O despertar de Claire Connelly escrita por AnneFics


Capítulo 10
A criança sem nome


Notas iniciais do capítulo

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"Lysandre,

Eu estou com vontade de gritar, vontade de gritar o que fiz, vontade de dizer como me sinto. Eu não sinto orgulho do que fiz. Eu me sinto enojada, podre, a escória.
Eu matei.
Eu matei uma criança.
Uma garotinha.
Uma inocente e doce garotinha.
Eu sei que essa carta não chegara ao seu destinatário, eu sei que eu vou destruí-la assim que eu acabar de escrevê-la. Nada mudara entre nós. Você não saberá o que fiz, e eu não direi a você, mas eu precisava tanto contar isso a alguém.
Você pareceu a melhor escolha.
Tudo começou em uma noite como qualquer outra, eu estava faminta, os alimentos humanos não me saciavam como deveriam e o sangue me chamava, ele clamava o meu nome: "Claire, Claire, Claire!" e eu, como sua fiel serva, resolvi atender seu pedido. Eu sai pela janela do quarto branco e andei pelas ruas da cidade, um tanto vazias pelo horário, por horas até nenhuma alma, ou testemunha, estivesse nas ruas. Eu andei, andei, andei, até minhas pernas começarem a fraquejar e antes que minha mente começasse a desistir do meu objetivo eu senti o cheiro. Um cheiro doce, um cheiro viciante, um cheiro puro e jovem, esse cheiro clamava meu nome, e ele vinha de uma rua estreita e inerte, vida parecia não existir la, mas o cheiro e as vozes clamando o meu nome vinham de la com certeza.
Eu andava pela rua estreita e escura, mas uma coisa que eu descobri e que eu já tinha suposto, vampiros eram criaturas noturnas e minha visão estava melhor do que nunca. Eu era o predador ali, procurando uma presa indefesa, procurando sangue fresco, e eu havia encontrado. Ela aparentava ter seis anos de idade. Ela estava deitada em um papelão e um cobertor sujo e velho servia como abrigo do frio. Tão indefesa, tão impotente, cheirava tão bem. Eu me aproximei e ela, mesmo eu não tendo feito barulho, me ouviu.
— Quem? quem esta ai? — Sua voz soou no frio noturno.
Eu estava na frente dela, bem na frente dela, mas ela me procurava, como se de alguma forma eu estivesse invisível. Ela olhava para esquerda e para direita, mesmo os seus olhos parecendo não obter pupila. Ela tateava o vento procurando algum ser vivente e eu estava inerte como uma estatua, sem piscar ao menos uma vez, hipnotizada olhando pra ela. Ela era a presa.
— Quem esta ai? — Ela repetiu — Responda!
Sua voz me tirou do transe e de alguma forma eu respondi ao seu chamado.
— Claire. Meu nome é Claire.
Ela sorriu. Ela estava feliz por eu estar ali, que grande erro de sua parte.
— Você pode chegar mais perto? eu não enxergo.
Eu me agachei ficando de joelhos no chão frio. Eu estava um pouco maior que ela, mas já era o suficiente. Os seus pequeninos dedos chegaram ao meu rosto, sem precisar tatear a escuridão, e começou a percorre-lo com delicadeza. Ela conhecia perfeitamente o meu rosto sem precisar enxerga-lo.
— Você é muito bonita. — Ela disse sorrindo.
— Quem é você garotinha? porque você está aqui sozinha?
Uma lagrima brotou do seu olho esquerdo , mas ela o limpou rapidamente.
— Eu não sei. Minha mãe me trouxe aqui... disse que voltaria, mas... — As lagrimas recomeçaram.
— Ela não voltou, não é? — Utilizei a capa negra para limpar suas lagrimas.
Um pequeno sorriso brotou de seus lábios.
— Mas ela vai voltar. Eu sei que vai... ela não me deixaria aqui... porque ela me deixaria aqui? — As lagrimas não paravam.
— Eu não sei...
O cheiro de sangue impregnava o local de uma maneira incontrolável. Eu levantei um pouco o cobertor da garotinha e a cena que eu vi me chocou.
Suas pernas...
Estavam destruídas...
Parecia que elas haviam levado facadas. De que família essa garota pertencia? Quem havia feito isso a ela? Quem seria tão cruel de machucar uma criança?
Ver aquele sangue despertou o lado mais cruel de mim, o lado que não pertencia a antiga Claire, um lado que foi me dado pelo ser noturno a tempos atrás. Meus dedos tocaram a perna ensanguentada e em seguida foram em direção a boca. Eu lambi meus dedos sentindo o sangue da garota, o paladar. Eu não me orgulho disso Lysandre, eu sinto nojo agora do que eu fiz, agora que o corpo da garotinha esta morto em meus braços... Mas eu não fui cruel, não como os pais dela foram... eu lhe dei uma saída, uma saída da dor e da humilhação em que essa garota, sem lar e sem amor, estava passando. Não foi tão cruel. E eu a amei pelo pouco tempo que a conheci.
Ela gemeu de dor só por eu ter encostado em sua perna.
— Eu quero que a dor pare — Ela disse em meio a soluços — Eu só quero que pare.
— Eu posso acabar com a sua dor — Lagrimas involuntárias escoriam dos meus olhos, eu não queria matá-la, mas a fome era tanta — Você nunca mais vai sentir dor, eu prometo, você só tem que consentir.
— Faça. Eu só não quero sentir dor...
E ela fechou os olhos, como se soubesse que ali era o fim.
Eu tirei os fios de cabelo castanhos que me impediam de ver o pescoço pálido e liso a minha frente. Meu rosto se aproximou até os meu lábios chegarem a centímetros da pele. As presas saíram. Eu suguei o seu sangue até não restar uma gota. O no fim de tudo eu ainda vi um sorriso brotar de seus lábios sem vida.
Eu estou escrevendo essa carta segurando a garotinha inconsciente em meus braços, sentada no papelão frio. O papel é fino e velho e o lápis minusculo. A letra ilegível. A culpa insuportável.
Mas você não saberá,
Eu vou sorrir quando olhar pra você,
Eu vou rir de suas piadas,
Eu vou estudar na sua escola,
Uma garota normal de 16 anos,
Com um segredo oculto que você jamais saberá, ninguém saberá.

Da sua,
Claire Connelly."

Havia fogo em um latão de lixo perto dali, eu caminhei e joguei a carta entre as chamas.
Eu serei a mesma brincalhona, boba e engraçada Claire Connelly pra você e pra todos ao meu redor. Isso não vai mudar.
Eu andei pelas ruas escuras de volta ao meu lar.
Minha caçada havia terminado.


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