Sétimo Segredo escrita por Nixe


Capítulo 1
Prólogo: Lembranças, mudanças




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“Nostalgia” seria o nome dado àquele momento. Pelo menos, o nome que eu daria, pois momentos como aquele ficariam guardados para sempre na memória. Havíamos feito uma festa social na casa da árvore, localizada no canto mais isolado da vizinhança. Muitos amigos partiriam, outros chegariam e metade (ou nem isso) permaneceria. Alguns foram feitos na escola, outros, por aí simplesmente. A animação chegava ao fim, já era quase meia-noite e a maioria já havia voltado para casa. Eu segurava um copo de suco de limão, sentada em um pufe verde claro. Lembro que não sentia sono e observava, apesar de não estar tão claro, todo movimento. As pessoas se dividiam em grupos: Ou jogavam baralho ou estavam reservados em grupo, conversando.

A partir daquele momento, começávamos a pensar no dia depois de amanhã, pois as aulas recomeçariam depois de mais ou menos três meses de férias. Vi Alicia sair de um dos grupos e me oferecer um doce. Neguei, mas pedi que se sentasse ao meu lado. Era uma daquelas amigas companheiras e conselheiras. Ela seria uma a permanecer conosco durante o resto do ano, mas depois voltaria à terra natal. Descansei o copo na prateleira e fitei o céu sem estrelas por alguns poucos segundos. Nunca havia me dado conta de que certas mudanças, leves ou bruscas, estariam acontecendo dali a pouco. Até mesmo a estação estava em fase de transição.

Meu corpo se aprofundou no pufe. De repente me vieram muitas lembranças do que havíamos feito durante o dia: A principal atividade fora visitar um velho prédio abandonado, cujas barras metálicas já estavam oscilantes. Não havia porta de entrada, a parede da frente inexistia. Chegávamos a pensar na hipótese de que alguém havia mandado desconstituí-lo aos poucos. Brincávamos nele de pique-esconde, interpretávamos personagens inventados e tentávamos descobrir entradas secretas. Entre outros, é claro. Havia várias portas, mas quase todas trancadas. As que não estavam davam para banheiros.

Mas tínhamos combinado de um dia encontrar as chaves e descobrir o que havia lá dentro. Elas haviam de estar escondidas em algum lugar, nem que tivessem sido enterradas! O barulho de objetos se mexendo, como sacolas e papéis arrastando no chão e o que parecia ser água de encanamento antigo ainda fluindo dava certo medo e criava um clima de suspense. Todos nós hesitávamos de vez em quando. O teto era exageradamente alto e as luzes eram tubos enfileirados num arranjo horizontal, fracas, que oscilavam o tempo todo, às vezes soltando faíscas. Saímos de lá depois de ouvirmos um barulho maior e tremermos de medo.

Depois disso, havíamos ido ao parque principal e ficamos rondando até quase não haver mais assunto. Então, resolvemos fazer uma corrida e decidimos que quem chegasse primeiro em frente aos bebedouros teria o direito de escolher a próxima atividade. Nisso, eu ganhei e minha vitória resultou na festa.

Tomei mais um gole do suco após trazer todas as lembranças à tona. Não... Eu imaginava que tomava. Senti as mãos de Alicia contra o meu ombro, ela tentava me conter do meu estado sonolento. Eu estava quase caindo sobre a madeira, senti-me envergonhada e me endireitei. Perguntei sobre o que falávamos e continuamos - eu bem sabia que estava forçando a atenção, mas não liguei. Acabei partindo para um pensamento paralelo à conversa por causa do cansaço que começava a me dominar.

Talvez um dia toda a calmaria pudesse romper-se, imaginava eu. Não sei muito sobre o que há de secreto nas coisas; geralmente tudo é discutido, mas nada me impedia de deixar surgir um fio de preocupação. Mas não queria pensar nisso. A turma sorria pra mim e eu sorria de volta, acho que é só do que eu precisava.

Quando estava prestes a dirigir mais palavras à Alicia, vi que todos se levantavam para se despedir de mim. Acho que havia filosofado mais do que o necessário... Logo, fiz o mesmo e nós descemos pela escada de cipós untados da casa.

Tratei de pegar meus patins deixados embaixo da árvore e segui acompanhando meus vizinhos até suas casas. Para quem morava mais longe, dei apenas um aceno de mão. Alicia acenou para mim depois que eu abri a porta da minha casa e amarrei as cordas dos patins no gancho ao lado. Ia dar meia-volta, mas hesitou quando percebeu num detalhe e foi logo comentando: Disse que meus patins estavam enlameados e acabariam manchando o tapete de dentro. Eu agradeci e, então, ela se foi.

Olhei outra vez para o céu, seco e monocromático. Pensei que me viria um turbilhão de pensamentos filosóficos na hora, mas não; ou se vieram, trataram de resumir-se. O céu me passava uma única mensagem, para eu fixar para sempre: Festas sociais são a melhor coisa que você pode fazer quando seu mundo está prestas a desabar.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas se a história tiver passado um ar muito inocente. O contexto é mais sério e profundo, porém a história é narrada por uma garota de 15 anos (que completará 16 no primeiro capítulo). Por isso, peço a paciência de vocês. A medida que eu for desenvolvendo a história, ela vai se tornar cada vez mais séria e dramática.

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