Seis de janeiro escrita por SH


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Tive essa ideia assistindo o último episódio da terceira temporada! E sim, o início foi inspirado em uma das cenas do mesmo episódio. Porém se passam em momentos totalmente diferentes.
Espero não ter ficado muito OOC.
As pessoas normalmente colocam o John como o apaixonado e o Sherlock como "o que não se importa", mas eu acho o contrário. Não que John não se importe, ele se importa e muito com Sherlock (♥!) mas Sherlock é muito confuso com relação a esses sentimentos e acaba expressando da forma errada.
Bom, pra mim, Holmes é o apaixonado!
É isso.



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"Jantar?"

"Perdão... O quê?"

"Você me convidou para jantar?"

"Oh, John, eu acabei de lhe falar todo o plano de destruir o Ocidente e você me fala do jantar?"

"Sherlock!"

"Oh, Deus, sim John, nós vamos jantar. E antes que pergunte, não, eu não irei cozinhar, para o seu azar, uma informação que durante nosso tempo de convivio que você desconhecia é que eu cozinho muito bem. Porém, nós vamos jantar fora, John"

"...Jantar?! Sherlock, você está bem?"

Os dedos de juntas grossas de John tocaram a testa de Sherlock em busca de temperatura elevada. Nada. Perfeitamente normal, aparentemente, porém normal não era a palavra correta para se associar a Sherlock. As maçãs afiladas do rosto do detetive estavam um pouco rosadas, Sherlock não olhava John nos olhos, suas pupilas verdes eram direcionadas ao carpete.

John segurou o queixo de Sherlock que assustado com o ato olhou para o loiro que estava em pé acima de si, enquanto Sherlock estava sentado na sua costumeira poltrona de pernas cruzadas.

Uma coisa que havia aprendido com Sherlock era observar atentamente.

Os olhos verdes agora não paravam de fitar os acinzentados. O rosto de John ficava cada vez mais próximo do de Sherlock até que as pontas dos seus narizes se tocaram.

"Mara não gostará disso."

"Quem é Mara?"

"É Maria?"

John fechou os olhos e respirou fundo. Aquele era Sherlock.

"Deuses, Sherlock, é Martha."

"Oh, certo, Martha... Martha..."

"E eu não gosto de Martha."

John sentiu a respiração de Sherlock soltar.

"Não?"

"Não."

"Bom."

"Sim, bom."

"Então..."

"O plan-"

"O jant-"

John, subitamente, se afastou, e Sherlock entrelaçou seus dedos apoiando o rosto.

Pensando, John sabia.

"Sherlock."

"Hm?"

"Sobre o plano..."

"Que plano, John?"

"O plano, Sherlock!"

"Sim, John, já notei que se trata de um plano, mas minha mente, diferente da sua, é cheia de informações e planos que-"

"Sher-lock."

"Oh, certo, o plano."


*

Sherlock saiu primeiro do táxi, com a conta ficando para um aborrecido Watson. As mãos do detetive estavam dentro do sobretudo. O médico sempre achou aquilo desnecessário, como se Sherlock fizesse um charme proposital. Ele não precisava.

Era involuntário, John sempre se pegava reparando na postura de Holmes quando ele estava um passo a frente. Na forma como ele levanta a gola, como ele arruma o cachecol, como seus olhos reviram enquanto sua cabeça permanece imóvel, no cabelo cacheado que depois de tirado o chapéu era sacudido para os fios ficarem organizadamente fora do lugar, na forma como Sherlock sentava e cruzava suas pernas, de como ele apoiava o rosto com um dedo ou com ambas as mãos, dos movimentos bruscos, das falas atropeladas e da voz grossa. Sherlock tinha algo. John reparava mas deixava passar logo em seguida.

"John?"

"Ah, sim."

Quando Sherlock disse que levaria John para jantar fora ele não pensou que fosse em uma lanchonete.

"Sherlock" sussurrou.

"Sim."

"Se vamos jantar em uma lanchonete porque não comemos algo perto de casa?"

"Oh, John, você é sempre tão rotineiro. Me entedia."

John adorava a forma como a garganta de Sherlock era perfurada com uma garfo na sua mente, no mínimo, nove vezes ao dia.

Sherlock escolheu uma mesa ao fundo da lanchonete e o médico apenas o seguiu. O detetive sentou-se de costas para a parede e John a sua frente.

"Algum motivo em especial?"

"Hm?"

"Para esta mesa. Algum motivo?"

Sherlock hesitou, analisou John, que sempre se perguntava o que ele estava lendo nesses momentos. John se sentia desconfortável, porém era fascinado pelas respostas incrivelmente perfeitas. Sempre que John dizia um "Brilhante" ele via uma barra de ego do Sherlock subindo de 100% e quebrando o vidro.

"Não, John. Esta apenas é a mesa onde circula menos movimento, já que não é perto do balcão nem dos sanitários e sei que coisas bobas como a vista da janela lhe agradam."

Bobas... Sherlock conseguia com apenas uma palavra ridicularizar John.

"Cale a boca!"

"Então, não me pergunte em uma próxima vez."

Um rapaz os foi atender e John reparou que ele olhava de uma forma estranha para Sherlock. Obviamente o moreno também percebeu, voltando seu olhar para o cardápio, um sorriso sacana enfeitava seu rosto. John viu pela décima vez ao dia o tal garfo perfurar a garganta de Sherlock Holmes.

"Você é aquele cara, não é?"

"Sim, sou" disse Sherlock sem tirar os olhos do cardápio. O rapaz soltou um riso.

"Eu sou um grande admirador seu. Meu nome é-"

"Geoffrey."

O jovem o olhou boquiaberto.

"Calma, não deduzi isso olhando as suas sobrancelhas nem o formato de suas unhas. Está no seu crachá."

O jovem riu, agora, desconfortavelmente. John adorou compartilhar a sensação de ridicularização com o garçom.

"Contente-se, John, é só um rapaz."

"Eu não disse nada."

"Mas pensou."

Se Sherlock tinha a intenção de levar John para jantar fora para que eles se divertissem as coisas não estavam saindo como planejado. John rolou os olhos para o cardápio.

"Um café."

"Um café?" perguntou Holmes.

"Sim, um café, Sherlock. Uma substância feita com cafeína-"

"Eu sei do que o café é feito, e para sua informação o café possui apenas 1 a 2,5 % de cafeína e diversas outras substâncias em maior quantidade."

"Você é insuportável, francamente! Desculpe, cancele o café, não passou mais um minuto na companhia desse lunático."

E o rapaz que estava escrevendo o pedido no bloco de notas riscava a folha com voracidade.

John Watson levantou-se rapidamente da mesa e se dirigiu a porta da loja com as mãos enfiadas no bolso do casaco, bufando. Holmes olhou para o garçom.

"Diga para sua tia que você trabalha a noite. Ela parece muito preocupada com você."

E o rapaz piscava confuso. Sherlock pessoalmente parecia ainda mais cruelmente incrível.

Você não tem mais dinheiro para pegar um táxi de volta. -SH

Que se dane, vou andando.

É muito longe para ir andando até a Baker Street. -SH

Maldito. Fez de propósito?

Não foi proposital, John. Não tinha em minha mente que você fugiria de mim como uma garotinha de colegial. -SH

Garotinha de colegial?!

"Você é um homem engraçado, John. Você me odeia mas você me ama." disse Sherlock um passo atrás de Watson.

"Eu não amo você." John virou tão bruscamente que sentiu uma pontada em sua perna. "Você é a pessoa mais bizarra, esnobe, egocêntrica, insensível, insuportável, cheia de si que eu tive a infelicidade de conhecer!"

Sherlock calou-se. O que fez o médico repensar sua fala. Holmes o irritava tanto que quando chegava ao ápice ele só tinha vontade de xinga-lo até a morte. Mas ele não pensava essas coisas de Sherlock, bem, talvez pensasse, mas ele, acima de tudo, admirava Sherlock. Sherlock era seu amigo. Amigos brigam e se xingam, não? Por que Sherlock não falava nada? Por que aquela expressão dolorida estava no rosto de Holmes? Ele queria pedir desculpas, mas aquelas palavras não eram mentiras, ele só achava que Sherlock tinha tantos defeitos quanto qualidades, o que significavam muitas qualidades.

"Hoje é seis de janeiro."

Seis de janeiro, certo. O que há seis de janeiro?

"Pensei que Mrs. Hudson tivesse lhe contado."

Contado o quê?

"Que hoje é o meu aniversário."

Quando John acordou, Mrs. Hudson estava fechando a porta devagar, provavelmente para não acorda-lo. Ao ir em direção a cozinha viu um pequeno cupcake com um vela apagada em cima, tirou a vela e o comeu. É claro! Era pra Holmes! Porque era aniversário de Holmes! Watson se sentiu tão culpado agora, tão envergonhado e tão estúpido. Ele queria realmente pedir desculpas, mas não conseguia olhar nos olhos de Sherlock.

"E eu queria passar meu aniversário com você, John"

Você pode parar com isso, Waton pensou. Sherlock não era assim, não era sentimental, e se quisesse se divertir iria a procura de um caso, não sairia com John para jantar em uma lanchonete à noite.

"E você já pode me pedir desculpas, John."

O médico mordeu o lábio inferior tão forte e fechou os olhos, as mãos dentro do bolso do casaco segurando o celular com a mensagem de Sherlock na tela.

"A noite ainda não acabou." soltou quase que um sussurro "Você ainda pode passar seu aniversário comigo, Sherlock."

Ao olhar para o rosto de Sherlock Holmes, ele avistou o nariz e as bochechas vermelhas e o belo sorriso que Holmes só mostrava ao receber um caso realmente empolgante.

E desde o início John Watson foi o caso preferido de Sherlock.


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Notas finais do capítulo

Eu estou com uma dúvida sobre os dons culinários de Sherlock. Não lembro-me se ele cozinha bem ou não. Ele não parece o tipo de pessoa que faz comida, mas isso não significa que ele não saiba.
Se ele não souber, e a informação que eu coloquei estiver errada peço mil desculpas!! ç-ç

Obrigada a quem leu. De verdade!

PS. Geoffrey é o nome do pai do Martin Freeman, nosso John!!