These Days escrita por Riqui


Capítulo 39
Meu caminho é cada manhã.




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Ainda naquela sexta-feira, uma chuva terrível chegou no Rio de Janeiro e durou por um tempo, advinha? o feriadão inteiro. Choveu nos quatro dias, mas choveu demais. Eu apenas fiquei rindo e pensando em quem se programou para ir para a praia e não foi. Mas lembrei do meu encontro com a Alana, pois é, também não rolou.

Em compensação, passamos o fim de semana inteiro conversando praticamente dia todo. Eu a conheci melhor, descobri mais sobre sua vida, mais sobre seus interesses e gostos. Eu nunca fui fã de música nacional, mas época eu gostava bastante de Bonde da Stronda, até o cabelo eu tentava imitar, a baixinha marrenta, que cada vez menos de marrenta não tinha nada, também adora o grupo. Começamos a trocar música, letras e trechos.

Mas apesar de tudo, a minha música favorita do grupo, acabou virando minha música com a Bruna. Cara Metade acho que não teria título melhor numa canção do que esse. Era difícil tentar esquece-la, por mais que eu ficasse conversando com a Alana, sempre olhava a lista dos contatos e lá estava Bruna. Eu só imaginava como ela estaria, eu cheguei a abrir sua janela, uma única vez cheguei a escrever uma mensagem de boa noite, mas desisti.

Na quarta-feira, o dia amanheceu com sol, muito por sinal, já estava imaginando o pessoal na escola reclamando que o fim de semana choveu e no dia que começa a semana pós feriado, um sol de quase quarenta graus. Isso é nosso querido Rio de Janeiro, amigos.

Na escola, eu cheguei meio atrasado e o sinal já tinha tocado, eu subi. Naquela dia, eu teria quatro tempos de matemática e dois de inglês. Começando pela aula do Marcelo, depois Silma, intervalo e voltando para aula do Marcelo. Eu já falei o quanto odiava matemática e números, mas Professor Marcelo sem dúvidas era o melhor.

Assim que cheguei na sala ele me chamou para a mesa dele. Botei minha mochila num assento ao lado de onde Eduardo estava. Fui em sua direção. Professor Marcelo era jovem, acho que tinha mal feito trinta anos, era sempre cheio de energia e disposto a ajudar quem fosse com sua matéria.

— Henrique! - Ele falou enquanto mexia em sua bolsa.
— E aí, Marcelo. - Éramos bem próximos.
— Você é o representante né?
— Sim senhor.
— Consegui organizar um passeio para vocês, mas é para vocês e a turma 1009, que são as turmas que dou aula.
— Sério, que legal, para onde?
— Museu Aeroespacial, vai ser bem legal.
— Nossa, show. Quando é? - Fiquei empolgado.
— Semana que vem, sexta-feira.
— As duas turmas irão? juntas?
— Sim, são cinquenta lugares, por isso serão vinte e cinco de cada turma.
— E será sorteio?
— Não, aí que entra sua ajuda
— Entendi... e o senhor quer minha ajuda para o quê?
— Bom, eu estou nomeando você o responsável pela lista dos cinquenta nomes.
— E como vou escolher?
— Você decide.

Sim, Marcelo também era meio maluco, me deu uma responsabilidade terrível de escolher pessoas aleatórias. Bom, algo me veio a mente. Primeiro, fiquei na frente do quadro e comecei a fazer um pequeno discurso falando sobre o passeio, minha turma tinha quarenta pessoas que frequentavam as aulas, quase todas queriam ir no passeio.

Rolou um pequeno debate, alguns desistiram, outros ficaram meio frustrados por não ir. Obviamente botei meu nome, do Eduardo e do Léo na lista. Comecei a escrever os nomes, quando dei conta, o sinal do intervalo tinha tocado, tentei me organizar rápido, fui guardando minhas coisas, quando a professora Silma chamou minha atenção.

— Henrique, chama o Eduardo por favor!
— Sim, senhora. - Respondi enquanto guardava rapidamente as coisas em minha mochila.

Eu estava tão distraído que nem vi o Eduardo descendo. Fiquei me perguntando o que ela queria com ele. Silma era uma senhora de quase sessenta anos, mas se vestia como se tivesse vinte. Usava bota, uns casacos que não condizem com sua idade, mas quem liga? dizem que você tem a idade que quer ter, não é verdade? eu por exemplo deveria ter uns 10 anos na época por ser tão idiota, mas enfim.

No corredor encontrei a Lorena, ela era vice representante da turma dela, como eu não conhecia o representante, foi com ela mesmo que falei. Ela tinha acabado de ter aula com o Marcelo, então provavelmente ele informou a turma sobre o passeio.

— Ei Lorena! - Apressei o passo e fui descendo as escadas com ela.
— Fala Rick. - Ela sorriu.
— Marcelo falou do passeio?
— Falou sim, disse que é você que está organizando os nomes né? a lista final.
— Isso, isso. Preciso até sexta-feira os vinte e três nomes da sua turma.
— Vinte e três?
— É... o ônibus cabe uns quarenta e cinco pessoas só, para não lotar e tal, por segurança.
— Tá bom, minha turma não é unida, acho que se tiver vinte pessoas é muita.
— Que perfeito!

Metade do meu plano entrou em ação, dei para Lorena 23 papeis para distribuir para a turma dela, onde os pais deveriam assinar avisando sobre o passeio. Fui caminhando até a cantina e encontrei o Eduardo, ia comprar algo.

— Ei Dudu, Silma mandou te chamar, tá lá na sala te esperando.
— Sério? Droga... - Ele parecia saber o motivo.
— Sério, sabe o que ela quer?
— Sei... - Ele começou a andar. - É o que todas querem. - Ele sorriu e então subiu.

Eu realmente não entendi o que ele quis dizer, mas quando eu descobrisse eu ficaria tão chocado quanto vocês. Então comprei algo para comer, e enquanto esperava ser atendido, recebi um abraço por trás, olhei para baixo, para as mãos, uma pele tão branca quanto a minha, só podia ser uma pessoa.

— Isso é saudade? - Respondi me virando e sorrindo.
— Iiiih, to te encoxando! - Ela ria e me soltava.
— Que tarada! - Falei rindo.
— Só as vezes! - Ela sorria.
— E aí, como está?
— Tô bem e você?
— Tirando essa fome, tô legal. - Me virei para pegar uma coxinha com suco.
— Hmm, bateu uma fome. - Ela sorria.
— Só uma mordida! - Estendia minha mão com a coxinha. Alana mordia quase metade. - CARALHO SUA VACA GORDA FILHA DE UMA...

Alana começava a gargalhar, e eu não resisti e ri junto. Caminhamos até um banco e sentamos, as gêmeas estavam lá, Lorena e Bruna também. Eram quatro bancos e uma mesa, As gêmeas ficaram sentadas uma no colo da outra, Lorena em um, Bruna no outro, e eu sentei. Só bebendo o restante do suco. Alana ficou em pé, eu achei que ela sentaria no colo de alguma menina, mas ela sentou no meu.

Eu fiquei surpreso e sem graça, olhei para Bruna que apenas olhou para nós e virou o rosto, ainda me ignorava. As garotas não falaram nada, continuavam com seus assuntos, eu botei meu braço envolta da cintura dela.

— Por quê no meu colo? - Falei meio baixo.
— É mais confortável, Lorena e Bruna são duas magrelas.
— Caraca, me chamou de gordo! - Falei quase rindo.
— É um fofo! - Ela me abraçou por um segundo e soltou.

Conversamos pelo intervalo todo, quando o sinal tocou, Alana se levantou e botou os braços nos meus ombros, ela ficou no meio das minas pernas, eu fiquei olhando inclinado para cima. Com o braço apoiado na mesa.

— Tô dispensado, vamos embora? - Ela falava.
— Hmm, ainda tenho mais aula do Marcelo. Assiste lá comigo.
— Qual matéria?
— Matemática!
— Ahh não. - Ela se afastava um pouco, e eu me levantei.
— Então a gente se fala amanhã.
— Amanhã? - Ela fez uma cara de desapontada mas sorriu - Tá... até amanhã

Nos abraçamos bem forte, quando a soltei, Bruna tinha ido, as gêmeas estavam perto do portão esperando Alana para ir embora. Mexi em seu cabelo e sorri a olhando nos olhos.

— Se cuida - Beijei sua testa
— Você também. - Ela se virou indo embora, ficamos segurando a mão um do outro até o último milímetro.

O pátio estava vazio, eu subi e antes de ir para a aula eu fui beber água, o bebedouro ficava no canto oposto da minha sala. Tia Elizete não se importou. Perto do bebedouro ficava a sala de informática e o banheiro masculino e feminino. Após beber água, Eduardo sai do banheiro masculino, parecia cansado ou suado. Ele tinha jogado água no rosto.

— Onde você tava? - Perguntei enquanto ele bebia água.
— Você não vai acreditar... - Ele respondia e íamos para o corredor, indo para a sala.
— Aonde? - Perguntei e olhei, ele sorriu.
— Silma.

Pois é, resumindo a história. Silma fez um acordo com Eduardo, ela lhe dava um dez, a nota que ele precisava para ficar na média e depender apenas de um cinco no quarto bimestre para passar, e ele lhe dava algo... digamos que Prazer. Uma troca justa, não?

Eduardo contou a história apenas para mim e para o Léo, foi meio nojento ele contando os detalhes, depois daquele dia nunca mais eu olharia para a professora do mesmo jeito.

«»

Na sexta-feira assim que cheguei na escola, Lorena me encontrou com dezenove assinatura dos pais da turma dela. Eu os guardei na mochila e fui para aula. Na sala recolhi mais vinte e duas assinaturas. Tudo parecia ótimo, ainda tinham nove sobrando. Fui conversar com o professor Marcelo.

— Marcelo! - Me aproximei da sua mesa, ele iria começar à aula logo.
— Fala Henrique.
— Estou com quarenta e duas assinaturas aqui, das duas turmas, mas tem um favor que queria falar com você.
— Claro, fale. - Ele respondeu meio baixo, parecia suspeitar.
— Bom... tem duas garotas que eu queria levar no passeio, já que sobrou, tem algum problema? - Falei bem baixo.
— Bom, se os pais delas assinarem, okay, porém, não quero confusão nem no passeio e nem depois se descobrirem que alguém fora da turma foi e gente que é da turma, não.
— Isso é fácil, ainda tem nove vagas sobrando certo? da outra turma até sobrou pois muita gente não se interessou e é uma turma menor, então vou falar aqui que tem cinco vagas restantes, assim ninguém vai reclamar.
— Faça como quiser, só não quero confusão depois.
— Pode deixar, valeu professor.

Então fiz mais um mini discurso sobre o passeio e vagas ainda em aberto três pessoas aceitaram. Na segunda-feira eu teria quarenta e sete assinaturas.
O plano tinha dado certo, mas precisava da última parte. Eu iria convidar Alana para ir no passeio e Bruna. Não sei por qual motivo eu chamaria a Bruna, mas eu sentia que ela a coisa certa a fazer, por mais que ela não quisesse minha companhia, ao menos as gêmeas e Lorena estariam lá.

No intervalo após lanchar, procurei elas, e por sorte estavam juntas, como sempre. Me aproximei devagar, vi Alana de costas, cheguei por trás e abracei, ela se contorceu por causa do susto, quando me viu não se importou, até riu. Alguns segundos depois eu a soltei.

— Oi Meninas. - Falei e sorri. Todas responderam e então continuei. - Sabem o passeio que eu e a turma delas iremos ter? - Apontei para Lorena e as Gêmeas.
— Sei, a Lorena comentou. - Alana respondeu, Bruna só ficou olhando.
— Então, sou responsável com a lista e as assinatura dos pais, eu segurei dois, para vocês. - Entreguei um papel para Alana e para Bruna, achei que ela fosse me deixar no vácuo, mas pegou o papel.
— É que dia? - Alana perguntava.
— Sexta que vem, Museu Aeroespacial, vai ser legal. - Respondi.
— Eu não vou para escola sexta que vem.
— E por que não?
— Minha irmã casa no sábado, aí sexta vai tá "mó" correria lá em casa.
— Ah...

Eu realmente fiquei desanimado, eu queria a presença dela no passeio, mas nem sempre as coisas são como eu gostaria que fossem né. Eu olhei para a Bruna que me encarou por alguns segundos e então sentou no banco. Fiquei lá com elas pelo intervalo inteiro, o sinal tocou. Eu ainda tinha aula do Fred e Alana de geografia.

— Acho que vou fugir. - Alana falou.
— Você vai para a aula! - Falei a puxando para perto.
— Iiih, me dê um motivo para eu ficar? - Ela sorriu, as garotas ficaram olhando.
— Eu poderia falar que seria bom pro seu futuro né, estudar e tal... mas nesse caso eu te levo embora se você ficar. -
— Aé? - Ela sorriu.
— É! - Abracei
— Então tá, eu fico.

As garotas não tinham mais aula, apenas se despediram e foram indo embora. Bruna tinha sumido, então eu subi as escadas abraçado com a Alana. Tia Elizete riu.

— Sem beijos no meu corredor hein! - Ela ria.
— Bem difícil não beijar essa boquinha aqui! - Eu segurava o rosto da Alana e apertava, forçando-a fazer um biquinho.

A gente ria e então parei em frente sua sala, ela abriu a porta e foi engraçado, metade da turma dela tinha ido embora. Ela fechou a porta devagar para a professora não ver.

— Tá vendo, todo mundo foi embora.
— Tem que estudar, ow!— Dei um tapa de leve no seu braço.
— Ai ai, plena sexta-feira e eu indo estudar até as seis horas da tarde.
— Não reclama, te vejo daqui a pouco! - Sorri, ela me abraçou e apertou.
— Me espera, viu. - Ela me soltou.
— Faço de suas palavras as minhas.

Assim eu voltei para a aula, uma hora e meia de puro tédio na aula de português do Fred, ele enchendo o quadro de tarefas era um tédio sem fim. Eu fingi que estava copiando, mas na verdade eu olhava para a janela, para o céu escurecendo e tentava pensar em algo, mas nada vinha em minha cabeça, um turbilhão de pensamentos e confusões se formavam em minha mente. Eu não sabia o que estava acontecendo, só sentia que algo estava para acontecer, algo que mudaria o rumo dessa história.


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