Ressurgente escrita por Carolina Rondelli


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, já preparo vocês de que hoje o capítulo é mais lento, sem muita ação e com mais drama e alguns flashbacks que acho que vão gostar.
E também prometo momentos Deriv no próximo capítulo (para o bem de todos e felicidade geral da nação).
Espero que gostem!



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Tobias

— Não precisam ficar aqui — digo para Cara e Christina.

— Já é a milésima vez que fala isso — diz Cara, e é a verdade.

Zeke deixou o hospital com Shauna, iria deixá-la em casa e partir para a força policial, ver se podia encontrar algo de útil, dando alguma desculpa esfarrapada se perguntassem o que ele faz no trabalho se está de férias.

Matthew disse que voltaria ao apartamento de Cara e ajudaria Peter com as buscas. Eu me senti muito agradecido, não posso tratar de descobrir isso agora, mas alguém tem de fazê-lo.

— Está demorando demais — murmuro.

— Se passaram três horas — diz Christina —, a cirurgia deve ser séria, e esse tipo de coisa demora.

— Não vai querer que os médicos façam nada com pressa — Cara recomenda.

A espera é horrível, não consigo parar da imaginar que no minuto seguinte um médico vai me chamar e dizer que minha mãe está morta. Ela parecia tão fraca quando a vi, na emergência. Diria que estava morta se não tivesse ouvido o barulho dos aparelhos ligados a ela que indicavam sua força vital.

Se Anthony não tivesse se vingado, se não tivesse mexido com os rebeldes... Ah, não posso culpá-lo. Anthony também perdeu alguém que se importava, perdeu todos os seus colegas de trabalho por causa desses rebeldes, e por isso está com raiva. Bom, eu também estou.

Também não sei o que minha mãe estava fazendo no meu apartamento, ela sempre me liga quando vai me visitar. Alguém tinha a levado lá, então espero que ela tenha visto alguém, ou ouvido algo. Qualquer coisa que ajude a chegarmos aos responsáveis por isso.

Quando um médico vem andando na minha direção, parecem que já se passaram mais três horas, ou talvez apenas minutos, não confiro a hora.

— Prefeito Tobias? — ele pergunta. É um médico diferente daquele que tinha me dito que minha mãe seria operada. Esse era magro, esguio e negro, com um ar sério e inteligente, o outro era baixo e moreno, com sorrisos fácies e frases de “vai ficar tudo bem” prontas.

— Sim — fico de pé imediatamente —, sou eu.

— Sou o Doutor Kart, muito prazer — ele aperta minha mão.

— Prazer, doutor — digo educadamente. — Como está minha mãe?

— Pode me acompanhar até a UTI? Ela está lá, e preciso conversar com o senhor.

— Claro — digo, e me viro para Cara e Christina: — Podem ir agora.

— Vamos esperar para saber como ela está — Christina fala.

— O estado da senhora Evelyn é estável, podem ir para casa tranquilas — o médico diz.

Com um pouco de relutância, Cara se levanta:

— Ligue se precisar de qualquer coisa. Amanhã virei visitá-la.

— Eu também — Christina concorda.

— Obrigado — aceno para elas e acompanho o doutor.

Caminhamos em silêncio e entramos em outro corredor que não é o da emergência.

— Sua mãe veio da sala de cirurgia para a UTI, para ficar em observação e ter os tratamentos necessários — o médico explica.

— O que quis dizer com estável? — indago.

— Conversaremos sobre isso depois que o senhor puder vê-la — ele diz, e não falamos mais nada até chegarmos a outro corredor.

— O quarto dela é o 22, senhor — ele indica com o dedo para o final do corredor. — Ela está dormindo, devido aos remédios e anestesia. Não espere ela acordar, dê uma olhada para se tranquilizar e me encontre aqui, então conversaremos sobre os tratamentos de sua mãe.

— Entendi, obrigado.

Caminho pelo corredor e dou uma olhada nas portas da UTI. Vejo uma moça que deve ter a minha idade segurando a mão de um menininho que não deve ter cinco anos, e também um senhor abatido ao lado da cama de uma senhora que parece bem serena, dormindo. É um corredor triste.

Quando vejo o número 22 em uma das últimas portas, olho pelo vidro e identifico, entre um emaranhado de fios ligados a várias partes do corpo e algumas queimaduras, o rosto jovial de minha mãe. Detenho-me com a mão na fechadura, hesitante em entrar. Não sei se ela vai voltar a acordar.

Finalmente tomo coragem e entro. O quarto é pequeno. Além da cama e dos aparatos do hospital, tem uma poltrona reclinável de couro e um pequeno armário na parede. Tudo branco e muito limpo.

Eu não posso definir como limpo o rosto dela. Tem uma queimadura bem perto da boca e outra na bochecha. Tem um corte no lado direito na testa que está com pontos.

Consigo ver algumas partes do seu cabelo que estão chamuscadas.

Porém, vejo que ela está respirando. Calma e constantemente. E isso já é um alívio completo.

Pego em sua mão e sussurro:

— Desculpe.

Fico por um momento apenas olhando, contemplando o fato de que ela — pelo menos por enquanto — está viva. Eu tive tanto medo. Mas depois me lembro de que o médico está me esperando. Dou um beijo em sua testa, longe do corte, e saio.

Volto ao doutor e ele me guia até outra sala, bem pequena, com apenas uma mesa com duas cadeiras e alguns quadros nas paredes.

— Sente-se, por favor, prefeito — ele indica uma das cadeiras, enquanto vai para trás da mesa e se senta na outra.

— Então, doutor? — pergunto, um pouco ansioso.

— Precisa saber que a Senhora Evelyn foi encontrada no seu prédio pelos bombeiros. Estava do lado de fora do seu apartamento e havia fogo em toda parte. Ela estava inconsciente e tinha batido a cabeça. Fizemos o melhor que conseguimos.

— Não tenho dúvidas quanto a isso, doutor. Mas como ela vai ficar?

— Não podemos afirmar, mas temos quase certeza que ela ficará com uma sequela.

— Seja mais específico, doutor, por favor — insisto.

— Achamos que sua mãe perdeu a visão, prefeito.

Fico sem ar por um momento.

— Mas como?

— Achamos inicialmente que ela podia ter batido a cabeça na queda e ter ficado com alguma lesão cerebral no que diz respeito à sua consciência, mas isso não aconteceu. Outros exames indicaram a perda da visão, mas não vamos ter certeza absoluta até que ela acorde. Não sabemos o que causou o fogo. Talvez uma bomba, um sistema de fiação que entrou em curto, um bujão de gás que explodiu. Alguma substância pode ter entrado em contato com seus olhos.

— Isso é definitivo? Existe algum tratamento, algo que possa fazer...?

— Temo que seja irreversível, senhor.

— Não pode ser...

— Mas vamos tentar tudo que estiver ao nosso alcance.

— Muito obrigado.

Ele olha para o relógio e depois para mim novamente:

— O efeito dos remédios deve passar daqui a bem pouco, acho bom que esteja lá quando ela acordar.

— É claro — digo, me levantando e apertando sua mão. — Obrigado pelos cuidados que deu à minha mãe, Doutor Kart.

— Por nada, senhor prefeito.

Deixo a sala para trás e volto em direção ao quarto 22.

Não hesito em entrar novamente, e vou para perto da minha mãe com mais rapidez. Ela ainda está dormindo, calma. Não sei exatamente quando ela irá acordar, então fico ao seu lado por algum tempo, até minhas pernas começarem a doer e caminho em direção à poltrona.

Alguns minutos se passam, talvez quase uma hora até que ela realmente acorda. Antes disso, ela apenas abre os olhos e balbucia algo sem sentido. Quando ela está mesmo desperta, fica com os olhos fechados.

— Mãe? — chamo. — É o Tobias, estou aqui.

— O que houve? — ela pergunta com um sussurro.

— Um acidente, mas não se preocupe com isso agora. Como está se sentindo?

— Com medo — ela responde.

— De quê? — eu não compreendo.

— Quando abri os olhos, não conseguia ver nada. Tenho medo de que não tenha sido apenas um sonho ruim — ela diz com a voz um pouco mais forte.

Agradeço por ela estar de olhos fechados e não ver minha expressão.

— Tente abri-los novamente — digo.

— Sempre foi mais corajoso que eu — ela dá um sorriso fraco e cheio de tristeza.

Ela abre lentamente os olhos e respira fundo, enquanto uma lágrima escorre.

— Está tudo escuro — ela diz com uma voz trêmula.

— Vai fica tudo bem — digo segurando sua mão.

Aperto um dispositivo na cama para chamar uma enfermeira. Quando esta chega, verifica alguns aparelhos e pergunta a minha mãe como ela se sente.

— Cega — responde.

Sobre isso, a enfermeira nada pode fazer.

— O Doutor Kart estará aqui em breve, e fará tudo que for possível. Tudo que estiver ao alcance dele — ela diz com uma voz doce e solidária. — Agora a senhora deve descansar e não fazer nenhum tipo de esforço como tentar se sentar ou falar em excesso. Não deixe que ela se esforce, prefeito, por favor.

— Certamente — digo.

Ela sorri e deixa o quarto.

— Ficamos tanto tempo sem nos ver — minha mãe diz melancolicamente. — Era um garoto quando o deixei para trás. Agora é um homem, um prefeito... e não te vi por tempo suficiente.

— A enfermeira disse para não se esforçar... — começo.

— Pare com isso, Tobias. Se ficar muda trouxesse minha visão de volta, eu colaria uma fita na boca com todo o prazer. Mas isso não vai acontecer, então me deixe falar o quanto eu quiser.

— O médico disse que pode ser reversível, eles vão tentar.

— E você acredita? Eu não.

— Não estamos mais nas facções, a medicina no mundo todo avançou muito. Não é como se continuássemos presos naquela bolha, pode existir um tratamento. Alguma coisa. Qualquer coisa.

— Se quer ser otimista, seja por nós dois.

— Tenho que ser, não é?

— Não costumava ser assim — ela sorri.

— O que quer dizer?

— Você tinha quatro anos quando seu pai realmente te espancou pela primeira vez, ficou com um machucado na perna. Você disse que nunca ia sarar.

— Não me lembro disso — digo, um pouco desconfortável pelo assunto ter ido parar no meu pai, e no inferno que era morar com ele.

— É claro que não. Enfim, o machucado curou em mais ou menos uma semana.

Sorrio, mesmo sem conseguir me lembrar da situação. Talvez seja bom que não lembre, não preciso de recordações sobre minha primeira surra.

— Bom, disso não me lembro, mas sim de quando saltei de cima do muro da nossa casa, eu me machuquei, mas não importava, eu tinha voado.

— Nesse dia — ela sorri —, quando perguntei por que tinha feito aquilo, disse que viu um homem da Audácia saltar de um trem, e perguntou...

— Como eles eram tão corajosos — completo —, e que queria saber se também tinha coragem.

— Tenho certeza que foi nesse exato momento que descobriu que tinha mais de Audácia dentro de você do que de Abnegação.

— Não troquei de facção por me achar mais corajoso que altruísta, e sim para ficar longe dele — digo, de repente desconfortável novamente.

— É claro — ela diz. — Mas poderia ter escolhido qualquer outra. Escolheu a Audácia porque sabia que se encontraria lá. E se encontrou.

— Com toda certeza — digo. Encontrei lá a minha facção, a minha nova família, meus amigos, minha nova vida. Mas também encontrei Tris, e a perdi tão rapidamente, e agora que ela está de volta, não sei o que fazer.

— Lembra-se da sua Cerimônia de Escolha?

— Impossível de esquecer — respondo.

— Então me conte — pede ela. — Eu não estava lá.

Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Na verdade, não foi feliz, foi libertador.

— Quando chamaram meu nome, todos esperavam que eu depositasse meu sangue no espaço respectivo da Abnegação. Afinal, eu era filho de um líder, era o mais provável. Meu pai nunca imaginou, acho que nunca cogitou a ideia de que eu pudesse mudar de facção, ele achava que eu teria de ficar na sombra do seu cinto por toda a minha vida, mas, pela primeira vez, eu podia fazer uma escolha por mim mesmo. Eu olhei nos olhos dele antes de escolher a Audácia.

— E como se sentiu?

— Livre — respondo, com todo o coração.

— Imaginei que diria isso, foi como eu me senti depois de ter partido, depois de ter deixado seu pai para trás. A única parte minha que ficou presa estava com você, mas você guardou bem essa parte, e me devolveu quando me aceitou novamente como sua mãe. Se eu tivesse tido outra escolha...

— Mas não teve — interrompo-a. A última coisa que ela me deve agora são desculpas. Já a perdoei há muito tempo. — O passado fica no passado.

— É claro — ela sorri.

Depois de alguns momentos em silêncio, lembro-me de uma pergunta importante:

— Mãe, o que estava fazendo no meu apartamento?

— Ah, querido, está tudo tão confuso. Lembro-me vagamente da fumaça, do fogo, mas não vi ninguém. Sei que saí de casa, fui até seu apartamento, e algo sobre ele me lembra proteção. Mas o que é? Eu não faço ideia do por que que fui lá, e por mais que tente lembrar, me foge da memória.

— Não force a memória, talvez seja um efeito colateral, talvez vá se lembrar ainda, com o tempo.

— Espero que sim, já têm suspeitos?

— Foram os rebeldes.

— Disso eu sei, mas quero saber sobre algo mais concreto.

— Na verdade não, e não quero pensar muito nisso, não agora. Não quero saber que a responsável por isso foi... — não consigo completar, sinto um nó na garganta.

— Tris? — ela completa por mim. — Querido, mesmo que se pareça com Tris, essa garota não é ela. Não é a garota boa, corajosa e apaixonada que conheci. Fizeram algo com ela, e agora ela se tornou outra pessoa.

Tomo coragem para revelar para ela o meu maior medo, pelo menos ela não pode ver meu rosto.

— E se a minha Tris não voltar? E se agora só existir essa outra pessoa? E se eu não conseguir recuperá-la?

— Ela está lá em algum lugar, tenho certeza que está. Você não vai desistir do seu amor, não desistiu nem de mim.

Antes que eu tenha a chance de responder, o Doutor Kart bate da porta e entra.

— Vejo que a senhora está bem — ele diz. — E também desrespeitando as ordens de não falar muito.

— Bom, doutor, como já disse ao meu filho, ficar muda não vai trazer minha visão de volta.

— Mas talvez alguns tratamentos a trarão.

— O que quer dizer, doutor? — pergunto.

— Acabei de pegar alguns dos resultados dos exames dela, e nenhum dano sério foi realmente causado além do da visão, o que significa que podemos focar pelo menos 99% de nossos tratamentos para tentar reverter a sequela. Não tenho uma porcentagem quanto à probabilidade de cura, mas nós vamos tentar.

— Ótimo, doutor, ótimo — ela diz.

— Mas precisa estar preparada para uma longa jornada. Várias decepções pelo caminho, vão ter momentos que posso dizer à senhora que temos avanços e quando pedir para que abra os olhos esteja pior do que na vez anterior, mas também podemos ter resultados quando formos por caminhos muito pouco prováveis. Não poderá desistir.

— Ela não vai — digo, me levantando e segurando sua mão. — Enquanto eu estiver do seu lado, não vou deixar que desista.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam?? Comentem aí se foi bom ou mesmo se foi ruim, e me digam o que querem ver no próximo capítulo.
Vejo vocês nos reviews!
Xoxo, see you soon!



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