Certamente eles estavam me olhando como se eu fosse um alienígena ou algo bem próximo disso e eu não gostava nem um pouco.

Uma garota morena ofegou baixinho, e murmurou algo em uma língua estranha para a outra garota do lado, a garota sem ao menos disfarçar focou os olhos nos meus incrédula

Eu queria vomitar, e estava bem perto disso quando a garota, Sem Nome, me salvou. Ou quase isso.

– Os vampiros disseram que ela é abençoada pela deusa.

O silêncio tomou o grupo novamente, eu estava me sentindo péssima por isso. Talvez assumir logo para os vampiros que eu era humana não seria tão ruim quanto ser ignorada, e até mesmo ser olhada com nojo pelos novatos. Talvez eles me mandassem para casa, onde eu poderia ouvir as crises da minha mãe e comer as panquecas de chocolate com mel do meu pai. Agora tudo parecia tão distante.

– Ou talvez ela ainda seja uma humana retardada - brincou um garoto, ele me lançou um olhar alegre, mas senti meu estômago dar um nó.

– Os humanos não são retardados - murmurei

– Ah, isso é verdade - uma garota de cabelos pretos e olhos meio sangue falou, com cuidado - eles são comida

O menino pensou por um tempo, e então repetiu silenciosamente a palavra comida"

– Vocês aprendem rápidos, por isso amo vocês

Uma voz veio por trás, seguido por um toque gelado nos meus ombros, virei a cabeça lentamente dando de cara com uma mulher.

Ela mantinha os olhos fixos no grupo da mesa e seu rosto tinha uma expressão quase amorosa, ela tinha uma beleza incrível, os olhos dela estavam em um verde claro, apesar disso ser estranho, ela tinha cabelos ruivos até o pescoço, me encolhi com o toque dela no meu ombro.

– Bonjour - ela disse com um sotaque francês perfeito

– Bom dia, professora - disse a garota Sem Nome, com um sorriso brilhante no rosto

– Quem és novata?

Senti ela apertar meu ombro. Eu estava de frente com a maior vampira da EPS, ou seja, eu estava a triplamente ferrada e não podia se quer pedir licença e sair correndo para o dormitório

– Ela é a Haven Lockwood, a garota que acabou de entrar - comentou, aquele garoto olhando diretamente para a tal vampira. Ele estava babando, sério mesmo.

– Não me lembro de nenhuma novata, quem te transformou? - apesar do olhar caloroso que ela me deu, senti meu corpo e minha mente morrer. Então me veio a ideia mais idiota do mundo

– Ele não quis falar, disse que era uma questão de honra que escondesse sua identidade. Deve ser porque talvez ele tenha arrumado alguma briga, talvez - sorri, sem jeito para ela

– Suas características são diferentes dos demais novatos, você parece tão... Humana

– Não sei porquê minha senhora, mas creio e também afirmo que não sou humana, como o garoto disse -dei um sorriso torto, e frio para a vampira a minha frente - eles são apenas comida

Creio que o ultimo argumento a tenha convencido, pois ela deu um sorriso para mim e começou a dar meia volta entre os novatos. Todos ficaram em silêncio até ela sair do refeitório.

– Ei, Haven, senta ai.

Suspirei e me sentei ao lado de uma garota que mais tarde descobri se chamar Maia, ela era como todos os outros novatos, olhos avermelhados e extremamente linda, se cabelo tinha um tom castanho escuro e sedoso, ela era tão linda que me encolhi

O garoto se chamava Daniel Mekjort. Ele tinha os olhos tão vermelhos que com toda certeza já foram azuis antes da transformação, os cabelos também eram castanhos assim como os de Maia. Descobri também que a garota Sem Nome, se chamava Zoe.

Ao lado dela, estava uma garota com pele morena e olhos não tão vermelhos, os cabelos eram pretos e estavam amarrados em tranças com fios dourados. Ela se chamava Anne

Dei um sorriso para ela, mas tudo que recebi em troca foi uma carranca

– Por que os olhos dela não são vermelhos? Sabe, a professora - perguntei quebrando o silêncio

– Por que os seus também não? - perguntou Daniel, com um sorriso cruel nos lábios

Limitei-me a revirar os olhos, eu era apenas uma mortal em um terra que não me pertencia, e isso estava ficando cada vez mais óbvio a cada minuto que se passava, e o pior de tudo, talvez eu estivesse presa lá para sempre.

– Ela usa lentes, a maioria dos vampiros usam, e aquele colar impede eles de queimarem ao Sol – disse Zoe, enquanto amassava um sanduíche entre os dedos, o ketchup voou para fora do pão e ela deu uma mordida de bom tamanho nele.

– O vampiro que te transformou, quem era? - perguntou Maia

– Não me lembro dele - menti, na verdade eu mal me lembrava de como tinha chegado aqui. Claro, depois daquela maldita carta eu havia feito minhas malas em 3 segundos e mal me despedirá

Olhei com tristeza para o meu lanche, apesar de estar faminta sentia que absolutamente nada ia descer pela minha garganta.

– Ei, mas quem sabe ele não volta e te assume? – Maia sorriu para mim.

– É, ele tem que te assumir, o viado do meu demorou 1 ano pra aparecer – comentou Anne

Olhei sem entender para Zoe, ela ainda estava focada demais no sanduíche para perceber meu olhar de indagação.

– Do que vocês estão falando? – perguntei, eu mal sabia das regras e de tudo que eles faziam aqui, mas agora tudo isso estava começando a me preocupar. Mantive os olhos fixos em Zoe, ela agora tinha jogado o sanduíche no prato e lutava para abrir uma coca-cola

Uma coisa que você tem que fazer para conviver entre os vampiros é, sempre andar armada, chega ser uma coisa bizarra mas é muito necessário. Apesar de ninguém se mostrar uma “ameaça” para mim até agora, devo dizer que não eu não estava levando tudo isso de boas, certo, eu iria fazer de tudo para me proteger e achar alguma maneira de sair desse lugar, mas caso eles descubram e tentem me matar, estar de mãos abanando não estava nos meus planos. Por isso, sempre levava a minha querida faca comigo, certo, pode parecer estranho mas foi tudo que eu tinha conseguido arrumar.

Tirei ela do bolso e passei para Zoe, ela deixou o queixo cair e olhou para a faca como se a mesma fosse amaldiçoada. Revirei o olhos e puxei a lata de coca, transferi um corte rápido e abri a mesma, dei a lata para Zoe que me deu um sorriso agradecida.

– Vocês estão sentindo esse cheiro? – perguntou Daniel – Parece sangue.

Olhei desesperada para as minhas mãos, a maldita lata tinha aberto um corte profundo no meu dedo indicador e agora sangrava sem parar.

– Não deve ser nada – comentei com um sorriso pálido

Eles me olharam, eu sentia cada vez mais o sangue deixando o meu corpo e caindo no chão do refeitório.

– Anh, ontem na aula a professora disse que as garotas que acabaram de chegar, sabe que estão aqui a pelo menos 4 semana ainda tem menstruação – disse Maia, ela estava do meu lado e me lançou um olhar do tipo “conversamos depois”

Engoli um seco e assenti com a cabeça.

–Ei Haven, você não vai comer? – Anne me estudou com um ponto de interrogação nos olhos.

– Tô sem fome, acho que vou para o quarto – me levantei, e saí correndo do refeitório.