Despedaçada escrita por GiGihh


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Esse é definitivamente o último cap... achei ele muito adorável e não foi exatamente por Thaluke, hehehe ;)



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Capítulo dezenove

O sol nascia no horizonte com todo o seu esplendor, tingido o céu antes escuro em tons vivos e quentes. O dia já prometia ser cáustico e típico de verão. Enquanto os semideuses e Caçadoras das últimas profecias descansavam ainda no Mundo Inferior, o Traidor acordava tendo nos braços o calor do corpo nu da única pessoa a qual realmente amara sem limites. Sorriu inconsciente enquanto deixava seus dedos deslizarem pelo braço da moça e sentia o coração dela bater no mesmo ritmo que o seu, sendo impossível distinguir qual era de cada um. Há anos que Castellan sonhava em poder acordar tendo protegido-a em seus braços, sentindo sua respiração serena... Era o sonho mais bonito que ele já tivera. O primeiro sonho bonito a se concretizar.

E o último... Até o próximo pôr do sol... Só tinha mais aquele dia de vida. Só mais algumas horas com seu amor e mesmo assim não se sentia triste. Ela estava viva, estava bem e para ele isso bastava.

O movimento dela chamou sua atenção, forçando-o a voltar para a realidade do momento. Os cílios grossos tremularam e então se abriram lentamente. Quando a moça vislumbrou o rosto do amado e sentiu o peito dele firme contra o seu, sorriu verdadeiramente como há anos não fazia. Fechou os olhos mais uma vez e se apertou contra ele enquanto Luke envolvia os braços ao redor dela. Ele estava inebriado, absorvendo o perfume dos cabelos dela e Thalia o sentia cada vez mais real com o cheiro de grama e suor na pele do amado. Era um cheiro sempre típico dele que vivera lutando e treinando e caindo por aí.

Pensei que fosse um sonho confidenciou ele.

Se for, eu me nego acordar. ela sussurrou de volta.

Trocaram um beijo suave e vestiram-se. Á pedido de Thalia, Luke cortara o vestido deixando-o na altura das coxas da menina; não estragara o vestido, deixara-o apenas mais curto e no estilo dela. Ela não tinha qualquer vontade de voltar a calçar os saltos ou colocar a tiara/coroa na cabeça. Luke gentilmente guardou os sapatos dela em sua mochila e dividiram juntos o restava da água no cantil. Ele a trouxe para mais perto de si e prendeu os lábios dela com os seus em um beijo suave e apaixonado, então, vagarosamente colocou a tira feita a mando de Zeus nos cabelos da menina. Parecia uma princesa moderna, ou melhor, uma debutante que fugira com o namorado depois da festa. Deram as mãos e foram descendo a colina sem pressa para chegarem então a avenida.

Era como os velhos tempos. Os dois sozinhos, infinitamente apaixonados, de mãos dadas percorrendo sempre presa o caminho à frente, seguindo pelo acostamento em direção a grande NY.



No Olimpo a alegria era contagiante. Diversas musas e deuses menores trabalhavam na festa que celebraria a vida da filha de Zeus. Então era de se esperar que naquela agitação não se sentisse nem notasse o sumiço de uma deusa em especial.

Apolo atravessava os caminhos de mármore branco e sorria para aqueles que lhe sorriam. Quando chegou a frente ao templo da irmã temeu entrar, mas precisava vê-la. Percorreu todo o interior, todos os quartos e nada daquela que preenchia seu coração. Então descobriu uma portinha discreta a qual não havia notado antes; dava para um jardim bonito e isolado. A primeira coisa que notou foi a grama verdinha e as flores que subiam altas sobre os caules, pareciam círculos perfeitos em tons de lilases, mas era indescritível a pureza e perfeição, a delicadeza de cada pequena pétala; um pequeno córrego cortava o jardim. O deus sorriu ao vê-la ali, sentada na margem, o pé deslizando sobre a superfície incolor das águas calmas, a cascata de cachos ruivos que caiam em suas costas encobrindo o vestido branco.

Andou até ela e se sentou a seu lado. Ártemis não deu qualquer sinal de ter notado a presença do irmão; ainda conservava a idade de 17 para fascínio do deus do sol: Apolo quase nunca conseguia refrear o desejo que sentia pela irmã e vê-la naquela idade...

Você foi embora sem se quer me avisar ele lamentou olhando para frente, para as águas, para aquele pezinho delicado que ali brincava. Lembrava-se de adormecer tendo a irmã em seus braços e estando nos ela ao mesmo tempo, mas lamentava ter acordado sozinho.

E o que você queria que eu dissesse ao sair? a voz saiu baixa e fria.

Era lamentável: eram gêmeos; eram opostos. Apolo sempre alegre, sempre jovial, sempre quente. Ártemis sempre distante, sempre madura, sempre fria. Aquilo os atraía. Aquilo os separava.

Eu odeio quando você me afasta, Artie reclamou Apolo; a dor em sua voz desarmou a irmã que discretamente mordiscou os lábios rosados Não precisava dizer nada, mas podia ter ficado comigo.

Apolo... suspirou ela incapaz de formular qualquer frase. Ela estava cansada, era dia, era o tempo dele e não dela, e mesmo assim ele conseguia deixá-la ansiosa por mais.

Eu sei que seu maldito juramento te afasta da companhia dos homens, mas... a raiva e o ódio que ele sentia em relação aos votos de castidade da irmã foi sentida e evidente: o sol brilhou com mais força, com agressividade e então praticamente desapareceu Eu sou seu irmão! Isso não conta para nada?

Ártemis não respondeu. Continuou a deslizar o pé sobre as águas translúcidas, o rosto imparcial. Por dentro a deusa chorava; lamentava magoar o irmão, não tinha essa intenção, mas ele com frequência a machucava. Não se permitiria sofrer assim tão fácil. Deitou-se na grama olhando para o céu azul, para a felicidade de seu pai tentando inutilmente se esquecer do lindo homem á seu lado. Apolo imitou-a, mas diferente da irmã, mantinha os olhos fixos nela. As íris azuis mescladas com dourado sem dificuldade hipnotizavam as mortais, afinal era uma matiz celestial; com a irmã seria diferente. Ela era fria o suficiente para não se comover com os olhos marejados daquele homem á seu lado.

Artie... o suspiro angustiado a forçou a se virar Até quando vai recusar meu amor por você? Até quando vai rejeitar meus sentimentos?

Uma lágrima perfeita e pura deslizou dos olhos perolados, Apolo tomou-a no dedo indicador e deslizou um carinho no rosto de porcelana da moça esbelta.

Ártemis a principio não compreendera, mas à medida que a nossa história se desenrolou, à medida que nossos heróis desvendavam o misterioso acontecimento com a alma de sua tenente, a deusa compreendeu: ela era a única que compreendia os motivos de Thalia, era a única que compreendia a dor que a menina sentira.

Eu compreendo agora ela sussurrou voltando os olhos para o céu mais uma vez; o irmão não a interrompera, amava profundamente o sol da voz dela e ouvi-la era o seu maior desejo no momento Compreendo Thalia e compreendo Luke agora mais do que nunca Apolo se interessara Eu sinto há milênios o mesmo que ela sentiu por um ano inteiro Ártemis fechou os olhos para reprimir as lágrimas.

Artie?

Daria tudo por um modo de esquecer ela suspirou com dor; uma dor provocada pela proximidade de Apolo Ele a ama. Ela o ama. E o mundo os separa. É suficiente para uma alma se despedaçar.

Foi então que ele compreendeu. Se ambos não fossem deuses o destino deles era o mesmo que o daqueles dois: um amor impossivelmente forte e inegavelmente proibido. Delicadamente, ele entrelaçou seus dedos aos dela. Os irmãos gêmeos tinham sua vida refletida em um casal com os minutos contados. Mais que isso: Apolo enxergou ali o que a amada jamais diria de forma explicita: ela o amava.



A tarde já estava em seu meio quando os amantes chegaram ao centro de NY. Atraiam olhares de muitos: moças que invejavam o vestido e a tiara de Thalia, outras que ainda invejavam aquele homem a seu lado, rapazes que olhavam com malicia para as pernas nuas da garota de sorriso estonteante. Luke perdera a conta de quantos beijos seus marcaram os lábios dela, as bochechas, a testa... Ele a queria tanto que se esquecera das palavras cruéis de Thanatos. Pararam para descansar em uma praça e depois de uma hora voltaram a seguir em direção ao Empire State.

Enquanto caminhavam sossegados, finalmente em paz, no Olimpo a festa já se iniciara. Hades levara todos os que estiveram hospedados em sua residência e Afrodite se encarregara de vesti-los para a festa: as moças com vestidos longos e leves em tons claros e pastéis, os rapazes com camisas igualmente claras, mas para alívio deles nada de gravata. Annabeth estava trajada em verde pastel deixando seus cachos dourados caírem sobre os ombros, Perseu cuja camisa era do mesmo tom do vestido de sua namorada, mal tirava os olhos dela. Em um canto Grover e Rachel em tons de rosa, comiam morangos e conversavam sobre o sucesso da missão. Nico e o pai eram os únicos em tons mais fortes: era um tom lindo de vinho que causou um pouco de inveja em Dionísio.

Quando Grace e Castellan entraram na portaria, o tão agradável porteiro, apenas assentiu sem que permitisse que dissessem nada e deixou-os subir. Sozinhos no elevador riram da estranheza daquele que era sempre tão antipático. Quando as portas se abriram foram ambos tomados pelos cheiros convidativos, pelos sons de rios e músicas alegres. Quando olharam um para o outro perceberam que estavam mudados: Luke agora estava limpo, curado dos ferimentos; trajava uma camisa negra com os primeiros botões abertos, o perfume amadeirado chegava até Thalia enfeitiçando-a. Já ela estava tão bela quanto no segundo em que Afrodite a arrumara: o vestido em seu cumprimento original, o mesmo perfume suave e diferente, as mesmas joias. Eram os únicos em negro, os únicos que chamariam a atenção... Enquanto caminhavam em direção ao grande salão dos tronos foram recebidos com vivas e aplausos, ambos discretamente constrangidos por toda aquela atenção.

Castellan ficou admirado ao ver o salão tão festivo: os deuses de pé em frente aos seus respectivos tronos e os amigos felizes que os aguardavam logo ali. Era impossível não relembrar aqueles filmes infantis: de delicadamente se curvarem perante os deuses, Thalia soltou sua mão e Zeus tomou o tamanho de um homem normal para prender a filha nos braços em um primeiro abraço aliviado. Sim. Observando a cena Rachel percebeu: era o seu conto predileto, era a Bela Adormecida, era o conto quase completo: a moça bonita sobre o esquife, a rosa sobre o peito, os desafios do príncipe, o beijo que a salvava e aquele final quando o casal chega ao baile de braços dados e a menina finalmente encontra sua família; não pode deixar de sorrir.

Deu um susto em todos nós sussurrou Zeus, tomando o rosto da filha em sua mão; ela sorria encabulada e feliz. Era o momento pai e filha que ela sonhara desde muito pequena. Pediu perdão e afirmou que não era sua intenção e a festa voltou ao que era antes... Até o céu ser tingido de vermelho.

Thanatos materializou-se no centro do salão levando o silêncio a festa. Luke compreendeu que era essa a sua partida, mas esperou que o deus confirmasse. Hermes sentindo o que aquela visita significava, repousou sua mão sobre o ombro do filho mantendo-o no lugar.

A que devemos sua visita? Hera perguntou depois de receber um longo olhar de seu marido.

Vim buscar a alma que me foi prometida para trazer a jovem de volta disse a voz dura e insensível Deveria ainda receber outra alma apenas por aconselhar essas crianças.

Thalia compreendeu o que aquilo significava antes que Perseu e o pessoal da profecia: Luke lançou-lhe um olhar tristonho, mas amável. Estava fazendo aquilo por ela, seus olhos diziam, estava pagando por seus pecados, estava dando sua vida como ela havia dado por ele anos atrás. Castellan agora se encontrava ao lado do deus da morte, os olhos desprovidos de sentimento, desfocados, fixos no chão a seus pés.

Sem derramar lágrimas, sem expressar nada em seu rosto ou olhos, Thalia ergueu o olhar para Ártemis e Apolo, os deuses que estavam á seu lado acariciando seus braços nus. Eles relembravam a conversa que tiveram naquela manhã, sabiam o que a pequena Thalia Grace pedia, o que perguntava. Ártemis sabia que ela não era mais sua caçadora, mas nem por isso deixava de amá-la a sua maneira. Apolo compreendia perfeitamente o que o jovem Traidor fizera e porque o fizera: ele teria feito o mesmo pela ruiva a seu lado.

Ao mesmo tempo assentiram... Então Thalia aproximou-se de Thanatos para a surpresa de todos os presentes. Respondendo a pergunta naqueles frios olhos, Ártemis declarou.

Não precisa mais cobrar a vida que lhe deviam, Thanatos todos ouviam as palavras da Lua e manifestavam o choque em ofegos Thalia está disposta a pagar o que ainda lhe faltava.

Lia? sussurrou Luke quase agoniado; ninguém além dela e do deus da morte ouviram.

Você sabe o que aconteceria. Você jamais teria paz e eu voltaria a me despedaçar sussurrou de volta.

Ele sorriu e segurou-lhe a mão direita na qual ela ainda levava o anel de anos atrás. Aquele anel simples de compromisso... E o trocou de mão. Beijou suavemente a pele de seus dedos e a puxou para mais perto de si até que os narizes se encostassem com suavidade; os deuses ainda falam, eles sabiam, mas não importava as palavras, a decisão estava tomada. Thalia lançou um sorriso e um olhar de adeus e obrigada uma última vez para seus amigos, para sua família. Então Thanatos abriu suas enormes assas e as fechou ocultando os dois.

Dois segundos depois, todos desviaram os olhos da luz forte que era a verdadeira forma do deus... Então já não estavam mais lá.


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Notas finais do capítulo

Ficou bom? Acham necessário um Epílogo?