Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 37
36


Notas iniciais do capítulo

Aí gente, foi mal eu ter faltado esses dias para postar, é pq eu estava sem tempo. Mas hoje consegui!
Bjos!



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Frieda, que outrora era uma garota forte e ameaçadora, agora não passa de uma garota morta embebida em banho de sangue. Fiquei parado, observando o corpo ensangüentado. Depois ergui o rosto para os dois, que me olhavam incrédulos com o que eu fiz.

– Heinrich... - Anne veio em minha direção para me abraçar.

– Oh, Anne...

– Que bom que você está vivo! - sua voz estava abafada. Eu também me aliviei. Por ter matado a Frieda, é claro.

Depois, olhei para Lorne, que me olhava incrédulo. Ele vai me matar, com certeza. Porque eu matei a ex-companheira. Mas eu só matei em legítima defesa.

Ele me olha apreensivo e diz:

– Você poderia ter sido morto. - ele parecia surpreso, só por causa da minha estatura mediana e magricela. Mas eu provei que sou capaz.

– Eu lamento pelo que aconteceu, mas... - ele me interrompeu.

– Mas era a gente que seria assassinado por Frieda. - continuou. - Se não fosse pela sua coragem e pelo seu caráter. - depois suspirou e veio me minha direção. - Como eu estive tão errado e tão orgulhoso na vida.

E me abraçou profundamente. Tudo faz sentido. Demorou muito tempo para perceber que a Frieda não era flor que se cheire. Ela se interessava pela vitória. Essa era a verdade.

– O que eu não daria para ser tão humilde esse tempo todo? - continuou, arrependido. - Nas edições em que assisti, eu nunca sabia se ganhava ou não. Não tinha nenhum ídolo favorito, pois todos morriam. E sempre fui tão convencido na vida. E é por isso que quero ganhar, para consertar os erros que cometi.

Eu até senti pena dele. Mas, vencer o reality para concertar os erros cometidos antes de ser sorteado poderia melhorar sua reputação. Mas lhe trará problemas psicológicos.

– Eu entendo você. - falei.

Depois, ele retirou um fuzil de uma árvore, que logo me ofereceu. Ofereceu, não, mas me devolvendo.

– Meu fuzil! - falei.

– Nem cheguei a usá-lo, até devolver ao verdadeiro dono. - falou Lorne, ao me devolver.

Mas ele fez questão de retirar tudo o que tem feito comigo nesses dias.

– E eu lhe peço desculpas por tudo isso. Eu só lhe cortei o braço para te salvar da Frieda. Você me perdoa?

E eu sorri semicerrado.

– Eu só lhe perdôo se você me perdoar pelo arranhão que eu fiz em você e pela má impressão que lhe causei naquela noite.

Lorne, sem hesitar, disse, com um orgulho estampado na cara: - Está perdoado.

E eu assenti, dando aperto de mão com ele, que, em fração de segundo, me puxou consigo para me envolver em um abraço amigável.

Entendi naquele momento, que Lorne era e sempre foi um rapaz ingênuo. Que passado ele teve? Será que ele perdeu algum ente querido da família, para estar assim? Frieda não foi a única que enfiou titicas na sua mente, a meu suspeitar.

Agora só restou a nós três. Anne, Lorne e eu. Os três sobreviventes, para nós. Os três finalistas, para os arianos. Devo anotar o nome da Frieda hoje à noite. Se é que vamos ter noite hoje, porque ouço um zumbido contínuo de um avião. Um avião, aqui? E não é que ele está se aproximando daqui?

Começo a avistar o avião. Ele surgia do leste, a partir de morros de coníferas. O sol no zênite não me impedia de ver o avião se aproximar, quando uma coisa cilíndrica de aço cai na Floresta, causando uma explosão ensurdecedora. A adrenalina começa a crescer dentro de mim. A minha respiração acelera.

Era uma bomba. Não uma bomba atômica capaz despedaçar o mundo, mas uma daquelas bombas incendiárias, lançada pelo avião. Foi então que cheguei a uma conclusão: aquele avião era de guerra. E é capaz de destruir qualquer um de nós.

– O que é aquilo? - Lorne perguntou, aflito. Anne e eu verificamos.

– Você está vendo o que eu estou vendo, Anne? - perguntei. Anne assentiu.

– Mais uma desventura bate à nossa porta! - Anne respondeu.

– Ah, meu Deus! - me aturdi. Depois gritei. - CORRE!

Tivemos que correr a plenos pulmões. À medida que eu corria, o meu pulso ferido formigava a qualquer fração de segundo. Eu puxava a Anne pelo braço para corrermos rápido, Lorne nos seguia. Para o meu desespero, as bombas lançadas pelo avião vinha em nossa direção, explodindo tudo que se encontrava próximo a nós.

A Floresta pegava fogo. As fagulhas cresciam dos galhos queimados pelas bombas, iluminando o cenário do reality. Isso deve aumentar a audiência, mas não tanto quanto o nosso romance. Quase viramos pó, quando uma bomba caiu bem no meio de nós, me separando da Anne, enquanto Lorne me puxava para bem longe. Senti o medo transbordar em mim, quando soube que a Anne não estava mais comigo.

– ANNE! - berrei, com as lágrimas brotando dos meus olhos.

Tentei me desvencilhar de Lorne, apesar dos apelos deste, para procurá-la. Gritei o seu nome até ouvir a sua voz gritar o meu nome.

– HEINRICH!

Era ela. Graças a Deus! Resolvi correr em sua direção para poder salvá-la. Mas isso me fez lembrar de uma coisa. Essa Floresta, esse lugar, as chamas, o meu estado, o meu pulso sangrando... Me fez lembrar do meu sonho, aquele que eu tive no Dia da Seleção. Eu estou vivendo esse sonho.

Percebi que não adiantava beliscar, pois eu não acordaria. Mas eu já estou acordado há muito tempo. E ainda estou sentindo o suor brotar da minha cabeça e das costas. A adrenalina começa aumentar no momento em que a bomba me persegue. Algo me diz que não posso atirar, pois isso significaria a minha morte.

Tento encontrar a Anne, mas não a vejo em lugar algum. Posso até ouví-la, mas não vê-la. O meu coração acelera o batimento, com a sístole e diástole em um mesmo ritmo. Eu estou bem perto do fim, eu posso sentir que estou. De repente, em meio a essa guerra, uma mão suada me toca o meu ombro. Viro rapidamente o rosto.

– HEINRICH! - era o Lorne, com a sobrancelha direita cortada, de onde saía um fluxo de sangue. - Você reparou que as bombas não estão perseguindo a Anne?

A Anne não era um dos alvos da bomba? Ela está segura! Mas não posso vê-la. Olhei perplexo para Lorne. Ele tentou me explicar.

– É porque ela é a única das participantes que restou. Só temos a nós dois. - então as bombas nos perseguem. Anne é a única sobrevivente. Se nenhum dos homens estiverem vivos, então uma das mulheres devem morrer. Então esse é o último obstáculo. Lorne se jogou na minha frente. - Olhe, as bombas querem matar um de nós, para que reste um participante para o casal vencedor. Por isso quero que você ganhe. A Anne precisa de você. Ela te ama.

Aquilo me emocionou muito, que sinto uma das lágrimas descerem pelo rosto.

– Mas - perguntei. - e quanto a você?

– Não precisa se preocupar comigo, Heinrich. Eu já cometi muitos erros na minha vida. Agora só quero acertar as contas lá em cima. - ele se refere ao céu. - Portanto lhe peço para atirar no meu peito.

Eu me aflijo. Ele quer se sacrificar por minha causa. Lorne quer que eu mire nele. Com as minhas mãos trêmulas, ergui o fuzil e fiz o que ele me disse. Ele me encoraja.

– Vai, Heinrich, sei que você consegue.

Me concentro na mira. Apesar de eu, relativamente, ter uma boa mira, é preciso de muito foco, mas as memórias começam a me atormentar. Elise, a minha irmã com aquele encorajamento pregado na parede de casa. Ela correndo na estação ferroviária, enquanto o trem me afastava dela. Ela chorando, implorando para eu não ir. Eu a abraçando antes de ir para a escola. Eu posso ouvir a sua voz em algum lugar da minha mente. Edith, a minha melhor amiga. Moe, o meu melhor amigo. Os meus pais: a minha mãe chorando com medo de me perder; o meu pai inseguro, me dando forças. E os meus amigos do reality. E a Anne.

O meu dedo estava prestes a puxar o gatilho.

Mas não consigo. Essas lembranças me fizeram desistir de viver. Eu não agüentava ver sofrimento deles. Talvez eu deva ser o "sofrimento" para eles. Mas eu estou sofrendo demais. Assim, quando eu morrer, todos vão sentir minha falta, mas vai passar. Então, abaixo aos poucos o fuzil. Lorne me olhou, lívido.

– Por que não atirou? - perguntou.

Então, respondi com toda sinceridade. Deixei a lágrima rolar pelo rosto.

– Eu nunca quis matar ninguém. - minha voz estava suave. - Nem mesmo os meus amigos.

Me afoguei no nível mais alto da minha sensibilidade, quando virei o corpo para poder atirar em uma bomba que ia caindo na nossa direção. Atirei para me matar, cuja explosão me arremessou para bem longe, onde caí de costas, apagando completamente os sentidos.

***

Apenas a minha audição e o tato sobreviveram a tal impacto. Consigo ouvir as explosões que causei no reality, embora os meus ouvidos estivessem doendo pungentemente. Ainda sinto a dor das minhas feridas, principalmente a do pulso, que sangrava constantemente. Eu morri? Talvez eu possa estar morto, mas ainda posso sentir.

Abro os olhos lentamente. Vejo cinzas caírem sobre mim. Vejo o céu nublado. Mas não ameaça a chover. Mas a minha visão clareia aos poucos. Recupero os sentidos aos poucos.

Meus membros estão dormentes. As minhas costas doem. Enquanto levanto devagar, o meu corpo dói totalmente. Ranjo os dentes e deixo escapar um gemido, enquanto começo a ficar de pé. Eu fico todo dormente por causa do impacto. Inesperadamente, ouço uma voz feminina gritar:

– HEINRICH! - era a voz da Anne. Ela está viva!

Fico pensando na punição que vou levar quando chegar a Berlim. Os nazistas irão me levar para a Neogestapo - a polícia nazista -, vão me interrogar e me torturar até a morte. Ou talvez me levar para um campo de concentração. Ouço os seus passos entre as árvores, a maioria em chamas. Anne chega me abraçando.

– Oh, Heinrich! - disse ela, com medo. - Que bom que você está vivo!

Eu chorei.

– Eu também, Anne! - falei. - A bomba queria matar ou a mim ou a Lorne.

– Meu Deus! - ela levou a mão à boca. - Graças a Ele que você está vivo. - só que seus olhos voltaram para baixo, quando um filete de sangue saía do meu casaco. O sangue transbordou na atadura. - O seu braço está sangrando!

Para aliviar a tensão, a tranqüilizei.

– Lorne me salvou a vida, cortando o meu pulso. - e foi aí que me lembrei de Lorne, quando a nave abdutora emitia a luz celeste, levitando o corpo ileso de Lorne. Ele não foi estraçalhado, ele sofreu um ataque cardíaco! O infarto foi causado pelo impacto da bomba.

Meus olhos se voltaram áquela nave desaparecendo de vista. Em um tom murmurante e melancólico, falei:

– Que Deus o tenha, Lorne.

Enterrei a cabeça entre o seu abraço, quando uma voz masculina começava a falar, lá de cima, no alto-falante:

Senhoras e senhores! Acabamos de anunciar que Heinrich Holger e Anne Zimmer são os vencedores da 64ª edição de Survival Game!

Nos entreolhamos, com os olhos arregalados. Nós vencemos. Nós podemos voltar para casa.

– Ai, graças à Deus! - Anne se mostrava emocionada, me abraçando. - Nós vamos voltar para casa!

– Não acredito! - e a agarrei, lhe tascando um beijo nos lábios.


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