O ser humano tem medo do desconhecido,
O ser humano tem medo da morte,
Se todo aquele tempo que eu passei inconsciente foi uma experiencia de quase morte eu posso aliviar o seu medo e dizer que a morte é silenciosa, a morte é calma... você não precisa ter medo dela.
Você terá medo se acordar do sono da morte,
Você temerá se acordar dentro de um caixão de madeira,
O ser humano tem medo do desconhecido,
... Mas eu não sou mais humana...

Acordar dentro de um caixão não é a coisa mais agradável a se fazer, é assustador para ser sincera. Eu comecei a gritar por socorro, mas quem me escutaria? Eu estava a sete palmos abaixo da terra!
Eu permaneci ali o que pareceu séculos (mas deve ter sido poucas horas...) até que eu ouvi barulhos em cima do caixão, barulhos muito nítidos, alguém havia escavado a minha sepultura! Eu podia ouvir as vozes do lado de fora do caixão, eram dois garotos... deviam ser muito jovens pela voz infantil que cada um emitia, eles deviam ter uns doze anos, um deles disse:
— Isso me parece ser tão errado cara! não devíamos estar brincando com os mortos!
— Você está falando como a minha mãe — o outro respondeu — E além do mais, você não me disse que não tinha medo de nada?
— Eu não to com medo!! — Ele esbravejou — Eu só não acho que isso seja uma coisa correta a ser feita!
— Os mortos não fazem nada! pra que se importar? eles não vão sair andando mesmo!! — E foi nesse momento que o garoto abriu o caixão.
Os dois garoto olharam pra mim completamente assustados até que eu levantei do caixão e disse com um sorriso irônico:
— Concordo plenamente com o seu argumento, afinal — disse saindo do caixão e andando em direção a grama fria do cemitério — Os mortos não andam!
Os dois gritaram desesperados e começaram a correr em direção ao portão principal do cemitério e mesmo na situação em que eu me encontrava eu acabei rindo da cena.
Comecei a andar em direção ao portão do cemitério, eu sentia o ar fresco da noite e os meus pés brincavam com a grama verde e fria do mesmo. Eu estava me sentindo bem e completamente livre (claro depois de horas dentro de um caixão) e eu estava nessa plenitude até que eu sai da grama e entrei numa rua e nessa rua eu pude ver duas luzes brancas vindo em minha direção, depois de uns instantes eu pude identificar, um pouco, o que era aquilo. Parecia ser ma carroça feita de metal, mas... ela não tinha cavalos!!
COMO AQUILO ANDAVA SEM CAVALOS O PUXANDO?!!!
QUE TIPO DE MAGIA FAZIA CARROÇAS ANDAREM SEM CAVALOS?!!!
Eu estava assustada e encantada com aquilo, até que aquela "carroça" parou de repente e alguém saiu dela, era um homem albino e elegante... ele andou em minha direção e eu ainda contemplava aquela carroça magica, até que ele falou comigo:
— O que você está fazendo no meio da rua?! Você podia ter sido atropelada! E... — Ele parou o seu discurso bruscamente e começou a olhar em direção as minha vestimentas e foi ai que eu percebi que eu estava usando somente trapos velhos... eu estava praticamente nua!
Depois de poucos segundos olhando para mim mesma eu voltei a contemplar a carroça e disse para o homem:
— Como você conseguiu fazer essa carroça andar?? — Eu perguntei com admiração na voz.
— Como eu fiz "o que" andar??!! — Ele perguntou parecendo não entender o que eu quis dizer.
E uma tontura inesperada me atingiu e eu acabei desmaiando.
Depois do que pareceu para mim segundos (mas deve ter sido horas) eu acordei em baixos de lençóis quentes numa cama muito macia, comecei a olhar para os lados e percebi que eu não conhecia aquele ambiente... seria a casa do homem albino?
... E eu estava no quaro dele??!!
... Uma dama não faria uma coisa dessas (estar no quarto de um homem desconhecido), mas eu nunca dei muito valor no "O que um dama faria".