Survival Game: O Começo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 23
22




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Quando eu falo que queria ficar em casa, é que eu quero estar em casa, mas não, fui forçado a ir. Corri sem soltar a mão de Anne, saltando troncos caídos, atravessando moitas e insetos voadores. Todos nós corremos a plenas pernas, sem nos dar conta do perigo que se aproxima de nós, principalmente de mim. Mas eu dava conta.

Desmond ficou para trás para distrair Frieda e os outros. Eu implorei que ele nos seguisse, mas havia me esquecido de que a distração poderá nos ajudar um pouquinho.

Enquanto Anne tirava uma flecha da aljava que pendia nas costas, ouvi um tiro. Berrei por Desmond. Ele estaria morto, pensei. Otto me puxou pelas costas e seguimos a trilha abaixo. A distração não deu certo, pois Vampiro e Hannah nos perseguiam. Ele, com a sua fome a ser saciada e eu, a sua presa, com certeza teria um trágico fim, um fim sangrento. Mas eu sou rápido na corrida. Quando voltei à realidade, a Anne já não estava mais na frente. Me afligi.

– Cadê a Anne? - interroguei, apavorado.

– Ela foi distrair os outros! - Hermann respondeu.

Não acredito. Se ela levar um tiro ou uma facada, talvez uma mordida do Vampiro, ela iria aparecer na lista dos mortos, hoje à noite. E a culpa seria minha. Nunca me perdoaria. Me jogaria na frente de Lorne, Frieda ou do Vampiro e ser assassinado. Mas pensei em Elise chorando a minha perda, assim como a Edith e os meus pais. Até Moe e a galera da escola. Como eu queria estar morto.

Vejo o sol dançar entre as copas das árvores, enquanto corríamos. Os pulmões ardiam em chamas, o suor brotava na minha testa, queria ter tempo para me esconder, bastava encontrar um esconderijo perfeito, até no subterrâneo eu estaria seguro. A trilha terminava na beira de um penhasco, onde lá embaixo, as águas do rio seguiam o seu curso. Má notícia: as águas estavam agitadas demais. E a boa notícia: se cairmos, mergulhamos na hora e aí, estaremos praticamente salvos. Sempre gostei de adrenalina. Paramos bem na beirada, ofegantes e com as pernas doendo de tanto correr.

– É o fim da linha! - Otto praguejou. - Estaremos mortos!

– Dê uma olhada, então! - Hermann desafiou o companheiro.

– A queda termina no rio. - falei.

– No rio?! - Lewis perguntou, abismado. - Como assim, termina no rio?

– Estamos em uma floresta. - expliquei, com um sorriso estampado na cara.

Eu sei que pode ser uma loucura, mas dei um pequeno impulso para trás e saltei do penhasco, batendo os pés na água. Era fundo demais, mas dava pro gasto. Emergi em meio a agitação, esperando os outros pularem. Otto foi e depois, Hermann. Enfim, conseguimos nos despistar, exceto Lewis, que estava plantado lá em cima. Ele parecia ter medo de altura.

Nós gritamos para que ele pulasse, mas relutava tanto, que pude ver que Vampiro se aproximava para dar uma mordida em seu pescoço, mas não chegou a tempo de mordê-lo, pois Lewis saltava gritando AI, MEU DEUS!

Quem diria, né? Ele conseguiu pular do penhasco, mas Lewis estava pasmo de medo. A correnteza nos levou para longe da vista. Perdi consciência de quantas pancadas de ondas no rio eu levei de surpresa, pois sempre acabava submerso. E o pior, me perdi dos amigos, assim como me perdi de Anne, que devia ter me avisado para onde ia, e de Desmond que devia ter me avisado. Penso nele morto. Jazia morto ensangüentado com a bala cravada na barriga ou no peito. Talvez na testa. Eu sei que é muito duro perder um amigo que veio com você da mesma cidade, que estudava na mesma escola, que zombava de você e do garoto por quem acabou em uma briga com o outro.

Olhei em volta, apesar da violência da correnteza. Nem Frieda, nem Lorne, tampouco Vampiro, Hannah e o outro garoto estavam do outro lado do rio. Mais um caldo e TCHIBUM! Estou de volta ao ambiente aquático, quando de repente, vejo um objeto esquisito sambando em um ângulo esquisito. Um óculos preto. Eu já vi esse óculos em algum lugar... É de Lewis! Ele deve ter perdido. Ele é hipermétrope!

Pequei o óculos e emergi de volta. Tentei guardá-lo a tempo, enquanto uma onda não vinha me pegar, mas assim que fechei a minha mochila, mais onda veio me pegar, o que me empurro de volta ao ambiente aquático. E ainda por cima, me dei conta de que o meu fuzil não estava mais comigo, tinha deixado no momento em que eu encontrei o corpo da Stella deformado, bem antes da Anne me encontrar. Emergi de volta, apesar do esforço para respirar, quando, de repente, encontrei Hermann lutando para se manter na superfície.

– HERMANN! - gritei, ofegante. - ESTOU AQUI!

Hermann me viu. Ele tentou nadar contra a correnteza para segurar a minha mão, mas, por ironia dela, fui empurrado em sua direção, me abraçando a ele.

– Cadê Otto e Lewis? - fiz questão de perguntar, em meio à agitação.

– Eles estão na frente! - Hermann respondeu. - Lewis perdeu o óculos.

– Eu o resgatei. - falei. - Ele estava perdido na água.

Hermann assentiu, quando mais um caldo para cima da gente. Mergulhamos juntos e emergimos ao mesmo tempo. Ergui o braço, procurando agarrar um galho sobressalente. O que eu consegui foi uma coisa que me pegou. Era a Anne, que estava atracada ao galho, segurando a minha mão.

– HEINRICH! - ela gritou. - Segura firme!

– Onde você estava esse tempo todo? - indaguei, intrigado. - Fiquei preocupado com você!

– Cale a boca e segura! - ela ordenou. - Avisa aos outros!

Me virei para Hermann, que me segurava, para avisar a Otto e Lewis que segurassem, pois estaremos em terra firme, ou não.

Anne se esforçava em nos puxar para cima, quando dei por mim, que o caroço escarlate ainda estava em sua mão.

– Anne, o caroço está na sua mão! - alertei. E o pior, eu segurava essa mão, quando Anne tomou um susto e acabou caindo no rio com a gente. Ela berrou de dor, mas tive que acalmá-la, quando, neste exato momento, percebeu que o caroço sumiu, o que a deixou impressionada. Não demorou muito, e nos seguramos em uma rocha no meio do rio. Mas tem um porém: a rocha delimitava o inicio da cachoeira. Enquanto nós quatro, ou melhor, cinco, com a Anne, nos seguramos e lutamos para nos manter em pé, ela e eu rimos, não de triunfo, mas sim, de precisão.

– Pelo menos, você está aqui. - falei a ela. - Retiro o que disse.

– Tem que retirar, assim que estivermos a salvo. - me censurou, irônica.

Gostei da sua ironia. Uma ironia sincera.

É impressão minha ou não? Porque eu estou vendo uma nave emitindo uma luz celeste e capturando uma massa vermelha... Peraí! É a Stella sendo abduzida! E a nave está pegando mais alguém. É um corpo. É de Desmond? Eu saberei hoje à noite. E essa nave está vindo em nossa direção! Puxei Anne e corremos até pularmos da rocha, da cachoeira, entre as gotículas de água que espirravam em meu rosto. Os outros três me seguiram e em seguida, submergimos no fundo. Foi uma luta em voltar para superfície, principalmente para mim, porque a minha mochila estava pesada demais. Esperei pelo fim. Pude ver Edith correr em minha direção, quando no dia em que caí da escada da janela e jazia estirado no gramado. Estava todo duro, ao contrário de estar mole, mas pesado, sendo puxado para o fundo, até alguém me puxar para a superfície.

Emergi tossindo, ofegante. Nunca tinha engolido muita água em toda minha vida. Anne me ajudava a caminhar para a terra firme.

– Heinrich! Você está bem? - ela perguntava, preocupada, mas aliviada por ter me salvado.

– É que a minha mochila estava demasiada pesada. - falei. - Quase morria afogado, se não fosse por você. - depois, soltei um gemido.

– Se não fosse pelo excedente de peso na sua mochila, você estaria vivo. - ironizou.

Parei para descansar, me jogando direto na areia. Que desventura que eu tive! Quase morri afogado! Faria tudo isso para estar descansado, tais como tirar a roupa, nadar no lago, ah, mas eu não faria isso na frente deles, principalmente da Anne, pois isso seria falta de pudor da minha parte. Subitamente, vi a nave se aproximar do local em que estamos. O barulho era extremamente ensurdecedor, fácil para o tímpano estourar.

– Escondam-se! - Otto gritou, pulando para a moita. Os outros fizeram a mesma coisa. Anne e eu fomos por último. Vimos que a nave passou direto de nós, cujo o barulho das turbinas já ultrapassava o limiar de dor. Mais de 120 dB. Doía muito o meu ouvido.

Quando o barulho passou, abri e fechei a boca constantemente, para passar a dor no ouvido.

– Estão todos bem aí? - perguntei. Balançaram com a cabeça.

Saímos da moita em silêncio. Eu estava encharcado demais, precisava me despir todo, mas não tinha roupa reserva. Anne também estava, assim como os outros, mas teve o seu penteado desmanchado. Com o cabelo preso, ela era linda, imagina com o cabelo solto! Cada vez mais linda!

– Está quase escurecendo! - Anne falou, mas o céu ainda continuava azul. - Precisamos encontrar um abrigo para passarmos a noite.

– Mas temos sacos de dormir. - falei. - Por dentro reflete o calor. Assim evita contato com o ar frio da noite.

– Só isso não vai adiantar, vai? - duvidou, com uma das sobrancelhas erguidas. - Acabamos de cair de uma cachoeira, de sermos perseguidos por aqueles que querem nos matar. Você não quer apanhar um resfriado, quer? Nenhum de vocês querem, sim?

Eles balançaram a cabeça negativamente. Eu fui totalmente contrário.

– O quê? - ela se afligiu.

– Brincadeira. - falei, com o sorriso estampado na cara.

Ela me deu um soco, o que me fez escapar um gemido. Parei para devolver o óculos ao Lewis, que, ao invés de agradecer, apertou a minha mão, um gesto nobre de amizade. Caminhamos léguas a procura de uma caverna, gruta ou qualquer tipo de abrigo, até que chegou o crepúsculo. Paramos para descansar, quando, do nada, Lewis me empurrou no chão. Não entendi o motivo, mas ouvi um tiro. No momento em que olhei para trás, vi Lewis caído no chão, ensangüentado. Senti o sangue congelar.


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Notas finais do capítulo

Quanto à cachoeira mencionada no capitulo, não certeza se realmente existe na Floresta Negra, mas apenas citei para dar um clima de aventura.

P.S.: Pará quem não sabe o que é hipermetropia, que Lewis tem, é um desvio na visão, em que as imagem se forma depois da retina. Para a correção, usa-se óculos com a lente convergente. Pesquisem para saber mais sobre Hipermetropia.



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