These Days escrita por Riqui


Capítulo 21
Sunshine.




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No último ano escolar eu atingi o ápice, o topo. Sentado na mesa do grêmio com monte de papelada para organizar, coisas para fazer e decisões a tomar. Não foi fácil chegar ali, não é fácil controlar e organizar milhões de tarefas, eventos e pessoas. Mas digo a vocês que não existe sensação mais prazerosa do que o controle, o poder.

Para chegar aí eu tive que mudar bastante, principalmente amadurecer, e meu principal amadurecimento foi o emocional, tive que ficar um pouco mais frio, mais controlado e por alguma razão passei um ano inteiro sem acreditar no amor, até me apaixonar e namorar por anos.

«»

Eu não culpo o destino, não culpo Deus, não culpo nem minha bipolaridade, só culpo a mim mesmo, foi decisão minha.
Nunca fui muito sociável, nunca me encaxei naquelas rodinhas de amigos onde cada um tenta se exibir mais que o outro, nunca gostei de ser o centro das atenções, na verdade preferia ser até invisível, não notado. Gosto de coisas simples, pessoas simples, amores eternos e amigos para a vida inteira.

Era terça-feira, depois do incrível fim de semana com a Bianca eu simplesmente não estava bem. Não estava doente, mas me sentia mal por dentro, estava desanimado, sentindo uma tristeza, algo que eu não sabia explicar. Na segunda-feira eu tive duas provas e eu tinha certeza absoluta que eu tinha ido nada bem nelas, mas por alguma razão eu não me importava.

Nessa terça-feira eu tinha acordado relativamente tarde, eram quase onze da manhã quando acordo assustado, era o som bem alto vindo da sala, do rádio.
Minha mãe tinha chego do trabalho, imaginei. E como de costume ligava o som bem alto antes dela ir descansar após uma noite inteira de trabalho naquele hospital.
Acordar desse jeito foi mais do que o suficiente para duas coisas, primeiro, me levantei, segundo, eu estava mega estressado.

Se tem algo que não faço é bater de frente com minha mãe e por esse motivo eu a ignorei naquele momento. Fui direto para o banheiro onde tomei um banho demorado, apenas para despertar de fato. Sair do banheiro arrumado, peguei minha mochila e fui para a escola. Não estava afim de ficar em casa.

Minha mente estava a todo vapor, eu não conseguia me concentrar em nada, não conseguia pensar em algo por 10 segundos sem aparecer outro pensamento e tirar o anterior do foco. Eu estava perturbado, desorientado. Olhei para o relógio e vi que não era nem meio-dia, e eu entrava na escola meio-dia e quarenta. Tinha quase uma hora para fazer nada.

Pensei que poderia entrar com meu passe-livre do Grêmio e ficar lá na escola atoa, mas eu não queria ver ninguém, queria evitar as pessoas, e então caminhando na direção da escola, parei na pracinha, a mesma que sempre me despedia da Bruna. Era um dia de muito sol nesse quase inverno no Rio de Janeiro, mas ventava bastante.

Decidi sentar no banco que ficava estrategicamente em baixo de uma árvore. Eu botei minha mochila na mesa e abaixei a cabeça, queria dormir e acordar só na hora de voltar para casa, igual como vazia na escola. Eu fiquei ali por volta de quinze minutos, mas na minha mente parecia que não passou nem quinze segundos, eu estava num momento de inercia total. Então uma voz bem familiar apareceu.

– Henrique!?
– Hm?? - Eu levantei a cabeça procurando de onde vinha.
– O que tá fazendo aqui?
– Bruna? - Eu perguntava enquanto ela se sentava em minha frente.
– Ta fazendo o que aqui? - Ela perguntava de novo.
– Ah... nada, decidi vim mais cedo, mas preferi esperar aqui.
– Tu ta com um cara... aconteceu algo?
– Não, é só sono.
– Sei...
– E você? - Olhei para o relógio e eram meio-dia e dez. - Por quê tão cedo?
– Semana de prova né? decidi ir mais cedo pra dá uma estudadinha.
– Aposto que nem sabe o que vai cair e quer colar né?
– Iiiiih. - Ficamos num silêncio por um instante. - E como foi teu fim de semana? pois ontem nem te vi.
– Foi bem... - Procurei a palavra certa, mas não encontrei - Único e singelo.
– Hmmm o que você fez?
– Passei com a Bianca.

Eu não estava olhando para Bruna, então não sabia sua reação mas eu podia jurar que sua feição tinha mudado quando terminei minha frase, um breve silêncio se instalou no meio de nós até ser quebrado por uma terceira pessoa que chegou no local, Lorena.

Lorena era uma amiga de longa data da Bruna, morava perto dali e era da turma ao lado da minha. Eu cheguei a falar com ela algumas vezes mas nada além de um "oi, tudo bom?"
Ela abraçou Bruna após apenas me cumprimentar brevemente, parecia ter assuntos a tratar com a Bruna. Pensei em levantar e ir embora, mas acho que não seria educado né? Ou foi ela que foi a má educada?
Abaixei minha cabeça na minha mochila e juro que mesmo elas estando a menos de um metro de distância eu conseguia ignora-las por completo.

Minha cabeça com mil coisas se passando, mil imagens rodando e mil sons.
Não demorou muito até Bruna encostar na minha mão e dizer para irmos para a escola, já eram meio dia e meia e era o tempo certinho de chegarmos lá. Então me levantei botei a mochila apenas em um dos ombros e caminhei ao lado da Bruna que estava no meio de nós.

«»

Tive sorte de não ter aula depois do intervalo e então preferi ir embora antes dele acontecer, não estava afim de conversar com ninguém. Queria me isolar de todos. Caminhando para casa, eu sabia que precisava achar o motivo disso tudo.
Lembrei que na escola da Bianca as provas são em turnos diferente, então ela fazia as provas pela manhã e estaria em casa a tarde.

Após chama-la por umas seis vezes, ela abriu a porta, sua cara estava meio inchada, ela com certeza estava dormindo. Abriu um sorriso quando me viu e veio abrir o portão.

– Amor! - Ela me abraçou forte, retribuí.
– Olá Bibia. - Dei um beijo em sua testa.
– Ta tudo bem?
– Hm... não sei.
– Aconteceu algo? - ela me olhou mais curiosa do que aflita.
– Sei lá, tô meio bad hoje.
– Vem cá, entra. - Ela segurou minha mão e me puxou para dentro de sua casa.

Eu larguei a mochila no chão mesmo e sentei em seu sofá, o ventilador de teto estava ligado e deixava o ambiente bem frio, a TV estava no mudo e passava algum filme na sessão da tarde. Bianca então sentou ao meu lado, com as pernas dobradas no sofá, me olhou.

– Dia hoje tá bem esquisito. - Falei enquanto olhava a TV.
– Que aconteceu hoje? - Sentia que ela me olhava.
– Ah... na verdade não é bem só hoje, ontem eu estava assim também. Sabe, desmotivado, sentindo que tem algo me incomodando, uma angustia sem fim, uma vontade de sumir. Juro que se não fosse semana de provas eu não iria para a escola. Tenho certeza que minhas notas serão péssimas.
– Oxi amor... Pensei que sua semana ia começar ótima depois do nosso fim de semana. - Ela encostou a mão no meu ombro e automaticamente a olhei.
– Também...
– Mas estou feliz que veio me ver, já estava ficando com saudades. - Foi a primeira vez no dia que eu sorri.
– Eu vim até aqui por causa da saudade, acho que estou com saudade.
– Acha?
– É... tem tanta coisa passando pela minha cabeça, quando lembrei que você estaria em casa, eu fui.
– Hmm... - Bianca parecia se incomodar, e estar ao lado dela eu me sentia incomodado com algo.
– Cadê tua mãe?
– Trabalhando.
– Sabe... - Fechei os olhos e respirei fundo. - Acho que a causa dessa minha angustia e tudo mais é o fato de estar envolvido com alguém.
– O quê? - Bianca se afastou um pouco e arregalou aqueles olhos castanhos, iguais as suas madeixas.
– É! Acho que é uma responsabilidade que não estou pronto para ter. Eu gosto demais de ti, de verdade. Mas...
– Mas o quê, Henrique? - Ela elevou o tom de voz.
– Eu não estou claro com meus sentimentos.
– Claro com seus sentimentos?
– É... lembra da Bruna? - Eu abaixei a cabeça - Antes de você eu era apaixonado por ela. E pra ser totalmente honesto contigo, na presença dela eu ainda sei que sinto algo. Ela é a única pessoa que além de você, que mexe comigo, eu gosto de olhar para ela, gosto de ficar na presença dela.
– CHEGA! - Bianca se levantou após quase gritar.
– Eu gosto de você, mas...
– Mas o quê? vai Henrique, me fala, mas o que? - Ela cruzou os braços enquanto me olhava enfurecida.
– Mas... mas nada. - Eu levantei. - Desculpa.
– ... - Seu silêncio dava todas as respostas possíveis, foi a vez dela abaixar a cabeça, vi seus olhos encherem d'água e ela correu para o quarto onde só pude escutar o barulho da porta batendo.

Fiquei olhando para a porta fechada por longos segundos pensando no que fazer, cheguei a por a mão na maçaneta e entrar, abraça-la, pedir desculpas. Mas eu senti medo, me senti a pior a pessoa do mundo que a veio na minha cabeça a imagem dela chorando. Dei um passo para trás e minha vontade era de chorar também, mas então fui embora.

Eu falei pra vocês que eu era um idiota, que eu iria fazer mais besteiras do que qualquer outra coisa. Bianca seria eternamente meu primeiro amor, sei que Bruna veio antes, mas "Bibia" seria aquela garota que eu jamais esqueceria, eu até hoje ainda penso nela, penso em como seria minha vida ao seu lado, Bianca era meio raio de sol, a garota que me fez passar grandes momentos ao lado dela, eu ainda ouço sua voz ecoando em minha mente, ainda sorrio quando lembro das coisas fofas que ela me dizia, ainda sonho com seu abraço apertado e sinto seu perfume todas as vezes que penso em seu sorriso, em suas covinhas e no seu beijo.
Eu pensei uma vez, Steve Wonder nasceu cego e quando ele diz "Sunshine" (nascer do sol) fala de algo que ele nunca viu, talvez seu sorriso seja a definição de "Sunshine" na mente de Steve Wonder.


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Notas finais do capítulo

Dedico este capítulo a garota que fez me sentir amado pela primeira vez...
Obrigado Bianca.



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