Fui até lá disfarçadas. Agora que eu tinha um codinome, e um hobby secreto, não queria que ninguém acabasse com a minha diversão. Comprei um peruca loira, de madeixas curtas e enrolada nas pontas, bem parecidas com os cabelos da Alice, naquele filme onde ela, ela vai para um mundo completamente psicodélico e bem de certa forma sedutor, encontra gatos de éter, coelhos malucos e um charmoso chapeleiro, oprimido. Comprei até mesmo óculos novos, em forma de gatinho, montei um visual vintage, burlesco e misterioso. Mesmo não sendo a víbora naquele momento, não queria perder minha essência.

Cheguei munida de diplomas, currículos e cartas de recomendações, que Roger prontamente me ofereceu, quando liguei, dizendo que procurava novos ares.Cheguei lá de táxi, exalando um perfume doce frutado, com um batom vermelho escuro, quase marrom, e claro, não poderia falta um, um belo salto fino, preto de camurça. Admito, queria chamar atenção. Andei com calma até a recepção, onde eu ja estive uns dias atrás. E a mesma recepcionista estava lá. Mas desta vez, nada de decotes constrangedores a cumprimentei, e perguntei educadamente onde ficava o RH.

A doce menina não reconheceu nada, nem mesmo minha voz,meu plano corria perfeitamente. Fui até a sala indicada, bati na porta delicadamente, e esperei que alguém me atendesse. Eu esperava que a moça, ruiva que parecia criança me atendesse, não sei bem o porquê, mas achei que seria o trabalho ideal para ela, tão meiga e frágil. A porta abriu, e antes mesmo de ver o rosto, reconheci a voz, a pessoa estava rindo, antes mesmo de me atender.

– Nossa! - Eu não sabia o que dizer, na verdade essa minha frase, saiu automaticamente, eu não queria dizer, nem demonstrar nada.

– Oi.

Ele estava tão surpreso quanto eu.

– Olá, Jason. - Eu não queria completar a frase, eu esperava o momento exato de cortá-lo, e mostrar-lhe que não estou ali para ele, ou por ele.

– Olha, eu acho que aqui não é o melhor lugar para conversarmos. - Disse ele já fechando a porta, enquanto saia ficando bem próximo a mim, como se quisesse esconder a sala e o que tinha lá dentro.

– Jason, meu querido amante traidor. Não estou aqui para vê-lo, nem mesmo se quer, falar-lhe, uma vez que ambas as situações me causam enjoo, estou aqui, para falar com a moça loira do Rh, que destruiu a minha vida, e que está lá dentro, escondida por você.

Ele ficou sem reação. Passei por ele, empurrando-o para o canto, enquanto ele olhava para os lados, tentando perceber se alguém havia ouvido nossa conversa. Entrei na sala, e aquela oira devassa estava lá, atrás de uma enorme mesa cromada, repleta por aqueles brinquedos estranho que geralmente tem em escritório, como aquelas bolinhas que se batem, e então a vibração balança a última da fileira. Ela não me reconheceu,mas eu sabia exatamente quem ela era.

– Olá, bom dia ! Você deve ser Kiara Beackerman.

– Sim, eu sou Kiara Beackerman. - Enquanto dizia isso, senti pena dela, ela não sabia que Jason, tinha uma família, antes de conhecê-la. Caso contrário, saberia quem eu sou pelo nome. Jason mentiu para nós duas. - E este homem quem é ? - Perguntei educadamente, afinal em um entrevista, costuma-se ter somente um contratante.

– Esse é Jason Maze. Ele é o novo vice diretor deste hospital. Irá acompanhar nossa conversa.

Jason Maze, foi estranho ouvir o nome dele sair da boca de outra mulher, com tanto orgulho. Conversamos sobre as minhas experiências, sobre o meu último chefe e porque eu estava procurando um emprego em um ramo tão diferente. Respondi tudo com muita segurança, e até mesmo pitadas de malícia, eu queria impressionar Jason e não ela. Funcionou, Jason me contratou ali mesmo, ele teve medo de me rejeitar e então eu revelar, tudo sobre ele. Agora eu era enfermeira daquele hospital. Não era o que eu queria, eu queria um curso. Mas ali, no meio da entrevista fui informada disto, e ao lado de Jason, não poderia demonstrar frustração ou fraqueza, eu ainda tinha muito por me vingar e trabalhar ali, seria, perfeito.
Saí do hospital, empregada, linda e com um passo a diante do meu objetivo.