Pov. Emma

Ao longo da minha vida, posso dizer que já me irritei fácil por coisas bem pequenas. Não é segredo nenhum que eu sou uma pessoa esquentada, com um temperamento difícil e praticamente considerada fria e calculista para aquela gente inútil da minha família. (Isso quer dizer alguns tios e tias que honestamente, não tem nada melhor pra fazer do que cuidar da vida dos outros.)

Quantas vezes eu já me envolvi em brigas ? Bom, não teria como contar. Minha mãe sempre dizia que quando soube que teria uma menina, já ficou imaginando como seria legal ajudar a me vestir, se alegrou ao pensar que teria menos trabalho, já que garotos geralmente são mais instáveis do que garotas. Bom, não em meu caso. Meu querido irmão era muito mais calmo do que eu, e bem, eu sempre fui a causa de todos os problemas.

Já coloquei fogo no cabelo de uma prima, com muito orgulho, devo dizer, já que ela era chata e mimada; já roubei as roupas de um cara enquanto ele estava tomando banho no vestiário e o fiz correr apenas com a toalha pela escola, tudo isso porque ele tinha magoado uma de minhas amigas; cabulei muitas aulas, discuti com professores e ainda tinha aqueles momentos nada agradáveis com a minha mãe.

Já me meti em encrencas maiores por andar com pessoas não tão boas, e de algumas delas - apenas algumas - até posso dizer que me arrependi. Mas nunca, nunca mesmo deixei de saber quem eu era. Fiz o que tinha que fazer, minhas escolhas, jamais deixei alguém me manipular.

Ainda assim, meu mau humor e "rebeldia incontrolável" como minha mãe falava quando eu era pequena (e tragicamente usava em horas extremamente necessárias quando já não sabia o que fazer comigo), sempre foram minha pior parte. E algumas coisas, que parecem realmente pequenas considerando outras, me irritavam profundamente ao ponto de eu não conseguir fazer mais nada, ao não ser deixar a raiva me controlar.

Hoje, nesta maravilhosa tarde, tive uma grande prova disso.

Já tinham se passado duas semanas desde aquele dia em que Nick e eu encontramos Austin e Ally, aquele em que o pobre garoto rejeitado tinha saído ainda mais cabisbaixo mas estranhamente determinado. Eu sabia disso, porque - não me leve a mal - ele não era exatamente do tipo que se manifesta muito. Nick era um pouco fechado demais, tímido demais, e depois da tal conversa dele com Ally, por mais triste que parecia, ainda havia um brilho em seu olhar. Estranhei aquilo, mas eu não me importava, não era ? Claro que não. E não era da minha conta. Uma das coisas que eu mais odiava era pessoas que se metem na vida dos outros. Eu não seria uma delas.

Então deixei passar.

E continuei sendo forçada a passear por Miami com ele. Sério, eu já tinha visto tudo e mais um pouco. Tinha até mesmo testado a timidez do garoto, com um pouquinho de provocações e o meu natural jeito sarcástico que fazia qualquer um querer arrancar os cabelos, ele até mesmo se defendeu.

Ponto pra mim.

Eu também tinha visitado Austin em seu novo apartamento, praticamente fui obrigada a assistir um filme com ele, Ally e Dez. O filme não era ruim, seu amigo ruivo (como eu) era um pouco, hã, diferente (?) mas também parecia legal, Ally era apenas a Ally e eu não sabia se tinha uma opinião sobre ela.

Voltando para hoje, que, era o dia de visitar a faculdade em que iríamos estudar, quase me senti um pouco nervosa a dar de cara com tudo aquilo. O lugar era imenso, vários futuros alunos conhecendo as salas aonde iriam estudar e indo visitar os dormitórios nos quais iam morar durante o ano. Tinham palestras para assistir, sobre as aulas e até mesmo de histórias antigas da faculdade. Acho que nem mesmo a metade dos alunos estavam ali, parecia chato apenas assistir uma dessas coisas, mesmo assim, minha mãe tinha me obrigado. Então tudo o que me restou era ir conhecer meu quarto.

Recebi as instruções do campus com tudo o que eu precisava saber de uma moça muito gentil que estava auxiliando. Quase me perdi para achar o prédio certo, o que deve ter me atrasado por pelo menos meia hora.

Entrei em meu futuro dormitório não sabendo ao certo o que iria encontrar. Que era, absolutamente nada. Era só um quarto, vazio, pronto para ser decorado por quem moraria ali. Eu já até podia imaginar como iria deixá-lo com a minha cara, pelo menos a metade, já que teria que dividir com alguém.

Pensamentos bizarros sobre a outra garota que moraria aqui me invadiram, poderia ser qualquer uma, a mais bizarra ou a mais irritante, sabe se lá qual seria a pior.

Porém, fui interrompida pela porta abrindo.

– Você !? - Eu e a garota agora parada em minha frente perguntamos. Engraçado como a vida pregava peças em você, poderia ser qualquer estranha mas ao invés disso, era apenas a Ally.

E tudo bem, agora eu podia admitir de verdade que não sentia exatamente simpatia por ela.

– Só podem estar brincando comigo - murmurei, alto o bastante para que ela ouvisse, mas ao que parecia, ainda era baixo demais para que Deus escutasse e pudesse me tirar daqui. - Eu estava justamente pensando em que tipo de aberração dividiria o quarto comigo e de repente, você aparece, que é ... pior, eu acho, mas sem ofensas.

Ela riu, se divertindo com aquilo, indo se sentar de frente pra mim, aonde, eu achava que seria o seu lado.

– Eu sei que você não gosta de mim - falou, cruzando as pernas como se estivesse em uma reunião de negócios. Sorri, cínica, achando engraçado estarmos falando desse jeito. - Mas por que seria tão ruim dividir o quarto comigo ?

Ela estava esperando pela pior resposta, sorrindo igual a mim. Revirei os olhos, não tirando o sorriso falso do rosto.

– Eu não gosto de novelas.

– O que isso tem a ver ?

– Você faz parte de uma - assenti com a cabeça, como se estivesse confirmando. Seu celular tocou com uma mensagem quando a mesma iria me responder, Ally olhou distraidamente para o celular. - Será que estamos no meio de um capítulo ?

– Cala a boca - resmungou e eu ri.

Ponto pra mim de novo.

Suspirei, impaciente. Me levantei da cama indo em direção da porta, talvez o joguinho com Ally teria que esperar já que ela parecia ocupada demais. Saí dali um pouco ansiosa para que as aulas começassem. Problemas não são considerados uma coisa ruim em meu dicionário, na verdade, para mim eles são apenas uma forma de diversão, que são muito bem-vindos, aliás.

Porém, essa não era a pior coisa daquele dia, nem de longe.

O pior estava vindo mais devagar, mais imprevisível.

Como eu não queria mais voltar para o dormitório, fui assistir uma das palestras. Era chata, entediante e eu estava quase caindo no sono ... Quando alguém cutucou meu braço.

– Emma ? - O moreno de olhos claros que eu não sabia como tinha parado ao meu lado, perguntou. - O que está fazendo aqui ?

– Aparentemente, assistindo a uma palestra muito ruim, igual você.

– Se você estivesse prestando atenção, veria como os fatos que estão sendo apresentados são interessantes. - Nick disse, sussurrando, não querendo interromper o que o professor dizia. Acho que ele não tinha percebido que metade das pessoas na sala já tinham dormido.

– É, com certeza - falei, me levantando. - Quer saber ? Eu vou embora daqui.

Segui para fora, não dando a mínima se interromperia alguma coisa ou não, eu tropecei em umas três pessoas que eu juro que estavam roncando e uma delas caiu da cadeira. Dei de ombros, continuando meu caminho.

Quando já estava lá fora, percebi que Nick tinha me seguido. Me virei, impaciente apenas para perceber que ele estava realmente muito próximo e tinha um sorriso estranho no rosto.

– Qual o seu problema ? - Perguntei, dando dois passos para trás. Aquilo era mais uma prova de como nerds eram estranhos. Ele era tímido ? Maluco ? Devo admitir que ele não era feio e que seus olhos eram realmente impressionantes de tão azuis. (Talvez verdes também, era uma dúvida eterna.)

– E qual o seu problema ? - Perguntou de volta, não estava mais sorrindo mas não estava bravo nem ao menos ofendido. - Por que você tem que ser tão agressiva ?

Quase engasguei com a minha saliva. Tínhamos andando juntos por dias e só agora ele estava me perguntando isso ? Porque simplesmente não teria como não ter percebido antes. E de repente, ele estava me surpreendendo de novo, não agindo apenas como um robô ou deixando sua parte sempre envergonhada o impedir.

Secretamente, eu estava tentando fazer isso nos últimos então quase sorri em vê-lo ali, sem se afastar ou responder minha pergunta com um cálculo ou palavras complicadas demais para que eu sequer me desse o trabalho de tentar entender.

Mordi a língua para não respondê-lo a altura e acabar perdendo o único amigo que tinha feito desde que cheguei.

– Por que está aqui, de qualquer jeito ? - Perguntei.

– É o dia de visita, para conhecer a faculdade, é claro.

– Não. Por que me seguiu ?

Nick balançou a cabeça e talvez ele estivesse corado, mas eu não costumava prestar muita atenção nas pessoas. Um dos meus muitos defeitos, obviamente.

– Não sei - falou. - Mas eu precisava testar uma coisa.

– O que é ?

Então ele fez algo que realmente me surpreendeu, assim como me deixou com o que era provavelmente a maior vontade de esganar alguém em todo a minha vida. (O que era um recorde, já que eu não sou muito paciente.) É, eu estava com muita raiva. Raiva porque ele tinha simplesmente me beijado.