O século 21 era um lugar fantástico e ao mesmo tempo bizarro,
Tinha milhares de coisas que eu não compreendia, mas que eu estava realmente ansiosa para entende-las,
Porque mesmo se eu quisesse... não daria para voltar no tempo,
Voltar para o meu tempo, mas...
Os seres humanos se acostumam com tudo, certo?

Ele me fitava com um olhar incrédulo, provavelmente ele achava que eu era louca, mas não tinha muito a ser feito contra isso.
— Você... quem é você? — Ele disse, pausadamente.
— Bom... eu nem sei por onde começar... — Eu comecei a pensar em alguma coisa que pudesse me definir, mas nada veio a mente. Então resolvi contar a minha história.
Contei sobre o bordel, sobre a rua escura as duas da manhã, sobre o ser que começou a me seguir, sobre os olhos dele, sobre a mordida e por fim sobre a minha inconsciência e como eu havia acordado dentro de um caixão tempos depois. Naquela hora já estávamos sentados no sofá e ele escutava a minha história com atenção, não sei se ele havia acreditado nela, mas como eu já havia dito: não tinha muito a ser feito contra isso.
— Então... você acordou em um caixão... duzentos anos depois... — Ele parecia pensativo.
— É o que parece...
E em toda essa conversa ele não havia parado de me fitar, ele não parava de olhar para os meu olhos, como se tivesse alguma coisa importante neles.
— O que foi? — Perguntei.
— Os seu olhos... eles estão vermelhos... e pelo o que eu entendi você foi mordida por um vampiro, certo? — Ele parecia não acreditar na própria frase que saiu de seus lábios.
Mas foi ai que percebi o que ele queria dizer... os olhos vermelhos... eu tinha me tornado um vampiro... eu não teria mais contato com o sol... eu não sou mais humana... eu viveria por séculos e séculos... até o fim dos tempos... e isso me fez sorrir.
Provavelmente foi um dos sorrisos mais doentios que eu já havia dado em toda a minha existência, mas como não sorrir?? Qualquer humano daria tudo para ser imortal... e eu tinha isso... como não sorrir?
Talvez tenha sido só o meu subconsciente trabalhando na idéia do que eu havia me tornado e talvez tenha feito o meu olfato trabalhar nessa idéia também, porque até aquele momento eu não havia sentido o cheiro... o delicioso cheiro do sangue. Minhas papilas gustativas começaram a salivar e em poucos segundos, e sem a minha consciência estar funcionando corretamente, eu pulei em cima do albino e mordi o seu pescoço sugando todo o sangue que eu conseguisse. No começo ele se debateu, mas depois de algum tempo ele parou (como se ele estivesse sentindo o mesmo prazer que eu havia sentido quando fui mordida a séculos atrás) e foi nesse momento que eu o soltei e a culpa começou a me consumir, Ele estava ali inconsciente... eu não sabia o que fazer.... eu não sabia como ajuda-lo... até que alguém abriu a porta.
Era um homem de cabelos negros e olhos da mesma cor e que usava roupas parecidas com as do albino. Eu olhei pra ele desesperada e disse:
— Por favor me ajuda! ele não quer acordar!!
Ele olhou para o albino e viu como ele estava pálido (parecendo um doente) e correu para o sofá onde ele se encontrava. Ele começou a chacoalha-lo, vendo se isso o acordaria... não funcionou, ele olhou pra mim e gritou:
— Pega o telefone! rápido!!
— Ok — eu disse correndo em direção ao outro lado da sala — Mas... — Disse, dando meia volta para olha-lo novamente — O que é um telefone?