Foram muitas lágrimas até aqui, mas o que importa é que estou finalmente na casa da minha tia Fernanda. Não que eu estava com medo, e sim porque as pessoas em que eu convivia na verdade foram apenas pessoas falsas, tá bom tinham sim algumas amigas que se importavam comigo, mas na verdade quando me viram em fase de desespero, apenas me largaram, pois não queriam bancar a “amiguinha chiclete” que ajuda todo mundo. Por que estava desesperada? Porque era a minha mãe a única que vivera comigo e que me ensinara a desenhar, ela era uma pessoa popular na verdade e que sempre dera apoio aos mais necessitados.

Quando saí do terminal do aeroporto, minha tia (meio histérica) estava toda animada para me receber, ela veio correndo até mim e disse:

-Ruby minha sobrinha favorita! Não posso acreditar que você vai viver comigo a partir de agora! - Apesar de ser meio louca ela era até legal, na verdade quem está louca sou eu por agora estar mais “quieta”- Deixe-me levar sua mala!

-Você parece meio estranha... Eu sei que a morte de minha irmã também me abalou, mas o que importa é o que vem pela frente, não é? - Ela olha para mim com um sorriso, ela é muito bonita diferente de mim, infelizmente sua tática de levantar humor não deu certo. –Ah! Por favor Ruby! Deixe-me ver essa sua carinha linda com um sorriso vai!

-Tia, não estou muito bem...

-Cara feia pra mim é fome! Vamos ao MakiDunalds! Entra logo no carro porque vamos ouvir as melhores!

-Tia...Tem certeza?

Já era, ela já tinha ligado o som em uma altura tão alta que eu jurava que a porta do carro iria cair. O bom é que estava tocando um remix das minhas músicas favoritas, de repente me deparo dançando loucamente com minha tia fazendo um dueto bem fora do tom.

Quando chegamos ao MakiDunalds tinha uma máquina onde continha um microfone, bom na verdade, minha tia estava tão distraída que começou a falar com uma lixeira pensando que era a máquina.

-OI OI! ALGUÉM? Ruby por que não tá funcionando?

-Tia, isso é uma lixeira...

-NINGUÉM VIU!

Finalmente pedimos nosso lanche, minha tia diz estar na dieta, até quando ela disse: “Um combo do Lig Tastie tamanho grande com COCA DIET”. Quando estávamos esperando o outro carro pegar seu lanche, minha tia colocou o carro no freio de mão e começou a falar...

-Esse aí, pra estar demorando tanto assim, deve ter peço a lanchonete inteira!

-Na verdade, parece que o lanche ainda está sendo frito... –Sou interrompida quando minha tia tira o freio de mão fazendo o carro andar para trás, de repente um carro aparece atrás do nosso, eu desesperadamente começo a gritar – TIA! TIA! ACELERA VAI BATER!

-O acelerador não anda!

PUMF! Fora o barulho do carro quando bateu com o de trás, o dono nada satisfeito começou a xingar minha tia. Bom, milagrosamente na hora ERRADA o acelerador volta com tudo e bate no da frente, pronto duas pessoas querendo matar minha tia.

-PUTA QUE PARIU RUBY! Vê se o lanche tá pronto e bora vazar!

-Como?!

-Deixa comigo - Ela pega seu batom super vermelho e começa a passar em meu rosto.

-O que você está fazendo?! – Pergunto indignada.

-Finge de morta! Rápido!

Eu apenas obedeci e tentei fazer meu teatro, minha tia abriu meu vidro, colocou um lenço que tampava seu rosto , pegou sua lixa de metal e gritou para a atendente com a lixa na mão:

-PASSA QUALQUER LANCHE AÍ PARA DUAS PESSOAS! SE NÃO VAI FICAR QUEM NEM ELA!

A atendente dá o lanche sem hesitar e saímos com o carro todo batido. Eu ainda não acredito como que eu ainda não recebi uma ameaça de morte ou levei uma facada.

Quando acabamos de comer nosso lanche, nós finalmente chegamos à casa da minha tia, a minha casa agora. A casa era bem grande, linda por dentro e por fora, na verdade eu nem estava prestando muita atenção nisso, eu estava com o meu rosto coçando do batom vermelho que não saia e sobre também nos milhares de desenhos (daqueles de criança de 6 anos) espalhados pela casa.

-Bom, bem-vinda à sua nova casa! Sabia que esses desenhos são seus? Você amava desenhar e grudar na parede. Ah! Deixe-me mostrar seu novo quarto!

Subi até o terceiro andar, o meu quarto era o terceiro andar INTEIRO! As janelas eram grandes, a cama era de casal, escritório e TV, apenas não tinha um computador. Fui desfazendo as malas e quando fui colocar minhas blusas no armário, estava lá uma pila enorme de desenhos, como sou curiosa eu decidi dar uma olhada antes de desfazer tudo.

A primeira figura era de uma garota bem parecida a mim derrubando algo em alguém, embaixo havia escrito: Eu no 3° ano, quando eu sem querer derrubei um livro na minha coleguinha.

A segunda figura era de mim celebrando o Natal em algum lugar, dizia: Eu celebrando o Natal junto com a família. 5° ano.

Fui passando os desenhos até quando reparei com uma foto de um ano atrás, eu estava chorando com uma mulher jovem parecida com minha tia e um borrão preto com um coração partido, dizia: Mamãe diz que todos iremos morrer um dia, mas será que eu teria de ficar com minha tia daqui a um ano?

Eu reli, e eu não podia estar acreditando no que via, como era que eu sabia de uma coisa tão inesperada? E eu não me lembro de ter feito um desenho tão feio sendo que um ano atrás eu já fazia desenhos realistas.

Um par de mãos cobre meus olhos, fazendo que eu caia na minha cama:

-Adivinha quem é?

-Tia, você é a única que está aqui.- Ela tira as mãos dos meus olhos e senta do meu lado.

-Ruby, tendo duas coisas a te contar, ou melhor três coisas.

-E... O que é?

-A primeira é meu presente de boas-vindas, como eu já fui adolescente de 16 anos (sim eu tenho 16) eu não conseguia viver sem tecnologia. – Ela abre o pacote enorme, mostrando um notebook da Maple, uma mesa de desenho para computador e lápis novos, mas antes de eu pegar ela continua. –A segunda é, que você está matriculada no melhor colégio daqui, quando digo melhor não é só para ensino, também para companhias. E terceiro, a minha vizinhança é cheia de adolescentes da sua idade e série, só não estão na mesma turma.

-Por que a segunda e terceira são tão importantes?

-Por que é amanhã que você irá descobrir você mesma.

Ela sai deixando um bilhete nos meus presentes:

Querida Ruby,

Nem tudo neste mundo é perfeito. Sua mãe deixou segredos nesta cidade para quando fosse embora, você descobrisse sozinha quem foi ela e quem é você.

Suas aulas começam amanhã, já comprei os livros, mas quero que você vá comigo escolher o resto do material.

Sua tia estará sempre aqui okay?

Beijos