Eu estava no nosso quarto, em Denali, quando aconteceu. Estava lendo, quando os flashes inundaram minha mente. Água. Um Precipício. Uma pessoa se atirando no precipício. Cabelos castanhos voando ao vento. De repente, o rosto da pessoa foi focado em minha visão. Bella.

Levantei-me com um salto, e fiquei meditando. Bella não se mataria. Mataria? E o pior é que eu havia avisado Edward. Mas não, ele foi completamente teimoso. Coloquei um casaco pesado, pois estava frio para os humanos lá fora, e vasculhei o quarto por uma bolsa. Achei uma na penteadeira, e joguei um monte de coisas dentro. Entre elas documentos, celular, dinheiro e passaporte. Desci as escadas correndo.

- Alice? – Jasper adentrava a sala. – Onde está indo com tanta pressa?

- Jasper, eu sei que você não deve gostar disso, mas... – Ele estava com um olhar confuso. – Eu tive uma visão. Bella. Ela vai se jogar de um precipício, Jazz! Eu tenho que impedi-la. Sabe o que Edward faria se Bella estivesse morta, não é?

Ele arregalou os olhos.

- Alice! Suas visões não têm data, nem hora marcada. Como vai saber se Bella já não se matou? E Edward nos pediu para não interferir, lembra-se?

- Mesmo assim eu não posso perder tempo, Jazz. Bella é minha amiga. Mesmo que... – Abaixei os olhos. - Ela tenha se matado, eu ajudarei Charlie no enterro. É o mínimo que eu posso fazer.

Caminhei até a porta, e Jasper segurou meu braço.

- Alice, meu amor, eu não aprovo o que está fazendo. E se Bella estiver bem? Sabe que Edward não gostaria nada do que vai fazer.

Toquei o rosto dele.

- Jazz, eu não posso deixar de ir. Não posso. Tenho que verificar se Bella está bem. Se não estiver, ajudarei com o que for preciso. Se quiser me acompanhar, tudo bem.

Ele negou com a cabeça.

- Não aprovo, Alice. Mas estarei esperando seu regresso. Prometa-me que voltará logo. Eu te amo, sabe disso.

Assenti, e beijei seu rosto.

- Eu também, sabe disso. – Sorri. - Avise à Carlisle quando ele e Esme retornarem, ok? Eu estou com o celular.

Depois disso saí disparada para o aeroporto. Estava vazio, poucas pessoas estavam viajando, devido ao tempo. Minha sorte era que eles não tinham cancelado os último vôos. Cheguei ao aeroporto, e comprei uma passagem para Seattle. Ainda bem que eu não necessitava embarcar em dois aviões.

Passei a viagem toda me concentrando em Bella. Mas não via nada além dela se jogando do precipício. E eu não conseguia mais vê-la depois disso. Oh, Bella. Isabella Swan. Ela acabou com a vida tão cedo. Meu coração – mesmo que estivesse morto à décadas – doía ao pensar que Bella havia morrido. Tão jovem, tão teimosa, diferente, desastrada... e minha amiga. Amiga de vampiros. Tão corajosa que ela era. Mesmo sabendo o que todos nós éramos, o que Edward era, ela se entregou à ele sem temer por sua vida. Bella era muito corajosa. Era uma em um milhão.

Depois de horas de espera, comissária de bordo informou que o avião já estava chegando ao seu destino.

Desci afobada do avião, desconfortável por estar usando a velocidade humana. Segui até o endereço do carro de Carlisle, que eu havia mandando entregarem aqui. Rapidamente encontrei-o, e dei a partida, sem me preocupar com quem me veria dirigindo tão rápido.

Logo cheguei à Forks. Continuava a mesma coisa. Fria, pacata e confortável. Forks sempre será Forks.

Virei a esquina cantando pneus. Desci do carro rapidamente, e parti para a casa de Bella. A porta estava trancada, mas localizei a chave rapidamente, embaixo do beiral.

A casa estava escura, e não havia ninguém. O cheiro de Bella ainda estava no ambiente, misturado com o de Charlie. Sentei-me no sofá, pensando no que fazer.

Mas havia algo estranho. Senti um cheiro forte vindo lá de fora. Era... Fedorento.

E estava misturado ao cheiro de Bella. Ela estava viva? Como assim?

De repente ouvi vozes baixas vindas de fora. Apurei os ouvidos.

Bella parecia estar discutindo com alguém, cuja voz eu não reconheci.

“Eu vou ter que contar para Sam imediatamente.” Uma voz masculina começou a gritar. “Isso muda as coisas. Nós não podemos ficar presos no nosso território.”

“Jake, isso não é uma guerra!” Bella protestou.

“Tchau, Bella. Eu realmente espero que você não morra.” A voz desconhecida sussurrou.

Logo ouvi os passos pesados de Bella aproximando-se da casa.

Levantei-me em um pulo, e logo a porta se abriu. Bella adentrou a sala, e me fitou com seus grandes olhos castanhos, assustada.

- Alice! Oh, Alice! – Ela se jogou sobre mim. O impacto de sua pele quente – e cheirosa – sobre mim me fez estremecer. Eu precisava me alimentar, urgentemente.

Bella estava estranha. Sua pele estava fria – não como a minha, é claro – mas estava mais baixa do que uma temperatura humana comum. E seu cheiro estava estranho... Uma mistura de cachorro sarnento com água salgada.

- Bella? – Pronunciei atordoada, enquanto ela me abraçava, com toda a sua força humana. Logo começou a chorar. Na verdade, soluçar. Carreguei-a até o sofá e a acomodei no meu colo, esfregando suas costas.

- Me... Desculpe. Eu só estou... Tão feliz... De ver você! – Ela engoliu os soluços, tremendo levemente.

- Tudo bem, Bella. Está tudo bem.

- Sim. – Ela disse alto, como que para se convencer.

- Eu havia me esquecido de como você era exuberante. – Suspirei.

O cheiro dela estava muito intenso. Afastei-me levemente dela.

Bella me observou por um momento, com os olhos ainda cheios d’água.

- Oh! – Ela pareceu reconhecer meu esforço. – Desculpa.

 - É minha culpa. Já faz algum tempo que estou sem caçar. – Expliquei. – Eu não devia me deixar ficar com tanta sede. Mas estava com pressa hoje. – Apertei os olhos. – Falando nisso, pode me explicar como está viva?

- Você me viu cair. – Ela engoliu em seco, ruidosamente.

- Não. – Apertei os olhos novamente. – Eu vi você pular.

Bella ficou quieta por um segundo, parecendo tentar encontrar uma explicação convincente. Balancei a cabeça.

- Eu disse para ele que isso aconteceria. Mas ele não acreditou em mim. “Bella prometeu”. – Imitei o tom de voz de Edward, e percebi que Bella abaixou os olhos. – “E não fique olhando o futuro dela, também. Nós já causamos estragos o suficiente.” – Citei perfeitamente o que ele havia me dito há um tempo atrás.

“Só porque eu não procuro, não quer dizer que eu não veja. Eu não estava espionando você, eu juro, Bella.” Continuei. “É que eu já estou ligada à você... Quando eu te vi pulando, eu nem pensei. Simplesmente peguei um avião. Eu sabia que poderia ser tarde demais, mas eu não podia ficar sem fazer nada. E depois eu cheguei aqui, pensando se eu poderia ajudar Charlie de alguma forma... E você aparece.” Balancei a cabeça. “Eu vi você cair na água, e esperei, esperei para que você voltasse, mas você não voltou. O que aconteceu?” Perguntei, sem dar tempo de ela responder. “Você parou para pensar no que isso faria com ele? E com meu irmão? Você não faz ideia do que Edward...”

“Alice, eu não estava cometendo suicídio.” Ela me interrompeu.

Levantei as sobrancelhas, confusa.

“Você quer dizer que não pulou de um penhasco?” Perguntei.

“Não, mas...” Ela fez um careta. “Foi apenas com propósitos recreatórios.”

Arregalei os olhos, e depois minha expressão endureceu. Esperei ela continuar.

“Eu havia visto alguns amigos de Jake mergulhando dos penhascos. Pareceu que era... Divertido... E eu estava aborrecida...” Ela pareceu pensar.

Bem, então eu estava errada. Em teoria. Bella não estava se matando. Estava... Se divertindo? Duvidei sobre sua sanidade.

“Eu não pensei que a tempestade fosse afetar as correntes.” Ela continuou. “Na verdade, eu nem pensei muito na água.”

Minha expressão continuou incrédula. Ela pareceu perceber. “Então se você me viu entrar, como é que você não viu Jacob?”

Eu ainda estava absorta, tentando raciocinar o motivo daquilo tudo.

“É verdade que eu provavelmente teria me afogado se Jacob não tivesse pulado atrás de mim. Bem, tá legal. Não tem nenhum provavelmente aí.” Ela continuava a tagarelar. “Mas ele pulou, e me tirou de lá. E acho que ele me guiou de volta para a costa, apesar de eu estar meio por fora dessa parte. Não pode ter se passado nem um minuto de quando eu estava lá em baixo até que ele me puxou. Como é possível que você não tenha visto isso?” Ela perguntou, finalmente me encarando. Olhei para ela, incrédula com suas palavras confusas.

“Alguém tirou você de lá?” Sussurrei.

“Sim. Jacob me salvou.” Bella disse, simplesmente.

Jacob? Quem era ele? E... Como ela havia sido tirada da água por ele? Como ele a tinha salvo? E porque eu não vi isso? E... Também tinha o cheiro estranho dela. Inclinei-me, e cheirei seu ombro.

“Não seja ridícula.” Murmurei, cheirando seu ombro novamente. O cheiro de vira-lata enxaguado e salgado ainda era o mesmo.

“O que você está fazendo?” Bella perguntou.

“Quem estava com você lá fora agora mesmo?” Tentei entender. “Pareceu que vocês estavam discutindo.”

“Jacob Black. Ele é... meio que meu melhor amigo, eu acho. Pelo menos ele era...” Bella respondeu, confusa. Balancei a cabeça, ainda sem entender. “O que foi?” Ela perguntou.

“Eu não sei. Eu não sei o que isso significa.” Franzi os olhos, tentando compreender.

“Bom, pelo menos eu não estou morta.” Ela deu um sorriso amarelo. Revirei os olhos.

“Ele foi um tonto de achar que você poderia sobreviver sozinha. Eu nunca vi alguém tão propenso a idiotices que ameaçam a vida.” Meu tom era acusatório.

“Eu sobrevivi.” Ela disse. Não prestei muita atenção. Ainda estava tentando desvendar o mistério de ela ter saído viva de toda essa confusão.

“Então, se as correntes eram demais para você, como esse Jacob conseguiu?” Questionei.

“Jacob é... Forte.” Ela gaguejou. Levantei as sobrancelhas. Bella ficou quieta por um instante, parecendo pensar em algo.

“Veja bem. Ele é... Meio que um lobisomem.” Ela sussurrou rapidamente. Arquejei, arregalando os olhos. Lobisomem? Ela estava brincando, não é? “Os Quileutes se transformam em lobisomens quando têm vampiros por perto. Eles conhecem Carlisle desde muito tempo atrás. Você já estava com Carlisle naquela época?” Ela tagarelou, enquanto eu tentava me recuperar, e raciocinar.

“Bem, eu acho que isso explica o cheiro.” Falei, olhando para ela. “Mas será que explica o que eu não vi?” Enruguei a testa, ainda confusa.

“O cheiro?” Ela perguntou.

“O seu cheiro é horrível.” Falei, fazendo uma careta. “Um lobisomem? Você tem certeza disso?” Questionei.

“Muita certeza.” Ela estremeceu, parecendo lembrar-se de algo. “Eu acho que você não estava com Carlisle da outra vez que apareceram lobisomens aqui em Forks.”

“Não, eu ainda não havia encontrado ele.” Suspirei.

Então, Bella estava viva. Isso era um fato, óbvio. Mas ela não pulou para se matar. Estava brincando. E depois não se afogou, porque foi salva por seu “ela-acha” melhor amigo. E esse amigo conseguiu enfrentar as correntezas porque era forte. Porque era... Um lobisomem.

“Espera.” Arregalei os olhos, entendendo. “O seu melhor amigo é um lobisomem!”

Ela balançou a cabeça devagar.

“Há quanto tempo isso está acontecendo?” Perguntei, com a voz alterada.

“Não muito tempo. Ele só se tornou um lobisomem a algumas semanas.” Ela sussurrou, timidamente.

Arregalei os olhos. Bella tinha noção dos perigos em que se metia constantemente?

“Um lobisomem jovem?!” Exclamei, sem acreditar.