O céu está claro. Meus dedos estão entrelaçados aos de Percy. Seu aroma é como um campo de florais. Estar ali, com ele, realizando meu desejo, era como flutuar sobre o mar, — e nada melhor que um filho do deus do mar para isso — Aqueles olhos maduros e ao mesmo tempo, tão inocentes me fitavam de uma forma tão... imperial.

Me sinto feliz por fazer Percy feliz no meu último dia de vida. Ele está desconfiado, como sempre. Afinal, sempre percebe quando tem algo errado comigo.

— O que está havendo, criança? — ele sussurra em meu ouvido, de uma forma acolhedora.

— Só estou tentando guardar o máximo de informações sobre esse dia. Não quero que ele acabe. — disfarcei, corando.

Percy beijou meus dedos suavemente.

— Tudo vai se encaixar, mocinho.

Senti um choque prazeroso com o toque daqueles lábios. Mas havia algo em mim dizendo que aquele era o dia da minha partida. Não há como explicar isso a ele sem que me chame de insano ou coisa do tipo. Eu apenas sinto que minha hora chegou.

Deitamos sob uma pequena árvore do bosque. A sombra do carvalho tamborilava com o vento ameno, o ritmo fazia com que eu me acalmasse cada vez mais. Fechei os olhos e deitei no peito aconchegante daquele príncipe do mar. Senti seu coração bater rapidamente, — o que me deu uma pontada de inveja, pois logo, logo, o meu não estaria neste ritmo — suspirei e finalmente disse:

— Posso ouvir seu coração bater. — sussurrei, com a voz rouca. — Está... acelerado.

— Estar aqui faz com que eu perca a noção do tempo, sabia? — ele pergunta, mudando totalmente de assunto. — Sente-se. Preciso te fazer um pedido.

Ergui os ombros devagar, com os cotovelos doloridos por conta do tempo que fiquei admirando ele dormir durante a manhã. Fiquei aflito com a surpresa. Sinceramente, eu detesto surpresas. Nunca sei como agir num momento desses. Meus olhos continuam atentos a qualquer detalhe significativo.

— Sabe que eu me sinto desconfortável com surpresas...

— Não passa de um simples pedido. Não fique tão tenso. — disse ele, passando a mão pelos meus cabelos, que certamente já não estavam tão arrumados quanto deviam. — Quero saber se você se casaria comigo, aqui, agora...

— Você acha um pedido de casamento simples? — resmunguei, erguendo as sobrancelhas.

— Para mim, sim. — retrucou automaticamente, rindo espontaneamente. — Você ainda não respondeu minha pergunta. Quem está ficando tenso agora, sou eu.

Deixei um sorriso tímido transparecer para tentar disfarçar o pânico. Como vou aceitar um pedido de casamento sabendo que vou morrer em menos de vinte e quatro horas? Pensei, é loucura. Como Percy ficaria após a minha perda? Ainda torço para que essa seja apenas uma sensação idiota, de um garoto idiota, com pensamentos idiotas. Ele sorriu nervosamente me encarando, foi quando finalmente notei que ele esperava uma resposta.

— Acho que choquei você. Desculpe. — disse ele, triste.

— Não é isso, é que...

— Lembro de quando te vi pela primeira vez naquele parque. — ele me interrompeu — Parecia estar tão triste. Eu nunca fui de ajudar pessoas desconhecidas. Mas você atraiu algo em mim que talvez nunca ninguém poderia tocar. Meu coração. Senti a necessidade de te ajudar, mesmo que fosse brevemente. Sentia a necessidade daquilo. — ele esfregou os pulsos como se tivesse acabado de ser libertado de amarras apertadas. — Me aproximei rapidamente. Devo ter assustado você. Fiz muitas perguntas. Fui um pouco atencioso demais. Enfim, me apaixonei pelas suas palavras instantaneamente. Aqueles olhos tristes que choravam pela perda da irmã, hoje são radiantes. Consegui ajudar você a enxergar Bianca com alegria. Fazendo com que tenha somente boas lembranças. E principalmente, abandonando aquela personalidade fria de antes, Nico di Angelo. Agora posso finalmente dizer que você é o homem da minha vida.

Lágrimas brotaram nos cantos dos meus olhos. Me sinto completamente amarrado a essas lembranças. Percy mudou minha forma de enxergar as coisas. Sempre vou ser grato por isso. Agora, me sinto totalmente inútil partindo e deixando todo o esforço que ele fez por mim sem uma recompensa.
Enxuguei as lágrimas com as mangas da blusa rapidamente. O encarei com um sorriso forçado, afim de tentar descontrair o clima

— Noite passada você estava muito sorridente. Sabia que estava planejando algo. — ele riu comigo, ajudando a me recompor aos poucos. — Naquele dia, eu simplesmente achei que você fosse apenas mais um garoto que iria fingir que se importa só para receber algo em troca. Sei que não sou tão bonito a ponto de atrair vários garotos. Mas a maioria que conheci agiam dessa forma. — murmurei, revirando os olhos.

— Sabe que não é assim que penso sobre isso...

— Você já me fez chorar. Agora é a minha vez de falar. — disse, cruzando as pernas por cima do colo dele. Dessa forma, ficamos cara a cara. — Como estava dizendo, verdadeiramente pensei que você era só mais um interessado em algum traço meu. Mas com o passar dos dias, notei que estava realmente interessado em mim. Contei os detalhes sobre a morte de Bianca, que ainda era recente. Me abri de uma forma tão natural que, quando percebi, você já fazia parte da minha vida muito significativamente, Percy. Você reergueu minha barreira e a reforçou com todos os materiais possíveis. Além de me dar o amor que sentia falta todos os dias. Acordar olhando encarando este belo rosto fez eu me encorajar a continuar batalhando. — prossegui, deslizando os dedos em seu rosto enquanto ele sorria. — Tive a coragem de esperar pelo melhor dia da minha vida. Mesmo que fosse o último, até então... — Minha voz falhou. Eu não consegui prosseguir sem que as lágrimas dominassem meu rosto novamente. — Eu aceito me casar com você, Percy Jackson.

Percy sorriu de uma forma tão radiante que corei imediatamente. Tirando um pequeno embrulho do bolso.

— Abra. Resolvi quebrar as regras, o símbolo da nossa união não vão ser alianças. — murmurou, passando as mãos nos cabelos lisos e alinhados.
Abri a pequena caixinha e me deparei com um par de colares prateados. Os dois com desenhos idênticos. Uma caveira cercada com um lindo tridente. Nossas marcas estavam registradas ali, naquele momento. Senti todas as minhas emoções rodearem aquele presente.

— Acho que agora é a hora de colocarmos isso, não acha? — perguntou, sendo irônico.

Virei-me e abaixei gola da blusa para que Percy pudesse entrelaçar o colar ao meu pescoço. Pedi para que desse uma volta inteira nele. Deixando o pingente mais justo ao meu pescoço. Passei os dedos pela marca deixada ali. Meu corpo formigou em forma de alívio.

Levanto em um salto e dei a volta por trás de Percy, afim de também colocar o colar no pescoço dele. Prendi o pingente por baixo de sua blusa xadrez. Deixando apenas o símbolo à mostra. Deposito um beijo em seu pescoço quando finalmente terminei de ajeitar o colar.

— Amo você, Nico. — disse ele, me puxando pelo braço para um beijo.

— Amo você, Percy. — respondi, beijando seus lábios suavemente.

Deitei em seu peito enquanto ele admirava os carros que passavam pela estadual. Finalmente tomei coragem e disse:

— Percy, você pode... cantar um pouco para mim? — perguntei, corando.

— Feche os olhos, pequeno. Poderia passar o resto da noite aqui, com você. — respondeu, sorrindo calmamente e beijando minha testa.

Fechei meus olhos enquanto ouvia sua voz recitar minha música favorita, — que agora fazia todo sentido para mim — suspirei enquanto ele cantava.

— Sing me to sleep, sinng me to sleep... — começou, passando os dedos por debaixo da minha blusa. — I'm tired and I want to go to bed.

Coloquei o pingente na palma da mão e de alguma maneira, senti aquilo esquentar de uma forma aconchegante.

— Sing me to sleep, sing me to sleep...

A cada verso, meu coração desacelerava, meus sentidos não respondiam mais. Eu apenas gemia ao som da música, em total harmonia.

— And then leave me alone, don't try to wake me in the morning, because I will be gone. — Percy imitou os guturais da música perfeitamente, me fazendo chorar cada vez mais.

Ele me comprimiu contra seu peito numa tentativa de acabar com o meu pranto.

— Don't feel bad for me, I want you to know... Deep in the cell of my heart, I will feel so glad to go. — Ouço um choramingo, é aí que percebo que Percy notou a minha quase partida.

Não consigo abrir os olhos. Meus braços e pernas não respondem mais. É como se algo tivesse tomado conta do meu corpo. Sei que Bianca me espera do outro lado. E só naquele momento que me arrependo de não ter expressado tanto o meu amor por Percy Jackson. Adeus, meu amor.