Por alguma razão a aula passou voando, nem parecia aula do Fred de português. A aula foi engraçada, na verdade ele ficou contando histórias dele de faculdade, de quando casou, das dificuldades que teve até agora. Quando o sinal tocou praticamente ninguém queria ir embora, estávamos todos entretidos com a estória dele, então percebemos que Fred não era tão chato assim, mas como era sexta-feira, todo mundo se levantou e foi descendo. Por um segundo eu tinha esquecido da Bruna, mas quando desci do meu prédio e cruzei a porta para o pátio, ela estava sentada sozinha num banco, eu abri um sorriso e Eduardo parou no meu lado.

– Ué, Bruna tá aqui até agora?
– Sim, ta me esperando. - Eu olhei para ele e sorri.

Cada vez que eu me aproximava eu sorria mais, era engraçado como dessa vez ela me esperou, o jogo virou né? Eu sentei no seu lado e ela parecia aliviada, acho que ela tinha esperado um bom tempo ali, isso eu descobriria com minha próxima pergunta.

– Tá aqui a muito tempo, cara?
– Poooooô, tô aqui desde 16h te esperando.
– Uau, apenas pra eu te levar embora? - A olhei nos olhos mas ela desviou.
– Sim. - Ela respondeu enquanto Eduardo se aproximava.
– Fazendo o que aqui Bruna? - Ele perguntou, estava em pé.
– Esperando o Rick.
– Rick? - Ele levantou uma das sobrancelhas.
– É, ele vai me levar embora.
– Hm, sei.
– Vamos? - Falei enquanto levantava.
– Vamo! - Ela se levantou e pegou sua bolsa.
– Jogar uma sinuca online mais tarde, Dudu ? - Perguntei enquanto já ia me afastando.
– Pode ser, tenho futebol mais tarde, quando eu chegar a gente joga.
– Tchau Dudu! - Bruna dava um beijo nele depois de um abraço.
– Se cuidem... - Ele falava enquanto parecia não entender o que estava acontecendo.

Sendo sincero? nem eu sabia o que estava acontecendo. Quando pisamos fora da escola pude perceber que já estava de noite, o tempo estava diferente, eu tinha certeza que choveria em breve. Bruna e eu íamos andando devagar, não trocamos uma palavra até sairmos da rua da escola.

– Então, cê tá bem? - perguntei quebrando aquele silêncio.
– Tô sim, você tá? - Ela me olhou
– Tô. Faz tempo não íamos embora juntos, né?
– Tem mesmo, podia me levar todo dia, mas fica de coisa aí.
– Se tu passar UMA semana me esperando eu levo, pois sua turma sempre sai antes da minha.
– Ta me testando, Rickzinho? - Ela ria.
– Ué, se tu me esperar, eu levo ué. Problema que ando bem mais te levando até a pracinha do que se eu fosse por outro caminho.
– Ah, mas vale pena, vai? Ter o prazer da minha companhia assim.
– Acho que é contrário hein, quem me esperou foi a senhorita.
– Idiota! - Ela fez cara de brava por uns segundos mais logo riu.

E a praça se aproximava, quando chegamos lá, paramos embaixo de uma árvore e fiquei olhando para a longa rua que levava até a casa da Bruna. Estava ventando bem forte e seus cabelo começaram a voar, ela passou a mão pelo rosto para tira-los. Eu sorri pois era uma linda cena.

– Aqui que nos despedimos. - Falei enquanto a olhava.
– Pois é. - Ela me encarou.
– Fim de semana passa voando, já já "cê" me vê, relaxa. - Não tinha percebido mas eu estava bem perto dela.
– No momento que eu dobrar aquela rua, você vai morrer de saudade. - Ela continuava me encarando e isso me deixou meios em graça.
– Acho que já estou com saudade só de saber que isso é uma despedida. - Falei meio baixo e o olhar dela mudou, parecia não ter resposta.
– Hm... - Essa era a primeira vez que percebi que Bruna estava insegura, ou algo do tipo, talvez nervosa.
– Até segunda então? - E pela primeira vez eu toquei em seu rosto, não sei o por quê, não sei também o que me levou a fazer aquilo, mas eu gostei de acariciar seu rosto, de mexer no seu cabelo e por as pontas dele atrás de sua orelha.
– Sim... - Ela ficou parada me olhando, parecia tão surpresa quanto eu.

Naquele momento eu olhei para a boca de Bruna e se eu não estivesse vendo coisas, podia jurar que ela deu uma leve mordiscada em seus lábios. Eu ainda estava com a mão em seu rosto, nesse momento eu a olhei dentro de seus olhos e minha mente parecia receber tanta informação, era tanta coisa passando em minha cabeça que eu não sabia mais o que pensar. Uma coisa eu tinha certeza, eu queria beija-la e tinha total certeza que ela ia corresponder, talvez não.

– Se cuida... - Eu falei enquanto aproximei meu rosto do dela e beijei sua bochecha de uma forma bem demorada, em seguida tirei a mão de sua nuca.
– Até... - Ela agora parecia meio assustada, me olhou e soltou aquele leve sorriso que me encantou na primeira vez que vi. Ela se afastou e logo se foi.

Pois é... eu sei, sei o que vocês estão pensando. Eu deveria tê-la beijado, é algo que penso até hoje. Mas pode ter certeza que se eu pudesse voltar no tempo eu provavelmente faria a mesma coisa, pois eu tinha todos os motivos do mundo para beija-la e apenas um para não fazer isso, e esse motivo se chamava: Bianca.