mikai tivesse conseguido a chance de sair sem ser numa fuga desesperada selva a dentro, porem eu estava com um mau pressentimento em relação a essa caçada e o pior de tudo era que a Lu estava inclusa nisso, mas já que estava feito tinha que tentar evitar que isso se tornasse realidade.

Nunca gostei de ficar aflito, acabava sempre me dando pesadelos e daquela vez não foi diferente, embora não diria que foi um pesadelo estava mais um sonho estranho e muito diferente dos que costumava ter:

Estava dentro de um lugar preenchido de uma nevoa muito densa enquanto uma voz feminina dizia meu nome, ia atrás do som tropeçando pelo caminho, até chegar num altar. No topo do altar tinham três pessoas, duas estavam deitadas e inconscientes enquanto uma estava encoberta por uma túnica negra, me aproximo então ouço

— Escolha aquilo que é mais importante para você — Pela voz parecia uma mulher, segurava uma foice na mão esquerda — Pois um sacrifício deve ser feito para o futuro.

Paro bem perto do altar então vezo, a esquerda estava minha irmã enquanto a direita se encontra uma mulher de cerca 30 anos, olhos num tom de violeta bem forte imóvel.Senti-me fortemente atraído por ela, era como se minha vida estivesse ligada a dela e visse versa.

Olhei novamente para a garota que falava então perguntei

— Qual o motivo disso?

Ela riu então desaparece dizendo

—Se você quiser dá esperança para sua espécie! Saiba logo a sua escolha quando nos encontramos novamente, pois quando chegar à hora alguém deve morrer, meu caro cavaleiro!

Ela desapareceu em pleno ar enquanto dava uma risada assustadora.

Levantei ofegante do meu canto, tão rápido que acabei acordando a Lu, que estava deitada enrolada numa coberta próxima de mim. Ela olhava para mim com uma cara de cansaço então disse ainda bocejando

— Que foi Nae?

Aquele sonho ainda estava na minha cabeça mais não ia preocupa-la

— Só um pesadelo, Lu. Só um pesadelo, — me sentei ao lado dela então fiz um cafuné — nada para se preocupar.

Ela me abraçou então disse pegando no sono

— Não se esqueça que eu estou aqui para te ajudar maninho.

Esbocei um sorriso com isso, era tranquilizador embora não quisesse envolve-la nesse assunto principalmente se aquele pesadelo fosse se tornar realidade. Dormi com a Luana abraça em mim, e só fui acordar com o cutucão que Mikai me deu logo cedo.Quase dei um soco nele embora soubesse que ele ia se defender antes de atingi-lo.

— Vamos acordar pequeno morcego, se nos atrasamos para sair só vamos conseguir novamente amanhã.

— Vai te catar Mi, você inventa essas loucuras e eu que tenho que pagar o pato!

— É o efeito colateral de ser meu melhor amigo

Olhei em volta então vi Vitoria e a Lu já de pé, me estiquei então levantei. Peguei minha última bateria para meus headphones, então olho para Mikai que sorri e diz

— Se tudo der certo, você vai ter mais dessas.

— É bom ter esperança Mikai, mas não podemos esquecer. — Dizia com uma você mais sombria, a verdade que ele não gostava de ser lembrado. — Lá fora o máximo de cuidado, se eu disser para você recuar, recue, não vou arriscar a vida da Lu só por causa de uma das suas loucuras.

Ele recuou um momento então disse mais serio:

— Certo — Ele olhou para Vi então voltou a palavra para mim sorridente, — O que pode acon...

Vi interrompe-o acertando um cascudo na cabeça dele, algo que eu já iria fazer.

— Toda vez que você disse isso, algo ruim aconteceu! Então não se atreva a terminar essa frase.

Ele sorriu para ela então pediu desculpa, olhei para a Lu então disse:

— Vamos fazer isso logo e sem arrumar nenhum problema. Por isso não se afaste Lu.

— Certo, Nae.

A entrada do esconderijo só era aberta duas vezes por dia quando um grupo saia para caçar, ao raiar do sol e outra durante o crepúsculo, uma vez lá fora só podia contar com ajuda do grupo e era isso que me preocupava toda vez, um ataque de um batalhão angélico e estávamos todo mortos, mas era melhor não pensar nisso para evitar que acontecesse.

Não sabia o que era mas tinha uma leve impressão que Mikai tinha terminado de dizer aquela frase mesmo que tivesse sido só em pensamento, quando nosso grupo passou da entrada da caverna, no momento em que a porta foi fechada de maneira que simulasse um deslizamento natural, algo no fundo do meu ser dizia que não ia ser uma caçada normal.


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Notas finais do capítulo

A síndrome de kurta é uma referencia a tribo kurta do manga/anime Hunter x Hunter



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