Entre Margaridas e Centaureas escrita por march dammes


Capítulo 1
Flores, um irmão enxerido e um austríaco na TPM


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...essa é minha primeira fanfic de GerIta, mas é tão meu otp que espero que esteja fazendo direito ♥Avisem se ficar OOC!



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Entre Margaridas e Centaureas

Flores, um irmão enxerido e um austríaco na TPM

Terno, checado. Cabelo bem alinhado, checado. Flores, checado.

Feliciano ergueu os olhos cor de âmbar, espiando o horário no relógio analógico na parede do restaurante francês. Faltavam cinco minutos para uma da tarde, ele estava adiantado. Voltou a baixar o rosto para a mesa onde se sentara, com lugar para duas pessoas. À sua frente, o menu intocado, o guardanapo meticulosamente bordado com a bandeira da França e um pequeno buquê de centaureas, bem-arrumado pelas delicadas mãos de Elizaveta, a húngara que gerenciava uma loja de flores perto de sua casa. O italiano a adorava; quando era criança, havia sido cuidado pela mulher – na época, apenas uma mocinha – e por seu atual marido, Roderich, um músico bem-sucedido. Eles não se tratavam como marido e mulher, na verdade, pois as famílias os haviam casado por puro interesse; mas bem, Feliciano os amava de qualquer jeito.

O italiano olhou ao redor, procurando um rosto conhecido. Foi encontrá-lo a algumas mesas de distância: Feliks, um grande amigo de infância seu. Sorriu e lhe acenou, e o loiro retribuiu o cumprimento, logo voltando a se esconder atrás do cardápio. Feliciano suspirou com alívio. Chamara o polonês para lhe fazer companhia durante o encontro que marcara naquele restaurante, pois estava extremamente nervoso. Não que achasse que o homem que veria fosse fazer algo maldoso com ele, mas gostava de ter um “guarda-costas”...só para garantir.

O coração do homem acelerou-se ao pensar nele. Ludwig, o alemão duro por fora, porém doce por dentro, amante de cães de quem todos sentiam medo, menos Feliciano e seu irmão, o albino Gilbert. O italiano idolatrava Ludwig desde criança. Naquela época, a qual o alemão viva se esquecendo, eles haviam frequentado a escolinha juntos, e o italiano adorava ensiná-lo a desenhar e pintar.

Feliciano soltou uma risadinha inconsciente ao se lembrar de como Ludwig ficava frustrado quando ele caçoava que seu coelho parecia uma alpaca. Seu sorriso cativante acabou atraindo o dono do estabelecimento, um francês galanteador e sempre bem-humorado – menos quando se tratava de ingleses, como é de praxe.

–Por que sorri tanto, mon ami? –ele se aproximou, limpando as mãos no avental. Feliciano se virou para ele e alargou o sorriso, cumprimentando-o:

–Ah, Francis! Estou apenas relembrando o passado, nada demais...divagações. –ele coçou a nuca, sem-graça.

–Humm, eu conheço esse olhar, Feli. Estava pensando no alemão, não estava? Qual é mesmo seu nome?

–Ludwig –ele suspirou ao pronunciar o nome do amado- Estou tão apaixonado por ele, Francis! Chega a ser ridículo. –baixou o olhar para a mesa, encabulado- Nunca me senti assim por nenhuma garota bonita antes, me pergunto se é grave.

–Ora, não se preocupe com isto –Francis sentou-se na cadeira à sua frente, sorrindo, acalentador- Ele aceitou seu convite para vir aqui hoje, não aceitou? E tenho certeza que não foi apenas por educação; ele gosta de você, mon chère. Dá pra ver pelo jeito que ele te olha...meu paixômetro não falha! –garantiu, estalando os dedos e arrancando uma risada adorável do italiano.

–Estou confiando em você, então. –ele disse. Pareceu querer comentar algo mais, mas foi interrompido pelo som de sino produzido pela porta do estabelecimento. Tanto ele quanto Francis se viraram para olhar, e conseguiram avistar o cliente que entrava. Era um inglês emburrado, conhecido pelos livros famosos de mistério que escrevia, e também por sua má-vontade constante. O loiro olhou em volta e grunhiu em desgosto, como se tudo naquele lugar o deixasse desconfortável. Ora, pensou Feliciano, se estava tão incomodado, por que continuava voltando todos os finais de semana, sem falta?

Francis deve ter pensado a mesma coisa, pois resmungou. Isso acabou por atrair o inglês de olhos verdes, que se aproximou da mesa e cruzou os braços.

–Acho que você não tem o tempo para ficar vadiando, Francis. –ele provocou ao chegar perto o bastante, fazendo uma carranca. Pronunciara seu nome com quase repulsa, e o francês devolveu na mesma moeda, com um sorrisinho venenoso:

–Sua gentileza é comovente, Arthur. Como vai nessa tarde de sol?

–Com fome –ele respondeu- Pode me ver uma mesa para um, ou vai ficar aí fazendo corpo-mole?

–Para um, como sempre, não é? –ele se levantou- Você nunca traz ninguém, é mesmo desagradável demais para ter acompanhantes.

–Ora, seu...! –Arthur o agarrou pela gola da camisa social e ergueu o outro punho, prestes a lhe acertar um soco, mas o francês apenas sorriu, derretido. Feliciano decidiu intervir, sacudindo as mãos e implorando para que não brigassem. Tocado pela vozinha chorosa do italiano, de alguma maneira, o inglês limitou-se a suspirar e soltar o francês, dizendo em voz baixa:

–Uma mesa para um, por favor.

Francis arrumou a gola e sorriu com deboche:

–Oh, Artie, você fica tão mignon com o rosto corado! –o inglês ergueu os olhos cheios de fúria, mas Francis evitou a briga ao puxá-lo pela mão- Venha, vou te levar até sua mesa. Nos vemos depois, Feli, e boa sorte com seu encontro!

Eles se afastaram, e Feliciano se despediu, rindo. Nunca entenderia o relacionamento daqueles dois.

*

Passaram-se cinco, dez, quinze minutos, e Feliciano começava a ficar aflito. Onde estava Ludwig? Eles haviam marcado para uma da tarde, e já se passava quase meia hora do horário combinado! Com uma expressão desolada, o italiano apoiava o rosto na mão direita e o cotovelo na mesa, enquanto mexia nas flores que já murchavam com sua mão esquerda. A cada minuto olhava o relógio na parede, impaciente. Do outro lado do salão, Feliks o encarava, entristecido. Lhe partia o coração ver o amigo daquele jeito, onde raios estava o alemão? Ah, mas ele iria ouvir poucas e boas se não viesse, com certeza...!

Os pensamentos assassinos do polonês foram interrompidos pelo ranger e sineta da porta da frente. Ele viu Feliciano rapidamente erguer o olhar, uma faísca de esperança se acendendo dentro de si. Tal foi alimentada por sua visão, e logo uma chama se alastrava pelo peito do homem: sim, era Ludwig quem entrava! Os cabelos louros como cevada perfeitamente arrumados para trás, o terno negro contrastando com seus olhos profundamente azuis, e nas mãos fortes, um buquê de margaridas que lhe davam um toque especial. O italiano não foi o único a se derreter diante da imagem do alemão, que para ele, era como um deus: todas as garotas no estabelecimento suspiraram sonhadoras, até mesmo as que se encontravam acompanhadas.

O italiano se levantou e sorriu, esperando que Ludwig o visse. Assim que seus olhos se encontraram, o alemão enrubesceu. Limpou a garganta e começou a se aproximar, e foi como se o tempo parasse e, naquele momento, só os dois existissem...

Mas alegria de pobre dura pouco. Atrás de Ludwig, surgiu um segundo homem, menos arrumado e com os cabelos platinados apontando em todas as direções.

–Hey, Feli! –ele chamou o italiano, se apoiando no alemão, rindo alto e escandaloso. Era Gilbert, o irmão albino.

Foi como se Feliciano despencasse do céu de repente. Ele sentiu seu mundo cair, seu sorriso se apagar, e todas as suas chances de se declarar para o alemão irem para o ralo.

–....ah. Gilbert. Que surpresa. –ele o cumprimentou quando os irmãos se aproximaram, e forçou um sorriso simpático- Não sabia que vinha.

–Nem eu –completou Ludwig, pigarreando- Boa tarde, Felichen. Desculpe pela demora, eu...trouxe flores para você. –lhe estendeu o buquê de margaridas e desviou o olhar. Extremamente vermelho, o italianinho aceitou as flores e sorriu com honestidade.

–Obrigado, Lud! Eu também trouxe flores, isso não é engraçado? –ele deu uma risada breve, pegando o buquê de centaureas sobre a mesa e entregando a um alemão surpreso.

–Oh, elas...são lindas. –elogiou Ludwig.

–E combinam com seus olhos azuis –completou Feliciano, sorrindo.

Os dois enrubesceram e desviaram o olhar. O clima ficou comicamente estranho por um segundo, e quem quebrou tal atmosfera foi Gilbert e sua risada perturbadora.

–Vocês dois estão parecendo morangos, de tão vermelhos! –ele provocou- Então, vamos nos sentar?

–Ah, claro –Feliciano concordou- Mas, hum...eu reservei uma mesa para duas pessoas, não sabia que você vinha, Gilbo... –baixou o olhar, constrangido.

–Bem, isso não é problema! –o albino sorriu- Francis!

O francês, que no momento tinha uma discussão acalorada com Arthur sobre a pronúncia de um dos pratos do cardápio, se aproximou rapidamente.

–Gilbert! –ele sorriu ao amigo- Que te traz aqui?

–Vim acompanhar meu brüder em seu encontro romântico –ele deu uma risada que deixou Ludwig incomodado- Mas veja que situação, a mesa não é para três. Pode nos quebrar esse galho, Fran-fran?

O francês franziu a testa, parecendo estranhar a atitude de seu amigo dos olhos vermelhos. Uma sombra passou por seu rosto, mas ele logo voltou a sorrir afavelmente.

–Claro, sem problemas –disse, e chamou-os com o dedo- Por aqui.

Feliciano tratou de pegar seu buquê, e seguiu Francis até uma mesa com quatro lugares e que se encontrava perto da janela. Era um bom lugar para se apreciar um almoço, mas o italiano sentiu uma dor no peito ao lembrar-se que não estaria sozinho com Ludwig nela.

–Podem se instalar aqui –o francês disse, gentil- E se precisarem de mais alguma coisa, é só dizer. –ele entregou três cardápios quando o grupo se sentou, e voltou para a mesa do inglês, decidido a vencer a discussão que estavam tendo.

Feliciano suspirou e abriu o cardápio, se virando para Ludwig, sorrindo singelamente:

–Já faz alguma ideia do que vai querer, Lud? –perguntou. O alemão corou por alguma razão e murmurou:

–Não...esse menu é todo em francês, eu não entendo uma palavra sequer.

O italiano riu, e apontou para uma palavra no cardápio aberto:

–Ah, não é tão difícil, veja. Carrafe d’eau –pronunciou, em um francês quase perfeito- Garrafa d’água.

–Não sabia que falava francês –o alemão comentou, impressionado.

–Francis me ensinou algumas coisas –ele sorriu.

–Feli, você é mesmo multiuso! –o albino interviu- Fala italiano, francês, cozinha, limpa...pode até se casar, não é, Luddy? O que acha do Feli ser sua noivinha? KESESESE!

O alemão loiro deu um tapa na própria testa, envergonhado. A piada de seu irmão mais velho chegou a deixar Feliciano desconfortável, e um silêncio pesado pairou sobre os dois.

Quando começava a desejar ir embora, o italiano ouviu uma voz aguda bem familiar gritar um “Gilbo!” animado. Ele ergueu o olhar, a tempo de ver um polonês sorridente se aproximando da mesa deles. Suspirou, obrigado, Feliks!, pensou ele. O albino pareceu assustado com a figura de saia quadriculada lhe sorrindo como se fosse um velho amigo.

–Quem é você? –indagou, confuso.

–Feliks, não lembra? –o loiro fez um beicinho contrariado. Feliciano se lembrava bem de quando todos os quatro estudaram juntos; o polonês sempre tivera uma quedinha por Gilbert, mas nunca conseguiu se declarar por conta da timidez extrema.

O albino, por sua vez, franziu a testa em um esforço para se lembrar, e depois de alguns segundos queimando os miolos, estalou os dedos e seu rosto se iluminou:

– É mesmo, há quanto tempo! Você está mudado, ficou mais bonito... –ele sorriu. Feliciano observou o rosto do amigo polonês passar de rosa para branco, e depois para vermelho, e cada vez mais forte, até ficar roxo de vergonha.

–V-você acha mesmo?! –ele exclamou, tocando as bochechas ardentes. Gilbert soltou uma risada escandalosa.

–Acho, claro! Você está bem diferente desde o colegial, apesar de que seu senso de moda parece continuar o mesmo. –ele olhou Feliks de cima a baixo, e o polonês sorriu amavelmente.

–Aaah, tipo, é claro, né? Eu tenho um senso de moda incrível, e aprendi mooontes na faculdade, já contei que me formei em design? –ele se sentou, parecendo esquecer completamente que estava ali para vigiar Feliciano e Ludwig apenas de longe- Pois é, me formei em design, e a faculdade foi uma época muito boa, e eu fiz muitas amigas, e até estou pensando em criar uma grife, sabe? Só encontrar meninos é que é raro nesse ramo, tudo muito feio, eu era o único lá com um pouco de fabulosidade...

E o polonês desatou a falar sobre si. Gilbert começou então a falar com ele ao mesmo tempo, e Feliciano se sentiu no meio de uma disputa de quem era mais egocêntrico. Começava a ficar tonto com tantos “eu” em frases tão curtas.

–L-Luddy –ele puxou de leve a manga do alemão- Eu não estou gostando disso...

Muito menos o homem estava. Tremendo de irritação, ele pousou as mãos na mesa, fazendo um estrondo.

–Chega. –ordenou, e tanto Feliks quanto Gilbert se calaram, olhando para ele assustado.

–Ah! Er... –o polonês gaguejou, se levantando- Eu acho que já vou, gente, olha só a hora, tenho manicure em quinze minutos! –mentiu- Tchau Feli, Ludwig, Gilbo. A gente se vê qualquer dia! –e tratou de se afastar, quase correndo para fora do restaurante.

A atmosfera tensa voltou a se propagar na mesa dos dois alemães e do italiano. Os irmãos trocavam olhares assassinos, um julgando o outro silenciosamente, e Feliciano tremia da cabeça aos pés, se sentindo no fogo cruzado.

–Hum, então... –ele tocou o ombro de Ludwig de leve, e o alemão se virou para ele- Vamos pedir...? Han...

–Ah. Claro. –Ludwig suspirou e segurou a mão livre do italiano, fazendo-lhe um carinho- Me desculpe, Felichen.

–S-sem problemas –ele sorriu bobamente, corando. Pelo canto do olho, viu Gilbert fingir uma ânsia de vômito e soltou o alemão.

O almoço ocorreu sem maiores acidentes, depois disso. Eles conversaram quase normalmente, Feliciano tentando manter um diálogo sem interrupções com Ludwig, enquanto Gilbert ria alto e expunha alguns podres do irmão para um italiano incomodado.

Na hora de pagar a conta, Ludwig insistiu em fazê-lo, mesmo que Feliciano houvesse o convidado para comer. Eles recolheram suas coisas e, depois de despedirem-se de Francis – que no momento, era esganado por um Arthur furioso -, rumaram para fora do restaurante. Na porta, porém, acabaram por encontrar com Roderich, que entrava acompanhado da esposa.

–Feliciano! –exclamou a húngara, afogando o mais novo em um abraço de quebrar os ossos.

–Elizaveta! -ofegou o italiano em resposta, sendo erguido do chão- Como vão as-AI, coisas?

–Muito bem, obrigada –ela sorriu, soltando o menor e cumprimentando os irmãos alemães. Sorriu ao perceber os buquês que Ludwig e Feliciano levavam, e disse, travessa- Ah, minhas flores foram de alguma ajuda, enfim? Esses arranjos ficaram bonitos, não? Usei um papel de seda apenas para ocasiões especiais, já sabia os destinatários mesmo que vocês não tivessem me dito. –e riu, divertida.

–O quê?! –Feliciano arregalou os olhos dourados- Liz, você vendeu um buquê das minhas flores preferidas pro Lud, e não me disse nada?

–Ah, Feli, isso estragaria a surpresa –ela disse- E ele nem sabia que flores te dar, estava mais perdido que uma toupeira na minha floricultura...eu que o fiz escolher as margaridas, pois assim que ele pediu flores para entregar no sábado, eu sabia que eram para você.

Tanto o italiano quanto o alemão enrubesceram e trocaram um olhar encabulado. Era como se todos os seus amigos fizessem de tudo para que ficassem juntos!

–Mas ah...olá, Roderich –Feliciano olhou sobre o ombro de Elizaveta, para o austríaco que parecia ter a mente a vagar por mundos fantasiosos- Como vai?

–Hum, muito bem, Feliciano –ele ajeitou os óculos e o encarou- E você também, pelo visto.

–Com certeza –sorriu ele- Tem escrito músicas novas?

–Não. Estou sofrendo de um bloqueio criativo, até mesmo sinto vontade de me aposentar...

–Oh, não faça isso! –o albino interrompeu- Não podemos viver sem suas músicas, Rod! Mesmo que sejam uma droga, elas completam o mundo!

–Uma droga? –o aristocrata corou, irritado- Olha quem fala, alemão do nariz empinado!

–Ai, lá vamos nós de novo –Elizaveta revirou os olhos- Lud, Feli, acho melhor deixarem o Gilbert aqui, porque algo me diz que ele vai demorar. –ela disse, espiando o marido e o alemão, que trocavam alfinetadas gritadas. Feliciano suspirou, pesaroso, o que tinha feito para merecer tal confusão? E aquele era para ser um dia tão especial...

–Tudo bem –disse Ludwig, de repente- Vamos, Felichen, vou te levar até em casa, e volto para apartar a briga depois. Com certeza vai durar até eu voltar –disse, levemente irritado pelos modos do irmão mais velho.

–Ah...certo, então. Foi bom te ver, Liz. Mande meu tchau para o Roderich quando ele parar de brigar –o italiano sorriu e acenou para a húngara, enquanto saía do restaurante acompanhado do alemão.

Andou em silêncio ao seu lado até que os gritos do austríaco e de Gilbert ficassem para trás. Então, suspirou, comentando:

–Mas que confusão...

–De fato –concordou Ludwig- Me desculpe por tudo, Feliciano. Eu queria poder aproveitar esse dia exclusivamente ao seu lado... –o italiano sentiu seu rosto arder- ...mas o Gilbert insistiu em vir.

–Ah! S-sem problemas –coçou a nuca. Um silêncio pairou sobre eles, e Feliciano foi rompê-lo, com uma porposta tímida- Humm, Lud? Podemos... –tossiu- Podemos dar as mãos?

O alemão o encarou envergonhado e chocado por alguns segundos.

–....Oh. Podemos. –e lhe ofereceu a mão. Feliciano entrelaçou seus dedos, sorrindo sonhadoramente, e foi como se o coração tentasse saltar para fora do peito. A mão do alemão era estranhamente fria, e ele fez questão de comentar o fato:

–Haha, Lud...sua mão é gelada!

O alemão desviou o olhar, com um sorrisinho mínimo dançando nos lábios.

–Dizem que quando a mão é fria, o coração é quente –comentou, como quem não quer nada. Feliciano comprimiu os lábios. Oh Deus, ele era tão fofo!

No caminho para a casa onde o italiano morava com o irmão, conversaram sobre o tempo, sobre política, economia, seus colegas do colegial, sobre tudo e sobre nada. Simplesmente, aproveitaram a companhia um do outro nos curtos dez minutos de caminhada, rindo sem se conter e trocando olhares expressivos. E aqueles poucos minutos foram tão agradáveis para Feliciano, que ele chegou a lamentar-se ao alcançarem a porta de sua casa.

–Bem...fico aqui –ele disse, soltando a mão do mais velho a contragosto- Obrigado por hoje, Ludwig. Apesar de tudo. –lhe sorriu.

O alemão sentiu o rosto corar e o coração ribombar no peito, mas se limitou a tossir, escondendo a boca, para disfarçar o embaraço, e murmurar um “não tem de quê”.

–Hum... –fez o italiano, ajeitando uma mecha rebelde dos cabelos castanhos para trás da orelha- Você quer...jantar aqui em casa na semana que vem? Não vou ter dias de folga, mas saio mais cedo no sábado, podemos nos encontrar...às sete? Aqui mesmo?

O alemão ergueu as sobrancelhas, surpreso. Mesmo depois de tantas decepções, Feliciano ainda queria sair com ele?

–Ah! –ele pigarreou, tentando manter a animação dentro de si- Com prazer. Às...sete, então. Vai precisar que eu traga alguma coisa?

–Talvez um vinho, seria bom –ele sorriu- Os chilenos são deliciosos.

–Vinho chileno, então muito bem –Ludwig concluiu, pragmático.

–Bem... –o italiano desviou o olhar por um momento, e suspirou- Posso só...pedir uma última coisa?

O alemão se aproximou um passo:

–Diga.

Feliciano corou, e forçou-se a encarar as duas safiras no rosto do alemão. Como ele era belo! Parecia alguma figura divina, um anjo nos quadros italianos renacentistas. O homem sentiu-se derreter por dentro com a visão daqueles olhos profundamente azuis, e mal conseguiu dizer:

–Eu queria pedir...hum...um b-beijo de despedida? Per favore...?

Ludwig estagnou no lugar. Seu coração começou a bater desenfreado, ele realmente estava pedindo aquilo? O alemão engoliu em seco, e obrigou-se a não pensar em nada; em vez disso, apenas segurou o rosto do menor entre suas mãos grandes e sem pressa, aproximou-se, até que finalmente tomou os lábios do italiano para si.

O beijo foi lento. Os lábios dos dois apenas comprimiam-se um contra o outro, pois ambos estavam nervosos demais para aprofundá-lo. Mas de todo jeito, foi mágico. Feliciano sentiu uma certa nostalgia, como se já houvesse beijado aquela boca antes...mas como? Se lembrava de cada detalhe de sua infância ao lado de Ludwig, e por mais que tentasse, não se recordava de nenhum beijo.

Ao se separarem, o italiano abriu os olhos devagar. Desde quando estava segurando os pulsos do alemão, não sabia. Nem queria saber.

Eles trocaram um sorriso de aquecer o coração, e ao mesmo tempo, se afastaram.

–Boa noite, Ludwig –o italiano se despediu, colocando a chave na porta de madeira de lei e a girando.

–Boa noite, Feliciano.

E assim, se separaram. O alemão permaneceu ainda um tempo a encarar a porta da casa, tocando os lábios com as pontas dos dedos, enquanto lá dentro, o italiano efetuava o mesmo ato, encostado na porta.

E ao mesmo tempo, embora sem poder ver, eles sorriram.

E ao mesmo tempo, pronunciaram as mesma palavras, em línguas distintas:

–Ich liebe dich.

–Ti amo.

Eu amo você”.


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Notas finais do capítulo

Então? Deixem reviews!Ainda pretendo escrever um FrUK, um Spamano e um SuFin nesse mesmo universo, então...fiquem ligados!Beijos de gloss~



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